Apesar das dificuldades atuais na prevenção de distúrbios emocionais dentro das empresas, os participantes do webinário “Saúde Mental” veem o futuro com certo otimismo. “Além dos efeitos terríveis que causou na saúde das pessoas, a crise sanitária deixou aprendizados importantes para a sociedade e para as empresas em particular. A abertura para o debate sobre a saúde mental e o acúmulo de conhecimentos vão nos ajudar a combater a depressão e o burnout”, acredita Carlo Pereira, diretor da Rede Brasil do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com Pereira, sinais de que as empresas começam a reconhecer a dimensão do problema são os ajustes que algumas delas já fizeram em seus organogramas. “A Unilever e a AmBev, por exemplo, hoje têm diretoras de saúde mental.
Acho que esse é um caminho a ser trilhado, que começa, naturalmente, quando o CEO compra a ideia de que precisa montar uma estratégia abrangente para conter os casos de distúrbios emocionais dentro da empresa”, afirma. Há que se considerar também as pressões internas e externas para que as empresas assumam um papel mais protetor de seus funcionários. Os millennials, que são cada vez mais numerosos nas companhias e na população em geral, estão na linha de frente da luta por melhores práticas empresariais, lembra Pereira. “O valor da sustentabilidade cresce a cada dia, já conquistou o mercado financeiro, por exemplo. O cuidado com a saúde mental é o próximo passo a ser dado pelas empresas mais responsáveis, que prezam por sua imagem”, diz.
Lisiane Bizarro sustenta seu otimismo a partir de um olhar para o passado. “A psicologia avançou muito nas últimas décadas e continua avançando até em ritmo mais forte hoje, por causa da pandemia. Acabamos com aquelas internações longas e infrutíferas em hospitais psiquiátricos e vamos acabar também com a subestimação dos distúrbios emocionais por parte das empresas. Mesmo porque, quem vai compactuar no futuro com empresas que não se importam com a saúde mental de seus colaboradores?”, questiona a diretora da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP). Mulheres, jovens e profissionais de médio escalão, como analistas e especialistas, foram os trabalhadores que mais sofreram com as incertezas trazidas pela pandemia de covid-19, segundo pesquisa da FDC/Talenses divulgada no final de abril. No grupo feminino, com 262 representantes (45,7%) num universo de 573 entrevistados, 80,9% admitiram ter enfrentado problemas emocionais nesse período, enquanto o percentual de homens que relataram transtornos dessa ordem foi de 67,8%. Entre os que se sentiram “bastante prejudicados” pela pandemia, o percentual de mulheres foi quase o dobro do reconhecido pelos homens (25,1% ante 13,1%).
O estudo também mostrou uma nítida relação entre a idade dos profissionais consultados e o número de casos: quanto mais velhos, mais resilientes eles se mostraram. A geração mais antiga, dos baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964), foi a que menos sofreu abalos emocionais (54,2% relataram problemas), enquanto na Geração X (1965-1978) esse índice foi de 76,92%; na Geração Y, dos millennials (1979-1990), o percentual se repetiu (76,8%), mas com incidência bem maior de casos mais graves; e na Geração Z (a partir de 1991) chegou a 80,6%. Um terço dos entrevistados (32%) revelou que o RH de suas empresas não oferece o apoio necessário às questões emocionais dos colaboradores; outro terço (31%) declarou que esse apoio existe e os restantes 37% disseram que há um suporte parcial. A maioria (53%) afirmou conhecer alguém que sofreu burnout e quase dois terços (64%) souberam de colegas que pediram demissão por não aguentar as pressões do trabalho no contexto da pandemia.
VALOR ECONÔMICO