Com 99,89% das urnas apuradas, o país registrou 23,14% de abstenções no primeiro turno das eleições, o maior índice para pleitos municipais dos últimos 20 anos.
Nas eleições anteriores, ocorreram sucessivos aumentos nas taxas de pessoas aptas a votar que não compareceram às urnas. No pleito municipal de 2016, a abstenção foi de 17,6% no primeiro turno e no anterior, em 2012, a taxa foi de 16,9%.
“Os níveis de abstenções foram inferiores a 25%, portanto, em plena pandemia, nós tivemos um índice de abstenção pouca coisa superior a das eleições passadas”, disse em entrevista coletiva o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, neste domingo (15). “Eu gostaria de cumprimentar, de coração, o eleitorado brasileiro que compareceu em massa apesar das circunstâncias.”
Em São Paulo, com 99,67% de urnas apuradas, a taxa de abstenções é de 29,29%. Em 2016, o índice foi de 21,8% e, em 2012, 18,5%.
Com 99,99% dos votos contabilizados, a capital do Rio de Janeiro registrou 32,79% de abstenções, superior aos 24,3% registrados em 2016.
O aumento de abstenções foi registrado também em outras capitais do país. Florianópolis, por exemplo, teve 28,65% de abstenções, mais que o dobro do registrado em 2016 (12,2%).
Manaus também registrou acentuado aumento e passou de 8,6% no primeiro turno de 2016 para 18,23% neste ano.
Já Vitória, que teve 10,8% de abstenções nas eleições municipais anteriores, registrou 25,45% em 2020.
Curitiba também apresentou índice elevado, com 30,18% —em 2016, a taxa foi de 16,4%, número já superior às eleições municipais de 2012 (9,1%).
Em Macapá, capital do Amapá, que passa por um apagão, as eleições para prefeito e vereador foram adiadas na última quinta-feira (12).
O primeiro turno deste ano foi marcado por problemas registrados no aplicativo e-título, tentativas de ataques cibernéticos a servidores da corte e lentidão da divulgação da apuração dos resultados, que, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), não teve relação com as investidas hacker.
Segundo Barroso, houve uma falha no supercomputador que processa a totalização dos votos. O ministro garantiu que o episódio não afeta o resultado da votação. “Não há nenhum risco de o resultado não expressar o que foi votado”, afirmou, em entrevista coletiva à imprensa, por volta de 21h de domingo (15), que começou com uma hora de atraso por causa dos problemas.
No levantamento realizado nos dias 13 e 14 de novembro pelo Datafolha, 13% dos entrevistados indicaram que poderiam deixar de votar em função do coronavírus. O índice diminui em relação à pesquisa feita pelo instituto entre os dias 21 e 22 de setembro, que apontou 21%.
O levantamento de novembro ouviu 2.987 eleitores e está registrado no Tribunal Regional Eleitoral com o número SP-01587/2020. Encomendado pela Folha em parceria com a Rede Globo, ele tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.
O pleito acontece em meio à pandemia do novo coronavírus, que já deixou mais de 165 mil mortos no Brasil até este domingo.
Para evitar o contágio durante a votação, o TSE elaborou um plano de segurança sanitária com especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital Sírio-Libanês.
Entre as regras estão a obrigatoriedade do uso de máscaras, distanciamento mínimo de 1 metro entre as pessoas, com marcação de adesivos no chão, e disponibilização de álcool em gel antes e depois da votação.
O horário de votação também foi ampliado em uma hora para evitar aglomerações e aconteceu das 7h às 17h. O TSE orientou que o horário das 7h às 10h fosse preferencial para pessoas acima de 60 anos, um dos grupos considerados de risco para a Covid-19.
Além disso, identificação biométrica foi excluída para diminuir o risco de contágio em superfícies e evitar a formação de filas e aglomerações, já que o protocolo é um dos mais demorados nas etapas de votação.
O protocolo sanitário também prevê a higienização constante de outras superfícies do espaço, como as mesas e cadeiras usadas pelos mesários, e o uso do aplicativo e-título para justificar ausência, com verificação por georreferenciamento.
No entanto, a medida, que foi tomada para reduzir o fluxo de pessoas nos locais de votação, apresentou problemas neste primeiro turno das eleições.
Eleitores relataram dificuldade para acessar o aplicativo tanto para concluir o cadastro quanto para justificar a ausência.
Todos os eleitores e mesários que receberam diagnóstico de Covid-19 ou tiveram febre nos 14 dias anteriores ao dia de votação também não deveriam comparecer aos locais de votação e podem justificar a ausência.