Motivações dos autônomos variam conforme níveis salariais, diz FGV Ibre
Leonardo Vieceli
RIO DE JANEIRO
A falta de emprego e renda é a principal razão que leva brasileiros para o trabalho por conta própria, seguida pelo desejo de independência profissional.
As conclusões integram uma sondagem divulgada nesta quinta-feira (26) pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Conforme a pesquisa, 32,1% dos trabalhadores por conta própria decidiram atuar dessa maneira porque estavam sem emprego e precisavam de uma fonte de rendimento.
Outros 22,9% escolheram o trabalho autônomo em busca de independência, enquanto 13,6% optaram pela flexibilidade de horários, e 12,3% necessitavam de uma renda extra.
Camelôs vendem produtos em praça no centro de São Paulo – Danilo Verpa – 28.jun.2022/Folhapress
A coleta das informações ocorreu em dezembro de 2022. As estatísticas integram a segunda edição da Sondagem do Mercado de Trabalho, que entrevistou 2.000 pessoas com mais de 14 anos espalhadas pelo território nacional.
Em torno de 16% da amostra foi composta por trabalhadores por conta própria com ou sem CNPJ.
De acordo com o FGV Ibre, a sondagem busca avaliar quesitos que não costumam aparecer em outras pesquisas sobre o mercado de trabalho.
Nesta edição, um dos focos é o retrato dos profissionais autônomos, uma categoria que ganhou espaço no Brasil nos últimos anos.
GRUPO QUE TRABALHA POR CONTA PRÓPRIA TEM DIFERENÇAS
Os pesquisadores destacam que as motivações para o trabalho por conta própria variam conforme o poder aquisitivo dos entrevistados.
Entre os autônomos que recebiam até dois salários mínimos, a falta de emprego e renda em um período anterior foi o que mais pesou na decisão.
Segundo o estudo, 37,5% dos profissionais dessa faixa optaram pelo trabalho por conta própria devido à necessidade de obter alguma remuneração.
Entre os autônomos que recebiam mais de dois salários mínimos, o principal motivo citado foi a independência. Uma fatia de 34,5% desses profissionais associou a ida para o trabalho por conta própria ao desejo pessoal.
Rodolpho Tobler, um dos pesquisadores do FGV Ibre responsáveis pela sondagem, chamou atenção para as diferenças dentro da categoria.
Ele lembrou que o Brasil viveu uma crise econômica de 2014 a 2016, seguida por um período de baixo crescimento e, depois, de pandemia.
O contexto de dificuldades forçou a ida de parte dos trabalhadores para funções autônomas em busca de sustento, indicou o economista. Enquanto isso, outra parcela pôde escolher o caminho a seguir.
“Tem o cenário das pessoas que perderam ocupação e precisaram de renda, mas também há um percentual que foi por uma escolha”, afirmou Tobler.
“É um quadro bem heterogêneo. Há uma necessidade para quem tem renda mais baixa e uma opção para quem tem mais renda”, analisou.
Segundo Veloso, ainda é difícil projetar o cenário para o trabalho por conta própria em 2023, mas é possível que o grupo siga em crescimento.
O especialista indicou que a desaceleração da atividade econômica devido aos juros altos tende a frear a geração de empregos formais.
Ele também destacou que o debate sobre proteção a grupos como o dos trabalhadores por plataformas tende a ganhar força em 2023.
No dia 18 de janeiro, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que as condições de quem vive de serviços em aplicativos beiram a escravidão.
“Nós acompanhamos a angústia dos trabalhadores de aplicativos, que muitas vezes têm que trabalhar 14h, 16h por dia para poder levar pão e leite para casa. Isso, no meu conceito de trabalho, beira o trabalho escravo”, disse Marinho.
O estudo do FGV Ibre ainda apontou que 57,1% dos autônomos estavam empregados com carteira assinada antes de migrarem para a ocupação por conta própria.
Outros 16% estavam empregados sem carteira anteriormente, enquanto 15,9% se descreveram como desempregados na fase anterior.