De um lado, o desemprego; de outro, pessoas pedindo demissão em busca de novos horizontes

Há dois movimentos mundiais que merecem a atenção do empregador: ‘the great resignation’ e ‘quiet quitting’

Por Neide Martingo, Valor Investe 

O Brasil é formado por paradoxos, dentro e fora da economia. O mercado de trabalho é um exemplo. A taxa de desemprego no país atinge 9,9 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice, que era 9,3% em junho (10,1 milhões de pessoas sem trabalho) recuou para 9,1% no trimestre encerrado em julho, o menor da série, desde 2015. Mesmo assim, é um cenário que preocupa.

Ao mesmo tempo, enquanto tem gente que procura espaço no mercado, há os que pedem demissão – buscam novos horizontes. A tendência vem crescendo e já existem dois movimentos mundiais que merecem a atenção dos empregadores. Um deles é o “the great resignation”: funcionários estão insatisfeitos com o trabalho e com o modo de vida que levam e pedem desligamento da empresa, em busca de qualidade de vida, entre outras coisas.

Um levantamento da LCA Consultores demonstra que, dos 1,8 milhão de desligamentos registrados apenas em março último, mais de 600 mil (ou 33%) foram voluntários. “Os dados, as notícias recentes e a vivência prática mostram que the great resignation, onda verificada nos Estados Unidos, na Europa, na China e na Índia, também já é realidade no Brasil. As organizações precisam estar preparadas, identificando como tornar as vagas que oferecem não só atraentes do ponto de vista da empregabilidade, mas da satisfação que proporcionam ao profissional”, afirma Márcio Monson, fundador e diretor da Selecty, empresa de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg para recrutamento e seleção. “Essas pessoas consideram que certas atividades trazem menos dinheiro e status, mas geram mais felicidade, por exemplo”.

Para o especialista, reverter o fenômeno passa por combater culturas tóxicas nas empresas, excesso de pressão, insegurança e falta de reconhecimento profissional. Costumam ser razões como essas, e menos aquelas ligadas ao salário, que motivam as “renúncias”.

Outra tendência no mundo é o “quiet quitting”, como está sendo chamado o hábito de trabalhadores executarem apenas o mínimo exigido de suas atribuições, sem interesse de entregar mais do que lhe é esperado.

Muitos empregadores dizem que trata-se de uma “demissão silenciosa”, uma forma de o trabalhador expressar que não tem interesse de continuar na empresa. Há quem acredite que a postura evita desgastes que chegam por conta de uma dedicação excessiva que, muitas vezes, não é vantajosa pelas condições de trabalho.

“Agir dessa maneira pode acabar impedindo a evolução profissional. O aprendizado e o desenvolvimento dependem da disposição para se arriscar em coisas novas, mesmo que isso não seja diretamente pedido ao funcionário. A falta de estímulo tende a estagnar o trabalhador, sem que ele cresça e alcance novos objetivos”, detalha Uranio Bonoldi, especialista em negócios e tomada de decisão.

Ele sugere que o colaborador analise as causas do desinteresse e descubra se a vaga está alinhada com os valores e objetivos dele. É preciso evitar o estado de “estagnação”.

Já o empregador, diz Bonoldi, precisa avaliar o que pode ser feito para evitar que as equipes cheguem a esse ponto. “A solução é conhecer melhor as pessoas com quem se trabalha e buscar oferecer a elas as condições necessárias para que executem suas funções com mais empenho”.

https://valorinveste.globo.com/objetivo/empreenda-se/noticia/2022/09/14/de-um-lado-o-desemprego-de-outro-pessoas-pedindo-demissao-em-busca-de-novos-horizontes.ghtml

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