Após dar o pontapé na campanha de vacinação no domingo passado, o Brasil agora se vê envolvido em dificuldades para conseguir manter o ritmo de imunização inicialmente planejado. Isso porque insumos necessários para a continuidade da produção pelo Instituto Butantan estão parados na China e sem eles a programação de quem receberá as doses poderá ser alterada. O Estadão conversou sobre o assunto com o professor e diplomata Fausto Martha Godoy, coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos na ESPM. Leia a entrevista:
Por que a demora na negociação de insumos entre Brasil e China?
O governo chinês tem atualmente tremenda má vontade em relação ao Brasil. A China se recuperou do que passou, mas eles têm um conceito de honra muito importante, é um dos pilares de sua estrutura. O governo brasileiro cutucou a honra desse país e isso não vai sair de graça.
A demora tem relação com a crise diplomática provocada por Eduardo Bolsonaro no ano passado?
Quando começaram as primeiras manifestações do Bolsonaro e do filho, a embaixada reagiu de maneira contundente para os padrões chineses. Sei por experiência própria que nenhum diplomata se manifesta daquela maneira sem autorização do governo e principais autoridades do país. Desde então existe essa má vontade com relação ao governo atual.
A boa relação do governo de São Paulo com o laboratório chinês Sinovac pode ajudar nesse acordo?
Acontece que quando aconteceu essa crise, o governador de São Paulo já foi logo tratar com a Sinovac e garantiu a remessa para o Estado. O governo chinês sempre honrou com suas parcerias estratégicas. Existe uma relação do governo chinês com São Paulo e outra com o Brasil. Não digo que a China vai boicotar o Brasil porque iriam contra humanidade. Mas vão priorizar quem têm boa relação com eles inicialmente. São Paulo não é Brasil e quem sabe pode conseguir melhorar essa relação.
O ESTADO DE S. PAULO