Cidades do interior ganham destaque em ranking de empreendedorismo

Cidades do interior, perto e também mais distantes de grandes capitais, tiveram bom desempenho na quinta edição do Índice de Cidades Empreendedoras 2020, elaborado pela Endeavor em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O ranking será divulgado amanhã. Com objetivo de levantar quais os locais mais favoráveis para o empreendedorismo, foram analisadas as cem cidades mais populosas do Brasil em sete determinantes: ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora.

Osasco (SP) é a terceira cidade no ranking principal, atrás somente das capitais São Paulo e Florianópolis (SC). Depois de Vitória (ES) e Brasília (DF), aparecem as paulistas São José dos Campos, São Bernardo do Campo e Jundiaí, respectivamente nas 6.ª, 7.ª e 8.ª posições.

No determinante de ambiente regulatório, que diz respeito à burocracia para abrir empresas e à tributação dos municípios, as capitais Macapá (AP) e Vitória (ES) e a cidade fluminense de São Gonçalo ocupam as três primeiras posições. Em inovação, o destaque é para Florianópolis, a gaúcha Caxias do Sul e a paulista Campinas. Já em cultura empreendedora, as mais bem colocadas são Porto Velho (RO), Manaus (AM) e Rio Branco (AC).

Para Diana Coutinho, diretora de Altos Estudos da Enap, a diversidade de cidades vem naturalmente ao ampliar o número de municípios analisados pelo levantamento, saindo das capitais concentradas nas regiões Sul e Sudeste. “E o ranking geral e as determinantes mostram que há coisas para serem aprendidas em locais que não são tão óbvios”, diz.

“Nós temos a agenda de fortalecer esses ecossistemas para atrair o capital de risco para outros polos”, completa Renata Mendes, gerente de políticas públicas da Endeavor. Segundo ela, o capital ainda é muito concentrado nos ecossistemas empresariais tradicionais, como em São Paulo e no Rio de Janeiro. “E essa roda do capital precisa girar, mas não do mesmo jeito que nesses grandes centros.”

A Chico Rei, marca de camisetas com estampas e frases criativas, é prova disso. Com faturamento de R$ 20 milhões em 2020, a empresa nasceu em 2008 em Juiz de Fora (MG) e ganhou escala nacional. A companhia continua, porém, a ter todos os produtos feitos apenas na cidade mineira e hoje dedica-se à região com projetos de impacto social, como cuidar da manutenção da escola do bairro e montar uma linha de produção na penitenciária do município. “A empresa se tornou um orgulho local”, conta Bruno Imbrizi, fundador da Chico Rei.

Imbrizi explica que, por estar em uma cidade média (Juiz de Fora tem cerca de 570 mil habitantes), os custos de operação da empresa são mais baixos. E, segundo ele, o fato de estar longe de grandes centros não é empecilho para os negócios com outros locais. “Nossa relação com os fornecedores, que estão em cidades como São Paulo, é toda digital. As relações comerciais ficam muito mais facilitadas por causa da comunicação online”, explica. “Essa digitalização nos torna mais competitivos.” Juiz de Fora ficou em quarto lugar no ranking de capital humano, que diz respeito a acesso e qualidade de mão de obra.

A empresa gaúcha Delivery Much, de entrega de produtos por aplicativo, também conhece as vantagens de trabalhar em cidades menores porque o seu modelo de negócio consiste em abrir franquias em municípios com menos de 250 mil habitantes. “É desafiador, mas é oportuno”, afirma Pedro Judacheski, presidente da empresa, que hoje presta serviço para 300 cidades. “Ao entrar numa cidade, nós precisamos educar o mercado e formar times para que as pessoas usem o aplicativo, mas é oportuno porque somos os primeiros a chegar em municípios que nunca foram atendidos por esse tipo de serviço. A estratégia hiperlocal acaba indo ao encontro do nosso negócio.”

Em boa parte dos casos, as cidades menores costumam esbarrar na escassez de talentos que, em geral, estão nos centros urbanos e nas capitais.

Marlon Freitas, um dos fundadores da startup de contabilidade Agilize, cuja sede está em Salvador (BA), fala que há um êxodo de talentos saídos do Nordeste rumo ao Sudeste. A solução encontrada pela Agilize é treinar seus funcionários desde o início para que permaneçam na empresa no longo prazo, valorizando na contratação habilidades emocionais (soft skills). “Para nós, é uma grande vantagem reter o capital intelectual que foi criado aqui na cidade”,diz. “Com outras startups de sucesso aqui na Bahia, a gente ajuda a formar e a qualificar outras pessoas que antes iriam para outros países ou para o Rio de Janeiro ou São Paulo.”

O ESTADO DE S. PAULO

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