Diversidade racial nas empresas perdeu força, aponta índice

Levantamento feito pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial mostrou desempenho pior quase todas às políticas favoráveis à presença de mais funcionários negros

Por Marcos de Moura e Souza — De São Paulo

Políticas favoráveis à presença de mais funcionários negros em empresas que operam no Brasil parecem ter perdido um pouco de força neste ano.

Um levantamento feito pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial mostrou um desempenho pior das empresas em relação ao ano passado em quase todos os quesitos avaliados.

A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial reúne 67 entidades e empresas e foi criada pela Faculdade Zumbi dos Palmares e a ONG Afrobrás, duas instituições tradicionais de São Paulo que atuam na defesa de direitos da população negra e na pauta antirracista.

Neste ano, o Índice de Equidade Racial nas Empresas (IERE) reuniu informações de 48 empresas. Na edição de 2021, 42 empresas participaram.

“Os resultados mostram que a gente está mais ou menos na mesma página há uns 30 anos”, diz Raphael Vicente, diretor-geral da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. Ele se refere à presença de homens e mulheres negros em posições médias e em posições de comando nas empresas e em seus conselhos, a políticas de contratação e capacitação, entre outras medidas voltadas a ampliar a diversidade racial nas companhias privadas.

Vicente aponta avanços, especialmente em empresas de maior porte. Mas lembra que um retrato comum ainda inclui companhias que muitas vezes aparecem entre as melhores para se trabalhar e onde não há, por exemplo, uma mulher negra sequer em cargo de destaque. “Há uma dificuldade em romper esse cenário.”

Ele nota que as ações afirmativas nas universidades públicas e no serviço público começaram antes e mostram hoje resultados muito mais efetivos do que as políticas adotadas pelos empregadores privados.

O IERE deste ano computou informações sobre a participação de funcionários em indústria, empresas de serviços financeiros, consultorias, varejo, entre outros setores. Das 48 empresas pesquisadas, 38 delas possuem mais de mil funcionários.

Os organizadores destacam que existem limitações nas comparações entre as edições de 2022 e de 2021. É que alguns temas analisados neste ano passaram a ter mais peso e além disso houve mudança de perfil de algumas das empresas participantes.

Para permitir, no entanto, um paralelo entre as duas edições do índice, os organizadores fizeram ponderações nas médias das notas dos seis temas analisados no ano passado levando em conta as mudanças da pesquisa deste ano.

E a conclusão é que a média geral do índice caiu de 4,30 em 2021 para 4,02 em 2022. Todos os quesitos pioraram, exceto o que diz respeito ao recrutamento de novos funcionários negros.

Os outros quesitos avaliados foram: recenseamento empresarial que considere o corte racial dos trabalhadores; conscientização sobre o valor da equidade racial; capacitação; ascensão de funcionários negros; e publicidade e engajamento à pauta da equidade racial.

Na apresentação do índice, a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial afirma que: “Quanto mais claro for para as empresas o que tem sido implementado pelo restante do mercado e o que são, de fato, boas práticas em termos de ações afirmativas, bem como quanto mais evidente for o ganho econômico-financeiro da diversidade, mais efetivo será o combate ao racismo estrutural”.

A Iniciativa Empresarial ao lado do Movimento pela Equidade Racial (Mover) realizam a segunda edição do Fórum Internacional Empresarial pela Equidade Racial, em São Paulo. O evento termina hoje.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/11/18/diversidade-racial-nas-empresas-perdeu-forca-aponta-indice.ghtml

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