Confiança do governo Bolsonaro na reeleição é cada vez maior com medidas econômicas
Estadão Série de dados positivos e revisões para cima da previsão de crescimento da economia neste ano animam governo; próximos meses vão mostrar se melhora nos dados estimada pelo mercado vai se sustentar Adriana Fernandes*, O Estado de S.Paulo A confiança do governo Jair Bolsonaro na vitória nas eleições deste ano é cada vez maior com o potencial efeito da bateria de medidas lançada em março e ao longo das últimas semanas de abril. Absolutamente tudo o que o presidente pediu e cobrou da equipe econômica está saindo, e os dados da economia vêm apresentando melhora. Embora muitos analistas econômicos do setor privado avaliem que a melhora vai perder fôlego a partir do segundo semestre, com o aperto de juros maior esperado para conter a aceleração da inflação. Como mostrou o Estadão, uma série de dados positivos, como alta nas vendas do varejo, aumento no preço das commodities e liberação do FGTS, já levou bancos, consultorias e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a revisar para cima a previsão de crescimento da economia brasileira neste ano. O FMI projetou que o PIB brasileiro deverá crescer 0,8%, ante 0,3% estimado anteriormente. O País foi um dos poucos que tiveram aumento na estimativa de crescimento da economia: o FMI reduziu a previsão para a expansão de diversas nações por causa das consequências econômicas da guerra na Ucrânia. Essa melhora na projeção tem gostinho de revanche para a equipe econômica do ministro Paulo Guedes, que bateu de frente com o FMI no ano passado contra as projeções feitas pelo Fundo em 2020 e 2021 durante a pandemia da covid-19, causando um guerra de bastidores entre o governo Bolsonaro e o comando da organização. Nos bastidores, também citam a melhora da projeção de crescimento do PIB pelo Itaú, banco que puxou no fim do ano passado as projeções negativas para o desempenho da economia brasileira ao projetar uma queda de 0,5%. O banco passou a ver crescimento de 1% do PIB, estimativa que integrantes da equipe econômica consideram que está próxima do 1,5% projetado pelo Ministério da Economia em 2022. Para o maior banco do País, dos três motores de crescimento do PIB, dois têm trajetória positiva, como o preço das commodities e o estímulo fiscal feito pelo governo. A possibilidade de melhora da economia, mesmo com a inflação e os juros, e os recursos do Orçamento para os redutos dos aliados nas eleições animam o governo a ponto de auxiliares do presidente já falarem em vitória no primeiro turno, com uma reviravolta para os próximos meses. Se é blefe, as próximas pesquisas vão mostrar. Como também será possível saber se essa melhora nos dados de agora estimada pelo mercado vai se sustentar um pouco mais. *REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,adriana-fernandes-confianca-bolsonaro-reeleicao-medidas-economicas,70004044283
Inflação mais persistente assombra o Brasil e o mundo
Estadão Índices sobem, preços de alimentos disparam e desabastecimento não dá trégua, o que faz o FMI acender alerta Luciana Dyniewicz, O Estado de S.Paulo A economia global está sob pressão. Nesta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou uma série de estatísticas que indicam um cenário turvo para o mundo todo – e a aceleração da inflação é uma das principais responsáveis por esse panorama. Além de reduzir a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global para este ano de 4,4% para 3,6%, o FMI também disse projetar que a inflação “se mantenha elevada por mais tempo do que previa anteriormente” tanto nos países emergentes quanto nos desenvolvidos. Em janeiro, o Fundo estimava que a alta dos preços neste ano ficaria em 3,9% nas economias avançadas e 5,9% nas emergentes. Agora, esses números passaram para 5,7% e 8,7%, respectivamente. Para o Brasil, o órgão estima inflação de 8,2% em 2022 e 5,1% em 2023. Para os Estados Unidos, a projeção é de 7,7% neste ano. Se confirmado, o número ficará 5,2 pontos porcentuais acima da meta da inflação. O Departamento do Trabalho americano divulgou, na semana passada, que os preços estão avançando a um ritmo que não se via há 40 anos. Na Europa, os números também batem recordes, principalmente devido ao aumento da energia, fornecida em grande parte pela Rússia. Na Alemanha, a inflação dos últimos 12 meses chegou a 7,3% em março, o maior patamar registrado desde a unificação do país, em 1990. O Fundo estima que a economia alemã termine o ano com inflação de 5,5%, também acima da meta de 2% da zona do euro. Futuro O documento do FMI destaca que problemas de abastecimento decorrentes da guerra na Ucrânia vão ampliar ainda mais as pressões que já vinham sendo registradas nos preços, principalmente em energia, metais e alimentos. O órgão também afirma que os gargalos de produção – que surgiram com a pandemia e são uma das causas da inflação – podem durar até 2023. O economista-chefe da Santander Asset, Eduardo Jarra, também já vê o próximo ano com preocupação. Antes da guerra, ele trabalhava com a hipótese de que as cadeias de produção e fornecimento se normalizariam em 2022, ano em que os Bancos Centrais (BCs) também fariam um aperto monetário, elevando os juros. Tudo isso garantiria um retorno da inflação de diferentes países para meta. “Jogamos todas essas projeções para frente. Atrasamos a normalização em um ano”, diz. Agora, o cenário base da Santander Asset é de inflação na meta apenas em 2024. Os riscos para que isso ocorra ainda mais tarde, no entanto, são altos, acrescenta o economista. “Tem o risco de as cadeias demorarem um pouco mais para se normalizarem e de os BCs estarem mais atrasados (no aperto monetário). Em uma escala de risco de um a cinco, o risco seria quatro”, acrescenta Jarra. Na visão do chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), José Júlio Senna, “há uma enorme dificuldade para enxergar quando a inflação vai perder o ritmo”. O economista explica que a inflação atual decorre sobretudo de fenômenos observados na pandemia: um aumento de liquidez promovido pelos governos para evitar a crise quando a quarentena foi imposta, gargalos na produção que surgiram com fechamentos abruptos de fábricas e aumento na demanda por bens, em detrimento de serviços, também durante a quarentena. “É uma inflação de pandemia, e pandemia é um evento raro. Então, não existe um protocolo e é difícil entender até onde o processo vai.” Senna destaca também que uma possível mudança estrutural no mercado de trabalho das economias avançadas, sobretudo na dos Estados Unidos, pode pressionar ainda mais a inflação nos próximos meses. Nesses países, observa-se falta de mão de obra desde o ano passado. Parte da população está menos disposta a trabalhar nas condições de antes da pandemia. Outra parcela se tornou autônoma. Houve também a redução de imigrantes devido ao fechamento de fronteiras. Esses fatores têm obrigado as empresas a pagar mais para conseguir contratar, elevando a inflação. “Quando o mercado de trabalho está pressionado, a cara da inflação fica pior e mais preocupante. E é esse o ponto em que estamos”, diz Senna. Recessão Além de prejudicar a população ao reduzir a renda disponível das pessoas, a inflação alta também preocupa porque deve levar os BCs em todo o mundo a adotar medidas para tentar controlá-la. A principal delas é aumentar a taxa de juros, dificultando a concessão de crédito na economia e, assim, reduzindo a demanda por serviços e bens. Economistas têm se preocupado, entretanto, com a possibilidade de os EUA terem de elevar muito a taxa de juro, o que poderia provocar uma recessão no país em 2023 ou 2024, derrubando a economia global. Esse não é o cenário mais provável por ora, segundo analistas ouvidos pelo Estadão, mas a probabilidade tem crescido. Em relatório do início deste mês, o Itaú Unibanco afirmou que um de seus modelos sugere probabilidade de recessão de 50% nos EUA nos próximos dois anos. Já o modelo do Fed (Federal Reserve, o BC americano) de Nova York indica risco de 30%. “O sentimento ainda é de uma economia forte neste ano e uma desaceleração em 2023, que chamamos de pouso suave. Mas há um risco (de recessão) crescente”, diz André Matcin, economista do Itaú. O banco projeta que, neste ano, a economia americana deverá crescer 3,2% e, em 2023, 2%. A desaceleração será puxada pelo aumento da taxa básica de juros para o patamar entre 3,75% e 4% – hoje está entre 0,25% e 0,5%. Jarra, da Santander Asset, também trabalha, por enquanto, com uma desaceleração gradual do PIB dos EUA como cenário base, mas frisa que o risco de recessão é “considerável”. “A inflação vindo mais alta do que imaginamos leva o Fed a uma postura mais agressiva. Aí aumenta a chance de uma aterrissagem rápida e, eventualmente, uma recessão em 2023 e 2024. Esse cenário seria de desaceleração global forte e bastante negativo para os emergentes.” https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,inflacao-fmi-crise-global,70004044857
Economia cresceu 0,6% em fevereiro, aponta Monitor do PIB
Agência Brasil A atividade econômica em fevereiro cresceu 0,6% em relação ao mês anterior. Já no trimestre móvel encerrado em fevereiro, comparado ao finalizado em novembro, a alta ficou em 1,1%. Na comparação interanual, a economia cresceu 1,2% em fevereiro. Em termos monetários, estima-se que o acumulado do PIB no primeiro bimestre de 2022, em valores correntes, foi de R$ 1,3 trilhão. As informações são do Monitor do PIB-FGV divulgado hoje (20) pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV). A coordenadora da pesquisa, Juliana Trece, informou que o crescimento da economia brasileira em fevereiro ainda pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho do setor de serviços, que se mantém, em praticamente todos os meses, desde meados do ano passado, com variação interanual acima da verificada na agropecuária e na indústria. “Mesmo considerando a variação em fevereiro, frente a janeiro, o desempenho do setor também foi de crescimento. Por ter sido o mais impactado pela pandemia, a fraca base de comparação apresentada no setor de serviços favorece o seu bom desempenho atual”, disse. Juliana Trece destacou, no entanto, que apesar dos resultados mostrarem o setor de serviços como fundamental para o desempenho da economia no início deste ano, outros fatores podem interferir nos resultados. “O combo inflação, juros e desemprego elevados podem prejudicar a sustentação do crescimento da atividade de serviços no decorrer do ano e, consequentemente, do próprio PIB”, acrescentou. Consumo das famílias Também no trimestre móvel encerrado em fevereiro, o consumo das famílias registrou alta de 2,1%, em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com a FGV, pelo quinto mês consecutivo o componente de serviços foi o único a apresentar taxas positivas que foram influenciadas, principalmente, pelo desempenho dos segmentos de transporte e de outros serviços (serviços de alojamento, alimentação e domésticos). Já no consumo de bens duráveis, houve recuo de 8,6%. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) subiu 0,4% no trimestre entre dezembro e fevereiro, se comparado ao mesmo trimestre de 2021. Entre os componentes somente o de máquinas e equipamentos teve recuo, nesta comparação. Segundo o Monitor, as quedas disseminadas entre diversos segmentos deste componente explicam o desempenho, com destaque para os caminhões, outros veículos e outras máquinas e equipamentos. Exportação A exportação avançou 12,5% no trimestre móvel concluído em fevereiro na comparação com o mesmo período do ano passado. As exportações de produtos agropecuários foram as principais influências para o crescimento. Em movimento contrário, as exportações de produtos da extrativa mineral apresentaram retração, na mesma comparação. Importação A importação recuou 2,1% no trimestre móvel e encerrado em fevereiro em comparação semelhante. O desempenho de bens de capital e de bens intermediários, que caíram 20,1% e 5,7%, impactaram as importações. A importação de produtos agropecuários teve retração de 17,8%. https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2022-04/economia-cresceu-06-em-fevereiro-aponta-monitor-do-pib