CNI eleva projeção de alta do PIB deste ano de 3% para 4,9%

A atividade econômica tem surpreendido positivamente e os impactos econômicos da segunda onda da pandemia de covid-19 foram menores que o esperado. Com base nesses dados, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano para 4,9%, segundo o Informe Conjuntural do segundo trimestre, divulgado nesta sexta-feira, 2.

A previsão anterior da entidade era de uma alta do PIB de 3% em 2021. Com a revisão, a estimativa da indústria se aproxima da expectativa do mercado que acredita, segundo boletim Focus divulgado na última segunda-feira, 28, em um crescimento de 5,05% do PIB neste ano.

“O maior otimismo, compartilhado pelos empresários industriais, decorre da queda na atividade menor que a esperada em resposta às novas medidas de isolamento social. Não só as medidas de isolamento social foram menos restritivas que as adotadas em 2020, como também grande parte das empresas estavam mais preparadas para atuar em um ambiente de restrições à aglomeração de pessoas”, destaca o documento da CNI.

O informe lembra que a indústria de transformação recuou 0,5% no primeiro trimestre do ano na comparação com o último trimestre de 2020. O desempenho negativo, avalia a CNI, reflete tanto a falta de insumos quanto o arrefecimento do consumo, que resultam da inflação e do desemprego elevados. A perspectiva, no entanto, é de crescimento no segundo semestre.

A previsão é que o PIB industrial vai crescer 6,9% em 2021 ante uma estimativa de alta de 4,3% feita no primeiro trimestre deste ano. Somente a indústria da transformação deverá apresentar crescimento de 8,9% em relação ao ano passado, segundo estimativas do Informe Conjuntural, ante uma expectativa anterior de 5,7%. “Os porcentuais são significativos, mas é importante destacar que 2020 foi um ano com paralisação muito forte da atividade industrial em abril, puxando a média do ano para baixo, apesar da rápida recuperação”, destaca o documento.

A CNI aponta que um importante determinante do crescimento será o investimento. Como a confiança dos empresários voltou a crescer, isso terá reflexos na intenção de investir. “Apesar do aumento dos juros pelo Banco Central, as taxas continuam baixas para o padrão brasileiro dos últimos anos. Além disso, a utilização da capacidade instalada segue elevada, o que sugere necessidade de investimentos para ampliar a produção”, afirma o economista-chefe da CNI, Renato da Fonseca.

Para a indústria, a política fiscal continuará atuando de forma positiva com relação à demanda agregada. “Ainda que a diretriz continue sendo a busca pelo equilíbrio fiscal, o nível de gasto do governo será menor que o de 2020, mas superior ao de 2019.” Outra importante contribuição para a demanda agregada, destaca, se dará por meio da renda disponível das famílias. A expectativa é que o consumo das famílias volte a crescer no decorrer do ano, à medida que a renda se recupere.

A CNI também reviu sua projeção de inflação, medida pelo IPCA, de 4,7% para 5,8% em 2021. Esse, segundo o documento, é um ponto de atenção para este ano. A CNI ressalta que a continuidade da alta dos preços ao consumidor motivará uma ação mais agressiva do Banco Central, com elevação dos juros, o que pode afetar o crescimento econômico.

Com relação ao endividamento, o Informe Conjuntural também traz uma revisão da projeção com relação à dívida bruta do setor público em 2021, de 90,9% do PIB para 82,3% do PIB.

A expectativa da CNI é que o real mantenha a tendência de valorização no decorrer do ano, reduzindo a pressão inflacionária. A estimativa para média da taxa de câmbio em 2021 caiu de R$ 5,10 para R$ 4,90.

Com relação à balança comercial, a indústria também elevou a previsão de superávit comercial neste ano de US$ 53,2 bilhões para US$ 65,2 bilhões. A expectativa é que a recuperação da economia mundial favoreça as vendas externas brasileiras, com maior demanda. Segundo a CNI, as exportações de produtos manufaturados já apresentam tendência de crescimento em resposta à recuperação dos mercados norte-americano, europeu e argentino.

Desafios
A CNI avalia que a retomada do crescimento significativo e duradouro da indústria e, consequentemente, da economia brasileira, passa pela intensificação das políticas e medidas para redução do custo Brasil e por uma política industrial focada na inovação.

“Vencer a crise é uma coisa, voltar a crescer é outra. Para voltar a crescer, a indústria brasileira precisa se tornar mais competitiva e para isso é preciso reduzir o custo Brasil. Precisamos acelerar a agenda das reformas estruturais, sendo que a principal é a reforma tributária ampla”, afirma o presidente da CNI, Robson Andrade.

A entidade afirma que o País precisa atacar todos os entraves sistêmicos à competitividade, como baixa qualidade de educação e da infraestrutura, baixa disponibilidade de crédito e excesso de burocracia. O informe destaca que a indústria da transformação brasileira viu sua produção encolher nos últimos dez anos, principalmente em razão dos fatores que compõem o custo Brasil. “De 2010 a 2020, o valor adicionado da indústria de transformação se reduziu 1,6% ao ano, em média. Como consequência, o PIB do Brasil cresceu apenas 0,3% ao ano.”

A expectativa da indústria para o segundo semestre do ano é que a atividade econômica acompanhe a reabertura que vem ocorrendo de forma heterogênea entre as diferentes regiões do Brasil. “Esperamos uma ampliação da vacinação com a chegada de mais doses no fim do segundo trimestre e no começo do terceiro trimestre. Com isso, reduz-se a pressão sobre o sistema de saúde, diminuindo a incerteza sobre a permanência da abertura das atividades econômicas. À medida que a população for sendo vacinada, projetamos maior circulação de pessoas e um retorno gradual do consumo de serviços prestados às famílias, segmento que permaneceu deprimido ao longo de 2020 mesmo nos períodos de abertura”, destaca o informe.

A entidade cita que a crise hídrica é outro ponto de atenção, além da inflação. “Traz riscos não só relacionados ao aumento do custo da energia elétrica como também à produção agropecuária. No setor de agropecuária, a crise poderá comprometer a quantidade de água destinada à irrigação e gerar quebras de safra. Isso traria pressão adicional sobre o preço desses produtos, reduzindo a competitividade no mercado internacional e pressionando preços no mercado doméstico.”

O ESTADO DE S. PAULO

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