Quase metade da riqueza total do Brasil, ou 49,6%, foi parar nas mãos do 1% mais rico no ano passado, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus. Há 20 anos, o topo da pirâmide detinha 44,2%.
Os dados fazem parte do relatório de Riqueza Global, que é publicado uma vez por ano pelo banco Credit Suisse. Na comparação entre dez países, apenas o topo da pirâmide da Rússia conseguiu concentrar mais riqueza do que a elite no Brasil.
Um movimento parecido ocorreu na maioria dos países analisados, sendo que apenas na França e na Alemanha a fatia concentrada pelo topo caiu.
Segundo o relatório, durante a segunda e terceira ondas da pandemia, no fim de 2020 e início deste ano, o Brasil se destacou em número de casos, em comparação com a região e o resto do mundo.
O documento também aponta que o Brasil entrou na pandemia com uma dívida pública que corresponde a 87,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 e viu um aumento para 98,9% do PIB no ano seguinte.
“Apesar de ter um presidente cético [em relação ao vírus], o Brasil forneceu pagamentos de auxílio emergencial consideráveis para pessoas de baixa renda, empurrando seus gastos relacionados à pandemia para 7% do PIB.”
O relatório também recorda que a desigualdade de riqueza é alta na América Latina, especialmente no Brasil, que possui um dos maiores níveis de desigualdade no mundo.
“O coeficiente de Gini do país [que mede a desigualdade] era quase cinco pontos acima do que era em 2000. E também é preocupante que a parcela de riqueza detida pelo 1% do topo agora é quase metade, ante 44,2% em 2000.”
Neste cenário, a maior parte dos brasileiros se diz favorável a aumentar a tributação para financiar políticas sociais, segundo uma pesquisa recente do Datafolha para a Oxfam Brasil, dado o crescimento da pobreza e da desigualdade, como reflexo da pandemia.
Em quatro anos, o apoio ao aumento de impostos neste caso mais que dobrou, de 24% para 56%. Além disso, nove em cada dez defendem que a redução da desigualdade deve ser prioridade do governo.
Os dados do Credit Suisse também mostram que o número de milionários no Brasil deve aumentar 74,4% até 2025, subindo de 207 mil, em 2020, para 361 mil em cinco anos. Caso essa estimativa se confirme, o país só ganhará em número da Polônia em um ranking de 25 países.
Os autores do documento também estimam que cerca de metade dos adultos mais pobres possuíam, em conjunto, 1% da riqueza mundial no fim do ano passado. Por outro lado, os 10% mais ricos concentram 82% da riqueza global, e o topo da pirâmide (1%) tem quase metade (45%) de todos os bens.
Segundo o banco, os mais ricos foram relativamente pouco impactados pela queda da atividade econômica e levaram vantagem na queda dos juros.
No topo da lista, aparecem os Estados Unidos, onde os milionários devem aumentar 28%, passando de quase 22 milhões para 28,5 milhões. Em seguida aparece a China, onde a alta prevista deve ser ainda mais impressionante, de 92,7%, Japão (aumento de 47,8%), França (mais 70,1%) e Canadá (77,2%).
No total, o número de milionários no mundo, atualmente em 56,1 milhões deve aumentar em quase 28 milhões até 2025, para 84 milhões.
Um relatório recente da ONU (Organização das Nações Unidas) vê o agravamento da desigualdade com pandemia da Covid-19, aliado ao baixo crescimento do Brasil e de seus vizinhos latinos. Segundo o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a América Latina está presa em uma espécie de “armadilha de desenvolvimento”.
FOLHA DE S. PAULO