A atividade econômica passou pelo pico da segunda onda da pandemia de covid-19 no Brasil com mais resiliência do que o esperado. Em maio, a expectativa é que tenha havido crescimento generalizado, alcançando a indústria, varejo e serviços, estima o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em estudo antecipado com exclusividade para o Estadão/Broadcast.
Com base em indicadores antecedentes, o Ipea calcula que as vendas no comércio varejista ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, tenham avançado 3,9% em maio ante abril. Já a produção industrial cresceu 1,4%, enquanto os serviços tiveram expansão de 1,3%, projeta o Ipea, na Carta de Conjuntura que será divulgada nesta sexta-feira, 25.
“Cada setor está num estágio diferente, a recuperação não será homogênea. Temos setores ainda afetados pela pandemia”, disse José Ronaldo Souza Jr., diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea. “Alguns setores estão em patamar muito abaixo do normal. Se por um lado é ruim, pelo ponto de vista econômico, por outro abre uma oportunidade de crescimento, tendo em vista o avanço da imunização da população no segundo semestre.”
Os serviços já se beneficiam de um aumento na mobilidade da população após a segunda onda de covid-19, mas a demanda ainda é afetada tanto pela pandemia quanto pelas condições desafiadoras do mercado de trabalho.
No comércio varejista, apesar das pressões inflacionárias sobre o orçamento das famílias, a reedição do auxílio emergencial pode dar novo fôlego às vendas. Na indústria, o cenário externo beneficia alguns segmentos, mas a escassez de insumos e matérias-primas é um empecilho ao avanço da produção e recomposição de estoques, enumera o diretor do Ipea.
As perspectivas para a economia em geral são boas para o segundo semestre, uma vez que os diferentes setores estão mais adaptados à realidade de restrições impostas pela crise sanitária.
No entanto, há desafios que permeiam ainda de incertezas as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano, como a própria evolução da pandemia, o ritmo de avanço da vacinação da população contra a covid-19 e a crise hídrica, que já afeta o custo da energia elétrica e pode causar prejuízos à safra agrícola, alertou Souza Júnior.
Para Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, a confirmação do crescimento econômico em ritmo mais acelerado na primeira metade do ano aponta para um avanço mais “gradual” no segundo semestre. No início do ano, quando se esperava que a segunda onda da pandemia afetasse mais fortemente a atividade econômica, as perspectivas apontavam para retração ou estagnação da economia no primeiro semestre, com uma retomada rápida na segunda metade do ano.
“O que se verificou foi que tivemos, de fato, uma situação ruim de casos e óbitos (de covid-19), só que isso não teve tanto efeito na atividade”, afirmou Nishida, completando que o próprio desempenho acima do inicialmente esperado no primeiro semestre leva a uma “evolução gradual na margem”. “Antes, a base (de comparação) seria mais fraca e a retomada (no segundo semestre), mais forte”, disse o economista.
Nesse cenário, Nishida vê a recuperação “cíclica” após o tombo provocado pela pandemia “garantida” em 2021, mas a lista de riscos e restrições ao crescimento incluem a evolução da vacinação e o controle da covid-19, as restrições no fornecimento de energia elétrica, por causa da crise hídrica, e uma política monetária mais restritiva, com a elevação dos juros pelo Banco Central (BC), que deverá ser mais sentida nos próximos meses. A LCA Consultores projeta crescimento econômico de 5% em 2021, com redução no ritmo em 2022, quando o avanço ficaria em 2%.
O ESTADO DE S. PAULO