O que é trabalho oculto, as tarefas fora do expediente que sobrecarregam profissionais

youtuber, blogger, screenwriter-2838945.jpg

Por Bianca Zanatta Conheça o que é o hidden overwork; além das jornadas de trabalho estendidas e horas extras, profissionais gastam momentos de descanso para fazer cursos, se atualizar e ver e-mails de trabalho Especializada em gestão de marketing e mídias digitais, a jornalista Anyelle Alves, de 24 anos, viajou para Arraial do Cabo (RJ) com um amigo nas últimas férias. A ideia era desplugar de tudo e relaxar, mas quando se deu conta estava trocando mensagens com os clientes pelo celular. E ela não é exceção. Hoje, qualquer um está sujeito ao que especialistas chamam de hidden overwork – ou sobrecarga invisível de trabalho. Esse fenômeno consiste na prática de se dedicar a atividades e temas relativos ao trabalho nas horas de folga. Não se trata de jornadas estendidas ou horas extras, mas de usar períodos como férias, finais de semana ou o tempo de descanso noturno para se desenvolver profissionalmente ou continuar em contato com o ambiente de trabalho, por exemplo. Esse movimento vai na contramão de parte da sociedade que quer ter mais qualidade de vida e reduzir o volume de trabalho. Mas, com a pandemia e o home office, essa prática aumentou, sobretudo porque muitos passaram a confundir trabalho e casa. Os motivos que levam as pessoas ao hidden overwork variam. Há desde aqueles que aproveitam o tempo livre para fazer upskilling (desenvolvimento de habilidades), de olho nas rápidas mudanças do mercado (especialmente com a necessidade das empresas de se digitalizar) ou em uma eventual promoção, até os que apostam no “super preparo” para combater a síndrome do impostor no trabalho, problema que acomete principalmente as mulheres. No caso de Anyelle, a explicação é um misto de auto exigência e gosto pelo que faz. Com isso, ela nunca tem descanso. Na rotina da semana, cuida de toda a parte organizacional durante o dia e acaba reservando o período noturno para falar com clientes e fazer reuniões. Já as férias ela vê como tempo disponível para se dedicar a cursos e mentorias e acaba separando de duas a três horas diárias para esse fim. Endividamento é caminho para o burnout: entenda como esses dois fenômenos estão interligados Acúmulo de trabalho, ausência de educação financeira e falta de dinheiro são alguns dos motivos que coincidem com a realidade de pessoas endividadas que enfrentam o diagnóstico de burnout “No começo, fazia por pressão. Estava desesperada por resultados e sentia que não conseguia descansar. Isso estava me afetando muito”, afirma. Agora ela diz que faz por paixão mesmo, mas busca se blindar contra maiores excessos. “Quando são umas 22h, tento me desligar de tudo. A ideia é me desconectar de verdade e sair totalmente do ambiente digital, principalmente das redes sociais”, revela a profissional. “Do contrário, não paro, não adianta. Quando você gosta do que faz, nem percebe que está passando do limite.” Propósito ou compulsão? Segundo Caroline Marcon, professora dos MBAs de Gestão Estratégica de Pessoas e Liderança da FGV-SP e fundadora da Marcon Leadership Consulting, o gatilho para a sobrecarga invisível de trabalho pode ser o estímulo pessoal, um sentimento de pressão do mercado ou até da própria empresa, mas há também um aspecto cultural. “É inconsciente. Pode ser um comportamento que a pessoa nem escolheria, mas faz porque está programada e não percebe que pode ser um problema”, explica ela. Quando a iniciativa vem do propósito e da paixão, destaca a professora, a prática pode ser positiva. Mas se a sobrecarga vem no piloto automático, pode se tornar disfuncional, culminando em improdutividade e até burnout. Foi o que ocorreu com o gerente-sênior de TI, Ricardo Sato, de 40 anos. Depois de se afundar num elevado volume de atividades, temas e tempo voltados ao trabalho, ele teve o diagnóstico de depressão e burnout, além de um início de gastrite. Para se recuperar, começou a fazer terapia há três anos. “Tudo isso me forçou a mudar um pouco, mas minha cabeça não para”, diz Sato. “Hoje a comunicação é multiplataforma e o tempo todo tem assuntos ligados ao meu escopo de trabalho. Desligar 100% é um esforço para mim.” A separação entre o que é investimento pessoal na carreira e o que é trabalho é uma zona cinzenta, de acordo com o executivo, que tem buscado não misturar tanto a vida pessoal e familiar com a profissão nos momentos de folga. “Antes eu era puxado pelo mercado e pulava sem boia; hoje vejo a correnteza passando e quero pular, mas com a boia.” Para quem está perdendo a mão com o hidden overwork, ele deixa a dica: “É preciso olhar para dentro. Parece frase pronta, e é isso mesmo. É começar com pequenos exercícios físicos diários, ler um livro aleatório, jogar videogame, cuidar do sono, fazer um detox digital. Tem várias maneiras de fazer a mente rodar em outra frequência”. Para a especialista Caroline Marcon, uma das formas mais saudáveis de ser produtivo e ter bom desempenho na vida profissional é saber descansar. Ela cita como exemplo uma executiva que ela atende. “Sabe aquela pessoa que já fez todos os cursos, todos os MBAs, está sempre estressada e fica se perguntando que outro curso pode fazer? Eu falo ‘chega, vai andar no Ibirapuera – e deixa o celular em casa para não ouvir podcast’. Porque chega a um ponto em que a pessoa não vê outro recurso na vida que não seja o de adquirir mais conteúdo, mais informação. Quando atinge o nível da compulsão, é doentio”, destaca. Podcasts no chuveiro Na busca por informação e conhecimento, a publicitária Elis Comenalli, de 34 anos, ouve podcasts até no chuveiro. “São meu maior banco de dados de aprendizado, escuto tomando banho, treinando”, conta ela. “O universo das startups é muito dinâmico, muda a qualquer instante. Sempre tenho que ficar me atualizando.” Ela conta que também participa de summits com mentorias e eventos relacionados ao trabalho em alguns finais de semana e que, apesar de ter consciência da importância de parar em algum momento, volta e meia se pega trocando figurinhas com outros profissionais da área nas horas vagas. “Como a comunicação entre os membros é global e toda online, bobeou e eu estou pendurada no WhatsApp, Slack ou Podia, a qualquer hora do

Guedes nega mudar correção do salário mínimo ‘durante o jogo’, mas admite ser favorável à desindexação

Ministro classificou de ‘fake news’ plano revelado pela Folha, mas deixou porta aberta para mudanças Leonardo VieceliIdiana TomazelliRIO DE JANEIRO e BRASÍLIA O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta quinta-feira (20), no Rio de Janeiro, que o governo Jair Bolsonaro (PL) não vai mudar “durante o jogo” a regra de correção do salário mínimo e de aposentadorias. O plano foi revelado por reportagem da Folha publicada nesta quarta. Guedes, contudo, deixou a porta aberta para debater alterações no arcabouço fiscal brasileiro, incluindo a desindexação do salário mínimo. O ministro chamou de “fake news” a informação sobre os estudos do governo que avaliam a possibilidade de pagamento do salário mínimo e de aposentadorias sem correção pela inflação passada. “Em relação a isso, tem uma regra que diz que o salário mínimo vai subir de acordo com a inflação, pelo menos a do ano passado, e [dizem que] eles [governo] querem mudar. Fake news”, afirmou. “Não se muda a regra do jogo durante o jogo. O jogo está correndo”, acrescentou o ministro em entrevista na sede da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Em nota, o Ministério da Economia também disse que “não há qualquer plano para alterar as regras dos reajustes anuais do salário mínimo e das aposentadorias pela inflação (INPC)”. Apesar de rejeitar mudanças agora, o ministro voltou a defender uma das bandeiras de sua gestão, a chamada “regra dos 3D”, que visa desindexar, desvincular e desobrigar o Orçamento. “Precisamos colocar mais inteligência nos orçamentos, e mais política nos orçamentos, em vez de simplesmente seguir uma regra de vinculação que pode ser inadequada”, disse. “Esses estudos sempre foram feitos. Aí, vai chegar a época da eleição: ‘Ah, eles querem cortar o salário’. Isso é manipulação política. Se isso for para ser feito, não é escondido. Tem de ser publicamente debatido, aberto. Evidentemente, não faremos isso, chegar e mudar a regra para prejudicar o trabalhador”, completou. Ao admitir a possibilidade de discutir medidas de descarimbar e desindexar o Orçamento, obtendo maior liberdade na gestão das despesas, o ministro afirmou que isso se dava em um contexto de buscar garantir aumentos reais ao salário mínimo –embora, hoje, não haja impedimentos legais para se conceder aumentos acima da inflação (apenas a limitação orçamentária). “Se estiver tendo conversa de desindexação, é muito mais pensando se a inflação realmente aterrissar e a gente quiser dar um aumento real”, disse. Guedes deu ênfase à possibilidade de dar aumentos maiores do que a inflação. Ele foi então questionado pelos jornalistas sobre qual seria o balizador mínimo –e se ele seria a meta de inflação, como na proposta obtida pela reportagem. Na resposta, o ministro citou exemplos comparando com meta de inflação e expectativas para o índice de preços, mas não esclareceu qual seria o indexador mínimo. “Vamos supor que agora que a inflação seja 5,5% esse ano e que a meta de inflação seja 3,5%. A gente evidentemente vai dar o 5,5%. A gente não vai, no meio do jogo, mudar a regra para atrapalhar alguém. Agora, suponha que a expectativa de inflação para o outro ano já fosse mais baixa, fosse 5%, e você fala assim, vou dar 5,5% de novo, porque eu quero dar um aumento real. Você teria desindexado, e seria um aumento real”, afirmou. Sem ser questionado sobre o assunto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta que o governo vai conceder no próximo ano aumento real para o salário mínimo e nos vencimentos dos servidores públicos. “Agora há pouco o Paulo Guedes anunciou que no ano que vem vai ter aumento real do mínimo e aumento real para servidor público também”, afirmou em conversa em um podcast. Como mostrou a Folha, Guedes trabalha em um plano para refundar a legislação sobre as contas públicas do país. O ministro trata o assunto como um legado de sua gestão, mas a proposta só deve ser oficializada se houver vitória de Bolsonaro no dia 30 de outubro. Nesse caso, uma PEC (proposta de emenda à Constituição) seria apresentada no dia seguinte à eleição. Uma das principais medidas em estudo é a possibilidade de mudar a forma de reajuste do salário mínimo e de benefícios previdenciários. Hoje, eles são corrigidos pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do ano anterior. O INPC é um indicador de inflação calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trechos da proposta obtidos pela Folha afirmam que “o salário mínimo deixa de ser vinculado à inflação passada”. Na nova regra, o piso “considera a expectativa de inflação e é corrigido, no mínimo, pela meta de inflação”. O gasto com benefícios previdenciários “também deixa de ser vinculado à inflação passada”. Na prática, abre-se a possibilidade de uma correção abaixo da inflação nos benefícios previdenciários, que têm despesas projetadas em R$ 859,9 bilhões para o ano que vem, e do salário mínimo. O piso nacional afeta também os gastos com seguro-desemprego. Outra discussão é mudar o índice usado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a variação de preços sentida por famílias com renda de até 40 salários mínimos —e que costuma ser menor do que o INPC. Para se ter uma ideia da dimensão da mudança, o INPC de 2021 teve alta de 10,16%, percentual usado na atualização do salário mínimo para R$ 1.212. Caso apenas a meta de inflação de 2022 fosse aplicada, a elevação seria de 3,5%. Se a opção fosse pela expectativa do início do ano para o IPCA em 2022, o reajuste seria de 5,03%. Os detalhes ainda estão em discussão e não são definitivos. Tentativas anteriores de desvinculação de benefícios da Previdência ou do salário mínimo enfrentaram resistência de Bolsonaro, que chegou a ameaçar com um “cartão vermelho” um secretário do Ministério da Economia que foi porta-voz de uma proposta similar em 2020. Guedes também defendeu nesta quinta a taxação de lucros e dividendos para a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023. Conforme o ministro, uma PEC (proposta de emenda à Constituição) está “acertada” sobre o assunto e precisará avançar “o mais rápido possível” depois do segundo turno das eleições. “Tem

Comissão aprova projeto que desvincula valor máximo de indenização a salário do trabalhador

dollars, currency, money-499481.jpg

O objetivo da proposta é evitar que a limitação impeça a reparação total dos danos morais ou existenciais A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que revoga trechos da reforma trabalhista relacionados à reparação de danos extrapatrimoniais. Com a reforma trabalhista, passou-se a considerar como danos extrapatrimoniais aqueles causados pela ação ou omissão que ofenda o empregado, moral ou existencialmente. Isso engloba também casos de agressão a intimidade ou a vida privada do profissional. O relator do projeto, deputado André Figueiredo (PDT-CE), apresentou um substitutivo reunindo alterações previstas no PL 8544/17, do deputado Cleber Verde (Republicanos-MA), e nos apensados PL 9204/17, PL 614/19 e PL 913/19. O texto aprovado exclui da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) trecho que estabelece valores máximos para as indenizações por danos extrapatrimoniais com base no salário do empregado. “Essa limitação é evidentemente inconstitucional, pois fere o direito à reparação integral do dano e o princípio da igualdade, ambos consagrados no artigo 5º da Constituição Federal”, observou Figueiredo. O substitutivo também revoga trecho final de um artigo da CLT que, segundo o relator, poderia restringir o direito de reparação apenas à vítima, excluindo herdeiros e outros legitimados. “A redação do artigo pode levar a interpretações equivocadas de que a indenização deva ser pedida apenas pela vítima direta, e não por seus herdeiros ou pelos legitimados para a ação civil pública, no caso de danos morais coletivos”, disse o relator. O substitutivo aprovado retira, por fim, artigo que limitava a reparação extrapatrimonial a casos previstos na CLT. “Essa disposição não tem coerência com o sistema jurídico brasileiro, uma vez que esse título não disciplina exaustivamente a matéria”, concluiu. TramitaçãoA proposta será ainda analisada, em caráter conclusivo, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Fonte: Agência Câmara de Notícias https://www.camara.leg.br/noticias/915159-comissao-aprova-projeto-que-desvincula-valor-maximo-de-indenizacao-a-salario-do-trabalhador/

Salário mínimo no Brasil é o segundo menor entre 31 países; compare

piggy bank, saving, money-850607.jpg

Ranking coloca Brasil à frente apenas do México em relação à remuneração dos trabalhadores COMPARTILHAMENTO ESPECIALAssinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da Folha Assinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da FolhaAssinantes podem liberar 5 acessos por dia para conteúdos da FolhaASSINEouFAÇA LOGIN Salvar para ler depoisSALVAR ARTIGOSRecurso exclusivo para assinantesASSINE ou FAÇA LOGIN 7 20.out.2022 às 13h45 Ouvir o texto Diminuir fonte Aumentar fonte Felipe Nunes SÃO JOSÉ DO RIO PRETO O salário mínimo real do Brasil é o segundo menor de uma lista de 31 países feita pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), à frente apenas do México. O ranking, que tradicionalmente tem 32 países, não considerou o Japão nesta edição. A pesquisa reúne dados de 2021 sobre a remuneração dos trabalhadores no mundo. A lista reúne nações que integram a OCDE, mais o Brasil e a Rússia. Atualmente, o salário mínimo no Brasil é de R$ 1.212. No ano passado, período considerado para a pesquisa, era de R$ 1.100. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem um plano que prevê deixar de reajustar o salário mínimo e a aposentadoria pela inflação do ano anterior, caso o presidente Jair Bolsonaro (PL) consiga a reeleição. Pela proposta, o piso “considera a expectativa de inflação e é corrigido, no mínimo, pela meta de inflação”. O gasto com benefícios previdenciários “também deixa de ser vinculado à inflação passada”. O levantamento utilizou o dólar como moeda-base, e os salários foram ajustados pela paridade do poder de compra (PPP na sigla em inglês). Ainda segundo a OCDE, na elaboração do cálculo também é considerada a inflação de casa país. PUBLICIDADE Segundo o ranking, o Brasil possui um salário mínimo médio de US$ 5,21 por hora. O México, pior colocado da lista, tem o salário mínimo médio de US$ 3,32 por hora. Luxemburgo lidera o ranking, com um salário mínimo médio de US$ 27,7 por hora, seguido por Holanda, com US$ 26,2 por hora, e Austrália, com US$ 25,2. Na América Latina, o Brasil fica atrás de países como Chile (US$ 8,3/h) e Colômbia (US$ 8,1/h). Posição País US$ por hora (média) 31º México 3,3 30º Brasil 5,2 29º Rússia 5,6 28º Colômbia 8,1 27º Chile 8,3 26º Letônia 10,4 25º Estônia 11,2 24º Hungria 11,4 23º Eslováquia 11,5 22º Costa Rica 11,5 21º República Checa 12,3 20º Turquia 14 19º Portugal 14,4 18º Grécia 14,4 17º Lituânia 14,8 16º Estados Unidos 15 15º Israel 15,1 14º Polônia 17 13º Espanha 18,9 12º Eslovênia 19,2 11º Irlanda 20 10º Canadá 21,9 9º Coreia 21,9 8º França 22,9 7º Reino Unido 23,5 6º Bélgica 23,9 5º Alemanha 24,5 4º Nova Zelândia 24,7 3º Austrália 25,2 2º Holanda 26,2 1º Luxemburgo 27,7 MENOR MÉDIA DESDE 2016 Segundo a pesquisa da OCDE, o Brasil ocupa a segunda pior colocação no ranking desde 2018, quando foi ultrapassado pela Rússia. Apesar de não apresentar variação na posição nos últimos anos, o estudo indica uma redução na média do salário mínimo real no Brasil em 2021, se comparado com o ano anterior. De acordo com o levantamento, em 2020, o país tinha um salário mínimo médio de US$ 5,36 por hora. O indicador do ano passado só não fica abaixo do registrado em 2016, quando o estudo apontou um salário mínimo médio de US$ 5,18 por hora. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/10/salario-minimo-no-brasil-e-o-segundo-menor-entre-31-paises-mostra-ocde.shtml

Bolsonaro promete ganho real no salário mínimo após repercussão de plano de Guedes

hammer, books, law-719066.jpg

Estudo, revelado pela Folha, prevê não usar inflação passada no cálculo da correção Renato MachadoBRASÍLIA A dez dias do segundo turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu nesta quinta-feira (20) conceder aumento real do salário mínimo e para o funcionalismo público no próximo ano. A fala acontece um dia após a Folha revelar plano do ministro Paulo Guedes (Economia) que prevê, entre outros pontos, mudança na política de reajustes do salário mínimo e aposentadorias, que não seriam mais corrigidos pela inflação do ano anterior. Bolsonaro acusou a esquerda de divulgar fake news, mas confirmou que o titular da Economia é favorável à desindexação da economia. “O Paulo Guedes fala muito em desindexação da economia. E daí no bolo, o que ele quer desindexar? O percentual fica indefinido. E, no momento, você tem a garantia de no mínimo […] no mínimo vai ter um aumento real, mais do que a inflação”, afirmou Bolsonaro durante participação na noite desta quinta no podcast Inteligência Ltda. Na proposta de Orçamento de 2023, enviada pelo governo ao Congresso em agosto, no entanto, não há previsão de aumento real do salário mínimo. O valor proposto, de R$ 1.302, emenda o quarto ano seguido sem ganhos acima da inflação. A última vez que o piso nacional foi reajustado acima da alta de preços foi no início de 2019, em um decreto assinado por Bolsonaro, seguindo a política de valorização aprovada em lei ainda no governo Dilma Rousseff (PT). Bolsonaro fez a promessa de aumento real enquanto discorria no podcast sobre as dificuldades de trabalhar com uma máquina pública inchada e ressaltava que praticamente não realizou concursos públicos —com exceção de algumas categorias da área de segurança— quando afirmou que, após anos de perdas salariais, o funcionalismo receberia aumento real, assim como o salário mínimo. “Então, foi uma maneira de você enxugar um pouco [não realizar concursos públicos], sem qualquer prejuízo aos servidores públicos. Tanto é que agora há pouco o Paulo Guedes, dado a isso, anunciou que no ano que vem vai ter aumento real do mínimo e aumento real para servidor público também”, afirmou. O ministro da Economia, no entanto, não declarou nesta quinta que dará aumento real no salário mínimo ou ao funcionalismo. Durante evento no Rio de Janeiro, Guedes negou que exista um plano para mudar a correção “durante o jogo”, mas admitiu ser favorável à desindexação. Durante o podcast, Bolsonaro ainda descreveu como “fake news” a falta de reajustes e atribuiu à esquerda a disseminação da informação. “Uma fake news hoje. Tudo é Bolsonaro. ‘Bolsonaro vai diminuir o salário mínimo’. Não tem cabimento diminuir o salário mínimo. Quem votaria uma proposta para diminuir o salário mínimo?”, indagou. Em seguida, ele atribuiu a “fake news” ao deputado federal André Janones (Avante-MG), articulador da campanha de Lula (PT) nas redes sociais. Em vídeo divulgado nesta quinta, Janones afirma, sem citar a reportagem da Folha, ter tido acesso a documentos que supostamente comprovariam o plano de Guedes. “Então, foi uma fake news pregada por aquele mesmo cara, um tal de Janones, que é o garoto propaganda, o marqueteiro do Lula. E o Paulo Guedes acabou de dar a declaração que será reajustado, a partir do ano que vem, o salário mínimo, o valor real. Bem como o servidor público”, disse Bolsonaro. Como a Folha mostrou, Guedes trabalha em um ambicioso plano para refundar a legislação sobre as contas públicas do país. A intenção é reformular o teto de gastos e “quebrar o piso”, ou seja, frear o crescimento de despesas que hoje pressionam o Orçamento —entre elas os benefícios previdenciários ou atrelados ao salário mínimo. O ministro trata o assunto como um legado de sua gestão, mas a proposta só deve ser oficializada se houver vitória de Bolsonaro no dia 30 de outubro. Nesse caso, uma PEC (proposta de emenda à Constituição) seria apresentada no dia seguinte à eleição. O desenho da nova arquitetura fiscal afastaria a necessidade de uma licença para gastos extrateto (chamado de “waiver”) —embora o plano estabeleça também uma série de novas exceções para o teto de gastos, além da correção menor de alguns gastos. Dessa forma, avalia-se dentro da pasta que seria possível acomodar cerca de R$ 100 bilhões adicionais dentro do teto em 2023, honrando promessas eleitorais como a manutenção do piso do Auxílio Brasil em R$ 600, o pagamento de um 13º para beneficiárias mulheres e a recomposição de verbas para programas como o Farmácia Popular. Uma das principais medidas em estudo é a desindexação do salário mínimo e dos benefícios previdenciários. Hoje, eles são corrigidos pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do ano anterior, o que garante ao menos a reposição da perda pelo aumento de preços observado entre famílias com renda de até cinco salários mínimos. Assim como já havia feito em declarações anteriores, Bolsonaro questionou os dados referentes a insegurança alimentar no Brasil. O mandatário afirmou que “não se justifica” passar fome no país atualmente, uma vez que há o programa Auxílio Brasil. “Então, tem gente que passa fome, passa. Mas não se justifica passar fome porque você pode requerer [o benefício do programa Auxílio Brasil]. E, com R$ 20 por dia, eu sei que não é muita coisa, mas dá para você comprar por exemplo 2 quilos de frango no supermercado”, disse. AUDIÊNCIA SUPERA LULA A edição do podcast Inteligência Ltda chegou a registrar um total de 1,5 milhão de espectadores simultâneos, superando a marca do seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Flow, dois dias antes. A participação em podcasts tornou-se nessas eleições motivo de guerra entre as campanhas e demonstrativo de força na internet. Na noite de terça-feira (18), Lula participou do Flow e a audiência ultrapassou um milhão de espectadores simultâneos. Jair Bolsonaro já participou, por exemplo, do Flow, do Pilhado e também teve uma participação em um pool de podcasts esportivos. Nesse último evento, na sexta-feira (14), o presidente deu a polêmica declaração de que “pintou um clima” com adolescentes venezuelanas e as acusou de se prostituírem. O mandatário depois gravou um vídeo se desculpando. A dez dias do segundo turno das eleições, Bolsonaro segue atrás de Lula nas