Home office: É possível manter a cultura da empresa no trabalho remoto?
Por Danielle Abril Apesar da desconfiança de empresas mais tradicionais, companhias que já nasceram no modelo remoto dizem que é possível construir um ambiente com a mesma energia do escritório THE WASHINGTON POST – Julia Cummings, funcionária de uma startup de softwares que trabalha remotamente, com base em Los Angeles, afirmou que, em seu trabalho, ela tem acesso a quase tudo que poderia precisar. Ela consegue checar o desempenho financeiro da empresa, saber os salários de seus colegas e visualizar anotações compartilhadas de todas as reuniões — mesmo as que não compareceu. Ela tem reembolso ilimitado para livros e recebe uma bolsa anual de US$ 1 mil para desenvolvimento. A profissional tem um “colega de função”, que a ajudou a entender sua posição, e um colega para ajudá-la a se conectar com a cultura da empresa. E sua empregadora, a Buffer, permite regularmente discussões a respeito do que acontece fora do ambiente de trabalho. “Fiquei surpresa e feliz com tanto apoio e recursos disponíveis”, afirmou Cummings, que seis anos atrás hesitava em entrar numa empresa que funciona completamente de maneira remota. “É uma das culturas mais fortes que já vi, e não estamos em um mesmo escritório.” Julia é uma das muitas trabalhadoras empregadas por empresas que funcionam totalmente em modo remoto desde sua criação. Enquanto muitas empresas migraram para o trabalho híbrido, cerca de 36,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos trabalhavam remotamente pelo menos cinco dias por semana no início de agosto, de acordo com a pesquisa Household Pulse, do Departamento do Censo. À medida que os diretores desenvolvem políticas pós-pandêmicas, uma preocupação a respeito de trabalho remoto emerge com frequência: uma empresa é capaz de construir uma cultura e mantê-la se os funcionários trabalham remotamente? Empresas que já trabalhavam em modo remoto anteriormente à pandemia afirmam que isso não só é possível, mas também proporciona flexibilidade adicional, mais produtividade e uma vantagem competitiva na contratação. Mas criar uma cultura de trabalho remoto requer mudança de mentalidade, criatividade e intencionalidade, afirmam empresas que funcionam nesse modo. Para interações sociais, a Buffer — que emprega 84 pessoas em 27 países — concede uma ajuda mensal para seus funcionários trabalharem em espaços de coworking ou cafés. A empresa oferece um guia de boas maneiras para garantir que textos não sejam mal interpretados. E estabelece pares entre funcionários de diferentes seções para chats semanais de 30 minutos por meio do aplicativo automatizado Donut, na plataforma Slack. “É possível em um ambiente remoto construir aquele mesmo tipo de energia (do escritório), mas é necessário mais esforço”, afirmou Jenny Terry, diretora de operações de negócios da Buffer. “Não dá para esbarrar com as pessoas no corredor — nossos corredores são o Slack.” A definição de cultura varia. Alguns funcionários sugerem sua existência no sentido de pertencimento organizacional e na forte conexão com colegas. Outros afirmam se tratar de uma série de crenças e valores compartilhados, que guiam decisões. Alguns a definem como uma coisa intangível, descrita como a alma da empresa. Mas o que está claro é que a cultura desempenha um importante papel no sucesso da empresa, afirmam os trabalhadores. O impacto na cultura é uma razão pela qual algumas empresas rejeitam o trabalho remoto. Diretores se preocupam com a possibilidade da cultura se dissolver imediatamente, os funcionários se desconectarem e o trabalho ser prejudicado. Eles acreditam em uma certa magia e criatividade que só pode haver no trabalho presencial. E certamente nem todas as empresas conseguem funcionar remotamente, em razão da natureza de suas atividades. Mas desde a pandemia, mais empresas passaram a oferecer vagas remotas. Twitter, Salesforce e Slack, o aplicativo de troca de mensagens da Salesforce, agora mantêm trabalhadores permanentemente remotos. Os funcionários do Airbnb podem trabalhar remotamente de qualquer lugar do mundo. O GitLab, uma plataforma de desenvolvimento de software que tem mais de 1,7 mil funcionários, em 65 países, afirmou que o trabalho remoto chegou para ficar, então as empresas deveriam promover flexibilidade. Para encorajar amizades pessoais, no início de cada trimestre o GitLab oferece aos funcionários um “estímulo para se juntar”, que fornece US$ 50 para refeições, transportes e atividades que envolvam colegas de trabalho. Habilidades comportamentais têm importância maior para crescer na carreira, diz CEO do Rappi Brasil Nascida na Sérvia e radicada no Brasil, Tijana Jankovic explica que “comunicação é a grande palavra do século” A empresa também oferece US$ 1 mil para funcionários viajarem com quatro colegas ou mais. O primeiro funcionário do GitLab, Marin Jankovski, usou essa ajuda uma vez para comparecer ao casamento de um colega. “Isso criou uma conexão especial para mim com o GitLab”, afirmou ele. “Foi uma ação intencional para encorajar relacionamentos fora do ambiente de trabalho.” Para promover transparência, o GitLab fornece aos funcionários uma cartilha de 2 mil páginas em constante evolução, destinada a servir como um documento pesquisável para responder às perguntas dos funcionários. O texto inclui recomendações a respeito de como os funcionários devem se comunicar, tanto em termos de suporte como de etiqueta, tópicos departamentais e até informações que os funcionários poderiam desejar saber a respeito de seu diretor-executivo, Sid Sijbrandij, incluindo seu estilo de comunicação, seus defeitos e como conseguir entrar em contato com ele. O GitLab afirmou que também documenta de tudo, desde decisões para projetos de atualizações até discussões em reuniões, para servir como referência pública para seus funcionários. “É preciso haver uma fonte única de verdade”, afirmou Wendy Barnes, diretora de recursos humanos do GitLab. “Para que não haja medo de ficar de fora.” Mas Jankovski, que vive em Amsterdã, admite que a transparência não vem facilmente. Nos dias anteriores à criação do GitLab, Jankovski reuniu-se remotamente com os cofundadores da plataforma para um projeto e todos documentaram juntos os passos seguintes. “Tivemos esse momento de clareza, de deixar as coisas por escrito, (para) ver o próprio entendimento e o dos outros”, afirmou ele. O que é trabalho oculto, as tarefas fora do expediente que sobrecarregam profissionais Conheça o que é o hidden overwork; além das jornadas de trabalho
Quase um terço dos brasileiros se sente infeliz no emprego
Pesquisa também indica que bem-estar é tão importante quanto o salário para a maioria dos profissionais Por Jacilio Saraiva, Para o Valor Oito entre dez profissionais acreditam que trabalhar em uma empresa que prioriza o bem-estar das equipes é tão importante quanto o valor que recebem no fim do mês. É o que indica uma nova pesquisa da Gympass, plataforma de bem-estar corporativo, realizada com nove mil pessoas em nove países, inclusive o Brasil. O que é felicidade corporativa e como as empresas estão abordando o temaVontade de trocar de emprego cresce entre jovens brasileiros; saiba os motivosQuantas horas de trabalho aumentam o nível de estresse? O estudo “Panorama do bem-estar corporativo 2022” aponta que, para 83% dos entrevistados, o bem-estar é um pilar tão fundamental quanto o salário; 85% tendem a permanecer em um cargo se o empregador prioriza o tema e 77% pensariam até em deixar o posto se a empresa não valorizasse o assunto. “A pesquisa revela que a perspectiva de bem-estar no trabalho é um fator determinante nas decisões de carreira”, diz João Barbosa, co-fundador do Gympass. “A pandemia trouxe uma sobrecarga digital e, em geral, os colaboradores estão trabalhando em excesso, esgotados e na capacidade máxima.” De acordo com o levantamento, na comparação com outros mercados, como Estados Unidos e Reino Unido, o Brasil não aparece tão despreocupado com a saúde da força de trabalho. No país, 20% dos funcionários classificam o bem-estar atual como neutro, ruim ou pior que antes. Nos Estados Unidos, esse número sobe para 48% e, no Reino Unido, chega a 57%. Foram ouvidas mil pessoas em cada país analisado pelo estudo. Em termos de felicidade corporativa, 28% dos brasileiros ante 25% dos americanos se sentem infelizes nos empregos. No Reino Unido, essa parcela escala para 33%. Quando perguntados se o trabalho não lhes dá tempo para cuidar do bem-estar, 20% dos entrevistados no Brasil dizem que sim, abaixo dos americanos (25%) e dos britânicos (30%). Sobre a percepção da atitude das lideranças, 29% dos trabalhadores no Brasil acreditam que as chefias se preocupam com o bem-estar dos times, parcela que cai para 25% nos Estados Unidos. A pesquisa também traz detalhes sobre como profissionais gostam de cuidar da saúde física. “Por aqui, os cinco exercícios físicos mais populares entre os funcionários são, por ordem, a musculação, cardio, fortalecimento do core (região central do corpo, como músculos abdominais, da região lombar, pélvis e quadril); treino de força e pilates”, diz Barbosa. Nos Estados Unidos, entre as cinco práticas mais lembradas aparecem também a ioga e o ciclismo (3º. e 4º. lugares), enquanto no Reino Unido as aulas de dança ganham destaque (5º.). “O estudo deixa claro que os colaboradores estão buscando apoio dos empregadores nos cuidados com a saúde física e mental, e que operar em um ambiente onde o bem-estar não é valorizado não é mais opção para muitos”, diz o executivo. “Mesmo em um cenário de duradoura crise econômica, os profissionais contam com mais alternativas de trabalho do que nunca, por conta da quebra das ‘fronteiras’, proporcionada pelo expediente remoto e híbrido.” Diante do resultado do estudo, a recomendação de Barbosa é que as companhias enxerguem a entrega do bem-estar no ambiente profissional como um impacto positivo nos negócios. “A folha de pagamento é o maior item de custo para uma empresa, mas ainda não estamos focados o suficiente para garantir que as equipes obtenham o desempenho máximo”, analisa. “As organizações devem garantir que os times darão o melhor de si todos os dias e, para isso, devem olhar para a felicidade e a qualidade de vida dos empregados.” https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/11/08/quase-um-terco-dos-brasileiros-se-sente-infeliz-no-emprego.ghtml
Faltam habilidades básicas a 66% dos jovens brasileiros na faixa dos 15 anos
Levantamento mostra que o Brasil tem um dos maiores percentuais de adolescentes com deficiências para atividades como ler uma lista de compras ou realizar operações matemáticas simples Por Anaïs Fernandes — De São Paulo Quase 66% dos adolescentes brasileiros em idade de ingressar no ensino médio – ao redor de 15 anos – não possuíam, antes mesmo da pandemia, habilidades básicas nas áreas de leitura, ciência e matemática, como ler uma lista de compras ou realizar operações simples e explícitas, um quadro que deve ter se agravado com a desorganização que a covid-19 provocou sobre a educação no país. Embora o número esteja em linha com a média da América Latina (65%), o desempenho do Brasil é pior que o de pares regionais como Chile (47%), Uruguai (51%), Costa Rica (58%), Peru (60%), Colômbia (63%) e Argentina (63%). Os resultados constam de uma ampla pesquisa conduzida por Sarah Gust (ifo Institute), Eric Hanushek (Universidade de Stanford) e Ludger Woessmann (Universidade de Munique) englobando 159 países que correspondem a 98% da população mundial e 99% do PIB global. A partir dos últimos dados disponíveis para testes padronizados como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e de fontes alternativas para a imputação de valores àqueles países que não participam desses testes, os pesquisadores estimaram que pelo menos dois terços dos jovens no mundo não atingem níveis básicos de habilidades (“basic skills”). Mas essa porcentagem varia bastante entre grupos de países e regiões: é de 24% na América do Norte, 89% no sul da Ásia e 94% na África subsaariana, por exemplo. O Brasil está entre os 101 países em que mais da metade dos adolescentes não atinge competências básicas – em 36 países, essa estatística ultrapassa 90%. Mesmo em países de alta renda, um quarto das crianças carece de habilidades básicas. E metade dos jovens do mundo vive nos 35 países que nem sequer participam de testes internacionais do tipo. As informações, segundo os pesquisadores, mostram quão longe o mundo está de oferecer habilidades básicas para todas as crianças e de alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, relativo à educação de qualidade. No caso brasileiro, as escolas enfrentam dois problemas, disse Hanushek ao Valor. “Primeiro, ainda um quinto da população não está matriculada no ensino médio; segundo, a qualidade das escolas precisa ser melhorada”, afirma o pesquisador, que acompanha o sistema educacional brasileiro há um bom tempo. Para cada país, a pesquisa também estimou os ganhos, em termos de PIB, de atacar o lapso de habilidades básicas em três cenários diferentes: incluir todos os jovens na escola, mantendo a qualidade atual do ensino; apenas melhorar a qualidade do ensino para aqueles que já frequentam a escola; e incluir todos os jovens em um ensino de melhor qualidade. “As questões de qualidade das escolas brasileiras são muito importantes, especialmente quando comparadas a apenas colocar todo mundo na escola com a qualidade atual. Fazer as duas coisas é, no entanto, a melhor solução. Se todas as crianças pudessem ser educadas até o nível básico de habilidades, o valor gerado para a economia é estimado em mais de oito vezes o tamanho do PIB brasileiro atual”, aponta Hanushek. A lógica é que estudantes mais habilidosos poderão ser profissionais mais produtivos, o que implicaria ganho de salários maiores e crescimento da renda, explica Sergio Firpo, professor da cátedra Instituto Unibanco no Insper. Para países de renda similar, no entanto, o Brasil vai mal nos testes padronizados e, nessa medida, também na proporção de pessoas com habilidades básicas, diz Firpo. “Com a quantidade de recursos que investimos, poderíamos estar melhor, mas estamos sempre abaixo da curva”, afirma. Firpo cita dificuldades, por exemplo, para gerir bem os recursos destinados à educação, não apenas financeiros, mas também físicos e humanos. “A gestão é feita no nível local e, muitas vezes, de uma maneira em que falta capacidade técnica para tomar as decisões. A gestão não só das secretarias, mas também das escolas, muitas vezes é pouco profissionalizada.” No agregado dos países analisados por Gust, Hanushek e Woessmann, os pesquisadores estimam que o valor da produção econômica mundial perdida devido ao não cumprimento das metas de habilidades básicas somaria US$ 718 trilhões até o fim deste século, ou cinco vezes o PIB mundial atual. “Garantir que todos os jovens do mundo tenham pelo menos habilidades básicas é um objetivo primordial por si só, mas atingir esse objetivo também tem imensa importância para o desenvolvimento global inclusivo e sustentável”, dizem. Os pesquisadores também estimaram, a nível global, que o ganho econômico de levar todos os alunos que estão atualmente na escola ao menos aos níveis básicos de habilidades é duas vezes maior do que o ganho de matricular as crianças que atualmente não frequentam a sala de aula em escolas com os níveis atuais de qualidade. Firpo pondera que a pesquisa não se propõe a debater questões mais amplas sobre desigualdade, que poderia ser aprofundada com políticas de melhora da qualidade sem inclusão escolar. “Além disso, não adianta ter a oferta desses aprendizados se não há demanda por isso, se a pessoa vai sair superbem formada, mas não tem emprego e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg para absorver”, aponta. Os últimos dados disponíveis para testes padronizados como os do Pisa são de 2018. Firpo diz que a pandemia, provavelmente, aumentou a desigualdade captada pelo estudo tanto entre as nações quanto dentro de cada país. “No caso brasileiro, os dois fatores, acesso e qualidade, foram negativamente afetados. O aluno precisava ter acesso a computador em casa e isso atrapalhou muito que crianças pobres tivessem aula. A qualidade caiu para todo mundo, mas caiu mais nas redes com menor infraestrutura”, afirma. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/11/03/faltam-habilidades-basicas-a-66-dos-jovens-brasileiros-na-faixa-dos-15-anos.ghtml
Formação técnica pode render salário melhor
Economistas defendem elevar qualificação profissional para melhorar empregabilidade e renda Por Alessandra Saraiva — Do Rio O mercado de trabalho brasileiro é pouco qualificado e elevar formação de profissionais, para vagas mais especializadas como no campo de renováveis, pode melhorar a qualidade do trabalho e da renda no país visto que, empregos mais técnicos, pagam mais. A reflexão é dos economistas Rodolfo Margato, da XP Investimentos e Lucas Assis, da Tendências Consultoria. Nas palavras de Margato, “não dá para afirmar que nosso mercado de trabalho tem mão de obra qualificada, predominantemente”. “Na nossa leitura, a mão deobra brasileira tem qualificação mediana ou até um pouco abaixo da media internacional”, afirmou. Ao justificar o argumento, Margato citou dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No levantamento, o atual contingente de trabalhadores do país é de 99,3 milhões de pessoas ocupadas no mercado de trabalho, até terceiro trimestre desse ano. Do total de trabalhadores, em torno de 39,1 milhões são “informais”, lembrou ele, pessoas com perfil de pouca qualificação. Ele cita estudo da ManpowerGroup, consultoria de gestão de pessoas com sede nos EUA. Intitulado de Pesquisa de Escassez de Talentos 2022, o trabalho incluiu entrevistas com 40 mil empregadores em 40 países e territórios – sendo 1030 entrevistados no Brasil. No levantamento, cerca de oito a cada dez empregadores brasileiros disseram ter dificuldade para encontrar talentos no país. Para Margato, esse é um “déficit estrutural”, pois é causado por ausência de investimentos em educação e em formação profissional, no passado. Isso levou à atual parcela de trabalhadores pouco qualificados. “A energia renovável, esse tema, vai continuar conosco, felizmente, por um bom tempo. O Brasil tem condições naturais de ser protagonista, em visão global”, disse. O técnico da Tendências concorda. Assis afirmou que o emprego brasileiro sofreu dois choques: com a recessão dos anos de 2015 e 2016 e a pandemia em 2020, com impacto negativo na renda do trabalho. A renda do emprego poderia ser melhor impulsionada por vagas qualificadas, que pagam melhor. Para ele, caso algo não seja feito para melhorar a qualificação profissional, o quadro atual não deve apresentar mudanças. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/11/07/formacao-tecnica-pode-render-salario-melhor.ghtml
Mais de 80% dos executivos temem retrocesso em políticas flexíveis de trabalho, segundo LinkedIn
Por Redação Relatório global do LinkedIn mostra que decisões tomadas por líderes em meio a incertezas econômicas tem afetado diretamente as prioridades e as ferramentas de retenção e atração de talentos As políticas de flexibilidade no trabalho estão em declínio, segundo estudo feito pelo LinkedIn com mais de 2900 executivos C-Level de grandes organizações do mundo. Nos EUA, por exemplo, antes da pandemia apenas 2% dos empregos postados na plataforma eram listados como remotos. Em abril de 2022 a categoria alcançou seu pico com 20%, mas retornou para 15% em setembro. Apesar das conquistas durante a pandemia, a pesquisa apontou que os executivos estão preocupados que o atual cenário econômico mundial signifique um retrocesso na adoção de políticas flexíveis (82%), no desenvolvimento de habilidades (88%) e no bem-estar dos colaboradores (88%). Segundo Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina, as decisões tomadas pelos líderes em meio a incertezas econômicas tem afetado diretamente as prioridades e as ferramentas de retenção e atração de talentos. “Apesar do trabalho remoto ter sido uma alternativa para muitas empresas durante a pandemia, nem todas haviam consolidado este como o modelo permanente para o longo prazo”, conta. É possível que as empresas estejam querendo voltar ao escritório devido a uma falsa ideia de segurança imposta antes da pandemia, explica o Diretor. “Globalmente, vemos que a liderança está dividida entre voltar para formas antigas de trabalho e olhar para o futuro e repensar a maneira que os funcionários exercem suas funções.” Essa queda vai na contramão da tendência flexibilizadora e de valorização dos funcionários observada nos últimos dois anos e celebrada por grande parte dos empregados. Pesquisas mostram que o trabalho flexível se estabeleceu como uma proposta de valor fundamental para grande parte dos profissionais e ponto crucial para a retenção de talentos nas empresas. Segundo relatório da consultoria RH Adecco a ideia de poder escolher entre trabalhar de casa e ir ao escritório apenas alguns dias da semana é a preferência de 40% dos profissionais, enquanto 33% prefere apenas o home office. Além disso, um relatório da Conexa indicou que 32% acreditam que o modelo de trabalho afeta a saúde emocional, sendo que 50% dos entrevistados estão no presencial, 29% no híbrido e 21% trabalham somente em casa. De acordo com Milton, essa desconexão entre empregador e empregado sinaliza a importância de aproximar os desejos de ambas as partes. Enquanto modelos de trabalho flexíveis tendem a diminuir, pessoas que estão em busca de recolocação não têm aceitado formatos de trabalhos engessados. “No Brasil e em muitos países do mundo, as aplicações para funções remotas superam as ofertas do mercado”, explica. A pesquisa, realizada pelo LinkedIn em parceria com a YouGov, foi respondida por 250 executivos brasileiros de organizações com mais de 1.000 funcionários. Na plataforma, foram analisados os anúncios de empregos pagos e o número de inscrições para essas funções de janeiro de 2021 até setembro do mesmo ano. O estudo ainda mostrou que o grande desafio das empresas nesse contexto é reter talentos e mantê-los engajados. Os executivos também reconhecem que as tensões financeiras devido ao aumento do custo de vida (32%) e o medo da demissão (28%) são os pontos principais de preocupação dos trabalhadores brasileiros. https://www.estadao.com.br/economia/sua-carreira/mais-de-80-dos-executivos-temem-retrocesso-na-adocao-de-politicas-flexiveis-de-trabalho/