Novas regras do vale-alimentação vão gerar concorrência em mercado de R$ 90 bi, diz ministério
Folha de S.Paulo – 19/11/2021 – Enquanto prepara a regulamentação das novas regras para o vale-alimentação, o Ministério do Trabalho e da Previdência afirma que as mudanças devem abrir o mercado e estimular a entrada de novas empresas no setor que movimenta R$ 90 bilhões por ano. A pasta defende as alterações, que têm gerado temores entre empresas especializadas e restaurantes. Bruno Dalcolmo, secretário-executivo do Ministério do Trabalho e da Previdência, afirma que as mudanças são necessárias porque as empresas usam os benefícios tributários sem garantir a qualidade nutricional para os funcionários e também porque o instrumento tem taxas pesadas, pressionando os custos para o próprio trabalhador. “É um mercado absolutamente verticalizado, que coloca de joelhos supermercados e restaurantes”, afirma à Folha. Dalcolmo diz que as regras do benefício jamais foram analisadas profundamente ao longo de 45 anos de existência e que as mudanças foram debatidas em dezenas de reuniões com as empresas do setor. As novas regras foram anunciadas em decreto deste mês e são voltadas à legislação do chamado Programa de Alimentação do Trabalhador (o PAT), criado na década de 1970 para garantir um mínimo de refeições a quem integrava principalmente os canteiros de obras do país. Ao longo do tempo, a inciativa privada foi se adaptando às regras e gerou empresas especializadas como Alelo, Sodexo e Ticket (que o governo chama de tiqueteiras). “O programa foi desenvolvido lá atrás para não deixar o trabalhador com fome, só que hoje é diferente”, afirma Dalcolmo. “As pessoas estão querendo qualidade nutricional, para questões de saúde, como doenças coronarianas, de pressão arterial e obesidade. Só que ninguém olha para isso hoje, a empresa faz um contrato com uma tiqueteira e lava as mãos”, diz. Dalcolmo afirma que os problemas decorrentes da má alimentação prejudicam a atividade do país, inclusive diminuindo a produtividade dos trabalhadores. “O volume de perdas econômicas é brutal”, diz. Com o decreto, o governo passa a exigir que as empresas que usam o PAT “deverão dispor de programas destinados a promover e monitorar a saúde e a aprimorar a segurança alimentar e nutricional de seus trabalhadores”, com formato a ser estabelecido em conjunto pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho. Em outra frente, o governo pretende estimular a entrada de novas empresas que operam os benefícios. Uma das medidas de maior impacto para o setor é a proibição do chamado rebate —desconto que as chamadas tiqueteiras oferecem às contratantes sobre o valor de face dos benefícios. Dalcolmo afirma que, para conseguir negócios com empresas com grande número de funcionários, as tiqueteiras dão, por exemplo, R$ 100 em benefícios ao trabalhador, mas só cobram parte disso da empresa (R$ 90, por exemplo). Em geral, a tiqueteira com maior desconto ganha o contrato. Na visão do governo, isso gera problemas no programa porque as perdas dessa negociação vão ser compensadas com a cobrança de taxas dos restaurantes —que por sua vez acabam repassando tais custos aos próprios trabalhadores que ali consomem. “São cobrados diferentes tipos de taxas. Tem a taxa de anualidade, a taxa de utilização de sistema, a taxa da maquininha. Os restaurantes são reféns”, afirma. “[E o custo] vai para o pequeno restaurante, que vai repassar para todos os trabalhadores, os que usam o vale e os que não usam”, diz. De acordo com o decreto, as empresas agora “não poderão exigir ou receber qualquer tipo de deságio ou imposição de descontos sobre o valor contratado”. O descumprimento vai gerar exclusão do PAT. O governo também estabeleceu no decreto que o trabalhador poderá pedir ao patrão a portabilidade gratuita dos recursos de uma operadora de pagamentos para outra. Além disso, o texto prevê que as operadoras de pagamento permitam o compartilhamento de sua rede credenciada para transações de outras marcas —a chamada interoperabilidade. As empresas têm um prazo de um ano e meio para se adaptarem às mudanças na maior parte das regras. Com isso, o governo diz esperar haver novas empresas disputando o mercado. “Estamos reorganizando e introduzindo concorrência em um mercado de R$ 90 bilhões”, afirma Dalcolmo, citando como exemplo o interesse de companhias como o iFood. “No âmbito regional, tem várias que operam localmente e as regras abrem um conjunto de possibilidades enormes. Com a interoperabilidade, uma empresa pode nascer em um dia e no dia seguinte ter acesso a toda a rede credenciada pelas outras instituições”, diz. As empresas especializadas têm se queixado que o decreto torna mais rigoroso o vale-alimentação, mas deixa de fora o auxílio-alimentação —instrumento criado na reforma trabalhista de 2017 do governo Michel Temer (MDB) e que pode passar a ser usado por empresas para driblar as regras. Dalcolmo diz que a demanda das empresas pela regulamentação do instrumento foi feita no fim das várias discussões conduzidas pelo governo e que não era possível atender o pedido por meio do decreto. “Eu não posso impor uma restrição via decreto se não há essa previsão legal. Isso só pode ser feito via lei”, afirma. Procurada, a ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador) —que representa companhias como Alelo, Sodexo e Ticket— não comentou as falas do secretário-executivo. Em posicionamento na semana passada, ela havia lamentado que o decreto não tinha incluído o auxílio-alimentação e disse que empresas têm explorado o instrumento de forma irregular. Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), afirma que a entidade concorda com parte das mudanças, como a interoperabilidade —mas não com outras, como a portabilidade, que estimularia o mercado de “cashback” (recompensa em dinheiro) para atrair clientes e, com isso, transferiria os custos para os estabelecimentos. Entre as principais preocupações, no entanto, está a falta de regulamentação do auxílio-alimentação. Para ele, os problemas vistos até agora no vale-alimentação continuariam a ser observados no novo instrumento, impulsionando os custos para os restaurantes. “As empresas estão se movendo em uma velocidade muito rápida [para o auxílio-alimentação], está tomando dimensões assustadoras. Então ao invés de o problema ser resolvido está sendo agravado”, afirma o presidente da Abrasel. Solmucci demonstrou ter influência
Relator do Refis pretende ampliar para 15 anos o prazo para pagar dívida
O Estado de S.Paulo – 19/11/2021 – O relator do projeto que reabre o programa de parcelamento de dívidas tributárias (Refis) na Câmara, deputado André Fufuca (PP-MA), antecipou ao Estadão que vai propor no seu relatório o alongamento do prazo de pagamento dos débitos de 12 anos (144 meses) para 15 anos (180 meses) e “democratizar” a regra de acesso para todas as empresas. Pelo projeto aprovado no Senado, as empresas teriam benefícios para o pagamento dos débitos em função da queda do faturamento verificada entre março e dezembro de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019. Regras iguaisAgora, o relator quer que as regras sejam iguais para todas as empresas, inclusive a parcela da dívida que as companhias têm de pagar para aderir ao Refis, uma espécie de valor de entrada. Fufuca, que é presidente nacional do PP, informou que pretende protocolar até terça da próxima semana o seu parecer. A sua expectativa é de que o projeto seja votado na quarta-feira da semana que vem. Como haverá mudanças, o projeto terá de retornar ao Senado para nova votação. “Pretendo criar mecanismos para que as empresas sejam tratadas de forma linear. Tem de ser igual para todas”, disse. Segundo ele, a tabela que cria faixas de queda de faturamento (de estabilidade a 80%) com descontos de multa, juros, encargos e valor da parcela de entrada diferenciados mais dificulta do que ajuda os contribuintes. “Vai ter ação na Justiça. Como uma empresa vai ser tratada melhor do que a outra?”, questionou. Ele citou o caso de companhias que, para não fechar no vermelho, venderam patrimônio e, por isso, ficaram com o balanço positivo – o que não significa que não tiveram dificuldade. PandemiaA vinculação de condições melhores do Refis à queda do faturamento das empresas durante a pandemia da covid-19 foi uma exigência do ministro da Economia, Paulo Guedes, para aceitar um novo parcelamento. No Ministério da Economia, há uma rejeição aos inúmeros Refis que foram feitos nos últimos 20 anos. No entanto, por causa da pandemia, a equipe econômica cedeu a mais um programa, desde que estivesse relacionado às dificuldades relacionadas à crise sanitária. O relator disse que será mantida a essência do projeto aprovado no Senado, relatado pelo líder do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE). A estratégia do relator é construir um texto com todos os partidos para evitar atrasos na votação. SugestãoPara o tributarista Luiz Bichara, da Bichara Advogados, a votação do Refis é fundamental para reduzir os impactos da crise, tanto empresas quanto pessoas físicas. Na sua avaliação, dois pontos têm de ser ajustados. O primeiro é a entrada para ingressar ao programa, que, na sua concepção, é muito alta. Na maioria dos casos, ela é 20% do total da dívida que vai ser parcelada. Ele defende também o uso integral dos prejuízos acumulados para abater impostos. “O prejuízo tem de ser desovado. Do contrário os contribuintes que têm histórico de resultado negativo principalmente na pandemia não vão superar a crise.”
Serviços tem recuo em setembro
Confederação Nacional de Serviços A Pesquisa Mensal de Serviços (IBGE) apresentou queda de -0,6% em setembro de 2021, após pequena elevação em 0,5% observada em agosto, existem vários fatores que justificam a perda de tração, um deles é a inflação elevada. Outro é a dinâmica de elevação da taxa de juros. Entre os obstáculos para uma recuperação mais consistente dos negócios, há o efeito da escalada da inflação, dos juros mais altos, do mercado de trabalho ainda fragilizado e da escassez de insumos. Apesar da queda de -0,6%, o setor de serviços é o único dos três grandes segmentos pesquisados pelo IBGE que continua acima da pré-pandemia. Em setembro, operava em nível 3,7% superior ao de fevereiro do ano passado. Esses são justamente os serviços que mais sofreram com os efeitos econômicos da pandemia e têm mostrado algum tipo de fôlego, de crescimento. Com o avanço da vacinação e a flexibilização das atividades econômicas, as pessoas voltam a consumir com maior intensidade serviços de alojamento e alimentação. O ambiente de recuperação ficou mais incerto. Diante dessas indefinições, é natural ver os agentes postergando decisões de investimento ou recontratação de funcionários. Desoneração da Folha é fundamental para toda a economia Em reunião na sede em São Paulo da CNS-Confederação Nacional de Serviços em 10/11, um grupo de empresários recebeu o deputado federal Marcelo Freitas, relator do projeto que prorroga a Desoneração da Folha de Pagamentos, para discutir a proposta de forma permanente do projeto. O presidente da CNS, o empresário Luigi Nese, destacou que “a desoneração da Folha é fundamental para toda a economia”, concluiu. O evento contou com a cobertura jornalística do Jornal Nacional e do Jornal da Record, acesse o LINK e assista a notícia. Lei aqui a NOTA ECONÔMICA SEMANAL–PMS elaborada com exclusividade pela assessoria econômica da CNS-Confederação Nacional de Serviços.
Com endividamento recorde, cresce pressão por novo Refis; veja o que pode ser negociado
O Estado de S.Paulo – 19/11/2021 – Representantes de diversos setores da economia cobram do Congresso a aprovação com urgência do projeto de lei que reabre o novo Refis, o parcelamento de dívidas de empresas e pessoas físicas com o governo federal. O novo programa deve abranger de tributos como o Imposto de Renda a parcelas atrasadas do eSocial, a plataforma de registro para o cumprimento de obrigações trabalhistas e tributárias. Parado há mais de três meses na Câmara, o Refis é uma medida de enfrentamento da crise provocada pela pandemia da covid-19 que foi acertada entre o governo e o Congresso para que as empresas possam regularizar os seus débitos e ganhar fôlego novo de caixa para a retomada dos investimentos e dos empregos. O acordo político era que o Senado votasse a reforma do Imposto de Renda (IR) aprovada pela Câmara. Em troca, os deputados aprovariam o Refis. Mas a votação do projeto do IR, cobrada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acabou sendo barrada no Senado e não se espera mais a sua votação em 2021. Lira, por outro lado, segurou a votação do Refis e de outro projeto também aprovado pelo Senado que parcela as dívidas das empresas do Simples Nacional. Para complicar, a difícil votação da polêmica Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios tumultuou o ambiente político para a aprovação do Refis. Segundo apurou o Estadão, Lira pode aproveitar um projeto que trata do Refis que já está na Câmara e incluí-lo ao projeto do Senado. Com essa estratégia, a Câmara passaria a ser o órgão originário, o que dá aos deputados a palavra final. “Não podemos esperar votar a PEC dos precatórios e o IR para ter uma definição do Refis”, alertou Vivien Suruagy, presidente da Federação Nacional de Call Center, Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e Informática. “Estamos brigando para que possam entrar no programa também as empresas que tiveram aumento de faturamento”, afirmou. Pelo texto aprovado, as condições são atreladas à queda no faturamento (veja mais detalhes na página B2). O economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, disse que para as empresas do setor, que serão afetadas em 2022 pela alta dos juros e do crédito, é muito importante que o Refis passe no logo Congresso. Ele avaliou que o projeto não foi aprovado ainda por razões políticas. O presidente da Confederação Nacional de Serviços, Luigi Nesse, argumentou que esse é um projeto de emergência que precisa ser aprovado o mais rápido possível para auxiliar as empresas. Segundo ele, a pandemia piorou a situação das empresas que já estavam com débitos antes da covid-19. “Quanto mais atrasar, pior será para as empresas e para a volta da normalidade”, disse Nese. Diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick, cobra também a aprovação do outro projeto que parcela as dívidas das micro e pequenas empresas em até 180 vezes. Ele diz que a situação é preocupante porque têm hoje mais de 440 mil empresas desse segmento devedoras e que foram notificadas. O passivo total é de R$ 35 bilhões. Elas correm o risco de serem excluídas do Simples e têm até 31 de dezembro para equacionar a dívida: pagar ou parcelar. “Quando a pandemia covid-19 começou a passar, os setores voltaram, serviço virou a curva, mas os credores chegaram e a empresa exauriu o capital de giro”, disse. Perguntas e respostas O que é um Refis?É um programa de renegociação de dívidas de contribuintes (pessoas físicas e empresas) com a União. Com ele, é possível reduzir multas e juros, e até mesmo efetuar um parcelamento dos valores devidos Quais débitos poderão ser negociados?De acordo com o texto aprovado no Senado, poderão ser incluídas dívidas de tributos federais (Imposto de Renda, para pessoas físicas e jurídicas; Imposto sobre Produtos Industrializados, para a indústria; Imposto sobre Importação, para mercadorias vindas de fora do País etc) até o último dia do mês anterior à entrada em vigor da lei Quais são as condições para as dívidas atreladas à queda no faturamento?A proposta estabelece seis faixas: estabilidade no faturamento; queda maior ou igual a 15%; queda maior ou igual a 30%; queda maior ou igual a 45%; queda maior ou igual a 60%; e queda maior ou igual a 80%. Conforme a faixa, o porcentual da dívida que precisa ser pago para aderir ao programa vai variar de 25% (na primeira faixa) a 2,5% (na última faixa) Como serão os descontos?Descontos de juros e multas variam de 65% a 90%, enquanto os descontos relacionados a encargos legais e honorários vão de 75% a 100%, dependendo da faixa Como poderá ser a adesão das empresas que tiveram prejuízo fiscal?Empresas com patrimônio líquido negativo, verificado no balanço patrimonial encerrado em 31 de dezembro de 2020, também poderão aderir ao programa, na mesma faixa destinada a negócios que tiveram queda de faturamento no patamar de 15% Como pode funcionar para pessoas físicas?As pessoas físicas pagarão 2,5% da dívida para aderir ao programa e terão desconto de 90% em juros e multas, além de desconto de 100% em encargos e honorários. Mas, para ter acesso às condições mais favoráveis, elas precisarão ter enfrentado redução de rendimentos tributáveis igual ou superior a 15% em 2020, em relação a 2019. Caso essa redução seja inferior a 15%, a entrada será de 5% do valor da dívida e os descontos, conforme o parecer, “serão menos expressivos”
Desemprego e treinamento
O Estado de S.Paulo – 19/11/2021 – Coluna Celso Ming Na edição desta quinta-feira, esta Coluna tratou da enorme destruição de postos de trabalho que vem sendo produzida tanto pelas inovações tecnológicas quanto pelo processo de transição de substituição de energia dos combustíveis fósseis para fontes limpas. O especialista em Economia do Trabalho José Pastore está de pleno acordo em que esse fechamento de postos de trabalho vem acontecendo. Só não aceita a afirmação sem a necessária confirmação de que a criação de novos empregos não se dê na mesma proporção do fechamento dos anteriores. “Tudo depende do vigor do crescimento econômico e da qualidade da educação. Japão, Estados Unidos e Alemanha são países que incorporaram um volume brutal de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e, antes da pandemia, exibiam os menores índices de desemprego do mundo”, explica o professor da USP e membro da Academia Paulista de Letras. Pastore adverte que é preciso – a um só tempo – mudar os sistemas de ensino e intensificar os projetos de qualificação e reinserção da mão de obra no mercado de trabalho em rápida transformação. É tarefa difícil. Os desafios nessa área são enormes e não muito claros. Luis Claudio Kubota, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), observa que, no Brasil, as novas gerações são mais escolarizadas do que as de seus pais e avós. No entanto, isso não vem melhorando as estatísticas de produtividade. Por quê? Porque essa maior escolaridade não atende aos empregos que estão disponíveis ou aos que estão sendo criados. A nova geração vai para funções de baixa qualificação que não acusam melhor produtividade. “O desafio para o Brasil é criar empregos que consigam capturar essa melhor escolarização dos jovens. O que temos visto nos últimos anos, apesar da pandemia ser um fator totalmente exógeno e inesperado, é o crescimento da gig economy, que atrai uma ampla gama de trabalhadores freelancers, que também não vislumbra grande aumento de produtividade”, diz Kubota. O dado novo é o de que “a pandemia produziu um cataclismo no ensino”, pois parte dos estudantes não tem acesso à internet e não pode aproveitar as vantagens da educação a distância. Muitos agora tendem a abandonar a escola. Isso significa que, até mesmo antes de criar sistemas mais eficientes de treinamento, será preciso recuperar o prejuízo do aprendizado e atrair esses excluídos de volta às salas de aula. Afora isso, é preciso qualificar esses jovens para que possam operar sob as novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs e nos postos de trabalho que serão formados na esteira da transição energética. Como afirma Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a implantação de novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs vem a tal velocidade que não haverá tempo para qualificar a atual geração de trabalhadores. Vai ser preciso esperar a próxima e, enquanto isso, conviver com as demissões: “O caixa do supermercado que sobrou pela implementação do caixa de autoatendimento não conseguirá ser capacitado para desenvolver ou operar esses sistemas. Ele acabará sendo deslocado para um trabalho manual de qualificação ainda mais baixa ou para o trabalho informal. Ou seja, haverá um descasamento temporal”. Fausto explica que esse descasamento cresceu com a pandemia, pois vários setores intensificaram a inserção de novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs no período, principalmente para dar conta da continuidade das operações com as restrições impostas pelo isolamento social. “É importante termos consciência desse processo de aceleração da transição tecnológica; entender que ele é dinâmico – a entrada de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg em cada setor tem uma lógica diferente; e, por fim, é preciso ter planejamento para resolver a questão de ausência de mão de obra qualificada.” Por isso, é preciso planejamento para atender às novas necessidades educacionais e profissionalizantes. O diabo é que não se vê no governo nenhuma atenção para o enfrentamento do problema./ COM PABLO SANTANA *CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
Comércio cai 3,9% em outubro e varejo tem recuperação lenta, mostra indicador do Santander
Folha de S.Paulo – 19/11/2021 – O comércio varejista caiu 3,9% em outubro em relação ao mesmo período de 2020, mostra indicador IGet, elaborado pelo Santander em parceria com a Getnet. Em relação ao mês imediatamente anterior, contudo, houve alta de 1,9% após dois resultados negativos, em setembro e agosto. “A alta de outubro não evita uma contração acumulada em três meses. Esperamos um modesto desempenho do varejo no restante do ano, refletindo a normalização do padrão de consumo das famílias, deslocando os gastos em direção aos serviços à medida que a mobilidade retorne à ‘normalidade’”, ressaltou a pesquisa. Na comparação anual, apenas peças automotivas, artigos farmacêuticos e outros tiveram alta, de 15,2%, 2,5% e 10,1%, respectivamente. Livros tiveram a maior queda, com 32,3%, móveis e eletrônicos retraíram 23,3% e vestuário, 11,1%. Supermercados recuaram 5,8%, e material para escritório, 5,9%. Em relação a outubro de 2020, material de construção teve queda de 6,3%. “Até o restante do ano, [o setor de] serviços deve puxar a retomada. A cesta de consumos das famílias mudou, com aumento de gastos com serviços, o que já era esperado porque com a restrição da mobilidade o segmento caiu muito. Além disso, temos agora a pressão inflacionária e problemas na cadeia produtiva, que também impactam o consumo de bens”, explica o economista do Santander Lucas Maynard. Serviços, no entanto, seguem em recuperação lenta. Segundo o indicador, o segmento, um dos mais impactados pela pandemia de Covid-19, cresceu 0,9% em relação ao mesmo período de 2020 e 2% em relação a setembro, puxado por alojamento e alimentação. Outros serviços, que englobam lazer e turismo, por exemplo, caíram 4,5% na comparação anual e 2,9% na mensal. O setor ainda está 21,3% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 26,5% abaixo da média de 2019. “Serviços devem voltar aos poucos, mas vemos uma recuperação sequencial com a mobilidade próxima à normalidade”, diz Maynard. Para o economista, segmentos como lazer, turismo e serviços culturais ainda não apresentaram recuperação integral. Segundo Maynard, a piora das condições financeiras da população começa a se refletir no desempenho dos setores da economia. Nas últimas semanas, analistas e instituições financeiras revisaram para baixo as expectativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022. O boletim Focus desta semana, em que o Banco Central divulga projeções do mercado, veio pela primeira vez com previsão abaixo de 1%. Os economistas consultados pelo BC esperam crescimento de 0,93%. Há uma semana, a projeção era 1%, e há quatro semanas, 1,50%. Algumas casas de análise já trabalham com PIB negativo para 2022. As expectativas pioraram especialmente após a manobra do governo para driblar o teto de gastos, regra que limita o aumento das despesas públicas. No fim de outubro, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) e aliados no Congresso Nacional inseriram na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que adia o pagamento de precatórios —dívidas da União reconhecidas pela Justiça— uma mudança na regra de correção do teto de gastos. Na prática, a medida expande o limite das despesas federais com o objetivo principal de financiar, em ano eleitoral, o novo programa social do governo, o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família —uma marca de gestões petistas. O movimento foi mal recebido pelo mercado, que passou a prever indicadores piores para o próximo ano também para inflação e para as contas públicas. “Ainda não temos uma previsão negativa [para o PIB] porque acreditamos que fatores como a melhora no mercado de trabalho, aumento da mobilidade e a recuperação de serviços devem permanecer no próximo ano”, diz Maynard. O indicador leva em conta as transações feitas por meio das maquininhas da Getnet no país. Ao todo, o indicador de varejo abrange 150 mil estabelecimentos e o de serviços, 73 mil. A empresa tem participação de 16% no mercado de pagamentos presenciais de 33% no ecommerce.