A lição das urnas e a omissão do governo (Celso Ming)

Durante os últimos quatro meses, as grandes decisões de política econômica foram sendo adiadas porque conteriam maldades destinadas a ajustar a economia e essas maldades poderiam prejudicar os interesses do governo nas eleições.

Mas as eleições mostraram que algumas das apostas políticas do governo deram errado. Quase nenhum candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro conseguiu eleger-se. E isso mostrou que o auxílio emergencial, que já distribuiu cerca de R$ 275 bilhões à população carente, não funcionou como recurso eleitoral. Parecem ter pesado mais no outro prato da balança (contra o governo) o desemprego, que chegou a 14,1 milhões de pessoas, segundo dados da última Pnad Contínua, e as incertezas quanto ao futuro.

O desempenho negativo da economia que está derrubando a avaliação do governo pelo eleitor não foi compensado pela distribuição do “coronavoucher” que, afinal, garantiu a sobrevivência de 68 milhões de pessoas.

Para o presidente Bolsonaro, o principal recado das eleições foi o de que não bastam políticas puramente populistas para garantir legitimação para o exercício de seu mandato. Para isso é preciso mostrar serviço na condução da política econômica. Ou seja, uma séria correção de rumo tem de começar por avanços consistentes em direção ao reequilíbrio das contas públicas, o que implica uma redistribuição da conta da crise para a sociedade.

No momento, o governo parece ter evocado outro efeito calendário para não agir. Trata-se das negociações para eleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Se é para adiar, mais uma vez, a tomada de decisões, então ficará claro que o governo sempre encontrará desculpas para empurrar tudo com a barriga e a economia continuará se deteriorando, sabe-se lá até que ponto.

Há quem entenda que, a partir do momento em que começar a ser aplicada a vacina, tudo poderá mudar para melhor: a retomada, as expectativas dos investidores e até mesmo o apoio político que hoje falta. Haverá, sim, esse efeito positivo. Mas depois de quase um ano de política negacionista e de desdém enfático à vacina, não seria esse efeito que beneficiaria o presidente Bolsonaro a ponto de deixá-lo em melhores condições para começar a agir.

A falta de planejamento aponta que uma das apostas do governo é a de que sobrevenha a recuperação em V (grande) e que bastará o aumento da arrecadação para consertar tudo. Ou então, que na falta de uma saída indolor, o governo poderá emitir moeda para pagar as contas – imaginando que essa política não produzirá impacto inflacionário. Mas esperar que o socorro caia do céu pode ser desastroso. Se é para respeitar a lei do teto de gastos e colocar em marcha as reformas, então será preciso arregaçar as mangas para começar a trabalhar no ajuste.

As próximas semanas que antecedem o recesso do Congresso deverão indicar até que ponto se poderá esperar por avanços em direção às reformas mais por iniciativa do Congresso e não tanto pela capacidade de articulação do Executivo.

Em 2017, o bitcoin havia chegado a seu ápice em dólares, perto dos US$ 19,8 mil por unidade. De lá até março, sofreu forte recuo porque ficou com fama de ativo especulativo. Mas, no início da semana, o ativo renovou sua máxima histórica, ultrapassando a cotação de US$ 19.864 por unidade.

O jornal americano The New York Times observa que o bitcoin se tornou importante opção para investidores, mais ou menos como tem sido o ouro. Ou seja, aponta o ‘Times’, o bitcoin deixou de ser apenas opção para especuladores.

O ESTADO DE S. PAULO

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