O mercado de trabalho mostra irregular recuperação desde o pior momento da crise econômica. O Caged apresentou, para outubro, um saldo de quase 400 mil vagas formais. Ainda que mudanças no método de captação e a própria mudança estrutural causada pela pandemia possam contar parte da história, é inegável o bom resultado do emprego com carteira.
A Pnad Contínua apresenta um resultado mais modesto para o terceiro trimestre, mas também positivo, principalmente em agosto e setembro. Empregos formais apresentaram o segundo mês de recuperação. No entanto, o emprego informal, que estava se recuperando desde julho, caiu na série “mensalizada” (seguindo a metodologia do Banco Central) em relação ao mês anterior. Tal fator pode ter se dado, em setembro, pela redução do auxílio emergencial, de R$ 600 para R$ 300, junto ao aumento da inflação, que tirou poder de compra dos mais pobres, reduzindo as vendas de outros estabelecimentos informais.
A desigualdade da renda do trabalho também aumentou novamente no terceiro trimestre, mostrando que a recuperação privilegiou os mais bem posicionados no mercado de trabalho. Isso se deve principalmente ao elevado aumento das horas trabalhadas dos trabalhadores formais, de renda mais elevada, devido ao fim da suspensão e redução de jornada dos contratos. Por fim, a taxa de desemprego continuou em alta, chegando a 14,6%. Apesar do volume de empregos ter aumentado no geral, a volta da população à força de trabalho tem se sobreposto ao primeiro movimento, pressionando para cima o nível desocupação.
Como se vê, o padrão da volta da atividade afeta de forma irregular e com padrões desiguais o mercado de trabalho. Os informais, que tiveram a maior queda do emprego, mas se recuperavam mais rápido, tiveram pequena queda no mês de setembro, enquanto os formais têm mostrado recuperação mais forte e consistente nos últimos meses, tanto na Pnad Contínua (“mensalizada”) e, principalmente, no Caged.
*PESQUISADOR DA ÁREA DE ECONOMIA APLICADA DO IBRE/FGV
O ESTADO DE S. PAULO