O mundo está a caminho de uma recessão? Entenda os riscos e as consequências para o Brasil

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Boa notícia é que esfriamento da demanda pode ajudar a aliviar a pressão inflacionária e a acomodar preços das commodities, apesar da piora nas projeções para 2023. Por Darlan Alvarenga, g1 A contração do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos pelo segundo trimestre seguido e indicadores econômicos na Europa evidenciam o cenário de desaceleração da economia mundial, aumentando os temores de uma nova recessão global apenas dois anos após a última – daquela vez, na esteira da pandemia da Covid-19. Cada vez mais economistas veem como iminente a chegada de uma recessão não só na maior economia do mundo, mas também em países europeus, além de riscos de retração inclusive em países como o Brasil. O pano de fundo para o novo abalo na economia global é a disparada da inflação, que tem batido recorde de mais de quatro décadas no mundo. A alta de preços acontece em meio à guerra na Ucrânia e gargalos nas cadeias de produção após o impacto da pandemia. E, buscando conter a inflação, o Federal Reserve (Fed) e outros bancos centrais ao redor do mundo têm elevado as taxas de juros – ‘esfriando’ a economia, ou seja, colocando freios no crescimento. “Um processo inflacionário dessa magnitude não é trivial. Toda vez que teve inflação elevada no passado e que o Fed e os bancos centrais tiveram que subir taxas de juros, tivemos uma recessão”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Se a recessão global, por ora, ainda não é realidade, não há dúvidas a respeito de uma desaceleração rápida da atividade econômica global e da piora das expectativas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou no final do mês passado sua previsão de crescimento global para 2022 e 2023, alertando que a perspectiva piorou significativamente e que o mundo poderá em breve estar à beira de uma recessão global. Mas o que define uma recessão e quais as consequências para a economia? O que explica a atual desaceleração global e quais os riscos de uma nova retração do PIB do Brasil? Como se define uma recessão? EUA já estão? A definição de recessão técnica é o registro de dois trimestres consecutivos de declínio do PIB. Por esse critério, a economia dos EUA já estaria em recessão. Muitos economistas, porém, assim como o governo de Joe Biden, avaliam que a economia norte-americana não está em uma recessão clássica, porque ainda registra outros indicadores mais favoráveis, como de gastos das famílias e de criação de vagas de trabalho. “Recessão na verdade é quando você tem um conjunto amplo de indicadores – consumo, investimento, emprego –, todos eles piorando, não só o PIB negativo”, afirma Caio Megale, economista-chefe da XP. A avaliação dele, de qualquer forma, é que tanto os EUA como a economia global dificilmente escaparão de uma nova recessão. A inflação ao consumidor nos Estados Unidos saltou para 9,1% em julho, atingindo a maior taxa anual em 40 anos e meio – e, por outro lado, o mercado de trabalho continua aquecido, o que tem elevado as apostas de que o Fed terá que promover uma elevação mais rápida dos juros para esfriar a economia e frear a alta de preços. Para os economistas, os EUA podem até não estar em recessão ainda, mas será difícil escaparem dela. “Para a que a economia americana se reequilibre e tenha uma queda de inflação, os EUA vão precisar passar por uma por uma recessão nesse conceito mais amplo, com queda mais expressiva de consumo, aumento da taxa de desemprego. Então, o Fed e o mundo irão ajustar os juros, até esse cenário de recessão ficar mais claro”, diz Megale. Qual a dimensão esperada do abalo e os riscos? Na Europa, o banco central britânico alertou nesta semana que o Reino Unido enfrentará uma recessão e avaliou que a economia começará a encolher a partir do último trimestre de 2022, podendo se contrair até o fim de 2023. “Há um conjunto de países sofrendo desse mesmo processo inflacionário que advém das pressões da pandemia e da guerra. Então, tudo indica que de fato tem um ciclo recessivo global pela frente, que vai pegar um cheio especialmente os Estados Unidos da Europa. Ainda não aconteceu, mas estamos caminhando para uma recessão global sincronizada”, avalia o economista da MB. Ainda que o movimento de contração econômica não se dissemine por todas as regiões do globo, vale destacar que somente o bloco dos países do G7 (EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) respondem por quase 50% do PIB global. E, num mundo globalizado, um abalo nas maiores economias significa um freio na atividade econômica em todos os continentes. Importante destacar que, apesar da piora das projeções para a economia global, instituições como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o FMI continuam prevendo que o PIB global anual irá crescer em 2022 e 2023, ainda que com taxas mais fracas. Veja no gráfico abaixo: Nem os mais pessimistas veem, porém, o risco de uma recessão tão aguda como a registrada em 2020 ou um colapso como o ocorrido durante a crise financeira global de 2008 e 2009. “Dessa vez eu acho que vai ser uma recessão que pode ser curta. É uma questão mais cíclica mesmo. Acho que serão dois, três trimestres de desaceleração mais expressiva e de queda do consumo. Mirando meados do ano que vem, o trabalho pode estar feito e o Fed pode começar a pensar em cortar juros,” avalia Megale. Ainda que de baixa magnitude e de curta duração, uma recessão sempre traz consequências amargas, pois provoca um freio nos investimentos e no comércio global, e derruba a confiança de empresários e consumidores, o que fatalmente implicará em cortes de empregos e maior risco de falência de empresas no mundo todo. E qual é a situação da China? Na China, a inflação não é um problema, mas a segunda maior economia do mundo também tem mostrado um esfriamento desde 2019. O PIB chinês registrou forte desaceleração no segundo trimestre, afetado por ‘lockdows’ em várias cidades do país por causa da Covid-19. A China foi a única grande economia do mundo que escapou de uma

65% dos trabalhadores aderem à marmita, mostra pesquisa

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51,72% disseram que sempre levam para o trabalho a comida de casa e 20,63%, de duas a três vezes por semana; aumento do ticket refeição e do vale-alimentação ficou abaixo da inflação no primeiro semestre. Por Marta Cavallini, g1 A marmita passou a ser a principal aliada do trabalhador que precisa enfrentar o avanço da inflação ou economizar para manter o orçamento em dia. Pesquisa da Sodexo Benefícios e Incentivos mostra que 65% dos profissionais entrevistados costumam levar a comida pronta de casa para o trabalho. Isso ocorre em meio à alta nos preços da refeição fora de casa – que está custando, em média, R$ 40,64. O levantamento foi feito com 3.931 pessoas em todo país entre os dias 13 e 15 de julho. Congresso aprova novas regras para auxílio-alimentação; entenda A pesquisa mostra que outros 17,22% costumam almoçar em restaurantes que oferecem o prato feito, seguido dos que costumam comer em restaurante por quilo (14,68%) e em restaurantes à la carte (3%). Marmita já era adotada antes de alta da inflação A pesquisa mostra ainda que a opção pela marmita já era adotada pelo trabalhador antes do avanço da inflação – 33,15% afirmam terem o hábito de levar a comida pronta de casa por considerá-la uma refeição mais barata. Outros 25,36% dizem preferir a comida caseira, seguidos de 22,82% que passaram a levar marmita após a alta dos preços. Já 18,67% declararam que, mesmo com a alta dos preços, preferem comer em restaurante. A pesquisa mediu também com que frequência a opção da marmita é utilizada na semana: 51,72%: sempre20,63%: de duas a três vezes por semana20,27%: nunca7,38%: uma vez por semana Menor adesão à marmita é no sábado Os trabalhadores evitam levar marmita no sábado (55,23%), na sexta-feira (43,27%) e na segunda-feira (27,04%). Já às terças-feiras (13,43%), quartas (15,85%) e quintas (14,83%), o índice de trabalhadores que não levam marmita cai consideravelmente. Em relação aos finais de semana, 43,28% afirmam que ainda continuam frequentando restaurantes, mas não com a mesma frequência de antes. Outros 40,52% declaram que não frequentam mais restaurantes por não terem mais condições financeiras para isso, e 16,21% continuam frequentando os estabelecimentos normalmente. Inflação ‘encolhe’ período de uso do vale-refeição Para Willian Tadeu Gil, diretor de Relações Institucionais e de Responsabilidade Corporativa da Sodexo Benefícios e Incentivos, o cenário inflacionário desafiador atinge diretamente o setor de alimentos e, consequentemente, o bolso do trabalhador brasileiro, que passou a desembolsar do próprio bolso 9 dias do orçamento para as refeições fora de casa. Segundo outra pesquisa da Sodexo, desde a chegada da pandemia, em 2020, até junho deste ano, a duração média do vale-refeição tem sido de apenas 13 dias. Em 2019, era de 18 dias. A pesquisa leva em conta a concessão do vale-refeição por 22 dias, que é o período útil de trabalho dos funcionários. “Por essa razão, é importante que as empresas se mantenham atentas ao cenário atual para ajustar sempre que necessário o valor do benefício aos seus colaboradores a fim de cobrir os dias úteis”, diz. Segundo Gil, no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado, empresas de todos os portes aumentaram, em média, 4,2% o valor do crédito do vale-refeição e em 8,82% no caso do vale-alimentação. Em ambos os casos, o reajuste ficou abaixo da inflação em junho, que acelerou para 11,89% em 12 meses. Aumento de 48,3% nos últimos 10 anos Levantamento da Ticket, empresa do setor de benefícios de refeição e alimentação da Edenred Brasil, mostra que o valor médio gasto em refeições fora de casa cresceu 48,3% nos últimos 10 anos – em 2013, comer fora custava cerca de R$ 27,40, e em 2022 esse valor passou para a média de R$ 40,64. De acordo com a Ticket, o avanço do preço médio das refeições mostrado pela pesquisa poderia estar pesando ainda mais para os trabalhadores, pois está abaixo das correções inflacionárias. De acordo com o estudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no período analisado foi de 73,8%. Se corrigido de acordo com a inflação oficial medida pelo IBGE, a refeição completa estaria custando em média R$ 47,62 no bolso dos brasileiros. No recorte detalhado por região, a maior variação da refeição fora de casa foi observada no Nordeste. O valor subiu de R$ 23,74 para R$ 40,28, um aumento de 69,6%. Já a menor variação foi observada na região Norte, com alta de 18,6%. Em 2013, o prato custava R$ 30,45. Agora, custa R$ 36,14. No Sudeste, passou de R$ 29,85 para R$ 42,83, avanço de 43,4%; no Sul, de R$ 26,55 para R$ 36,97, aumento de 39,2%; e no Centro-Oeste, de R$ 26,85 para R$ 34,20, alta de 27,3%. https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/08/05/65percent-dos-trabalhadores-aderem-a-marmita-mostra-pesquisa.ghtml

Vale-refeição e vale-alimentação: Veja o que muda nas regras dos benefícios

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Pedro Leite Knoth Colaboração para o UOL, em São Paulo O Senado aprovou ontem uma medida que altera regras do vale-alimentação e do vale-refeição pago pelas empresas aos trabalhadores. Editada pelo governo em março, a medida provisória já foi aprovada pela Câmara e agora segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL). Dentre as alterações estão a proibição do uso do benefício para comprar bebida alcoólica e a possibilidade de o trabalhador trocar a bandeira do cartão e de sacar em dinheiro o saldo que ele não tiver usado após 60 dias. O vale-refeição geralmente é aceito em restaurantes, padarias e lanchonetes credenciados, enquanto o vale-alimentação é utilizado em supermercados. Veja abaixo o que vai mudar. VA e VR só poderão ser usados para comprar alimentos A medida institui que o VA e o VR devem ser usados apenas para o pagamento de refeições em restaurantes e lanchonetes ou para a compra de alimentos. É vedado o uso do benefício para a compra de cigarros e bebidas alcoólicas, por exemplo. A restrição foi iniciativa do governo, que afirmou haver trabalhadores usando VR e VA até para pagar serviços de TV a cabo. Com a proibição, compra de produtos que não sejam alimentos pode ser barrada no caixa do supermercado. Trabalhador poderá trocar bandeira do cartão O trabalhador poderá solicitar à empresa a portabilidade gratuita entre planos do serviço de VA e VR. Ou seja, pode trocar a bandeira do cartão sem nenhum custo. Essa regra só valerá a partir de 1º de maio de 2023, caso a MP seja sancionada. Quem aceitar uma bandeira terá que aceitar todas Outra medida que só vale para o ano que vem é a chamada interoperabilidade entre bandeiras de vale-alimentação e vale-refeição de arranjo aberto e fechado. Com isso, o trabalhador poderá usar seu cartão mesmo em um restaurante que não seja credenciado pela bandeira dele. Se ele tem um cartão Alelo, por exemplo, poderá pagar refeições em um restaurante que aceite outras bandeiras, como Sodexo, Ticket e VR. Para que o trabalhador utilize seus créditos, basta que o estabelecimento aceite pagamento em vale-refeição. As empresas têm até o dia 1º de maio de 2023 para se adaptarem a essa medida. A expectativa é que as novas regras ampliem a concorrência, já que os estabelecimentos habilitados a receber pagamentos por vale-refeição poderão atender qualquer bandeira. “Com isso, uma série de inovações puderam ser implantadas no mercado de VA e VR, introduzindo, inclusive, a possibilidade de os RHs incluírem mais de um benefício em um mesmo cartão, garantindo a finalidade de uso de cada benefício e uma aceitação muito mais ampla em todos os estabelecimentos do país”, diz Fernanda Zanetti, da empresa de serviços financeiros Creditas. Saldo não utilizado em 60 dias poderá ser sacado Outra mudança trata do saque do saldo não utilizado do VR ou VA. Se o trabalhador não gastar o valor do benefício em 60 dias, ele pode retirar o valor em dinheiro, e aí gastá-lo como quiser. Essa foi uma das mudanças feitas pelo relator do projeto na Câmara dos Deputados, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP). O deputado também tentou criar uma regra que determinaria o pagamento do VA e do VR em dinheiro, o que gerou críticas da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), que alegou prejuízo aos restaurantes. Paulinho da Força retirou o trecho do texto após uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas resolveu criar a regra do saque depois de 60 dias. O governo tentou derrubar a medida no Congresso, mas não conseguiu. Para Zanetti, esse trecho da MP ainda pode sofrer alterações ao ir para sanção presidencial. “Se levarmos em consideração o preceito do PAT [Programa de Aquisição de Alimentos] e as regras da CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], há uma certa dissonância. Quando você passa a permitir o saque de um valor que teria que ser destinado para a alimentação, você não consegue mais garantir a finalidade do uso desses benefícios. Vendo por esse ponto, abre espaço para que esse montante sacado seja considerado uma verba salarial”, diz. Isso, segundo ela, faria com que os benefícios sofressem desconto de encargos sociais e trabalhistas. O que muda para as empresas Na hora de contratar um serviço de VA ou VR, a empresa não poderá mais negociar descontos. Hoje, as empresas de cartão oferecem descontos aos empregadores que contratarem seus serviços, mas, em compensação, cobram taxas mais altas dos restaurantes. Como consequência, os estabelecimentos repassam esse custo para o consumidor, que é quem acaba pagando a conta. Além disso, não é mais permitido que fornecedoras antecipem os prazos de repasse ou adiantem a transferência do benefício para os trabalhadores. Essas proibições não atingem contratos atuais. Só começam a valer 14 meses após a lei ser publicada. Descumprimento pode gerar multa de até R$ 50 mil Patrões ou empresas de cartão que descumprirem as regras estarão sujeitas a multa de R$ 5.000 a R$ 50 mil. O valor dobra em casos de reincidência ou tentativa de obstrução de fiscalizações do trabalho. Também podem ser multados restaurantes e supermercados que aceitarem pagamento em VA ou VR por produtos que não sejam alimentícios. https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2022/08/04/congresso-mudancas-vale-alimentacao-vale-refeicao-regras.htm

Emprego: as 9 áreas em que brasileiros mais encontram trabalho

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Laís Alegretti – Da BBC News Brasil em Londres Proporção de pessoas ocupadas aumentou, mas salário médio real caiu. Entenda o que explica esse cenário e veja as áreas que tiveram os maiores aumentos da população ocupada no último ano, segundo o IBGE. Os dados mais recentes sobre o mercado de trabalho brasileiro revelam um cenário que pode parecer contraditório à primeira vista: um aumento na proporção de pessoas trabalhando, mas com salários menores ? além de um recorde de trabalhadores sem carteira assinada. “É um copo meio cheio ou meio vazio, dependendo da maneira como você observa”, resume Bráulio Borges, economista-sênior da consultoria LCA e pesquisador-associado do FGV IBRE. A taxa de desemprego de 9,3%, registrada no trimestre de abril a junho de 2022, é a mais baixa para o segundo trimestre desde 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comércio, construção civil, serviços domésticos e outros serviços estão entre as áreas que respondem por maior criação de ocupações. (Veja abaixo a lista completa das áreas com os maiores aumentos). Borges destacou que, “olhando só o número de pessoas ocupadas, há sete anos que a gente não observa o mercado de trabalho brasileiro em uma situação tão favorável”. No entanto, ele acrescentou que uma análise mais detalhada mostra que “não é uma situação assim tão boa”, em referência a aspectos como a queda de 5,1% no rendimento médio real (R$ 2.652) em relação a igual período do ano anterior. Veja abaixo as áreas que mais estão contratando no Brasil ? e, em seguida, entenda como essa composição ajuda a explicar a atual situação do mercado de trabalho brasileiro. Aumento da população ocupada (2º tri de 2022 ante 2º tri de 2021): -Alojamento e alimentação (23,1%, ou mais 1 milhão de pessoas) -Serviços domésticos (18,7%, ou mais 931 mil pessoas) -Outros serviços* (18,7%, ou mais 805 mil pessoas) -Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (14,2%, ou mais 2,4 milhões de pessoas) -Construção (11,2%, ou mais 753 mil pessoas) -Indústria geral (10,2%, ou mais 1,2 milhão de pessoas) -Transporte, armazenagem e correio (10%, ou mais 463 mil pessoas) -Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (5,5%, ou mais 893 mil pessoas) -Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,1%, ou mais 568 mil pessoas) *Serviços artísticos, culturais, esportivos e recreativos; serviços pessoais, de manutenção e reparos de equipamentos e de objetos pessoais e domésticos. **Os demais grupos de atividades não tiveram variações significativas, segundo o IBGE Fonte: IBGE É importante lembrar que os dados de ocupação do IBGE não consideram apenas os empregos formais (com carteira assinada), mas também os trabalhos informais. Entre os trabalhadores por conta própria (os também chamados autônomos), considera tanto aqueles com CNPJ quanto sem. ‘Mais emprego do que PIB’ Geralmente, os economistas esperam que as movimentações no mercado de trabalho acompanhem a atividade econômica com um certo atraso, como aponta a pesquisadora do Ipea Maria Andreia Lameiras. “Em momentos em que a economia já está em crise, o mercado de trabalho demora um pouco mais a entrar em crise. E acontece também o contrário. Momentos que a economia vai se recuperando primeiro, o mercado de trabalho vem se recuperando depois”, diz. No entanto, essa regra geral não parece se aplicar para a atual situação. A economista destaca a característica particular dos impactos da crise mais recente, “vinda de um fator de saúde” e lembra que as restrições em resposta à pandemia afetaram especialmente o setor de serviços, que puxa muito o mercado de trabalho no Brasil. Agora, diz Lameiras, “tudo aquilo que foi muito afetado na pandemia volta a crescer com força”. “A gente tem um aumento brutal da demanda por serviços e a gente sabe que o setor de serviços é o que mais emprega no Brasil. Então toda a demanda reprimida que a gente tinha, por conta da pandemia, ela chega no mercado de uma vez só. Fora isso, você tem o Auxílio Brasil, que está botando dinheiro na economia como um todo.” Ela destaca os crescimentos de ocupações nas áreas de serviços prestados às famílias, inclusive de serviços domésticos (empregada ou diarista), recreação, lazer, beleza e estética. Borges, do FGV IBRE, diz que a melhor expressão para sintetizar o comportamento da economia brasileira no último ano – e principalmente no primeiro semestre de 2022 ? é que “a gente tem mais emprego do que PIB”. Ele faz a ressalva de que as atuais previsões para o PIB de 2022, hoje em torno de 2%, estão maiores do que estavam há alguns meses (quando alguns analistas chegaram a projetar que o PIB poderia inclusive encolher neste ano). “Por várias razões: as commodities subiram depois da guerra; a gente afastou risco de apagão que estava nos assombrando no final do ano passado por conta da estiagem; a gente também tem esse conjunto de medidas de estímulo que o governo está adotando, algumas com viés claramente eleitoreiro, mas obviamente que isso acaba ajudando a economia”. Mesmo com esse aumento nas previsões, no entanto, Borges diz que os dados de ocupação estão melhores do que a teoria indicaria. Segundo a chamada Lei de Okun, que faz uma relação entre a evolução da taxa de desemprego e a dinâmica do PIB, a taxa de desemprego estaria mais próxima de 11% (do que de 9%) para um PIB de cerca de 2%, segundo os cálculos do economista. E o que explica isso? Em parte, diz ele, as características das áreas que estão puxando essa melhora. “A gente vê que o PIB brasileiro está sendo muito puxado neste ano e desde o final do ano passado por alguns segmentos que demandam muita mão de obra, principalmente os serviços ? ‘outros serviços’ de um modo geral, serviços domésticos ? e construção civil”. Salário menor e número recorde de informais No entanto, isso também ajuda a explicar a queda nos salários reais. “Esses setores demandam muita mão de obra, mas, ao mesmo tempo, pagam salários baixos, geralmente pouco acima do salário mínimo,

Muito estudo para pouco emprego

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Cresce ocupação de vagas de menor exigência por trabalhadores com formação universitária Por Marsílea Gombata — De São Paulo Augusto Barros, de 40 anos, se formou em editoração na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos centros de ensino superior de maior prestígio do país. Mas nos últimos anos perdeu ânimo com sua profissão e viu o mercado editorial encolher. Decidiu partir para outra estratégia. “Com o tempo as vagas foram escasseando e fui vendo outras possibilidades de ter meu sustento”, conta. Hoje trabalha em um call center de uma distribuidora de energia, onde está há duas semanas e recebe um salário-mínimo por mês. Sua trajetória não é exceção. Barros faz parte do grupo de 4,9 milhões dos chamados “overeducated”, pessoas com formação universitária que ocupam postos de trabalho que exigem nível menor de formação. Esse fenômeno se acelerou no Brasil pós-pandemia, marcado por uma retomada parcial do mercado de trabalho. Nos dois últimos trimestres, a fatia daqueles que completaram a faculdade e trabalham em vagas que não demandam nível superior aumentou em 478,9 mil, atingindo a marca de 4,9 milhões de trabalhadores, segundo levantamento da consultoria IDados com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad C). Antes da pandemia, no primeiro trimestre de 2020, esse grupo passava dos 4,3 milhões. Em termos percentuais, as pessoas com ensino superior que estão em cargos que exigem ensino médio ou menos vinham se mantendo em 22% em relação ao total da população ocupada. Mas acelerou para 23% no quarto trimestre de 2021 e para 24% no primeiro trimestre deste ano. Segundo Ana Tereza Santos, economista da IDados, há duas razões principais por trás desse cenário. A primeira é que as pessoas com ensino superior foram as últimas a voltar para o mercado de trabalho desde a pandemia, pois tiveram de esperar o aquecimento da economia, e não encontram postos compatíveis com sua formação. A segunda é uma oferta de pessoas com diploma universitário acima da demanda, uma vez que o mercado não está criando tantas vagas de ensino superior. “A pandemia acelerou um fenômeno que ocorre há um tempo no Brasil e que tem a ver com uma conjuntura de crescimento econômico abaixo do esperado”, afirma. Ela argumenta que desde 2010 o Brasil passou a formar muitas pessoas com ensino superior, a maior parte da última década foi de crise econômica, o que dificultou a oferta de vagas suficientes para essas pessoas. “A oferta de ensino superior foi pensada para um Brasil mantendo nível de crescimento positivo, o que não se manteve nos últimos anos. No pós-pandemia, inclusive, o que vimos foi a recuperação de vagas de menor instrução.” Ana afirma que esse aumento dos sobre-educados nos últimos trimestres vem sendo puxado por trabalhadores mais jovens, que têm o diploma, mas não conseguem atuar na área que escolheram. Como Mel Brito, de 35 anos. Formada em jornalismo pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) em 2018, ela trabalha hoje como vendedora de uma loja de sapatos autorais na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo. “Durante a graduação, trabalhava em loja de roupa de shopping para pagar a minha faculdade, cuja mensalidade era de R$ 1.200 na época. Meu plano era trabalhar com isso até concluir a faculdade”, conta Mel, que nasceu em Esplanada, interior da Bahia, mas se mudou para São Paulo com a ideia de ser jornalista. “Quando terminei o curso, não tinha muita experiência e não encontrei emprego na minha área. Meio que fui empurrada, não foi uma escolha.” Na época da faculdade, ela trabalhou como vendedora de lojas de roupa feminina em shopping e recebia R$ 3 mil por mês. Hoje ganha entre R$ 4,5 mil e R$ 7 mil. Além de trabalhar como vendedora na Vila Madalena, Mel cursa pedagogia a distância na Anhembi Morumbi, cuja mensalidade custa pouco mais de R$ 200. “Penso futuramente em trabalhar na alfabetização de jovens e adultos, e acredito que terei mais chances de fazer isso com pedagogia”, afirma. O aumento dos sobre-educados na economia é um mal sinal, pois é um indicativo de ineficiência de mão de obra, afirma Ana. “Investiu-se um valor alto na formação que não se consegue recuperar porque as pessoas recebem baixos salários. O que elas dão de retorno para a economia é muito menor [do que poderiam]”, diz. “Isso gera uma produtividade muito mais baixa do que deveria ser, como se o potencial existente não fosse aproveitado. Indica um cenário de estagnação. No momento em que poderíamos ter crescimento de qualidade com mão de obra qualificada, não se conseguimos aproveitar isso”, argumenta a economista. Em alguns casos, estar fora da área da formação parece ser uma opção mais fácil. Álvaro Pires Camargo, de 45 anos, se formou em Direito pela Universidade Paulista (Unip), mas é vendedor no comércio de luxo no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Ele começou a trabalhar no varejo para pagar a faculdade e acabou ficando. Depois de 13 anos na loja de roupa masculina Richards, passou por grifes como Noir Le Lis Blanc, 284 Tranchesi, Crawford e Armani. “Eu adoro trabalhar com o público. O varejo é fascinante, mas tem um limite de idade. [Por isso], ainda pretendo prestar o exame da Ordem dos Advogados do brasil (OAB) e ir para a área trabalhista”, conta Camargo, que em um mês fraco ganha R$ 7 mil. Opção semelhante tomou Karina Vagliante, de 31 anos. Formada em engenharia ambiental no fim de 2015 pela Faculdade Oswaldo Cruz, passou por cozinha de restaurante e montou um bar com o ex-namorado. Quando a relação terminou, se desfez do negócio e voltou para a casa dos pais. “Comecei a mandar mensagem para algumas marcas que gosto e ver se curtia trabalhar nisso. Foi meio um desespero para tentar conseguir um emprego, não ficar parada e ocupar a cabeça”, lembra. Hoje trabalha em uma marca de bolsa e botas em Pinheiros, onde cuida da loja física e do e-commerce. “Meu salário médio é de R$ 6 mil. Sei