PIB do Brasil ficará atrás do da América Latina em 2022, diz Banco Mundial

Valor Econômico – 07/10/2021

O Banco Mundial melhorou a perspectiva de crescimento para a economia brasileira neste ano, mas piorou bastante o cenário para 2022, quando o Brasil deve ter o pior desempenho entre os países da América Latina e Caribe avaliados. De acordo com o relatório semestral da instituição, o Brasil deve ter expansão de 5,3% em 2021 e de 1,7% no próximo ano. Antes, as estimativas eram de 4,5% e 2,5% de expansão, respectivamente.

Esse cenário mostra um desempenho do Brasil inferior à média da América Latina e Caribe nos dois anos, para o qual estão projetados aumentos de 6,3% e 2,8% para o PIB da região. Na comparação com o relatório anterior, a expectativa de crescimento econômico nesse grupo de países das Américas melhorou para 2021 (era 5,2% antes) e piorou discretamente para o ano que vem (era 2,9%).

O documento da instituição multilateral é intitulado “Recuperação do Crescimento: Reconstruindo Economias Dinâmicas Pós-Covid em Meio a Restrições Orçamentárias”. A análise da instituição é que, a despeito da recuperação estar em curso, ela é mais lenta do que se esperava. “As marcas na economia e na sociedade levarão anos para cicatrizarem.

Nunca foi tão premente a necessidade de recuperar um crescimento dinâmico, inclusivo e sustentável para enfrentar as consequências da pandemia e buscar soluções para carências sociais históricas”, diz o documento em seu sumário executivo.

O material aponta que os custos sociais da pandemia foram devastadores na região. “Sem considerar os resultados do Brasil, os índices de pobreza, medidos com base em uma renda domiciliar per capita de até US$ 5,50/dia, aumentaram de 24% para 26,7% – o patamar mais alto em décadas. Os estudantes da região perderam de um a um ano e meio de aprendizado, e a queda no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU superou aquela verificada durante a crise financeira”, diz o sumário.

“Uma boa notícia é que a campanha de vacinação vem ganhando força nos últimos seis meses e, embora ainda esteja longe dos índices almejados, já tem gerado uma redução nas mortes por covid-19 na maioria dos países”, diz o documento.

Apesar da melhora no ritmo de crescimento no continente, o quadro não permite muita animação. O documento lembra que as “recuperações robustas dos principais parceiros comerciais dos países da região, as baixas taxas de empréstimos globais e a perspectiva de outro superciclo de commodities” podem ajudar a região a crescer mais que o previsto, mas o desempenho está aquém do desejável e do necessário para o enfrentamento dos problemas crescentes, alguns que já existiam antes da pandemia, mas que se agravaram com a crise sanitária.

Segundo o Banco Mundial, a continuidade da retomada exige a superação de vários desafios, entre eles a possibilidade de novas ondas do coronavírus. “Qualquer recorrência do vírus levará a declínios na atividade econômica, não apenas devido a medidas governamentais para impor distanciamento social, mas também porque metade do declínio na atividade se deve ao distanciamento voluntário resultante do medo de contrair a doença”, comenta o organismo.

Outro complicador é o aumento nas pressões inflacionárias globais e o risco de não serem tão passageiras, forçando a ação mais forte na política monetária, algo que já está em andamento em vários países. “As taxas aplicadas a empréstimos aumentarão no mundo todo, deprimindo a demanda e pondo em risco a gestão orçamentária”, explica o texto do Banco Mundial.

O relatório alerta ainda para os altos níveis de dívida do setor privado e falta de clareza sobre a solidez do setor bancário.

“Pesquisas do Banco Mundial sugerem que, em muitos países, de 40% a 60% das empresas encontram-se inadimplentes como resultado da queda de receitas causada pela pandemia. Na melhor das hipóteses, essas pendências frearão os investimentos; no pior dos casos, criarão empresas zumbis: ainda abertas, mas efetivamente em rota de falência”, explica. “O fato de os sistemas bancários estarem tolerando atrasos no pagamento de dívidas pode reduzir a transparência no setor financeiro, dificultando a identificação do real volume de empréstimos inadimplentes no sistema.”

O organismo alerta ainda para os déficits orçamentários crescentes na América Latina e Caribe. “O declínio das receitas públicas e os esforços extraordinários para proteger famílias e empresas durante a pandemia de covid-19 resultaram em altos déficits e no aumento da dívida. Em alguns casos, isso levou a rebaixamentos de classificação e a um aumento potencial nos custos de empréstimos”, comenta o texto.

Segundo a instituição, a relação média entre dívida pública e PIB cresceu drasticamente em dois anos: um aumento de 15 pontos, atingindo 75,38%. “Isso levou a uma redução da capacidade de contrair empréstimos no exterior e dificultou a gestão fiscal no futuro”, aponta.

Para o Banco Mundial, a crise da xovid-19 somou-se a outra “década perdida” de baixo crescimento, indicando a presença de problemas estruturais mais profundos. “Ademais, torna mais urgente a busca de soluções para as deficiências históricas em infraestrutura, educação, política energética, capacidade empresarial e inovação. Tais deficiências impedem o crescimento da região, que também precisa enfrentar novos desafios relacionados à mudança climática”, afirma o documento.

“A menos que esses fatores estruturais sejam tratados, o crescimento provavelmente continuará anêmico e será insuficiente para que a região avance no combate à pobreza e possa aliviar suas tensões sociais”, completa.

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