LGPD: Entenda o que fazer para estar em conformidade com a lei de proteção de dados pessoais
Neste Dia Internacional da Proteção de Dados, confira 10 perguntas e respostas sobre a aplicação da normaPor Valor — São Paulo A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) foi publicada em agosto de 2018, mas ainda gera dúvidas entre as empresas, que precisam estabelecer políticas de conformidade para tratamento e proteção de dados pessoais de clientes e fornecedores. No Brasil, violações à lei ainda não têm sido punidas administrativamente. O mercado aguarda a regulamentação, pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), dos parâmetros e da forma de cálculo para aplicação das sanções previstas na lei. No Judiciário, a maioria dos processos ainda acaba sem condenação judicial. No exterior, contudo, empresas têm sido acionadas na esfera administrativa para responder por questões triviais no uso de dados, o que, segundo advogados, pode antecipar uma tendência para o Brasil quando as fiscalizações pela ANPD efetivamente começarem. Abaixo, o advogado Paulo Lilla, sócio da prática de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, proteção de dados e propriedade intelectual do escritório Lefosse, esclarece dez dúvidas sobre a aplicação da LGPD: O que é a LGPD e qual seu objetivo?A LGPD é uma lei promulgada em agosto de 2018, que entrou em vigor em setembro de 2020 e tem como objetivo estabelecer obrigações e direitos para proteger dados pessoais, correspondendo esta proteção a um direito fundamental garantido pela Constituição Federal. A LGPD prevê regras e princípios para que o tratamento de dados pessoais, tanto online como offline, seja realizado de maneira ética e transparente, possibilitando que os indivíduos, definidos pela lei como titulares dos dados, tenham maior controle e visibilidade sobre os fluxos de suas informações pessoais. A exposição indevida de dados pessoais pode, por exemplo, sujeitar os titulares dos dados a situações de fraude, roubo de identidade ou discriminação, suscetíveis de causar danos materiais ou morais. Portanto, a LGPD impõe regras para assegurar que o tratamento dos dados seja feito de forma responsável e dentro da legalidade. O que são “dados pessoais”?A LGPD define dado pessoal como qualquer informação relacionada à pessoa natural identificada ou identificável. Assim, dado pessoal corresponde a qualquer informação que diretamente ou por meio de análise contextual permita identificar um indivíduo. Dados pessoais incluem, por exemplo, nome, número do RG ou do CPF, data de nascimento, endereço residencial, endereço de e-mail, identificadores eletrônicos como número do IP, dados de geolocalização etc. Essa definição ampla tem como objetivo garantir maior proteção ao titular dos dados. Importante destacar que dados de pessoa jurídica, como o CNPJ, não configuram dados pessoais, a não ser quando vinculados a um indivíduo (como a razão social de microempreendedor individual – MEI, que se confunde com a identidade do empresário). O que são “dados pessoais sensíveis”?Dado pessoal sensível é uma categoria especial de dados pessoais definida na LGPD. O conceito engloba dados sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural. A LGPD apresenta regras específicas relacionadas a esta categoria de dados, na medida em que podem sujeitar o titular a algum tipo de discriminação. Importante destacar que, ao contrário do que muitos pensam, dados financeiros, informações de contas bancárias, dados de cartões de crédito etc., não são dados pessoais sensíveis para fins da LGPD, muito embora a exposição desse tipo de informação seja capaz de causar danos materiais severos, tornando o titular mais suscetível a sofrer fraudes e perdas financeiras. O que é tratamento de dados?A LGPD define tratamento de dados de maneira bastante abrangente, incluindo toda operação realizada com dados pessoais, incluindo sua coleta, produção, utilização, acesso, reprodução, processamento ou armazenamento. Assim, vale destacar como exemplos de situações corriqueiras que configuram tratamento de dados: o armazenamento de dados de contato de fornecedores ou clientes, a criação de lista de e-mails, o armazenamento de currículos, a coleta de dados de novos funcionários para a confecção do contrato de trabalho, a coleta e indicação de dados de signatários de contratos, dentre outros. Quem precisa cumprir a LGPD?Qualquer pessoa natural ou jurídica, seja de direito público ou privado, cujas atividades envolvam tratamento de dados pessoais, devem cumprir a lei. Isso inclui, por exemplo, empresas atuantes em qualquer setor da economia. Quem trata dados pessoais é considerado pela LGPD como agente de tratamento, podendo figurar como controlador ou operador dos dados, a depender da atividade desempenhada. O controlador é aquele a quem compete as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais. Por exemplo, uma empresa sempre será controladora dos dados pessoais de seus próprios funcionários. Um varejista será controlador dos dados de seus consumidores. Já o operador é aquele que realiza o tratamento de dados pessoais em nome do controlador. Por exemplo, o fornecedor de serviços de armazenamento de dados em nuvem será operador, enquanto aquele que o contrata será o controlador dos dados por ele inseridos no serviço de armazenamento. Uma empresa fornecedora de serviços de gestão de folha de pagamentos para terceiros também será qualificada como operador dos dados processados nesta atividade. Na prática, nem sempre é simples delimitar a atuação de um agente de tratamento como controlador ou operador, dependendo essa definição da ingerência que o agente possui sobre a atividade de tratamento e de seu poder decisório sobre os dados pessoais. Quando a LGPD não é aplicável?A LGPD não se aplica quando o tratamento de dados pessoais for realizado por pessoa natural para fins exclusivamente particulares e não econômicos, bem como quando o tratamento dos dados for realizado para fins exclusivamente jornalístico e artísticos, acadêmicos, ou pelo Poder Público, para finalidades de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado e atividades de investigação e repressão de infrações penais. A LGPD também não será aplicável quando os dados tratados não se qualificarem como dados pessoais. Quem fiscaliza o cumprimento da lei?A fiscalização da LGPD é realizada pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que também é responsável por elaborar diretrizes e aplicar as sanções administrativas, como multas, em
Como encarar os desafios do trabalho híbrido no início da carreira
O mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos e hoje há situações impensáveis para profissionais que começaram suas trajetórias antes da pandemia Por Tiago Mavichian* Almoçar fora, bater papo na hora do cafezinho e fazer reuniões presenciais talvez sejam interações que quem está chegando agora ao mercado de trabalho pouco viverá. Para os que sonham com carreiras em áreas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, as chances são ainda menores. Portanto, se você está iniciando sua jornada profissional neste instante, prepare-se para encarar uma nova realidade corporativa. O mercado de trabalho mudou muito nos últimos anos e quem está no início de carreira precisa se conscientizar disso. Embora algumas organizações ainda estejam no modelo presencial, uma parcela considerável flexibilizou a ida ao escritório. Isso significa que provavelmente você vai conseguir uma vaga de trabalho híbrido ou até mesmo 100% remoto — com todos os seus colegas atuando de suas casas, em diferentes partes do País e até mesmo do mundo. E, se entrar no mercado de trabalho já era desafiador tendo contato físico diário com as pessoas, imagine fazer entrevista, conhecer processos, entender a cultura, saber como agir, fazer amizades e lidar com os gestores sem nunca ter pisado na empresa? É natural que medos e incertezas tomem conta dos pensamentos. Não sei se você já fez alguma entrevista de emprego, mas vou contar como foi a minha. Ligaram para casa e tive de anotar no primeiro papel que vi pela frente o nome da empresa, o endereço, quem eu deveria procurar e quando. Dali em diante, quase morri de ansiedade. Na data marcada, fui vestido com a minha melhor roupa: traje social completo (sim, esse era o padrão à época). Embora estivesse suando de nervoso, plantado na cadeira, fiquei firme até a última pergunta. Consegui o emprego e aos poucos fui me ambientando. Deu tudo certo. Hoje em dia, você provavelmente receberá as informações-chave da entrevista por WhatsApp, pesquisará sobre a empresa pelo LinkedIn, buscará informações de ex-funcionários no GlassDoor e será entrevistado no conforto da sua casa via Zoom ou Google Meet. Em contrapartida, terá de encarar situações impensáveis para profissionais que começaram suas trajetórias antes da pandemia. Fiz uma lista com algumas delas para que seu início de carreira seja leve e bem-sucedido! Se for um estágio, cada vez mais empresas estão migrando para o híbrido. De acordo com dados da Companhia de Estágios, no segundo semestre de 2022, o número de vagas híbridas aumentou 56%. Foram 491 vagas híbridas no primeiro semestre de 2022 contra 766 no segundo semestre. Outros cargos juniores tendem a seguir um padrão similar. Se for à distância, acredito que você receberá um notebook e as instruções para os primeiros dias de trabalho na sua casa. Se for híbrido, os seus primeiros dias devem ser na companhia e alguém explicará os passos iniciais a você. Além de receber orientações sobre suas atividades, haverá um momento de integração, a chamada fase de onboarding, para que conheça a cultura, os valores e os procedimentos da empresa. Isso sempre existiu, mas agora é feito em diferentes formatos, como apresentações presenciais ou gravadas, treinamentos à distância e até com ações no metaverso — algumas empresas já até apresentam fábricas e filiais assim. Independentemente de estar em casa ou no escritório, preste bastante atenção em todas as informações que estão sendo dadas e faça anotações. Ter um caderno ou um bloco de notas virtual vai ajudá-lo quando tiver dúvidas e se esquecer de algo, além de demonstrar atenção e interesse. Entender a dinâmica do trabalho pode levar um tempo, então, seja humilde e tire suas dúvidas com os colegas de equipe e liderança. Eles sabem que você está aprendendo e talvez até indiquem alguém para ser um mentor do seu desenvolvimento. Busque também observar como as outras pessoas agem e, dentro do possível, segure a sua ansiedade. Entender o negócio, as ligações e os processos que existem entre as áreas leva tempo. Uma coisa que você não pode deixar de perguntar é o prazo de entrega de cada projeto ou atividade. Pense que cada uma delas é uma etapa de um processo e alguém espera sua entrega. Com essa informação, além de se organizar melhor, caso seja necessário, você pode sinalizar que precisa de mais tempo. Isso evita ruídos de comunicação e revela o seu comprometimento. Pode parecer algo bobo, mas eu gostaria muito de ter recebido essa orientação nos meus tempos de estagiário. Lembro bem de uma bronca que tomei de uma chefe porque fui embora sem avisar que não tinha terminado uma tarefa. Para os dias de office, as empresas disponibilizam ferramentas como o Slack e o Microsoft Teams para que os colaboradores se comuniquem com agilidade. Use-as sempre, mas otimize o seu tempo e o das pessoas. Ou seja, interrompa-as o mínimo possível e dê tempo para que respondam. Seus colegas podem estar ocupados e não precisam responder imediatamente. Bom-senso é super importante na comunicação assíncrona (que não ocorre em tempo real e as pessoas podem ler ou ouvir a mensagem na hora e no momento mais apropriado a elas). Recorra também a soluções digitais como o Google Drive para trabalhar de maneira colaborativa. Em reuniões online, abra a câmera e participe ativamente. No começo é normal que você ouça mais do que fale. Mas, conforme o tempo passa, trocas e participações são importantes para que você se torne mais próximo da equipe. Aproveite ao máximo os dias de trabalho presencial. Interaja com as pessoas, convide-as para tomar um café e busque meios de conhecer pares e líderes. Essas atitudes farão com que você se sinta mais à vontade na companhia, menos ansioso e mais conectado com todos. Isso fará com que suas atividades fluam melhor. Não tente adivinhar se a liderança está satisfeita (ou não) com as suas entregas. Algumas companhias possuem ritos de feedbacks contínuos, às vezes semestrais ou trimestrais, mas nada impede que você combine outra rotina com seu gestor direto. Sugerir uma conversa semanal ou mensal, nos primeiros meses na empresa, pode
Vagas em home office pagam em média 10% a menos que presenciais em São Paulo, mostra levantamento
Enquanto vagas presenciais pagam, em média, R$ 1.975, as em home office oferecem salário médio de R$ 1.790.Por Marta Cavallini, g1 Levantamento do portal Empregos.com.br mostra que as vagas em home office pagam, em média, 10% menos em comparação com as oportunidades presenciais. O estudo foi feito após análise de 41.841 vagas abertas na cidade de São Paulo neste início de ano. Desse total, apenas 1.504 eram direcionadas para home office, ou 3,6% do total. Segundo o levantamento, em números absolutos, as vagas presenciais estão pagando, em média, R$ 1.975, enquanto as em home office oferecem salário médio de R$ 1.790. “Esse número é o reflexo da insegurança de algumas empresas, que acreditam que o home office diminui a produtividade. Outro fator que também deve ser levado em consideração é que muitas empresas que estão retomando as contratações não oferecem a possibilidade de trabalho remoto”, afirma Tábata Silva, gerente da Empregos.com.br. Os dados vão na contramão de outro levantamento, feito pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, com base na Pnad do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostrou que o valor médio do rendimento dos brasileiros ocupados em home office no 3º trimestre de 2022 foi o segundo maior desde 2018 – só perdendo para o 2º trimestre de 2021, quando registrou uma média de R$ 3.052,45. O rendimento médio desses trabalhadores ficou em R$ 3.009,88. Desde o 2º trimestre de 2021, os rendimentos no home office vêm se mantendo acima dos demais trabalhadores, segundo Imaizumi. Na comparação com o primeiro trimestre de 2020, logo antes do início da pandemia, o rendimento dos trabalhadores em home office cresceu 53,6%. Já a proporção de trabalhadores em home office dentro do total de ocupados estava em 6,7% no terceiro trimestre de 2022. O pico foi alcançado no 2º trimestre de 2021: 7,37%. Cargos com mais vagasSegundo o portal Empregos.com.br, entre os cargos com maior número de vagas em janeiro estão: assistente de loja (5.775 oportunidades, com remuneração média de R$ 1,6 mil)assistente de vendas interna (2.159 vagas e salário médio de R$ 1,7 mil)operador de estacionamento (1.646 vagas e salário de R$ 1,6 mil)operador de telemarketing (1.534 vagas e salário de R$ 1,1 mil) Já as carreiras com mais candidatos ativos em busca de emprego na cidade de São Paulo, de acordo com o levantamento, são: auxiliar administrativoassistente administrativorecepcionistaanalista administrativoenfermeiroatendente“Para aproveitar o momento aquecido do mercado, a primeira dica é estabelecer um foco para não perder tempo com vagas que não estão alinhadas com o seu objetivo. Também é importante destacar no currículo cursos, projetos e aprendizados adquiridos em experiências anteriores, além de se manter sempre atualizado sobre a sua área de atuação”, diz Tábata Silva. https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2023/02/06/vagas-em-home-office-pagam-em-media-10percent-a-menos-que-presenciais-em-sao-paulo-mostra-levantamento.ghtml
Onde estão os bons empregos na economia brasileira?
‘Reindustrializar o Brasil’ como deseja novo governo será de fato o melhor caminho para gerar empregos de qualidade? Confira áreas que mais criam vagas com salários acima de R$ 5,8 mil.Por BBC “É hora de trazer investimentos e reindustrializar o Brasil”, tem repetido o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e membros do seu governo desde a campanha eleitoral. Mas será que a atividade industrial ainda tem capacidade para gerar empregos de qualidade e em número expressivo, passadas quatro décadas de desindustrialização e com o avanço global do setor de serviços? E quais setores da economia brasileira atualmente criam maior proporção e volume de empregos que remuneram bem seus trabalhadores? Para responder a essas e outras perguntas, do interesse de quem trabalha, de quem quer escolher uma profissão e daqueles que formulam políticas públicas para geração de empregos, os economistas Paulo Morceiro e Vicente Toledo realizaram um estudo com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais), levantamento do Ministério do Trabalho que abrange mais de 97% dos vínculos empregatícios formais do país. O estudo foi publicado em janeiro no blog Valor Adicionado. Confira os principais resultados e descubra onde estão os bons empregos no Brasil. O que são ‘bons empregos’“O que chamamos de ‘bons empregos’ leva em conta a realidade da economia brasileira”, observa Paulo Morceiro, pesquisador na Universidade Joanesburgo, na África do Sul, que reside atualmente na Holanda. Entre as características do mercado de trabalho do Brasil estão a elevada informalidade e o desemprego alto, observa Morceiro. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em novembro de 2022, os informais representavam 38,9% da população ocupada e a taxa de desemprego era de 8,1%, com 8,7 milhões de brasileiros desempregados. Além disso, os trabalhadores brasileiros têm baixa escolaridade – em 2018, apenas 21% das pessoas com idades entre 25 e 34 anos no Brasil tinham ensino superior completo, contra média de 45% nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) –, o que também influencia no nível de rendimentos da população. “Os empregos dos sonhos das pessoas – aqueles com remuneração acima de 10 salários mínimos, ou o teto do setor público, que seriam juízes, procuradores, desembargadores – têm um peso muito pequeno na realidade brasileira, representam menos de 5% do total de empregos”, diz o economista. Neste cenário, os pesquisadores consideram como “bons empregos” aqueles que permitem a uma família arcar com as necessidades básicas de saúde, educação, moradia, alimentação, vestuário e lazer. Esse valor é calculado periodicamente pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e, em dezembro de 2022, era de R$ 6.647,63 para uma família de quatro pessoas, sendo dois adultos e duas crianças. Como os dados da Rais analisados no estudo são de dezembro de 2021, o patamar considerado naquela data era de R$ 5.800,98, equivalente a 5,27 salários mínimos da época (R$ 1.100) para uma família de quatro pessoas – ou 2,64 salários (R$ 2.904) por membro adulto da família. Assim, o que estamos observando no gráfico acima são quais setores da economia brasileira geram maior proporção de empregos com remuneração acima de 2,64 salários mínimos. Setores que pagam acima da média Morceiro e Toledo também fazem outra análise, considerando o salário médio da economia brasileira, que era de 2,99 salários mínimos em dezembro de 2021 (equivalente então a R$ 3.289). Nessa análise, eles consideram como “bons empregos” aqueles que pagam acima dessa média. Levando em conta apenas setores que geram pelo menos 2% do volume total de empregos formais do país, o resultado é o seguinte: O que mostram os dadosConsiderando como “bons empregos” aqueles que pagam acima de 2,64 salários mínimos – ou o necessário para uma família suprir suas necessidades básicas –, para cada 100 empregos gerados no Brasil, cerca de 37 são considerados de qualidade. Esse percentual chega a 87% no setor de serviços financeiros, 74% no setor público (incluindo saúde e educação), 60% em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação e comunicação e 55% na educação privada. “No setor financeiro, a maioria dos empregos gerados são bons, pagam salários acima da média da economia. Mas é preciso levar em consideração que esse setor tem um peso muito pequeno na economia do país”, observa Morceiro. A título de comparação, enquanto o setor financeiro gera cerca de 1 milhão de empregos formais no país, o serviço público cria quase 9 milhões e o comércio, 9,5 milhões. Assim, embora o comércio só gere 15% de “bons empregos”, essa parcela (1,4 milhão de vagas) é maior do que a totalidade do setor financeiro. As atividades profissionais e científicas – que incluem atividades jurídicas, contabilidade, arquitetura, engenharia, pesquisa científica, publicidade, serviços veterinários, entre outras – também geram mais empregos bem remunerados que a média nacional. Já a indústria de transformação fica logo abaixo da média, enquanto na rabeira estão os setores que geram uma maioria de empregos de baixos salários, como alojamento e alimentação, agropecuária, serviços administrativos, comércio, construção e transportes. A análise que considera como “bons empregos” aqueles que pagam acima da renda média nacional (isto é, acima de 2,99 salários mínimos) tem resultado parecido. Mas aqui chama a atenção o fato que, na indústria de transformação, setor alvo das políticas de reindustrialização, apenas 1 de cada 4 empregos têm salários acima da média nacional. Enfraquecimento do salário industrialMorceiro e Toledo destacam que, historicamente, a indústria de transformação remunerava acima da média da economia do país. Mas essa diferença foi diminuindo ao longo das décadas e, desde 2016 – depois da crise econômica iniciada em 2014 –, a tendência se inverteu, com a média da economia superando o setor industrial. Em 2021, a indústria pagou salário 5,2% menor que a média da economia brasileira (2,84 salários mínimos, contra 2,99 salários mínimos – ou R$ 3.124 ante R$ 3.289, em valores daquele ano). “O Brasil tem uma estrutura produtiva muito focada em baixa densidade tecnológica, em setores mais intensivos em trabalho, que em geral pagam salários abaixo da média. A proporção dos empregos em setores industriais de alta
O PT, o Uber dos Correios e a vaca capitalista
A realidade mental do partido congelou-se no tempo do sindicalismo. E do estatismo, e do capitalismo patrimonialistaMario Sabino A entrevista do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ao jornal Valor mostra que o cidadão não compreendeu as novas relações que se estabeleceram no mundo do trabalho, desde o advento da revolução digital. A reforma trabalhista, que flexibilizou as normas estabelecidas por uma legislação que remonta à década de 1940, ajudou — e muito — que a taxa de desemprego, em novembro de 2022, último dado divulgado pelo IBGE, fosse de 8,1%, a menor desde abril de 2015. Em números absolutos, são 8,7 milhões de desempregados a menos, o menor contingente desde junho daquele mesmo ano. Luiz Marinho, assim como todos os integrantes do PT, culpa a reforma por ter “fragilizado” o mercado de trabalho e “achatado” a massa salarial. Não é verdade. O mercado de trabalho viu-se fragilizado, principalmente, por um fator circunstancial — o impacto econômico causado pela pandemia — e a massa salarial foi achatada também por um fator estrutural: a baixa produtividade dos trabalhadores brasileiros. Todos os estudos disponíveis sobre o assunto mostram que ela permanece a mesma há décadas. Por falta de qualificação, um trabalhador brasileiro demora uma hora para fazer o mesmo produto que um americano faz em quinze minutos. Quanto à pandemia, a reforma trabalhista teve a virtude de atenuar os seus efeitos, como mostra um estudo da Faculdade de Economia e Administração da USP, divulgado em maio de 2022. Apenas uma das suas mudanças, a que dificulta a esbórnia processual na Justiça do Trabalho, causou uma redução de 1,7 ponto percentual no desemprego. Em relação à baixa produtividade, os diversos governos vêm fazendo quase nada para reverter o quadro. Continuamos com uma educação abaixo da crítica, apesar de sermos um dos países que mais gastam nesse quesito, em proporção do PIB. Gastamos mal. A realidade mental de Luiz Marinho congelou-se no tempo do sindicalismo. A de Lula também. Para ambos, mas não só para eles, o mundo se divide entre empresários exploradores que não trabalham e trabalhadores explorados que precisam ser tutelados por um Estado paternalista. Sobre a regulamentação do trabalho por aplicativos, o ministro do Trabalho chegou a dizer, na entrevista ao Valor, que é “problema do Uber”, se a empresa sair do Brasil. Não é. É de uma massa de brasileiros que consegue obter uma renda mensal por causa do aplicativo e não quer patrão. Luiz Marinho ainda complementou o raciocínio torto, ao afirmar que, se o Uber resolvesse sair do Brasil por causa de uma regulamentação estrita demais, o governo criaria outro aplicativo. “Posso chamar os Correios, que é uma empresa de logística e dizer para criar um aplicativo e substituir”. Imagine-se o “Uber dos Correios”, no contexto da eficiência dos serviços públicos brasileiros. A pessoa chamaria um carro hoje, para que chegasse amanhã. E ainda teria de dar um dinheiro por fora ao motorista, para compensar os encargos pagos por ele. Na visão de Luiz Marinho e do PT, que ninguém se engane, a estatização é sempre boa solução, não importa a área, apesar de todas as evidências em contrário. O sueco Olof Palme, que foi primeiro-ministro do seu país, dizia que, para o comunista, o capitalismo é uma ovelha a ser morta, enquanto que, para o social-democrata, o capitalismo é uma ovelha que deve permanecer viva, mas bem tosquiada. Para a esquerda brasileira, o capitalismo é uma vaca patrimonialista a ser tolerada e alimentada pelo Estado — e que o recompensa, bem como os seus agregados, fornecendo boa parte do leite que ela produz. https://www.metropoles.com/colunas/mario-sabino/o-pt-o-uber-dos-correios-e-a-vaca-capitalista