Crédito às empresas cai 4,8% em outubro, diz Banco Central

Os bancos emprestaram menos para as empresas em outubro, na comparação com setembro. No período, houve queda de 4,8% na concessão de novos créditos, segundo dados divulgados pelo BC (Banco Central) nesta sexta-feira (27).

A redução foi puxada pelas linhas de capital de giro, que registrou contração de 13,4% no mês. Esse segmento de crédito é o mais importante para empresas, e representa o maior volume entre as concessões para as companhias.

Nos últimos meses, o crédito às empresas cresceu, puxado por linhas emergenciais apoiadas pelo governo para ajudar empresas a enfrentar a crise financeira e econômica gerada pela pandemia. Entre os destaques está o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte).

Com o arrefecimento desses programas, houve queda no crédito às empresas. As linhas subsidiadas pelo governo estão na rubrica “Outros” nos dados do BC, que apresentou queda de 65% em outubro.

“Durante vários meses tivemos aumento nessa rubrica, o saldo se elevou muito. Em junho eram R$ 96 bilhões e em outubro dobrou e chegou a R$ 193,8 bilhões”, ponderou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.

A oferta de recursos voltados a desconto de duplicatas e antecipação de recebíveis, modalidades utilizadas por comerciantes e que dependem de vendas para gerar garantias, teve retração de 9,3% e 2,4%, respectivamente.

Mesmo com as contrações, empréstimos novos para pessoas jurídicas aumentaram 13,1% no acumulado do ano.

Em contrapartida, a concessão de crédito para as famílias aumentou 3,2% em outubro.

Os brasileiros buscaram recursos principalmente por meio do consignado, que é descontado diretamente na folha de pagamento. No geral, essa modalidade teve aumento de 13,8% no mês. Para beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), alta foi ainda maior, 65,3%.

“Esse aumento se deve à mudança na legislação da margem consignável desse público, que passou de 30% para 35%, com carência de até 90 dias”, explicou Rocha.

Linhas ligadas ao consumo também aumentaram. O uso do cartão de crédito à vista subiu 5,5%. As modalidades rotativas também cresceram no mês. O uso do chamado rotativo do cartão, quando o cliente não paga o total da fatura, teve alta de 2,9%.

Houve aumento também nas concessões do rotativo regular, quando o cliente paga acima do mínimo da fatura. Nesse caso, o aumento foi de 8,4%. O uso do parcelamento da fatura do cartão, por sua vez, cresceu, 8,6%.

No acumulado do ano, novos empréstimos para pessoas físicas cresceram 0,7%.

Em outubro, os bancos emprestaram R$ 353 bilhões para empresas e famílias, uma redução de 0,6% em relação a setembro. No acumulado do ano, em relação ao mesmo período de 2019, as concessões cresceram 5,6%.

As variações mensais são registradas com ajuste sazonal, que retira peculiaridades do período, como número de dias úteis a mais ou a menos, para facilitar a comparação.

O saldo das operações de crédito, que contabiliza toda a carteira do sistema financeiro, somou R$ 3,9 trilhões em outubro, alta de 1,4% no mês (1,7% em pessoas físicas de 1% na carteira de pessoas jurídicas).

Em 12 meses, o crescimento do estoque foi de 14,5% (21,1% para empresas e 9,8% para famílias).

Depois quedas em dois meses consecutivos, a taxa média de juros cobrada nas operações de crédito às empresas e às famílias subiu 0,6 ponto percentual em outubro e ficou em 18,7%, mas ainda abaixo dos níveis pré-pandemia.

“As instituições efetivamente aumentaram as taxas, não foi efeito composição [quando há mais concessões em linhas mais caras]. Na minha avaliação, depois de um longo período de redução, houve um aumento pontual, ainda não podemos dizer que existe uma tendência de alta”, disse Rocha.

Com isso, o spread, diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos e a taxa cobrada em empréstimo, ficou em 14,6 pontos percentuais, elevação de 0,3 ponto.

Desde o início da pandemia, os juros cobrados nas operações de crédito têm caído.

A taxa básica de juros (Selic), que norteia todas as outras taxas, está em 2% ao ano, menor patamar da história. Quando ela é reduzida, os bancos pagam menos para captar recursos e têm espaço para reduzir os juros de seus empréstimos.

A inadimplência também caiu e alcançou os menores níveis. A avaliação é que contribuíram para esse ambiente o auxílio emergencial e renegociações das parcelas de empréstimos promovidas pelos bancos durante a pandemia. Em outubro, a rubrica ficou estável, com 2,4%.

Pelo lógica do mercado, quando a inadimplência está baixa, os bancos podem cobrar menos nos empréstimos porque o risco de calote é menor.

FOLHA DE S. PAULO

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