O almoço do presidente Jair Bolsonaro com mulheres líderes corporativas, que acontecerá amanhã no Palácio Tangará, em São Paulo, contará com a presença de empresárias e executivas da indústria e de serviços. Serão 48 convidadas.
Entre elas, Dulce Pugliese, cofundadora da Amil; Janete Vaz, fundadora do laboratório Sabin; Stella Damha, sócia do grupo de construção civil Damha; Edna Onodera, fundadora da rede de franquias de estética Onoderas; Marina Willisch, vice-presidente da General Motors; Cristiane Lacerda, diretora do Carrefour; e Marly Parra, do Instituto Unidos pelo Brasil e ex-executiva da E&Y e GPA, segundo organizadores do evento. Também estão previstas a presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e das ministras Tereza Cristina (Agricultura), Damares Alves (Família e Direitos Humanos) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo).
“Enviamos convites às empresas, que os repassaram às suas líderes”, diz Karim Miskulin, presidente executiva do Grupo Voto e organizadora do evento. “As mulheres estão mais bem preparadas e ocupando cargos mais importantes nas organizações ano após ano, mas ainda há uma barreira no relacionamento delas com a política e os núcleos estratégicos do poder.”
Segundo ela, a ideia do almoço nasceu a partir de sua indignação de não ver nenhuma mulher nos encontros recentes de Bolsonaro com empresários. “Liguei para o (Washington) Cinel (dono da Gocil e anfitrião de jantar no início do mês), um amigo querido, e reclamei, mas a lista estava fechada”, diz ela, que fez, então, o convite ao presidente.
Karim imagina que uma das pautas do almoço será um pedido para que Bolsonaro sancione o projeto de lei que prevê multas a empresas que praticam discriminação salarial a trabalhadoras. Na semana passada, o presidente sugeriu que arranjar emprego pode se tornar “quase impossível” para as mulheres caso ele sancione o texto.
“No mais, as pautas devem ser as mesmas dos grupos cuja maioria do público é masculino: reforma administrativa, tributária e vacinas”, diz ela, que não prevê qualquer constrangimento entre as convidadas e o presidente. Há vários registros de declarações misóginas feitas por Bolsonaro.
O almoço não será cobrado. O modelo de negócios do Grupo Voto, que nasceu no Rio Grande do Sul, é de patrocínios anuais. Empresas como Carrefour, Ferrero Rocher, Souza Cruz, Dana e GM pagam um valor anual, em troca de publicidade na revista Voto e acesso a eventos como o ciclo de debates “Brasil de Ideias”, seminários locais e missões internacionais. Há também prestação de serviços de consultorias de relações institucionais.
É um modelo parecido com o do Lide, que era comandado pelo hoje governador João Doria (PSDB). Por isso, para falar de Karim, alguns interlocutores usam o aposto “João Doria de saias”. Como ambos, há muitos que vendem serviços similares a empresas.
Para Karim, o formato do evento – sem palco e bastante informal – facilita a interlocução entre as lideranças e os políticos. “A ideia é que eles falem de igual para igual, para humanizar a figura do político”, diz.
Segundo um patrocinador de uma grande empresa que pede para não ser identificado, os serviços da empresa de Karim são eficientes. Com as agendas dos políticos tornadas obrigatoriamente públicas, os fóruns mais discretos para encontros com empresários (com demandas como benefícios fiscais ou aprovação de leis) são pequenas reuniões antes de palestras em eventos. “Nas gestões dos governos do PT, que eram mais intervencionistas, esses encontros eram muito importantes”, diz o executivo, para quem o Grupo Voto dança ao sabor do governo da vez. Capas recentes da revista têm o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-al), e o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia).
“Já fui chamada de tucana, petista e bolsonarista”, diz ela. “Somos uma empresa que nasceu fomentada pela indústria e buscamos pautas positivas nas demandas que o setor público não consegue resolver.”
O ESTADO DE S. PAULO