<Folha de S.Paulo>
O índice de preços ao consumidor no Brasil deve ficar entre os maiores do mundo, considerando um grupo de cerca de 20 economias com projeções divulgadas nesta terça-feira (21) pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Em 2021, somente dois países entre os 19 selecionados teriam inflação superior à brasileira, Turquia (17,8%) e Argentina (47%).
O índice de preços no Brasil é projetado em 7,2%, recuando para 4,9% em 2022, o que colocaria o país com a quinta maior inflação na lista, atrás também de Rússia e Índia, ambos com 5,5%.
O IPCA, índice de preços ao consumidor medido pelo IBGE e que serve como meta de inflação, está em quase 10% no acumulado em 12 meses até agosto.
A última projeção de mercado, considerando o relatório Focus do Banco Central, é de 8,35% para este ano e 4,1% no próximo.
A projeção de 2022 da OCDE está praticamente no limite da meta, que é de até 5%.
Segundo pesquisa Datafolha, mais de 70% dos brasileiros consideram que governo tem responsabilidade pela alta da inflação.
Ao comentar a inflação nos países emergentes, a OCDE afirma que houve surpresas consideráveis nos índices de preços que, provavelmente, persistirão por algum tempo. Condições monetárias mais rígidas, no entanto, ajudarão a limitar as pressões internas sobre os preços, principalmente na segunda metade de 2022.
A projeção de crescimento da economia brasileira em 2022 foi revista de 2,5% para 2,3% pela OCDE, de acordo com o relatório. A projeção anterior havia sido feita em maio. Para 2021, passou de 3,7% para 5,2%.
Com esses resultados, o país cresceria abaixo da média mundial tanto em 2021 (5,7%) quanto em 2022 (4,5%). No próximo ano, teriam resultados menores que o do Brasil apenas dois países em uma lista de 20 nações: Japão (2,1%) e Argentina (1,9%).
No relatório intitulado “Mantendo a recuperação no caminho certo”, a OCDE afirma que o crescimento econômico mundial acelerou este ano, ajudado por um forte apoio de políticas fiscal e monetária, pelo avanço da vacinação em alguns países e pela retomada de muitas atividades econômicas.
O PIB global já ultrapassou seu nível pré-pandemia, mas “a recuperação segue muito desigual” e a atividade ainda está 3,5% abaixo do que se estimava antes da atual crise para meados de 2021. Isso representa uma perda equivalente a um ano de crescimento econômico em tempos normais (US$ 4,5 trilhões).
Ou seja, o mundo teve a chamada “recuperação em V” do nível de atividade, mas esse movimento deixou um buraco na renda das pessoas que ainda não foi preenchido.
“Fechar essa lacuna é essencial para minimizar as cicatrizes de longo prazo da pandemia via empregos e perdas de renda”, diz a OCDE.
Segundo a entidade, lacunas de produção e emprego permanecem em muitos países, particularmente em economias em desenvolvimento, onde as taxas de vacinação ainda são baixas.
A instituição afirma que o impacto econômico da variante delta do coronavírus tem sido relativamente suave em países com altas taxas de vacinação, mas reduziu o ímpeto de curto prazo em outros lugares e aumentou as pressões sobre cadeias de abastecimento globais e custos.
Para a OCDE, os governos precisam garantir todos os recursos necessários para vacinar suas populações o mais rápido possível, de forma a salvar vidas, preservar rendimentos e colocar o vírus sob controle.
No cenário mais otimista da OCDE, a economia poderia crescer 6,25% em 2022 e voltar à tendência pré-crise, com um progresso mais rápido na distribuição de vacinas eficazes, o que aumentaria a confiança e os gastos de consumidores e empresas. No mais pessimista, a queda no ritmo de vacinação e uma possível redução na eficácia das atuais vacinas pode levar a um novo fechamento de atividades, e o mundo cresceria apenas 3%.
Para a entidade, também é necessário manter o apoio de políticas macroeconômicas, pois a perspectiva de curto prazo ainda é incerta e os mercados de trabalho não se recuperaram. É preciso, no entanto, uma sinalização clara sobre o horizonte e a extensão em que a alta da inflação será tolerada e o planejamento em direção à normalização da política monetária.