Os sucessivos reajustes nos preços da gasolina pressionaram a inflação oficial no País em fevereiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,86%, maior alta para o mês desde 2016, informou nesta quinta-feira, 11, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado superou até as expectativas mais pessimistas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam um avanço mediano de 0,71%. A pressão só não foi mais forte porque o fim do pagamento do auxílio emergencial pelo governo às famílias mais vulneráveis já diminuiu a demanda por itens essenciais, com reflexo sobre os preços dos alimentos, que têm dado uma trégua após meses de altas expressivas, avaliou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
A taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses acelerou de 4,56% em janeiro para 5,20% em fevereiro, ante uma meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano. No mesmo período, os preços dos alimentos e bebidas acumularam uma alta de 15%. No mês de fevereiro, o avanço foi mais modesto que o de meses anteriores, 0,27%.
“Em janeiro e fevereiro a gente não tem auxílio, houve redução na demanda doméstica por arroz”, afirmou Kislanov. “A retirada do auxílio pode ter reduzido a demanda por alguns itens essenciais, como é o caso do arroz. Há uma série de fatores que vão influenciar o preço dos alimentos, o auxílio emergencial é apenas um deles”, ponderou.
O grupo alimentação e bebidas mostrou desaceleração em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo. Houve redução nos preços da batata-inglesa, tomate, leite longa vida, óleo de soja e arroz.
“No caso da batata e do tomate, a gente teve um clima mais seco em fevereiro, depois de um clima mais chuvoso em janeiro, que ajudou a reduzir preços, mas essa redução também pode ter efeito da retirada do auxílio emergencial. São itens importantes na cesta de consumo das famílias, como o leite longa vida. Todos esses itens com redução podem ter efeito da retirada do auxílio”, apontou Kislanov.
Por outro lado, houve aumento de preços na cebola e nas carnes, mas foram os avanços nos preços dos combustíveis que mais pesaram na inflação em fevereiro.
“A gente tem tido vários sucessivos reajustes nos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, o que acaba chegando ao consumidor final. E o etanol sobe porque é um substituto (da gasolina)”, observou Pedro Kislanov.
A gasolina subiu 7,11% em fevereiro, sendo responsável sozinha por cerca de 42% do IPCA. Também ficaram mais caros o etanol (alta de 8,06% e impacto de 0,05 ponto porcentual), óleo diesel (5,40%) e gás veicular (0,69%). Com os resultados de fevereiro, os combustíveis acumulam alta de 28,44% nos últimos nove meses. “A gasolina subiu quase 28% em nove meses. Lembrando que a gasolina é o item de maior peso no IPCA”, disse Kislanov.
Apesar da pressão sobre o orçamento das famílias, ainda não há sinais de influência de demanda sobre a inflação, avaliou o gerente do IBGE.
“Não dá para dizer que a gente tem pressão de demanda. A gente ainda está num cenário muito atípico e de muita incerteza, com aumento no número de mortes na pandemia, adoção de medidas restritivas em várias cidades em março, com possibilidade de volta do auxílio emergencial ou não. São muitas questões que podem afetar a inflação nos próximos meses”, enumerou Kislanov, citando ainda possíveis decretos de lockdown, desemprego elevado e renda mais deprimida. “Não dá para falar em pressão de demanda ainda nesse contexto”, acrescentou.
O ESTADO DE S. PAULO