Mão de obra ‘desperdiçada’ no país atinge 31,3 milhões de pessoas em 2021, diz IBGE
Valor Econômico – 25/02/2022 – O país tinha 31,3 milhões de trabalhadores subutilizados, em média, em 2021. O número representa uma queda de 1,2% frente ao número de 2020, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE. O contingente de trabalhadores subutilizados, também chamada de “mão de obra desperdiçada”, compreende desempregados, pessoas que trabalham menos horas do que gostariam e os trabalhadores que não buscam emprego, mas gostariam de trabalhar. O indicador é um bom termômetro do mercado de trabalho, por englobar a subocupação e a desistência da procura por trabalho. Quando se olha para o comportamento do último trimestre de 2021, o número de trabalhadores subutilizados era de 28,3 milhões, 7,8% abaixo do terceiro trimestre (2,4 milhão de pessoas a menos) e um recuo de 12,9% em relação a igual período de 2020, (4,2 milhões de pessoas a menos).
Taxa de desemprego fecha o ano em 11,1%, aponta IBGE
O Estado de S.Paulo – 25/02/2022 – O mercado de trabalho mostrou forte geração de vagas ao fim de 2021, mas os salários voltaram a cair. Embora o número de pessoas trabalhando tenha alcançado um ápice de 95,747 milhões no quarto trimestre, a massa de salários em circulação na economia diminuiu, revelando um emprego mais precário. A taxa de desemprego no Brasil desceu de 12,6% no terceiro trimestre para 11,1% no quarto trimestre de 2021, a mais baixa em dois anos, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quinta-feira, 24, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na média do ano de 2021, a taxa de desemprego foi de 13,2%, atrás apenas do recorde de 13,8% visto em 2020. “Quando a gente olha para a população ocupada e o desemprego, já retomamos o nível pré-pandemia. Mas, olhando para a renda real, ainda está abaixo, e o poder de compra do trabalhador caiu”, resumiu o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles. No último trimestre do ano passado, ainda havia 12 milhões de desempregados, mas outros 2,771 milhões passaram a trabalhar. A queda na taxa de desocupação no País já estava em curso desde meados de 2021, mas foi ajudada no último trimestre pelas contratações sazonais de trabalhadores temporários, características desse período do ano, afirmou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE. Em um ano, mais 8,522 milhões de pessoas encontraram uma ocupação, mas 4,892 milhões delas na informalidade. O mercado de trabalho registrou um recorde de 38,944 milhões de trabalhadores informais ao fim de 2021. “O emprego sem carteira e conta própria contribuem para o pico na ocupação”, explicou a coordenadora do IBGE. Trabalhadores informaisO trabalho sem carteira assinada no setor privado e o trabalho por conta própria subiram a patamares também inéditos (12,443 milhões e 25,944 milhões de pessoas, respectivamente). A alta na informalidade, a inflação elevada e abertura de vagas com salários menores derrubaram a renda média do trabalho ao piso da série histórica iniciada em 2012: o rendimento médio dos trabalhadores encolheu 3,6% em apenas um trimestre, para R$ 2.447 no quarto trimestre de 2021. Em relação a um ano antes, os trabalhadores receberam, em média, R$ 295 a menos. Por esse motivo, embora haja mais pessoas trabalhando, a massa de salários em circulação na economia encolheu mais de R$ 4 bilhões no período de um ano, para um total de R$ 229,394 bilhões ao fim de 2021. Segundo Adriana Beringuy, os trabalhadores informais tradicionalmente obtêm salários menores, mas os trabalhadores com carteira assinada também estão ganhando menos. A pesquisadora ressalta que a queda no rendimento do trabalhador tem ocorrido também em termos nominais, ou seja, os salários estão mais baixos mesmo antes do desconto da inflação no período. “Acrescenta-se a isso um processo inflacionário ao longo de 2021”, observou a coordenadora do IBGE. Massa de rendimentoNa comparação com o trimestre terminado em setembro, a massa de renda real caiu 0,6%, com R$ 1,306 bilhão a menos, embora o mercado de trabalho tenha absorvido mais 2,8 milhões de trabalhadores no período. “A massa de rendimento, a despeito de tantos trabalhadores, não registra expansão”, disse Adriana Beringuy. “Tem mais pessoas trabalhando, mas com rendimento médio bem abaixo do que já foi registrado em períodos anteriores”, completou. A perda salarial pode ajudar a explicar também o aumento na ocupação. Com o enxugamento de salários, mais pessoas da família saem em busca de uma vaga que possa ajudar a complementar o orçamento domiciliar. “Mais de 70% do rendimento domiciliar vêm do trabalho, e se esse trabalho está remunerando pouco, para a recomposição dele, você precisa de mais pessoas gerando rendimento para compor esse rendimento domiciliar. Então para que haja uma geração mínima de rendimento, é necessário que mais pessoas trabalhem, seja ou pra manter ou pra que ele não caia significativamente”, confirmou Beringuy. Apesar de ter melhorado em termos quantitativos ao longo de 2021, o mercado de trabalho piorou em critérios qualitativos durante a pandemia, o que é evidenciado pela queda na renda real média da população, ressaltou o economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi. Para ele, a perda no rendimento real nas últimas leituras da pesquisa do IBGE se deve, em boa parte, à volta dos trabalhadores informais à ativa, mas também à necessidade de recomposição de renda gerada pela escalada de preços em itens básicos, como alimentação, energia e combustíveis, o que faz parte da população aceitar uma ocupação de qualificação e remuneração mais baixas. “Entre não receber nada e receber alguma coisa, parte desses trabalhadores prefere se inserir recebendo menos”, justificou o economista da LCA, que tem projeção preliminar de 11,6% para a taxa média de desemprego neste ano.
Desemprego alto e resistente
O Estado de S.Paulo – 25/02/2022 – Com 12 milhões de desempregados, 4,8 milhões de desalentados e 7,4 milhões de subocupados, o Brasil completou o trimestre final de 2021, ano da recuperação celebrada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como exemplo de vitalidade para o mundo. O desemprego, equivalente a 11,1% da força de trabalho, foi menor que no trimestre anterior, quando estava em 12,6%. Mas essa taxa ainda foi mais que o dobro da média (5,4%) registrada em dezembro nos 38 países da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, formada por potências capitalistas desenvolvidas e emergentes. Além disso, parte da redução do desemprego no quarto trimestre foi sazonal, isto é, típica do período anterior às festas de fim de ano, como observou a coordenadora da pesquisa, Adriana Beringuy. As condições do mercado também foram ruins para a maior parte dos ocupados. Quem conseguiu ou preservou algum ganha-pão teve de viver com orçamento mais comprimido. O rendimento médio habitual de quem exerceu algum trabalho ficou em R$ 2.447,00. Esse valor foi 3,6% menor que o do trimestre anterior e 10,7% inferior, descontada a inflação, ao de um ano antes, quando o País superava os efeitos iniciais da pandemia. O desgaste do poder de compra foi causado em grande parte pela alta dos preços. A inflação acumulada no ano passado, de 10,06% pelos dados oficiais, foi muito superior à observada na maior parte dos países avançados e emergentes. Recorde em 30 anos, a média da OCDE chegou a 6,6%. No Grupo dos 20 (G-20), atingiu 6,1%, graças, principalmente, às contribuições lamentáveis do Brasil, da Argentina (50,9%) e da Rússia (8,4%). Na China, maior economia integrante do G-20, os preços de bens e serviços consumidos aumentaram 1,5%. Na Indonésia, 1,9%. Alguns detalhes tornam mais feio o quadro do mercado de trabalho. Somando-se os desocupados, os desalentados, os subocupados por insuficiência de horas de trabalho e os indivíduos capazes de trabalhar, mas ainda fora do mercado, chega-se a 28,3 milhões de subutilizados. Esse grupo, 7% menor que o do trimestre anterior, correspondeu a quase um quarto (24,3%) da força de trabalho em princípio disponível. O aumento do trabalho por conta própria contribuiu de forma significativa para a redução do desemprego. Os trabalhadores autoempregados, 25,9 milhões, foram 1,9% mais numerosos que no trimestre julho-setembro. A média anual, 24,9 milhões, superou por 11,1% a do ano anterior. Mas essa ocupação foi amplamente caracterizada pela informalidade e pela baixa remuneração. No quarto trimestre, os empregados por conta própria eram 27,1% das pessoas ocupadas. Em São Paulo eram 23,7%. As maiores taxas ocorreram em áreas com economias menos diversificadas, como Amapá (38%), Amazonas (36,2%), Piauí (35%) e Roraima (33,6%). Quantos desses autoempregados teriam preferido um emprego modesto, mas passavelmente seguro e com carteira assinada? As projeções de crescimento econômico neste ano raramente superam 0,5%, sugerindo condições de emprego ainda muito ruins.