Relatório divulgado nesta quarta-feira (21) analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019.
Por André Catto, g1
Pesquisa do IBGE revela desigualdade no mercado de trabalho para pessoas com deficiência
As pessoas com deficiência ainda enfrentam grandes barreiras no acesso ao mercado de trabalho no Brasil, conforme aponta relatório divulgado nesta quarta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados referentes a 2019.
A taxa de participação dessa população no mercado no ano da pesquisa era de 28,3% – menor do que a de pessoas sem deficiências, de 66,3%. Isso significa que, a cada dez pessoas com deficiência que buscavam um emprego, sete estavam fora do mercado de trabalho.
A diferença também é percebida na questão salarial. Enquanto as pessoas com deficiência recebiam o salário médio de R$ 1.639 mensais, o rendimento médio das pessoas sem deficiência era de R$ 2.619 – ou seja, a renda do primeiro público representa apenas dois terços do segundo.
Os números constam na publicação “Pessoas com deficiência e as desigualdades sociais no Brasil”, do IBGE, que analisou dados da Pesquisa Nacional de Saúde. Para o mercado de trabalho, foram consideradas pessoas de 14 anos ou mais.
Segundo relatório, o país tinha, em 2019, 17,2 milhões de pessoas com alguma deficiência, o que representa 8,4% da população.
Entre elas, são consideradas:
deficiência física (membros inferiores): 7,8 milhões de pessoas
deficiência visual: 7 milhões de pessoas
deficiência física (membros superiores): 5,4 milhões de pessoas
mais de uma deficiência: 5,3 milhões de pessoas
deficiência mental: 2,5 milhões de pessoas
deficiência auditiva: 2,3 milhões de pessoas
Taxa de formalização
A taxa de emprego formal (com carteira assinada) também retrata o mercado de trabalho para esse público: apenas 34,3% das pessoas com deficiência em atividade estão nesse formato, enquanto a proporção é de 50,9% entre aqueles que não têm tal condição.
O relatório do IBGE aponta que a falta de sucesso na busca por um emprego tem diferentes motivos, com fatores relacionados à dinâmica do mercado – além de outras barreiras que atingem alguns grupos populacionais mais do que outros.
“É um desafio para as pessoas com deficiência, as quais devem lidar com variados fatores adversos, como a inadaptação dos espaços em que transitam, tanto no local de trabalho, como no deslocamento, o capacitismo, entre outros”, diz o relatório.
Principais pontos do relatório divulgado pelo IBGE, com dados de 2019, sobre o mercado de trabalho para pessoas com deficiência:
taxas de participação no mercado de trabalho (28,3%) e de formalização (34,3%) são muito menores do que as das pessoas sem tal condição (66,3% e 50,9%, respectivamente);
a desocupação observada nesse contingente (10,3%) é maior do que a verificada entre as pessoas sem deficiência (9,0%);
o salário médio das pessoas com deficiência é de R$ 1.639 mensais, enquanto o das pessoas sem deficiência é de R$ 2.619.
Diferença entre os tipos de deficiência
O estudo também analisou os diferentes tipos de deficiência e a inserção no mercado de trabalho. A maior taxa de participação está entre as pessoas com deficiência visual: 37% delas estão trabalhando. Na sequência, estão as pessoas com deficiência auditiva, com 28% de ocupação.
Tipos de deficiência e taxa de participação no mercado de trabalho, segundo o IBGE:
visual: 37%
auditiva: 28%
física (membros superiores): 17,9%
física (membros inferiores): 16,9%
mental: 5,3%
mais de uma deficiência: 12,9%
Desvantagens cumulativas
O IBGE ressalta as desvantagens enfrentadas por grupos populacionais – como mulheres e pessoas de cor ou raça preta ou parda – no mercado de trabalho.
“Há situações nas quais as desvantagens são cumulativas e influenciam a possibilidade de engajamento no mercado de trabalho para conseguir uma ocupação e, sobretudo, uma ocupação formal”, diz trecho do relatório.
“Assim, as mulheres exibiram menores taxas de participação em relação aos homens, e tal fenômeno atingiu mais fortemente aquelas com deficiência. A taxa de desocupação foi maior para as mulheres do que para os homens, de um modo geral.”
Para as mulheres brancas, segue o relatório, a condição de deficiência foi significativa, uma vez que 12,6% delas estavam desocupadas, enquanto a taxa correspondente àquelas sem deficiência foi 8,3%.
Metodologia
A taxa de participação é calculada pelo IBGE a partir da divisão da força de trabalho (pessoas ocupadas e pessoas desocupadas) pelo total da população em idade de trabalhar (14 anos ou mais) e mostra o engajamento dessa população no mercado de trabalho.
A taxa de desocupação, por sua vez, mostra o efeito da interação dos que buscaram uma ocupação, mas não obtiveram sucesso, permanecendo ou se tornando desocupados.