Valor Econômico – 28/09/2021
O mercado de trabalho apresenta sinais positivos, como aumento da população ocupada em ritmo mais intenso, mas o quadro ainda deve ser considerado desafiador, com o desemprego, a subocupação e a informalidade em patamares elevados.
O diagnóstico foi feito em estudo publicado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no qual apontou que a taxa de desemprego mensal recuou para 13,7% em junho, abaixo dos 15,1% de março.
O trabalho calcula o desemprego no mês a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que considera o desempenho médio em um trimestre móvel. “O mercado de trabalho, apesar da melhora recente, ainda apresenta um quadro desafiador, com taxas de desocupação, subocupação e informalidade ainda em patamares elevados”, diz o documento.
No resultado dessazonalizado, a taxa de desemprego em junho foi de 13,8%, a mais baixa desde maio de 2020, quando foi de 12,6%. Essa redução do desemprego só não tem sido mais intensa porque há uma pressão no mercado com a volta de pessoas em busca de vagas, com a melhora do cenário da pandemia.
A taxa de participação aumentou de 54,8%, em junho de 2020, para 58,2% em junho de 2021. A taxa mede a relação entre as pessoas empregadas ou em busca de vagas em relação ao total daquela faixa etária. No auge da pandemia, essa parcela caiu para abaixo de 50% diante da impossibilidade de as pessoas desempregadas buscarem trabalho, por causa das condições sanitárias.
Apesar desse retorno, a força de trabalho ainda está abaixo do que antes da pandemia. Pelos dados do Ipea, o número era de cerca de 103 milhões de pessoas em junho de 2021, ou seja, ainda cerca de 3 milhões a menos que em fevereiro de 2020 (106 milhões).
Segundo o estudo – de autoria dos pesquisadores Maria Andreia Parente Lameiras, Carlos Henrique Corseuil, Lauro Ramos e Felipe Mendonça Russo -, esse movimento de recomposição da força de trabalho deve continuar nos próximos meses, ainda que em menor intensidade, puxado pelo controle da pandemia e pelo fim do auxílio emergencial, previsto para outubro. Com isso, o aumento da ocupação pode não ser forte o suficiente para absorver os atuais desempregados e os que voltarão a buscar trabalho.
“A expansão da ocupação poderá não ser suficientemente forte para reduzir consideravelmente o contingente de desocupados, o que tende manter a taxa de desemprego em patamar elevado ao menos no curto prazo”, diz o estudo.
O Ipea também aponta outro fator que deve segurar a redução da taxa de desemprego: o elevado nível de trabalhadores subocupados, ou seja, aqueles que trabalham menos horas do que gostariam. Isso porque há a possibilidade de, antes de abrir uma nova vaga, estender a jornada de trabalho de indivíduos já ocupados.
Dentro da análise de uma “situação desfavorável” que ainda se encontra o mercado de trabalho, o Ipea cita a influência do avanço do percentual de trabalhadores desempregados que estavam nesta situação por dois trimestres seguidos, que passou de 60% no segundo trimestre de 2020 para 73,3% no segundo trimestre deste ano.
Já a parcela de desempregados que obtiveram uma colocação no trimestre subsequente recuou de 26,1% para 17,8%, considerando a mesma base de comparação.
Na avaliação do Ipea, a reação recente na ocupação tem ajudado a reduzir o desalento, que é quando o trabalhador desiste de procurar trabalho por considerar que não tem chances de conseguir. O contingente de desalentados recuou do nível recorde de 6 milhões de trabalhadores no primeiro trimestre deste ano para 5,6 milhões nos três meses seguintes.
“As reduções da população desalentada nos últimos meses e na taxa de desemprego vêm sendo impulsionadas pela expansão da ocupação, cujo contingente já se aproxima do nível observado no período pré-pandemia”, diz o texto do Ipea.
A população ocupada no mercado de trabalho brasileiro somava 88,8 milhões em junho, o maior patamar desde março de 2020 (90,5 milhões), segundo os dados mensalizados da Pnad Contínua, após a exclusão dos fatores sazonais.