Governo fala em recolocar os 5 mil trabalhadores com saída da Ford

O Ministério da Economia já iniciou conversas para apoiar a recolocação dos 5 mil trabalhadores da Ford que vão perder o emprego com a saída da montadora do Brasil. Uma das possibilidades é a criação de um programa específico para ajudar esse grupo de trabalhadores altamente qualificados. Segundo apurou o Estadão, são ideias preliminares que começaram a surgir depois do anúncio da multinacional. Há outras indústrias investindo no Brasil que podem aproveitar esses trabalhadores que já estão treinados.

Apesar de a Ford ter sinalizado no início do governo Bolsonaro que deixaria o País, a equipe econômica acabou sendo surpreendida com o fechamento da fábrica de Camaçari (Bahia), considerada moderna e que recebeu investimentos recentes. A expectativa é que alguma das montadoras que estão investindo no Brasil possa adquirir as instalações e equipamentos dessa unidade.

A pandemia, a perda de metade da fatia de mercado e o insucesso de lançamento de modelos acabaram precipitando a decisão da empresa, segundo fontes do governo ouvidas pelo Estadão. Na análise do governo, a empresa não conseguiu esperar um cenário mais favorável e decidiu fechar a produção no Brasil depois de uma análise do portfólio global da fábrica.

Fontes da área econômica reconhecem que a notícia da Ford, divulgada num momento de recuperação das vendas em novembro, é “horrível” para o momento. Segundo essas fontes, GM, Fiat e Honda estão com planos de investimento e produção se recuperando. Havia até uma preocupação com a falta de autopeças para a produção.

Setor automotivo teve quase R$ 44 bilhões em incentivos na última década
O anúncio da saída do País da Ford acabou colocando em debate a concessão de bilhões de incentivos tributários para a indústria automobilística. Dados do Ministério da Economia apontam que os incentivos tributários para os fabricantes de automóveis atingiram R$ 43,7 bilhões entre 2010 e 2020. Até 2017, os incentivos contabilizados –R$ 25,24 bilhões – correspondem à base efetiva apurada. Nos três anos seguintes – 2018, 2019 e 2020 – os dados são projeções.

O levantamento leva em consideração os incentivos para todas as empresas do setor, já que os dados individuais são sigilosos. Além dos incentivos dos tributos federais, as empresas contam com benefícios dados pelos Estados, que não entraram na conta do Ministério da Economia.

A indústria automobilística sempre teve forte poder de pressão em Brasília para concessão de incentivos com a justificativa de serem grandes empregadoras. Na avaliação de uma fonte da equipe econômica, o Brasil gastou “bilhões e bilhões” em incentivos, mas que não surtiram o efeito necessário: não garantiram o desenvolvimento da competitividade da indústria no País.

O ESTADO DE S. PAULO

Compartilhe