Empresas aderem à licença-paternidade estendida

Desde que o Programa Empresa Cidadã possibilitou estender a licença-paternidade para 20 dias – 15 a mais do que o previsto em lei no Brasil –, o benefício foi adotado por 29% das empresas do País, de acordo com pesquisa da Mercer Benefícios. E a tendência é que a adesão cresça. Segundo o Guia Salarial 2021 publicado pela Robert Half, 71% dos profissionais consideram o pacote de benefícios antes de aceitar uma proposta de emprego. A licença-paternidade estendida é apontada como uma das principais demandas.

O advogado especializado em Direito Civil Émerson Tauyl diz que a extensão do período de licença vem na esteira da plataforma de valorização da participação paterna na vida da criança. “O próprio legislador estabeleceu incentivos para a formulação e a implementação de políticas públicas voltadas à relevância dos primeiros anos de vida e desenvolvimento infantil”, explica Tauyl, referindo-se à Lei n.º 13.257/16, sancionada no governo de Dilma Rousseff, que dispõe sobre políticas públicas para a primeira infância.

Olhar para os colaboradores de forma completa foi o que levou a multinacional Ingredion a estender a licença-paternidade para 20 dias nas áreas operacional e administrativa. “Acreditamos que esse movimento da companhia reforça a paternidade ativa e responsável”, afirma Santiago Bellotti, diretor de recursos humanos e excelência operacional para a América do Sul.

O coordenador de logística Pedro Guedes, de 34 anos, conversou com o RH da empresa assim que soube da gravidez da mulher. “Eles me falaram sobre a licença estendida e minha participação na vida da Manu (hoje com 7 meses) começou já durante a gravidez, com curso de pais e acompanhamento de consultas”, conta.

Para ele, compartilhar os momentos iniciais da vida da filha foi fundamental não só para ter maior conexão com ela, mas também para entender o quanto a mãe se desgasta. “Eu adaptei a minha rotina toda à da bebê para compartilhar tudo com elas. Hoje não imagino como seria se não tivesse tirado esses dias.”

Além do básico
Enquanto muitas companhias ainda se apegam à licença-paternidade mínima, há aquelas que vão bem além dos 20 dias do Empresa Cidadã. A Mastercard, por exemplo, oferece 16 semanas remuneradas para que os pais possam acompanhar os primeiros meses de vida do bebê. Já a Salesforce concede três meses e, após o término da licença, a volta é gradual, com semanas reduzidas no primeiro mês. O colaborador também pode escolher o momento ideal de usar o benefício, até um ano após o nascimento, para ter a opção de fazer um revezamento nos cuidados com a criança.

No caso da Atlas, empresa de geração de energia renovável, além de arredondado para 30 dias, o benefício foi estendido aos funcionários de outros países onde a corporação atua – Chile, México, Uruguai e Estados Unidos.

“A empresa sabe da sua responsabilidade como agente de mudança na desconstrução de vieses, aumentando a conscientização e responsabilidade compartilhada nos cuidados com a criança”, fala Lilian Moreira, especialista em RH da Atlas no Brasil. O impacto positivo é evidente. “O que percebemos foi um aumento do engajamento e da proatividade dos colaboradores e busca por melhores resultados.”

No Google, a política Baby Bonding Leave, válida para todos os escritórios da empresa no mundo, concede pelo menos 12 semanas de licença com remuneração integral. Na gigante de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, todos os funcionários são contemplados – pais biológicos e adotivos. A ideia é que todos tenham a oportunidade de criar laços com o novo membro da família.

Receio inicial
“Como assim, vou ficar sem trabalhar com a empresa precisando crescer?”. Essa foi a primeira questão que passou pela cabeça de Jean Alves, de 30 anos, engenheiro de software da startup Loft que se tornou pai no início da pandemia. A empresa adotou a licença parental estendida de até seis meses para pais e mães com o objetivo de igualar o custo dos funcionários e reduzir a diferença entre gêneros.

Apesar do receio inicial, tudo mudou quando ele pegou Gabriel, hoje com dez meses, no colo. A mudança de paradigma emocionou inclusive avô paterno, que se lembrou da própria experiência. “Ele me contou que quando eu nasci, ele chegava do trabalho e eu já estava dormindo”, fala. “Estamos vivendo algo inédito e foi a licença que possibilitou isso.”

À frente do RH da empresa, a diretora Renata Feijó observa que os colaboradores se sentem pertencentes a algo maior. “Poder usufruir da licença faz com que eles sintam que é uma empresa que acolhe e isso é fundamental para construir uma relação recíproca de longo prazo”, afirma, lembrando que a política é a mesma para casais homoafetivos e pais adotivos.

Pioneira mundial na implantação da licença-paternidade de seis meses, a Diageo, detentora de marcas como Johnnie Walker e Smirnoff, assume o papel, no ambiente das organizações, de ousar em ações afirmativas.

Defensor ferrenho dessa agenda, o diretor de marketing para produtos Reserve, Guilherme Martins, sentiu na pele o que define como “experiência transformadora” com a chegada do segundo filho, Joaquim, agora com 1 ano: “Voltei a trabalhar com um olhar mais sensível e ciente de que, como executivo, tenho, sim, de disseminar isso dentro da organização”, disse Martins.

O ESTADO DE S. PAULO

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