Negócios sociais dão mentoria a quem precisa se recolocar no mercado

Quem busca o primeiro emprego ou uma recolocação no mercado de trabalho costuma ter suas angústias. “Será que meu currículo é bom?” e “tenho condições de mudar de carreira?” são dois questionamentos frequentes, mas que muitas vezes acabam travando candidatos. Empresas especializadas há um bom tempo já oferecem consultoria na área, mas em geral voltadas a executivos ou cobrando valores nem sempre acessíveis. Isso agora está mudando.

Nos últimos anos, e em especial com a pandemia, surgiram iniciativas voltadas à recolocação de pessoas no mercado de trabalho a preços populares. São projetos, ONGs ou startups com gente especializada querendo compartilhar conhecimento e dar novos rumos a quem busca um emprego. Às vezes, até de graça.

Um dos exemplos é o projeto Sabiah, gestado timidamente no início da pandemia. “Estava acontecendo muita coisa no Brasil e no mundo e eu não sabia como ajudar, porque tinha que ficar trancada dentro de casa. Na mesma época, uma amiga veio me pedir ajuda com o currículo. Era uma coisa que acontecia com frequência, de eu ajudar na elaboração de currículos ou em conversas sobre transição de carreira”, conta Mariana Busani, idealizadora do projeto.

“Fiz um post no Linkedin me oferecendo para conversar sobre carreiras. Quando vi, tinha mais de 100 mensagens. Passei a ter quatro agendamentos por dia e minha agenda ficou lotada por dois meses”, relata Mariana, que é profissional da área de e-commerce.

Amigas de Mariana se ofereceram para ajudar, e em dois meses o que era uma oferta de ajuda por post de Linkedin virou um projeto mais robusto. Uma plataforma foi criada e novos “conselheiros” – como são chamados os colaboradores – foram se juntando. Eles são profissionais de diversas áreas: engenheiros, comunicadores, pesquisadores, advogados, pedagogos, administradores.

Quem tem dúvidas sobre carreiras ou outros assuntos, como intercâmbio, agenda um horário e tem cerca de uma hora para expor suas dúvidas (e aflições) e ouvir o que os profissionais pensam sobre isso. Tudo de graça.

“A gente procura mostrar algum caminho de positividade. As pessoas vêm muito negativas. São desempregados que muitas vezes vêm e falam ‘eu fiz entrevista e fui recusado, já distribuí meu currículo, fiz meu Linkedin, não sei mais o que fazer’. E não sabem o que querem porque precisam de dinheiro e vão atrás de qualquer coisa”, conta a fundadora do Sabiah.

“Uma dica que eu sempre dou é: estipule um horário para procurar emprego. Faça isso como se fosse um trabalho. Porque se você ficar 24 horas por dia procurando um trabalho, vendo se o e-mail chegou, você vai ficar doido.”

Meio termo entre o serviço gratuito e o caro
Outro projeto semelhante, mas dedicado a pessoas em vulnerabilidade social ou econômica, é o Revisores do Bem. Ele foi criado há dois anos por Lucy Nunes para ajudar quem precisa de orientação com currículo e entrevistas. Assim como no caso do Sabiah, o serviço é feito por voluntários.

O projeto, porém, serviu como ponto de partida para Lucy atender a outro segmento. “Entendi que existia uma parcela da população que chegava até a gente e não estava em vulnerabilidade social, mas também não tinha condições de pagar pelo serviço que o mercado oferecia”, conta Lucy. “Então surgiu o Prepara.me.”

O foco da empresa – que conta com profissionais da área de recrutamento e psicólogos – é oferecer orientação profissional para pessoas das classes C e D. “Como a gente trabalha com cargos de entrada, a gente recebe todo tipo de pergunta. Há casos de pessoas que querem escrever um e-mail para o recrutador e não sabem como. A gente ajuda nessas frentes.”

Os pacotes de serviço partem de R$ 50. Há desde ajuda para confecção e análise de currículos até simulação de entrevista (R$ 85). Nesse caso, um profissional especializado em recrutamento age como o entrevistador e aponta pontos fortes e quais merecem mais atenção por parte do candidato.

O Prepara.me também tem atuação em empresas. “Elas nos contratam e nos colocam como parte do pacote de benefícios. Quando os funcionários são desligados, a gente faz toda a preparação para o retorno deles ao mercado. É um serviço que já existia antes, mas ligado a executivos. Agora, a gente oferece isso a cargos de entrada, como atendentes de call center.”

Ajuda de nicho: mulheres
O Se Candidate Mulher é voltado exclusivamente para ajudar mulheres. Ele surgiu após a fundadora, Jhenyffer Coutinho, se deparar com uma pesquisa que apontou que a maioria das mulheres só se candidata a vagas de emprego ou promoção quando considera que tem 100% dos pré-requisitos necessários, enquanto homens o fazem com 60% deles.

“Isso está muito ligado à síndrome de impostor. Ela pode atingir qualquer pessoa, mas acontece mais em mulheres. A gente é ensinada à perfeição, de sempre saber tudo, enquanto o homem é ensinado a conviver com o risco”, conta Jhenyffer.

Assim como o Prepara.me, o Se Candidate Mulher também oferece serviços para candidatas e empresas. “A gente tem três trabalhos fortes com as mulheres: produção de conteúdo, cujo material é gratuito; mentoria, que é paga, mas selecionamos cinco bolsas gratuitas por mês; e trabalho na nossa comunidade, com atendimento todos os dias, tirando dúvidas”, explica.

Os serviços oferecidos partem de R$ 35. Nos próximos meses, um clube será lançado para quem tiver interesse a ter acesso a todo o conteúdo oferecido. A ideia é cobrar uma mensalidade a preços populares.

O ESTADO DE S. PAULO

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