Trimestre até outubro tem taxa de desocupação de 8,3%, a menor para o período desde 2014, aponta Pnad Contínua
Por Marsílea Gombata e Lucianne Carneiro — De São Paulo e do Rio
A taxa de desemprego no país voltou a cair no trimestre móvel encerrado em outubro. O resultado, abaixo do esperado, refletiu avanço na criação do emprego com carteira assinada e no setor público e queda da informalidade. No médio prazo, contudo, a tendência é de desaceleração do mercado de trabalho, com alta da população desempregada e queda da ocupada, como consequência da política monetária restritiva na economia, alertam economistas.
Com ajuda da aproximação do fim do ano, tradicionalmente melhor para o mercado, a taxa de desemprego recuou para 8,3%, no trimestre encerrado em outubro, na oitava queda seguida do índice. O resultado ficou abaixo do verificado no trimestre móvel anterior, encerrado em julho (9,1%) e abaixo do resultado de igual período de 2021 (12,1%), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o menor resultado para um trimestre encerrado em outubro desde 2014 (6,7%).
Nos três meses até outubro, o país tinha 9 milhões de desempregados – pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego, mas não conseguiram encontrar.
A população ocupada (empregados, empregadores, funcionários públicos) subiu para 99,7 milhões, recorde da série iniciada em 2012. Isso representa avanço de 1% em relação ao período de maio a julho. Frente a igual trimestre de 2021, a alta foi de 6,1%.
A renda média dos trabalhadores avançou 2,9% no trimestre móvel encerrado em outubro de 2022, ante trimestre móvel anterior (encerrado em julho) para R$ 2.754. A diferença é de R$ 77 a mais. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores considera a soma de todos os trabalhos. Na comparação com igual trimestre de 2021, houve alta de 4,7% (R$ 125).
Já a massa de rendimentos real habitualmente recebida por pessoas ocupadas (em todos os trabalhos) subiu 4% em relação ao trimestre anterior, para R$ 269,5 bilhões, e atingiu novo recorde da série histórica da pesquisa.
“Os dados da Pnad deram dois sinais. Primeiro, renovaram a percepção de retomada do rendimento real habitual. Além disso, trouxeram novas evidências da acomodação da população ocupada, com ligeira acomodação na margem”, afirma Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria.
Ele argumenta que, por causa da sazonalidade de fim de ano, com contratações temporárias para Black Friday, Copa do Mundo e Natal, houve avanço da população ocupada, que se somaram a efeitos tardios da reforma trabalhista aprovada em 2017.
“Esse avanço foi impulsionado pela recuperação da economia intensiva em mão de obra. Setores como serviços prestados às famílias, por exemplo, se recuperaram tardiamente em relação a outros e acabam se beneficiando agora também”, afirma.
César Garritano, economista sênior da Warren Renascença, afirma que os dados da Pnad Contínua “apontam para um resultado não tão positivo quanto o sugerido pelo headline do indicador”.
“De um lado, houve aceleração de queda da população ocupada (de -0,42% em setembro na variação mês contra mês para -0,49% em outubro, com ajuste sazonal). De outro, a segunda queda seguida do nível de ocupação, passando de 57,5% para 57,2%. O recuo da taxa de desemprego é explicado pela contração de maior magnitude da população desocupada, que também acelerou sua queda (de -2,64% para -2,87%)”, diz.
Na análise de Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, a queda da taxa de desemprego é resultado da combinação entre a continuidade da trajetória de retração observada desde meados de 2021 com fatores sazonais, como o fim do ano.
“O que se tem agora pode ser visto como a soma de um processo que vinha em curso adicionando um processo sazonal, com a entrada de outubro, contribuindo para o desempenho dos indicadores do mercado de trabalho. Seria a soma desses dois movimentos”, disse.
A trajetória de recuperação do mercado iniciada em julho de 2021, lembra Beringuy, está ligada ao avanço da vacinação contra a covid-19 e à retomada de atividades presenciais, como serviços.
A Pnad Contínua mostrou que o número de trabalhadores sem carteira assinada no setor privado bateu novo recorde, com alta de 2,3% frente ao trimestre imediatamente anterior, encerrado em julho, para 13,4 milhões de trabalhadores.
O número de trabalhadores no setor público também bateu recorde, chegando a 12,3 milhões. O número representa alta de 2,3% frente ao trimestre anterior. Na comparação com igual trimestre de 2021, a expansão foi de 10,4%.
A taxa de informalidade recuou para 39,1% no trimestre móvel encerrado em outubro de 2022. O resultado é menor que o do trimestre imediatamente anterior, terminado em julho (39,8%), e o que de igual período de 2021 (40,7%). Já o número de trabalhadores informais foi de 38,96 milhões.
Embora aponte que a melhoria de janeiro a outubro de 2022 no mercado de trabalho foi mais ampla e profunda do que o inicialmente previsto, Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, acredita que a tendência é que o processo diminua nos próximos trimestres.
“Esperamos desaceleração adicional no mercado de trabalho à frente”, afirma. “A continuidade de uma baixa taxa de participação implica um risco negativo para nossas projeções de taxa de desemprego”, afirma Gabriel Couto, economista do banco Santander.
Para Garritano, o patamar alcançado pela taxa de desocupação em outubro aponta para um mercado de trabalho apertado, que terá dificuldades no curto prazo. No último bimestre de 2022, ele vê impacto da diluição dos efeitos positivos das últimas medidas fiscais e da recuperação do setor de serviços, além de diversos outros freios sobre as condições de emprego.
A Warren Renascença alterou estimativas para desemprego para o fim de 2022, de 8,4% para 8,3%. “A esperada desaceleração da economia em 2023 deverá provocar aumento do desemprego, para algo em torno de 9,1%”, alertou.
Assis prevê que a perspectiva é de arrefecimento frente aos efeitos defasados da política monetária restritiva e pelo fim do impulso gerado pela reabertura econômica. “Houve um impulso significativo em 2021 e 2022. Mas em 2023 devemos ver forte desaceleração da população ocupada na margem e crescimento da desocupada”, diz.
A Pnad indica estabilização da queda do desemprego, crescimento da população ocupada acima da alta do PIB e estabilização da taxa de participação em 1 ponto percentual abaixo do pico de 2019, diz Daniel Duque, economista do FGV Ibre.