Veja o cenário e os desafios que o próximo presidente vai enfrentar na economia

A corrida eleitoral deste ano à Presidência da República acontece após dois anos de pandemia da Covid e em meio à guerra na Ucrânia, fatores que contribuíram para a disparada da inflação.

O pleito eleitoral também ocorre em meio ao aumento da pobreza e da taxa de inadimplência.

Em 13,75% ao ano, os juros básicos da economia estão no maior patamar em seis anos – mas economistas esperam uma pequena redução em 2023 (para 11% ao ano).

Após crescer 4,6% em 2021, a economia brasileira, em linha com o que acontece no resto do mundo, está desacelerando neste ano. A previsão de analistas é de que o ritmo mais lento se repita em 2023.

Os candidatos também se deparam com um cenário de queda da renda da população, embora a taxa de desemprego também tenha recuado nos últimos meses.

Meses antes das eleições, o governo federal elevou as transferências sociais para os mais pobres, por meio do pagamento de auxílio, e incluiu categorias como taxistas e caminhoneiros entre as beneficiadas.

Entretanto, despesas com saúde e educação recuaram nos últimos anos diante da vigência da regra do teto de gastos (que limita os dispêndios à inflação do ano anterior).

Diante do atual cenário, economistas apontam que os principais desafios para a próxima gestão na economia, independente de quem ganhe o pleito eleitoral neste ano, são questões relacionadas com os gastos públicos e com o sistema tributário (como arrecadar).

Em 2022, 12 candidatos se registraram no Tribunal Superior Eleitoral para a corrida eleitoral para presidente. As visões dos quatro candidatos mais bem posicionados nas pesquisas foram citadas.

Inflação e contas públicas
No regime de metas de inflação, vigente no Brasil, o Banco Central é responsável por fixar os juros básicos da economia para controlar os preços.

Após disparar em 2021 e 2022, analistas estimam uma pressão menor sobre os preços em 2023, primeiro ano da nova gestão. Essa desaceleração tem a ver com a alta dos juros e com o “resfriamento” da economia mundial.

O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, também tem chamado a atenção para a necessidade de se discutir como atender à população mais pobre sem gerar descontrole nos gastos, ou seja, evitando um impacto ainda maior na dívida pública.

Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, Campos Neto tem mandato fixo até o fim de 2024. Ele já informou que não pretende ser reconduzido ao cargo.

O chefe da autoridade monetária citou o aumento de gastos, em ano eleitoral, e a incerteza sobre o que acontecerá no próximo ano, o primeiro de um novo mandato, como fator negativo para a credibilidade das contas públicas.

O BC tem avaliado que o prolongamento de políticas de alta de gastos públicos, como a PEC Kamikaze – que driblou a lei e turbinou benefícios sociais como o Auxílio Brasil –, “pode elevar os prêmios de risco do país” (resultando em juros mais altos para a população) e gerar pressão inflacionária.

Teto de gastos

Diante da necessidade de aumentar gastos para amparar os mais pobres, começaram as discussões sobre o que fazer com o teto de gastos — mecanismo que limita o crescimento da maior parte das despesas à inflação do ano anterior.

As consultorias de Orçamento da Câmara dos Deputados e do Senado avaliam que, se nada for feito, a regra atual do teto de gastos tende a levar a uma “inviabilidade administrativa e política” nos próximos anos, afetando o mandato do futuro presidente da República.

O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, tem falado em acabar com o teto de gastos, enquanto a equipe econômica de Jair Bolsonaro (PL) realiza estudos para a troca do teto de gastos por metas para a dívida pública.
Ciro Gomes (PDT) defende a revogação do teto, e Simone Tebet (MDB) prega a permanência do teto de gastos “com uma nova roupagem”.
Auxílio para população carente

As discussões sobre como auxiliar os mais pobres também se intensificaram durante o período eleitoral. Entre 2019 e 2021, 61 milhões de brasileiros que enfrentaram dificuldades para se alimentar. Com isso, o Brasil voltou ao Mapa da Fome das Nações Unidas.

Ao mesmo tempo, o número de pessoas com contas atrasadas voltou a bater recorde no Brasil, segundo a Serasa Experian.

O presidente Jair Bolsonaro, e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, têm prometido manter o auxílio para a população mais carente nos atuais R$ 600 (que, pelas regras aprovadas pelo Congresso Nacional, vale somente até o fim deste ano).

Lula tem prometido, ainda, retomar a política de valorização do salário mínimo e promover a renegociação das dívidas das famílias. Bolsonaro fala em avançar na agenda de empreendedorismo e microcrédito para os mais vulneráveis.

Ciro Gomes tem defendido uma reorganização das políticas sociais, aliada à taxação dos mais ricos, para elevar esse valor para R$ 1 mil; o candidato também quer promover um esforço para diminuir o endividamento.

Simone Tebet prevê a criação de uma poupança para trabalhadores informais semelhante ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e promete “erradicar a fome e a miséria” no país.

Reajuste para servidores e reforma administrativa

Ao mesmo tempo em que se discute o aumento das transferências sociais, analistas avaliam que é preciso racionalizar outros gastos para impedir um crescimento acentuado da dívida — o que pressionaria a inflação e os juros.

E as despesas com servidores, as terceiras maiores do orçamento (atrás dos juros da dívida e da Previdência Social), são um dos focos de debate. Em 2023, gastos com servidores estão estimados em R$ 350 bilhões, superando os orçamentos da saúde e educação juntos.

Estudo divulgado em 2020 pelo Instituto Millenium mostra que, no ano anterior, o Brasil era o sétimo país que mais gastava com servidores públicos. Essa despesa era o dobro dos gastos com educação e 3,5 vezes as despesas com saúde (3,9% do PIB).

Após o ministro Paulo Guedes citar uma reforma “invisível” ao segurar reajustes, o presidente Jair Bolsonaro reservou R$ 11,7 bilhões para aumentos salariais e reestruturação de cargos e carreiras do funcionalismo público no ano que vem. Seu governo já enviou uma proposta de reforma administrativa, que está parada no Legislativo, alterando as regras para futuros servidores e acabando com estabilidade de parte das carreiras.
Sem dar detalhes, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que seja feita uma reforma administrativa em seu governo, caso seja eleito. Seu projeto de governo não faz menção direta a reajustes salariais em 2023, apenas indica a “retomada das políticas de valorização dos servidores públicos”.

Em seu plano de governo, Simone Tebet (MDB) cita a necessidade de promover reforma uma administrativa que torne o Estado mais “eficiente, ágil, produtivo e amigável para o cidadão, com objetivo de ampliar e melhorar a oferta de serviços públicos”, mas não dá mais detalhes. O programa não fala sobre reajustes para servidores.

Ciro Gomes, em seu programa de governo, propõe processos seletivos obrigatórios baseados em competências para ocupação dos cargos e funções de liderança no setor público, além de uma “lei de qualidade de gastos” para um novo modelo de planeamento. Não há referência a um eventual reajuste para 2023.

https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/09/03/veja-o-cenario-e-os-desafios-que-o-proximo-presidente-vai-enfrentar-na-economia.ghtml

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