As rusgas do presidente Jair Bolsonaro com o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, começaram lá atrás. A relação entre os dois já nasceu torta. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou Brandão para o BB e consultou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que endossou o nome.
A indicação, porém, não foi validada amplamente pelo presidente Jair Bolsonaro. Isso criou um problema à época, o que deixou o presidente Bolsonaro incomodado porque os dois – Guedes e Campos Neto – já tinham decidido pelo nome antes de ele bater o martelo. Caso quisesse, porém, o presidente poderia ter vetado o nome.
Para piorar a situação, em dezembro, o BB contratou Seu Jorge para fazer uma live para os funcionários do banco, no dia 5 de dezembro. Os ideólogos do governo criaram a maior confusão e reclamaram com o presidente, dizendo que Seu Jorge é ligado à esquerda e que o banco público contratar o cantor era um absurdo. O presidente concordou com as críticas e “anotou no caderninho”.
O presidente e essa ala radical do governo alegam que o BB continua “tomado pelos petistas” e que a atual direção, assim como a anterior, nada fez para atuar na troca desses executivos que seriam ligados à esquerda e continuariam com poder no banco.
A decisão de Brandão de fechar agências sem que o presidente fosse comunicado foi o estopim. Auxiliares garantem que o presidente só ficou sabendo das demissões e do fechamento de agências quando começaram a chegar as cobranças. Elas vieram, principalmente, de prefeitos e parlamentares que ligaram ou mandaram WhatsApp.
O presidente insistiu que quer ser informado dessas decisões com antecedência. E cobrou Guedes, que não teria lhe informado da reestruturação anunciada na segunda. No entanto, na escolha de Brandão, o presidente já tinha sido comunicado que o nome estava alinhado ao objetivo da equipe econômica de enxugar o banco e focar na digitalização e, em nenhum momento, se opôs. Para analistas de mercado, o plano do BB foi considerado, inclusive, tímido e atrasado.
A avaliação no Palácio do Planalto é de que Bolsonaro pode até desistir de demitir o presidente do BB por temer como a ingerência política vai afetar a queda das ações do banco, mas exige que seja informado de tudo por conta do contexto das eleições na Câmara e no Senado.
Para assessores do presidente, está evidente que não existe relação de confiança de Bolsonaro com o presidente do BB e que há um desgaste do ministro Paulo Guedes, que endossou o nome de Brandão lá atrás e agora entrou em campo para segurá-lo na presidência do BB. Ou seja, Guedes está gastando capital junto ao presidente.
Na conversa com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Bolsonaro falou com o presidente sobre a situação do Brandão, e a cobrança maior foi no sentido de que ele precisa ser informado de uma decisão como essa de impacto social, político e econômico. O trabalho, agora, é para contornar a situação, para evitar um mal maior, na avaliação de assessores presidenciais.
Funcionários do BB também estão temerosos com o risco de o impasse em torno do plano de reestruturação do banco abrir a porteira para as indicações do “Centrão” no banco nesse momento em que compromissos estão sendo assumidos para a eleição do comando das presidências da Câmara e do Senado.
Segundo apurou o Estadão, há uma avaliação entre os funcionários que faltou transparência, mas o risco maior é lotear os bancos com indicações políticas ou ideológicas. O diálogo entre os funcionários e o novo presidente do BB é considerado positivo, ao contrário da relação com o presidente anterior, Rubem Novaes.
O ESTADO DE S. PAULO