O recorde do Caged em meio à crise sanitária (Editorial)

Em pleno recrudescimento da pandemia de covid-19, que vem provocando número recorde de mortes por dia, a notícia de que janeiro deste ano registrou a maior abertura de postos de trabalho com carteira assinada para o mês nos últimos 30 anos é alvissareira. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia mostram que, no primeiro mês de 2021, foram abertas liquidamente 260.353 vagas no mercado de trabalho formal. É o maior número para janeiro desde 1992, quando essas estatísticas passaram a ser compiladas.

No fim de janeiro, estavam registrados no País 39,62 milhões de empregados, um número maior do que o de janeiro (39,37 milhões) e de fevereiro do ano passado (39,59 milhões). Pelo menos em número de empregos com carteira assinada o impacto mais forte da pandemia no mercado de trabalho foi superado.

A renda média, porém, diminuiu. Era de R$ 1.831,89 em janeiro de 2020; um ano depois, passou para R$ 1.760,14. É uma queda real de 3,9%.

O movimento de contratações foi disseminado. Todos os setores aumentaram o número de empregados. Desempenho particularmente notável foi o da indústria, com a abertura líquida de 90.431 postos de trabalho formais. O setor de serviços, com 83.686 novas vagas, ficou na posição seguinte. A construção civil abriu 43.498 postos e a agropecuária, 32.986. O comércio contratou 9.848 pessoas.

Em parte, os bons resultados do Caged são reflexo da efetividade do Programa de Manutenção do Emprego e Renda (BEM), por meio do qual as empresas puderam suspender contratos ou reduzir jornada e salários, o que fez cair o número de demissões no período mais difícil durante a pandemia.

Além de destacar os efeitos do BEM, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que os dados do Caged se alinham a outros que mostram que “a economia brasileira está de novo decolando”.

Seria ótimo se os dados futuros confirmassem a avaliação do ministro. A despeito das boas notícias trazidas pelo Caged, talvez a situação recomende avaliação cautelosa. Ao mesmo tempo que a pandemia se mostra revigorada e a campanha de vacinação ainda derrapa, surgem sinais de perda de dinamismo da economia.

O ESTADO DE S. PAULO

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