A produção industrial avançou 1,1% em outubro na comparação com setembro, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o sexto mês consecutivo de alta do indicador. Com essa trajetória, o indicador ficou 1,4% acima do patamar de produção de fevereiro, o último mês antes do início da crise provocada pela pandemia da covid-19. Apesar do crescimento nos últimos seis meses, a produção industrial ainda acumula queda de 6,3% no ano e recuo de 5,6% em 12 meses. Apesar da alta em relação a setembro, especialistas ouvidos pelo Valor observam que o avanço de outubro foi o menor para um mês desde que o setor retomou o crescimento em maio, após as taxas negativas de março e abril, meses em que fábricas fecharam as portas devido à política de isolamento social. De junho em diante, as taxas foram cada vez menores, apontando uma tendência de desaceleração na produção industrial.
O gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), André Macedo, atribui essa desaceleração, em parte, a uma acomodação natural do índice, que passou a ter uma base de comparação maior. Ele cita, também, a limitação de demanda à indústria imposta pela resistência do desemprego, que fechou outubro em 14,1%, índice mais alto dos meses de pandemia, segundo o IBGE.
“A trajetória ascendente [da indústria] nos últimos meses tem muito a ver com a sustentação e recuperação do emprego e renda. Mas ainda há um contingente muito grande fora do mercado, o que limita o consumo e, portanto, a demanda da indústria.”. Altas mais significativas na produção industrial dos próximos meses, segundo ele, requerem geração mais intensa de emprego e renda, já que o efeito do simples retorno da atividade industrial sobre as taxas começa a se neutralizar.
O especialista diz que ainda é cedo para apontar correlação entre a desaceleração da produção e a redução da cobertura e valor do auxílio emergencial, mas que é “provável” que o esvaziamento do benefício impacte negativamente a indústria nos próximos meses e ao longo de 2021. Economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) definem como “incerto” o comportamento da indústria nos próximos meses, dado o aumento de casos de covid-19 no país (que poderia levar a novo fechamento de fábricas) e a redução e eventual extinção do auxílio. O Iedi também cita “pressões inflacionárias” como fator de inibição do consumo e, portanto, obstáculo à demanda por produtos industriais. A conjunção de fatores poderia refrear a retomada do setor.
A alta de apenas 1,1% na margem frustrou as expectativas de analistas previamente consultados pelo Valor que, na média, esperavam um avanço de 1,55%. O economista Rodrigo Nishida, da LCA Consultores, afirma que a escassez pontual de insumos explica o freio da produção nos últimos meses. Ele cita o caso da indústria de transformação, na qual se acumulariam relatos de falta de matéria-prima. Nishida também menciona o câmbio desvalorizado, que pode ter apresentado dificuldade à importação de insumos em alguns setores. Em outubro, das quatro grandes categorias econômicas da indústria, duas recuaram – ainda que próximas da estabilidade – e outras duas avançaram. Bens intermediários e bens semiduráveis e não duráveis recuaram 0,2% e 0,1% respectivamente em outubro. Somadas, as duas categorias têm peso de 80% na indústria, sendo os intermediários responsáveis por mais da metade da atividade industrial do país (55%).
Em linha com a recuperação da indústria, os intermediários estão 3% acima do patamar pré-crise, enquanto a produção de semiduráveis e não duráveis está 0,1% abaixo da verificada em fevereiro. Os bens de capital, por sua vez, avançaram 7% na margem devido a um aumento na fabricação de caminhões e equipamentos de transporte. Já investimentos mais nobres, relacionados à modernização e ampliação dos parques em si, teriam mostrado leve recuo no mês, segundo o IBGE. A categoria está agora 3,5% acima do patamar pré-pandemia e, embora, contribua com apenas 10% do índice geral do setor, ajudou a mantê-lo no campo positivo.
Os bens duráveis também tiveram produção em alta em outubro (1,4%) em razão do desempenho da atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias, que avançou 4,7% no mês e teve o maior peso no índice geral. Segundo Macedo, do IBGE, a indústria de automóveis teria segurado sozinha a taxa positiva dos bens duráveis, enquanto ramos de peso experimentaram quedas de produção. Foram os casos de eletrodomésticos, motocicletas e mobiliários. Apesar de seis altas mensais consecutivas altas, a produção de bens duráveis ainda está 4,2% abaixo do patamar de fevereiro. Com relação ao conjunto das 26 atividades investigadas, 11 recuaram, indicando menor espalhamento do crescimento no setor, informou o IBGE. Além de automotores, contribuições positivas vieram de metalurgia (3,1%), farmoquímicos (4,5%) e máquinas e equipamentos (2,2%). Os principais impactos negativos vieram de produtos alimentícios (-2,8%), que tiveram interrompidos três meses de altas seguidas, e das indústrias extrativas (-2,4%), que registraram o segundo mês seguido de queda.
VALOR ECONÔMICO