Estadão
Entre as medidas para voltar a crescer, o Brasil precisa qualificar os trabalhadores e criar empregos melhores
Henrique Meirelles, O Estado de S.Paulo
Sou leitor do Estadão há algumas décadas. É um jornal que mantém um alto nível de seriedade e compromisso com as ideias que defende e com os interesses do País. Portanto, aceitei com muita satisfação o convite para escrever esta coluna, onde poderemos endereçar algumas questões fundamentais para o Brasil.
O País tem tido alguns avanços fundamentais nas últimas décadas, mas que correm o risco de se perder na discussão e na formulação de política econômica e no grande ruído que existe hoje na sociedade devido ao alto nível de polarização.
Uma questão crucial para países emergentes é a disponibilidade de moeda externa, de reservas. O grande economista brasileiro Mario Henrique Simonsen tratou dessa questão quando o problema era de acesso a moeda forte e, portanto, dificuldade do País em cumprir suas obrigações externas.
Em decorrência disso tínhamos episódios de desvalorização cambial, que levaram a problemas graves de inflação. Simonsen dizia que o Brasil tinha dois problemas: inflação e câmbio, que na época significava falta de reservas. Nas palavras dele, “a inflação aleija, mas o câmbio mata”.
Quando assumi o Banco Central, em 2003, tínhamos uma dívida de US$ 30 bilhões com o FMI e reservas ao redor de US$ 20 bilhões, que chegaram a US$ 15 bilhões – ou seja, o País estava quebrado. A inflação chegou a 17% de junho de 2002 a maio de 2003.
Enfrentamos isso com políticas monetária e fiscal rigorosas, chegamos a colocar a taxa Selic a 26,5% ao ano e a meta fiscal foi fixada como um superávit primário de 4,25% do PIB. Isso é crucial para o registro histórico: foi com estabilidade econômica criada pela inflação controlada, acúmulo de reservas e equilíbrio fiscal que pudemos crescer.
Isso permitiu ao Brasil enfrentar crises como a de 2008, quando foi considerado o país que superou a crise com maior sucesso. Lembro de uma conversa com um presidente de BC de países ricos. “Henrique, vocês estão acumulando reservas, e eu acho que é impressionante. Mas nós não temos reservas. Por que você precisa acumular reservas?” Eu respondi: Olha, o dia que vocês chamarem o Brasil de uma economia avançada, eu não vou precisar mais de reservas”.
Meu propósito nesta coluna será tratar de medidas que o Brasil precisa tomar para voltar a crescer, como a necessidade de restabelecer a estabilidade fiscal (com a restauração do teto de gastos), de uma reforma administrativa, de uma reforma tributária ampla para simplificar a economia e de ações para aumentar a produtividade.
É preciso qualificar o trabalhador e criar empregos melhores. A melhor e mais eficiente política social é o emprego.