Valor Econômico
Em um mercado de trabalho em que mais da metade (58,1%) dos jovens entre 18 e 27 anos têm o ensino médio/técnico completo, a inserção desses jovens é parte importante dos esforços para melhorar as perspectivas de uma nova geração. Uma ampla pesquisa realizada com 802 empresas dos setores de indústria, comércio e serviços de todas as regiões do Brasil mostra os desafios para a contratação e a gestão de jovens para cargos de ensino médio/técnico e aponta caminhos para a inclusão deles.
A falta de qualificações técnicas é a principal dificuldade na contratação de cargos de médios/técnicos, apontada por dois terços (66%) dos entrevistados, seguida por falta de comprometimento (29%) e candidatos com pouca experiência (24%). Na hora de escolher entre habilidades técnicas ou socioemocionais na contratação, no entanto, as companhias revelam que preferem contratar um jovem com competência comportamental, mesmo que precise desenvolver a parte técnica (82%) do que quem tenha competência técnica, mas precise desenvolver comportamento e postura (18%).
Os dados são do estudo “Oportunidades e desafios para a inclusão profissional de jovens com ensino técnico: experiências do setor produtivo”, produzido em parceria por Itaú Educação e Trabalho, Fundação Roberto Marinho e Fundação Arymax e desenvolvida pela consultoria Plano CDE.
“A falta de qualificação técnica é a principal dificuldade que os gestores relataram na hora de contratar, mas, se tiverem que escolher, dão prioridade para quem está mais desenvolvido na parte comportamental que na técnica. A avaliação é que é mais difícil treinar esse aspecto de comportamento em pouco tempo que a parte técnica, diz a gerente de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho, Rosalina Soares.
As competências emocionais são citadas pela maioria das empresas (56%) como obrigatórias na avaliação de currículos para cargos de nível médio e/ou técnico, enquanto as competências técnicas específicas foram classificadas dessa forma por uma parcela menor das companhias (42%).
Rosalina Soares ressalta que a importância dada às habilidades comportamentais não significa que as demais capacidades sejam menos importantes. Entre as três situações que mais aparecem no dia a dia da gestão desses jovens, os gestores citam dificuldades para entender instruções (68%), uso de gírias em ambientes de trabalho (61%) e dificuldades em em português e matemática (60%).
Na avaliação de Carla Christine Chiamareli, gerente de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, a pesquisa mostra o descompasso entre a expectativa das empresas pela formação do jovem (com as competências socioemocionais, ou softskills) e o que o currículo das escolas técnicas têm efetivamente formado. “É importante diálogo constante entre empresas e escolas. A pesquisa mostra essa desconexão. É preciso que a formação dos jovens atenda aos desafios do mundo do trabalho”, diz ela.
Um dos caminhos para resolver estas dificuldades, ressalta Chiamareli, é a recente permissão para que escolas públicas funcionem como entidades qualificadoras de cursos técnicos, ampliando a oferta da modalidade. Hoje, nem todas as empresas conseguem cumprir a cota da Lei de Aprendizagem e precisam pagar multas por isso, diz.
A pesquisa também mostra que 42% das companhias informaram que os jovens com formação técnica permanecem na empresa e evoluem de cargo, e 61% delas têm algum gestor que começou jovem com formação técnica em nível médio. Seis em cada dez companhias dizem que ter feito curso técnico é um diferencial para selecionar um jovem funcionário.
A inclusão desses jovens, no entanto, é um obstáculo. Mais da metade (54%) revela que indicações são a principal forma de contratação, enquanto divulgação em meios diversos (destaque para LinkedIn) responde por 27%. “Esta é a primeira barreira para os mais vulneráveis, já que não têm esse capital social, esses conhecimentos. Por isso a importância do setor produtivo reconhecer a qualidade da formação técnica. Poderia haver trabalho de indicação pelas escolas”, aponta Soares.