Ao anunciar, ontem, o fim da produção de veículos em Camaçari (BA) e Horizonte (CE) e de motores em Taubaté (SP), a Ford encerrou um relacionamento de 67 anos com o Brasil, que começou em 1953 com a inauguração da primeira fábrica, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Nas décadas seguintes, intensificou-se com a ampliação da produção, marcada na maior parte do tempo por inovações, mesmo quando o mercado brasileiro era totalmente fechado.
Os primeiros sinais de que a Ford se preparava para deixar o país surgiram há dois anos, quando anunciou o fechamento da fábrica de São Bernardo (SP), um dos ícones da industrialização brasileira. A empresa teve queda de produção na década de 1990, mas se recuperou e voltou a crescer entre 2000 e 2010. Em 2015, porém, produziu 240,5 mil veículos, 112,5 mil a menos do que cinco anos antes. No ano passado, foram 227,2 mil, na quinta posição no mercado, com 7,14% de participação, à frente da de outras grandes, como Renault e Toyota. Não é uma fatia desprezível.
Ao contrário das concorrentes, a Ford interrompeu os ciclos de investimento, cruciais para essa indústria em qualquer país. Além disso, sua estrutura fabril é considerada grande para o tamanho da atuação no Brasil. A fábrica na Argentina será mantida porque a operação é enxuta – produz apenas um veículo e 70% da produção vem para o Brasil. A Ford informou nos EUA que vem tendo prejuízos na América do Sul desde 2019. O Brasil, o principal mercado, responde pela maior parte do resultado.
Após ser informado do fechamento da fábrica, o governo baiano entrou imediatamente em contato com a Embaixada da China, em Brasília, para sondar possíveis investidores com interesse em assumir as instalações no Estado.
Estima-se que 5 mil trabalhadores serão demitidos. “Minha impressão é que a Ford vai reduzir ou fechar operações em vários países e regiões para se focar nos EUA, China e, de forma reduzida, na Europa”, disse Jaime Ardilla, consultor e ex-presidente da GM na América Latina.
VALOR ECONÔMICO