Confiança do comércio indica fim de ano “delicado”

Valor Econômico – 29/10/2021 –

O Índice de Confiança do Comércio (Icom) da Fundação Getulio Vargas (FGV) subiu apenas 0,1 ponto em outubro ante setembro, para 94,2 pontos, e sinaliza fim de ano “delicado” para o varejo, nas palavras do economista da FGV Rodolpho Tobler.

Embora tenha sido primeiro saldo positivo do índice após duas quedas consecutivas, nessa comparação, o fato de o indicador, anunciado ontem pela FGV, ter parado de cair não é motivo de comemoração, afirmou o especialista.

Isso porque o cenário macroeconômico atual, com juros e inflação em alta, e renda menor, confere cenário desafiador para compras do brasileiro, no fim do ano – mesmo no último trimestre, historicamente conhecido por ser de maior atividade, na economia em geral e no comércio especificamente, comentou ele.

Tobler frisou que esses fatores macroeconômicos não desaparecerão no curto prazo, o que inibe compras e, por consequência, derruba o humor do empresariado varejista. “Creio que temos hoje mais gente [dentro do comércio] pessimista do que otimista para os próximos meses”, resumiu.

Ao comentar sobre o desempenho do indicador entre setembro e outubro, Tobler detalhou que o Icom parou de cair graças à melhora em expectativas. Mas frisou que a percepção de negócios, do setor, em momento presente, ainda opera em patamar negativo, notou ele. Nos dois subindicadores componentes do indicador total de confiança de comércio, o Índice de Situação Atual (ISA) caiu 3,8 pontos entre setembro e outubro, para 95,3 pontos; enquanto o Índice de Expectativas subiu 3,9 pontos, para 93,3 pontos, no mesmo período.

O técnico comentou que, no caso do ISA, foi a terceira queda consecutiva nas avaliações de momento presente do comerciante. Isso porque os fatores que têm inibido compras, hoje, já ocorrem há alguns meses e não estão arrefecendo, pelo contrário, estão “se aprofundando”, nas palavras do técnico.

Tobler lembrou recente avanço inflacionário, bem como rodada de alta de juros básicos (taxa selic). No caso de juros altos, isso na prática torna mais caro compras a crédito e empréstimos, notou ele. Ao mesmo tempo, esses fatores macroeconômicos têm se acentuado em um cenário em que o mercado de trabalho não mostra sinais de retomada robusta. Ou seja: nem ao menos um alívio, por parte da renda do trabalho, poderia ser conferido para elevar orçamento do consumidor, notou ele.

Outro aspecto também tem mexido com a percepção de negócios, do varejista. A melhora de indicadores epidemiológicos relacionados à pandemia, com queda de casos e óbitos de covid-19, aliado à vacinação mais ampla da doença, tem direcionado consumo maior para setor de serviços. Esse “compete” com vendas em comércio, no entendimento do técnico, na divisão de recursos no orçamento.

Para ele, tendo em vista todos esses fatores, o Icom pode voltar a cair até o fim do ano. Ele não  descarta que o indicador possa ficar na faixa dos 90 pontos até término de 2021, ou seja, fora do quadrante favorável, de acima de 100 pontos. “Creio que entramos no último trimestre com desaceleração na atividade do comércio”, concluiu.

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