Brasil pode se beneficiar dos efeitos da guerra envolvendo Rússia e Ucrânia, diz presidente do BC

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O Estado de S.Paulo – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 23, que o Brasil pode se beneficiar dos efeitos do choque da guerra envolvendo Rússia e Ucrânia se o país tiver fertilizantes para a produção de alimentos, com a alta dos preços. Essa é a primeira vez que o presidente da autoridade monetária se manifestou publicamente sobre o conflito no leste europeu. “O Brasil não se inseriu nas cadeias globais de valor durante grande parte do período de especialização, e temos agora oportunidade com a redivisão das cadeias globais para estarmos muito mais presentes. Há uma oportunidade secular para o Brasil, se tiver as políticas certas, para entrar nas cadeias globais de valor. O que está acontecendo no mundo é grande oportunidade para o Brasil”, concluiu o presidente do BC. Ao participar de evento promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Fiesp, Campos Neto disse que o conflito entre Rússia e Ucrânia resultou em uma grande crise energética mundial, intensificando os problemas da pandemia. O conjunto de sanções dos países contra a Rússia, disse, é o maior da história, e isso traz implicações para todo o mundo. Assim, completou Campos Neto, a crise energética fica mais intensa, já que os grandes países da Europa dependem do gás russo. “Isso está sendo colocado em teste agora. “O mundo sairá polarizado no fim do conflito”, afirmou o presidente do BC. “Há um redesenho das cadeias globais, é um movimento importante e duradouro. Haverá um mundo mais polarizado, com divisão entre empresas privadas.” O impacto no curto prazo, segundo ele, será o aumento dos desafios na transição para uma economia verde, com maior incentivo para utilização de fontes alternativas. O mais importante, disse ele, será o redesenho das cadeias globais. “Há empresas que querem diversificar os contratos, o que significa mais custo e menos eficiência”, declarou o presidente do BC. “Isso representa para o mundo um período relativamente longo de menos crescimento e mais inflação”, afirmou o presidente do BC. InflaçãoCampos Neto voltou a prever que o pico da inflação em 12 meses ocorrerá em abril deste ano e afirmou que o IPCA passará a recuar a partir de então. De acordo com os analistas de mercado ouvidos semanalmente pelo BC na Pesquisa Focus, a inflação deve ter alta de 0,99% em março e 0,88% em abril. Para maio, porém, os economistas esperam uma deflação de 0,20%. “Falando em inflação brasileira, devemos chegar ao pico em abril, e voltar a cair. Estimamos que o número de curto prazo seja até um pouco mais alto do que tínhamos imaginado inicialmente”, afirmou. Campos Neto enfatizou que o Brasil tem se diferenciado de outros países no combate à inflação, com um movimento mais forte de aperto monetário. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic (a taxa básica de juros) em 1 ponto porcentual, para 11,75% ao ano e indicou uma nova alta de mesma magnitude na reunião de maio. “O Brasil tem sido mais atuante em uma inflação que entendemos ser mais persistente. A inflação contaminou os núcleos e hoje está acima da meta em serviços, comércio e indústria. Precisamos endereçar esse problema com serenidade e firmeza”, completou. Na véspera da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) com novas projeções do BC para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, Campos Neto adiantou que a instituição está com um número melhor que o do mercado para a atividade. No último Focus, os analistas projetaram um crescimento de 0,50% em 2022. “Estamos com um número um pouco maior que o mercado de crescimento. Os números na ponta estão surpreendendo para cima. Temos crédito subindo em dois dígitos mesmo com os juros crescendo e a parte de investimentos no Brasil está com fluxo positivo desde o início do ano”, argumentou. Sobre regras fiscais, que era o tema do seminário, Campos Neto lembrou que não cabe ao BC fazer política fiscal, mas ressaltou que a calibragem da política monetária depende também do resultado das contas públicas. “Vemos uma grande melhora no curto prazo do fiscal. O aumento dos preços das commodities melhora o fiscal da União e dos Estados, porque melhora a arrecadação. O resultado primário surpreendeu e continua positivo no curto prazo. E existem questões sobre a sustentabilidade do fiscal no longo prazo.”

Natura assina carta de repúdio contra LinkedIn por banir vaga afirmativa

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O Estado de S.Paulo – A Natura&Co assinou nesta quarta-feira, 23, um manifesto de repúdio à decisão do LinkedIn de retirar do ar uma vaga de emprego exclusiva para pessoas negras e indígenas na última semana. A carta foi obtida com exclusividade pelo Estadão e ainda não foi divulgada. Ainda hoje, o Procon-SP notificou o LinkedIn para prestar explicações sobre a retirada do anúncio. Procurado, o LinkedIn não se manifestou até a publicação desta reportagem. O documento assinado pela Natura&Co, entitulado “Manifesto empresarial em defesa da ação afirmativa”, pede que o LinkedIn altere de maneira pública e urgente a sua política de publicações para garantir que as empresas que decidam utilizar ações afirmativas em seus processos seletivos possam o fazer pela plataforma. “A suposta política antidiscriminatória do LinkedIn é anacrônica, obtusa e deslocada da realidade social, racial e de gênero do Brasil. Vai na contramão de iniciativas públicas e privadas que, diante do cenário empregatício nacional, incentivam a efetivação da igualdade material, permitindo acesso efetivo de negras, negros e indígenas ao mercado de trabalho”, diz um trecho do documento. A Natura&Co não reconhece ter redigido o documento, embora confirme ser uma de suas signatárias. Segundo apurou a reportagem, a carta circula no mercado corporativo em busca da participação de outras empresas. A questão teve início após a publicação de uma vaga para a coordenação do setor administrativo financeiro do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut) no LinkedIn. Além das informações sobre o cargo, a postagem informava que o processo seletivo daria preferência a pessoas negras e indígenas. Alguns dias após a publicação, segundo o Laut, a vaga foi retirada do ar e como justificativa foi informado que a postagem havia sido considerada discriminatória. No entanto, a carta assinada pela Natura reforça que “não há dúvidas sobre a legalidade de políticas voluntárias de recrutamento empresarial que adotam ações afirmativas. Políticas públicas dessa natureza, incluindo cotas raciais e sociais em concursos públicos, já foram plenamente validadas tanto pelo Judiciário quanto pelo Supremo Tribunal Federal”. Vale lembrar que, em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Ministério Público do Trabalho legitimaram o programa trainee da Magazine Luiza focado em profissionais negros. Na época, o STF informou que a empresa não infringiu a Constituição. O MPT pediu a extinção do processo e alegou que não havia ato ilícito, uma vez que a reserva de vagas à população negra é um “elemento de reparação histórica da exclusão da população negra do mercado de trabalho digno”. Também nesta quarta-feira, o Procon-SP deu prazo de 24 horas para que o LinkedIn se manifeste sobre a retirada da publicação. A notificação pede que a plataforma informe em que condições e situações ocorre a exclusão de anúncios já publicados. Em uma busca rápida pela plataforma é possível encontrar diversas vagas focadas exclusivamente em grupos minorizados, como pessoas negras, mulheres e LGBT+. Há anúncios de vagas exclusivas em empresas como Loggi, Amazon e Quinto Andar.

Salário mínimo regional sobe para R$ 1.284 em SP

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Folha de S.Paulo – O salário mínimo regional do estado de São Paulo será de R$ 1.284 em 2022, conforme projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa na noite de quarta-feira (23). O valor é maior do que os R$ 1.212 do mínimo nacional. O novo salário pode começar a valer já no mês de abril, caso o governador João Doria (PSDB) sancione o projeto e publique a lei até o final do mês de março. Os R$ 1.284 são garantidos a trabalhadores que fazem parte da primeira faixa salarial do piso estadual, que engloba categorias como empregados domésticos, trabalhadores da construção civil e auxiliares de escritórios, entre outros, caso não haja valor maior definido em convenção coletiva. Há ainda piso salarial da segunda faixa, que passará a ter valor de R$ 1.306 neste ano, para administradores agropecuários e florestais, trabalhadores de serviços de higiene e saúde, chefes de serviços de transportes e de comunicações, supervisores de compras e de vendas e agentes técnicos em vendas, entre outros profissionais que não tenham piso definido em convenção coletiva da categoria. O reajuste aprovado foi de 10,3%, conforme o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) medido pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). O piso regional sem aumento desde 2019, quando o valor da primeira faixa era de R$ 1.163,55 e da segunda faixa, de R$ 1.183,3. Emenda na Alesp tentou elevar o salário mínimo para R$ 1.360 na primeira faixa e R$ 1.380 na segunda, mas não foi aprovada. A justificativa dos deputados —a maioria de partidos de oposição— para propor valor maior foi o fato de que não há reajuste para o mínimo regional desde 2019. “A presente emenda visa garantir que não haja perda do poder aquisitivo do assalariado paulista”, diz o texto da emenda. O aumento foi aprovado conforme a proposta enviada pelo governo estadual. Na justificativa do projeto, o Executivo afirma que os valores propostos decorrem de “estudos realizados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico”. Mensagem assinada pela secretária Patrícia Ellen da Silva diz que o reajuste anual do piso salarial em São Paulo costuma ser feito em novembro, conforme a inflação dos 12 meses anteriores. Segundo ela, a inflação de novembro de 2020 a outubro de 2021 ficou em 10,18%, mas a opção foi por reajustar o mínimo em 10,3%. No entanto, não houve justificativa para o fato de que, em 2020 e em 2021, o Estado não tenha proposta correção salarial. ABONO SALARIAL DOS SERVIDORESAlém do projeto de lei que reajusta o mínimo regional, os deputados também aprovaram abono salarial de 10% aos servidores estaduais que ganharem menos do que o mínimo de São Paulo. O objetivo é equiparar o salário mensal ao piso regional. O abono deverá ser concedido quando a remuneração mensal do servidor for menor do que R$ 1.320 em jornada completa, R$ 990 em jornada comum e de R$ 660 em jornada parcial. Para servidores sujeitos à jornada básica de trabalho ou a jornada específica de trabalho, o abono complementar será calculado com base no valor previsto na jornada completa.