A ocupação e a geração de empregos têm aumentado principalmente em posições que requerem menos escolaridade e pagam menores salários. O dado foi identificado em um levantamento divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Para a instituição, isso revela um mercado de trabalho empobrecido e com poucas perspectivas de ascensão para os trabalhadores.
Ainda segundo o estudo, quase 80% dos profissionais com formação de nível superior têm se submetido cada vez mais aos cargos que não exigem a qualificação obtida.
Na pesquisa, que engloba dados do primeiro semestre deste ano com base em informações do IBGE, o Dieese aponta que houve aumento de 749 mil no índice de trabalhadores graduados no mercado. Contudo, 78,6% desse total, que corresponde a 589 mil pessoas, recorreram às chamadas “vagas atípicas” — em que há remuneração menor e sem exigência de formação superior. Entre os cargos que estão sendo ocupados por profissionais com esse perfil estão os de balconista e vendedor de loja.
Distribuição nas profissões
Somadas, as duas profissões tiveram crescimento de 23,8% no número de profissionais graduados em atuação. Em um panorama geral, considerando todos os níveis de escolaridade, houve um crescimento de 9,9% neste ano no número de ocupados, se comparado aos dados do segundo trimestre de 2021. No entanto, cargos de diretores e gestores e profissionais de ciências e intelectuais, que demandam o diploma de graduação, tiveram os menores crescimentos, assinalando 3% e 3,4%, respectivamente.
Segundo o Dieese, a ocupação tem crescido, apesar da retomada lenta da atividade econômica pós-pandemia, mas a expansão ocorre em posições que exigem menos qualificação formal. O mercado de trabalho vai se precarizando não somente no estabelecimento de vínculos sem proteção trabalhista ou social, mas também por meio da geração de empregos pouco complexos e da perda de rendimentos.
O estudo conclui que o aumento da escolarização da população, visto na última década, tem sido pouco aproveitado pelo mercado de trabalho nessa retomada da atividade econômica.
Com relação ao rendimento médio, os ocupados com superior completo foram os que tiveram a maior perda (-5,6%), seguidos por aqueles com ensino médio incompleto ou equivalente (-1,8%). Os ocupados sem instrução e com menos de um ano de estudo tiveram aumento do rendimento médio do trabalho (3,2%), assim como aqueles com ensino fundamental completo ou equivalente (0,8%).
Entre aqueles que tinham ensino superior completo, o rendimento médio aumentou somente em três grupos ocupacionais, enquanto em outros sete, houve redução. Destacam-se, entre as principais quedas, as ocorridas para membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares (-7,2%), profissionais das ciências e intelectuais (-6,9%) e diretores e gerentes (-4,9%).