Desocupação recua no 2.º trimestre, mas informalidade é recorde e o rendimento médio foi menor que o de um ano antes
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Com 10,1 milhões de desempregados e 24,7 milhões de trabalhadores subutilizados, os brasileiros podem, apesar de tudo, registrar notícias positivas sobre o mercado de trabalho. O desemprego caiu de 11,1% no primeiro trimestre para 9,3% no segundo, a menor taxa para o período abril-junho desde 2015, quando ficou em 8,4%. O aumento da ocupação reflete principalmente a recuperação da atividade econômica, ainda modesta e liderada pelo setor de serviços, importante fonte de empregos informais e de baixa remuneração. Mas também reflete o aumento do trabalho por conta própria, frequentemente informal e adotado, em muitos casos, como única forma de escapar da fome. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número de trabalhadores por conta própria, de 25,7 milhões, foi o maior de um trimestre encerrado em junho desde o início da série, em 2012, superando por 1,7% o dos três meses anteriores e por 4,3% o de igual período de 2021.
O rendimento habitual dos ocupados, de R$ 2.652, ficou estável em relação aos três meses anteriores e foi 5,1% inferior, descontada a inflação, ao de um ano antes. A massa de rendimentos habituais, de R$ 255,7 bilhões, cresceu 4,4% em um trimestre e 4,8% em um ano.
Mesmo com esse avanço, o volume das vendas no varejo entre janeiro e maio foi apenas 1,8% maior que o dos primeiros cinco meses do ano passado. As famílias foram provavelmente forçadas a recompor suas despesas, concentrando-as em alguns bens e serviços essenciais, como comida, transporte, eletricidade e gás, por causa do grande aumento de preços desses itens.
Apesar da melhora recente do emprego, o quadro geral torna-se bem menos luminoso quando confrontado com dados internacionais. O desemprego médio ficou estabilizado em 5%, em abril e maio, em 38 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em apenas cinco desses países a desocupação superava a brasileira. Em 14, era inferior a 4%. Esse grupo incluía os Estados Unidos, com 3,6% de desocupados, e Alemanha, com 2,8%.
A taxa de informalidade, isto é, de ocupação sem registro oficial, ficou praticamente constante. Passou de 40,1% da população ocupada para 40% entre o primeiro trimestre e o segundo, reproduzindo a de abril-junho de 2021. O número de trabalhadores informais atingiu 39,3 milhões, o maior da série desse indicador, iniciada em 2016.
No setor privado, os empregados sem carteira assinada, 13 milhões, o maior contingente da série histórica, aumentaram 6,8% de um trimestre para outro e superaram por 23% o total do período correspondente no ano anterior. Empregados informais têm normalmente menor segurança e menos benefícios vinculados à relação de trabalho.
Com juros muito altos, muita insegurança entre investidores e crescimento econômico estimado na faixa de 1,5% a 2%, as condições de emprego dificilmente apresentarão melhoras duradouras antes da instalação de um novo governo.