Endividamento das famílias é o maior desde 2010

A parcela de famílias endividadas registrou em 2020 o maior patamar anual desde 2010 devido à pandemia, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada ontem, a fatia de famílias com dívidas na média anual ficou em 66,5% em 2020, acima de 2019 (64,6%). Foi a maior taxa anual para esse tópico, no levantamento, desde o início da série histórica em 2010, segundo a economista da confederação e responsável pela pesquisa, Izis Ferreira.

As famílias, afirmou ela, buscaram crédito para compor renda em um cenário de recursos reduzidos devido à crise econômica causada pela covid-19, com aumento de desemprego e menor renda do trabalho. E além disso, inflação mais forte. Izis não descartou possibilidade de continuidade de alta na parcela de endividados no começo de 2021. Na margem, a fatia de endividados também encerrou em alta, no ano passado. Após três meses em queda, a fatia dos que se declararam com débitos ficou em 66,3% no último mês de 2020. Esse porcentual ficou acima de novembro de 2020 (66%) e de dezembro de 2019 (65,6%).

No caso dos indicadores de inadimplência, não houve piora na margem. Mas os resultados de dezembro de 2020 ainda se mostram piores ante 2019. A parcela de endividados que declarou atraso no pagamento de contas ficou em 25,2%, menor que a de novembro de 2020 (25,7%), mas maior que a de dezembro de 2019 (24,5%). Já a parcela dos inadimplentes sem condição de quitar dívida ficou em 11,2%, também inferior a novembro de 2020 (11,5%) mas superior a dezembro de 2019 (10%).

Essa busca maior por empréstimos levou a um crescimento da fatia do orçamento das famílias para pagar dívidas. Na pesquisa da CNC, a parcela de renda familiar mensal comprometida com dívidas, em dezembro do ano passado, ficou em 30,2%, a maior desde julho de 2020 (30,3%). Na média, em 2020, a taxa anual dessa parcela ficou em 30% – ligeiramente acima do registrado em 2019 (29,5%) e a maior desde 2017 (30,1%). Foi um ano atípico para as famílias em endividamento, disse a economista.

Ao ser questionada sobre continuidade de alta em parcela de endividados em 2021, Izis Ferreira foi cautelosa. Afirmou ser possível devido à continuidade de necessidade de compor orçamento. Ela lembra que, em 2021, não há mais auxílio emergencial, pago pelo governo desde meados do ano passado – no auge do impacto negativo na economia causado pela pandemia – e que supriu, em parte, o consumo interno em meio à crise. Além disso, o emprego no país não mostra sinais de retomada robusta.

Porém, outro aspecto tem que ser levado em conta nessa mesma questão, no entendimento da especialista. Muitas dívidas contraídas em 2020 contavam com prazo de carência que se encerraria em 2021. Assim, com as incertezas no mercado de trabalho associada às incertezas sobre a evolução da pandemia no país, é possível que as famílias se mostrem mais cautelosas e menos dispostas a tomar novas dívidas, observou Izis.

VALOR ECONÔMICO

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