Estudo coordenado pela FGV-EAESP ouviu 508 executivos brasileiros e indica que flexibilidade e trabalho de qualquer lugar vieram para ficar
Por Jacilio Saraiva, Para o Valor
Ocupações que exigem criatividade e inovação serão altamente valorizadas e bem remuneradas, haverá grandes mudanças nas relações de produção com contratos temporários e flexíveis, e o modelo “work from anywhere” (trabalhe de qualquer lugar) terá grande relevância nos motivos para os profissionais aceitarem uma proposta de emprego. Essas são algumas das principais conclusões de um levantamento inédito, com 508 executivos no Brasil, que procura apresentar um panorama sobre o futuro do trabalho no país.
A pesquisa “Dicotomias no futuro do trabalho-Entenda como os gestores podem tomar decisões sobre os modelos a adotar em meio a tantas incertezas” foi realizada pelo think tank Amanhã do Futuro do Trabalho (AFTr). O hub de estudos é composto pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), a Stefanini, multinacional brasileira do mercado de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg; o Talenses Group, da área de recrutamento de executivos; e a MIT Sloan Review Brasil, revista de gestão empresarial do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
“O objetivo desse diagnóstico é apoiar os líderes brasileiros no complexo processo decisório de adaptar as empresas às demandas da nova economia”, diz o professor de estratégia e liderança da FGV-Eaesp Paul Ferreira, responsável pela pesquisa e pela metodologia do estudo, finalizado no primeiro semestre de 2022.
Os pesquisadores perguntaram aos profissionais a opinião sobre 33 mudanças apresentadas por estudiosos do futuro do trabalho, divididas em quatro pilares: natureza e força do trabalho, execução e educação. “Isso permitiu entender quais dessas mudanças obtêm concordância, discordância ou são consideradas ainda indefinidas, em aberto”, explica Ferreira.
O trabalho mostrou que 13 mudanças (39% do total) “com certeza vão acontecer”, caracterizadas por uma homogeneidade nas respostas. Do conjunto, Ferreira acredita que as mais urgentes para as chefias pensarem agora estão relacionadas à execução do trabalho. “Mais especificamente, aquelas que definem os contornos da flexibilidade”, explica.
Nessa linha, entre as afirmações de maior consenso, aparecem: “profissionais querem operar mais tempo remotamente do que no escritório” e “a modalidade ‘work from anywhere’ terá grande relevância nos motivos para os trabalhadores aceitarem uma proposta de emprego.”
O professor da FGV também considera as duas afirmações importantes, diante do que tem observado no mercado de trabalho. “Estou vendo líderes que ainda resistem ao expediente remoto e híbrido, e querem voltar ao que era antes, sem refletir sobre os aprendizados da pandemia”, diz. “Também há muitas pessoas esgotadas e desmotivadas.”
Do total dos entrevistados pela enquete, 63% são homens, sendo 45,5% gerentes e diretores, além de proprietários de empresas, executivos C-level e conselheiros (20,5%). Entre os gestores de áreas, 28% são de vendas, comunicação e marketing, antes de recursos humanos (19,7%), TI e digital (17,5%).
A maioria dos empregadores dos respondentes é do setor de serviços (35,5%), além da indústria (28,5%) e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg (15%). Em relação à faixa etária, a maior parte ou 42% são da geração X (nascidos entre 1965 e 1981).
Ferreira chama a atenção para conclusões que ganharam maior aderência por recortes demográficos. Entre as mulheres, três frases tiveram um índice de concordância significativamente mais alto do que entre os homens: “empresas buscarão mais ativamente políticas de diversidade e inclusão”, “equilíbrio entre vida pessoal e profissional pesará mais que salário e benefícios” e “a geração de valor para a sociedade será cada vez mais importante na cultura da empresa e para o engajamento dos funcionários.”
Entre os entrevistados mais jovens, a maior unanimidade aparece nas sentenças “profissionais querem trabalhar mais tempo remotamente do que no escritório” e “inclusão e diversidade serão o principal diferencial competitivo para as empresas”.
Diante do resultado do estudo, Ferreira aconselha às diretorias aumentarem os momentos de diálogo no ambiente de trabalho. “É fundamental que os líderes abram o caminho das conversas, compartilhando dúvidas e certezas.”
Para o especialista, se os relacionamentos e a colaboração são importantes para endereçar desafios e oportunidades nas corporações, as chefias também precisam modificar as “recompensas” utilizadas entre os times. “Quase todas as estruturas de incentivo são baseadas no desempenho individual. Não recompensam o trabalho em equipe, a confiança ou a cooperação.”
O futuro das organizações também envolverá uma série de escolhas, muitas delas difíceis, continua. “Essas escolhas devem garantir que qualquer novo desenho de produção leve em consideração dois pontos: um maior significado do trabalho para os funcionários, como fomentar a criatividade e causar impactos além da organização; e uma maior realização, na busca do equilíbrio entre vida pessoal e profissional.”