Líder de pagamentos eletrônicos por meio das “maquininhas” de cartão no varejo, a Cielo, controlada pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, agora vai explorar de forma agressiva o mercado de crédito para pequenas e médias empresas.
De carona na iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de pulverizar e popularizar o acesso ao crédito fora dos grandes bancos, a companhia e o banco de fomento constituíram um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), onde foram aportados R$ 529,4 milhões – dos quais R$ 450 milhões do BNDES e R$ 79,4 milhões da Cielo. Os recursos serão oferecidos a 56 mil empresas com necessidade de capital de giro para atenuar os impactos da pandemia. O juro médio é de 3,25% ao mês e o prazo máximo do empréstimo é de 30 meses.
“Essa operação marca a nossa entrada no mercado de crédito não performado para ser uma operação regular da Cielo”, afirma o presidente da companhia, Paulo Caffarelli. A empresa já antecipa valores para os clientes do varejo, mas com a garantia das vendas que passam pelas “maquininhas”. Esse crédito representa 37% do faturamento.
Em meio à concorrência acirrada das startups financeiras, a companhia afirma querer ir além no crédito e ganhar musculatura. Nas contas do executivo, a operação com o BNDES pode girar cerca de R$ 1 bilhão de recursos, na medida em que os financiamentos são quitados e o dinheiro novamente é emprestado. “O montante do FIDC nos coloca no jogo do crédito”, diz.
No entanto, esse fundo se extingue em 30 meses e, como a companhia não é um banco, precisa buscar outras formas de captação de recursos para emprestar. Segundo Cafarrelli, a empresa vai pleitear autorização para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD). Com isso, poderá conceder crédito com capital próprio, sem precisar constituir fundos. Neste momento, os empréstimos dos recursos do FIDC serão realizados por meio de uma empresa parceira, já que a Cielo não tem licença para conceder empréstimos.
O lucro líquido da companhia no primeiro trimestre atingiu R$ 241,3 milhões, com avanço de 44,6% em relação a igual período de 2020. Sem a venda da plataforma da Elo e da fatia na Orizon, o resultado cairia para R$ 135,8 milhões, com recuo de 18,4% em relação a igual período de 2020.
Desconcentração
Bruno Laskowsky, diretor de Participações, Mercado de Capitais e Crédito do BNDES, diz que é a primeira vez que o banco usa FDICs para irrigar a economia. A iniciativa faz parte do objetivo estratégico da instituição de desconcentrar o crédito e estimular a competição, constituindo fundos com participação de fintechs, marketplaces e adquirentes, como a Cielo, para que o dinheiro chegue mais rápido às empresas menores.
Hoje, mais de 80% do crédito está concentrado em cinco bancos. “O que catalisou esse processo foi a pandemia”, diz o executivo do BNDES.
Para todos os fundos que serão constituídos, o BNDES reservou cerca de R$ 4 bilhões de recursos próprios e conta com mais R$ 1 bilhão do mercado. A meta é oferecer o crédito para 500 mil a um milhão de pequenas e médias empresas espalhadas pelo País.
O ESTADO DE S. PAULO