Dólar a menos de R$ 5? Entenda por que a moeda americana está em queda

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Depois de chegar a R$ 5,80 em março, ficar em R$ 5,40 em abril, fechar o mês de maio em R$ 5,22, o dólar caiu ainda mais ao longo dos primeiros dias de junho, alimentando a expectativa no mercado financeiro de um rompimento da marca de R$ 5. A moeda norte-americana fechou na terça-feira, 8, cotada a R$ 5,03 e pode cair ainda mais nos próximos dias, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão. O movimento de valorização do real tem sido puxado por uma conjunção de fatores externos mais favoráveis, como a abundância de recursos no mercado internacional e o aumento de exportações brasileiras, puxada pela retomada da economia mundial e alta dos preços das commodities (produtos básicos) agrícolas e metálicas. No front interno, a alta da taxa básica de juros (a Selic) também favorece a entrada de dólares no País, com a busca dos investidores por ganho mais elevado. O clima das últimas semanas é também de maior otimismo, com o crescimento da economia brasileira, melhora da arrecadação do governo e perspectiva de a dívida pública fechar em patamar mais baixo do que o previsto, apesar de o risco fiscal do País ainda não ter saído do radar. “É o resultado de uma enxurrada de dólares, euros e yuans no mundo”, diz Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultorias. Segundo ele, o fluxo cambial mais forte e a perspectiva de um superávit da balança comercial de pelo menos US$ 25 bilhões a mais do que os US$ 50 bilhões registrados no ano passado ajudam a reforçar a queda da cotação do dólar. Ele lembra que o fluxo cambial do ano, até 28 de maio, estava positivo em US$ 11,4 bilhões, enquanto, no mesmo período do ano passado, o saldo estava negativo em US$ 9,65 bilhões. Ou seja, tem muito mais dólares entrando no País. Nathan calcula que a taxa de câmbio de equilíbrio seria de, no máximo R$ 4,50, mas ressalta que o Brasil ainda tem uma doença crônica que é o rombo nas contas públicas a atrapalhar. “Não tem governo, não tem desempenho que vá para frente com o déficit crônico”, ressalta. AlinhamentoProfessor da Universidade Federal do ABC, Fábio Terra, acredita que as condições internas do Brasil têm pouco efeito nesse movimento de queda do dólar. Ele avalia que o dólar está cedendo por conta do ciclo de liquidez internacional, que melhorou bastante há um mês, depois que investidores e empresários assimilaram melhor o plano econômico do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “O mundo entra num cenário um pouco mais calmo e isso favorece o Brasil, porque os investidores estão menos avessos ao risco”, diz ele. Terra aponta outro fator que está favorecendo o cenário atual: os exportadores, que estavam deixando lá fora as receitas obtidas das suas vendas, começaram a trazer os dólares para o País. “Os exportadores estão aproveitando para voltar com o dinheiro enquanto o dólar ainda está valorizado. Para eles, é importante voltar num momento de dólar mais alto”, diz. O economista da UFABC diz que há margem para uma queda maior na direção do câmbio de equilíbrio entre R$ 4,50 e R$ 4,60. O gatilho para esse movimento vai depender de como vierem os dados da economia americana, de inflação e da decisão do Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve, o Fed) de juros. Economista-chefe da BlueLine Asset, Fabio Akira, vê um alinhamento de fatores externos (dólar enfraquecendo no mundo, commodities subindo, juros futuros americanos caindo) favorecendo a queda da moeda americana, mas também domésticos, como crescimento melhor que o esperado favorecendo as contas públicas junto com aumento da inflação, alta acelerada da Selic e respeito a regras orçamentárias. “Pelo menos não houve rompimento aberto delas. Foi uma conjunção desses fatores”, diz. Para ele, esses fatores devem permanecer no curto prazo. “Mas meu medo é esse otimismo do mercado abrir espaço para leniência fiscal”, pondera. Akira avalia que, se a inflação americana ficar dentro do esperado e o Fed se mantiver paciente com retirada de estímulos fiscais, o dólar pode cair abaixo de R$5. “A divulgação da inflação americana é na quinta-feira e a reunião do Fed é na semana que vem. Então, se tudo for mais ou menos tranquilo, pode haver apreciação adicional do real. Mas estou assumindo que as coisas por aqui também não se alteram muito do clima positivo que prevalece”, diz. O ESTADO DE S. PAULO

Inflação chega a 0,83% em maio, a maior para o mês em 25 anos

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou maio com alta de 0,83%, ante um avanço de 0,31% em abril, informou nesta quarta-feira, 9, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou acima do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam alta entre 0,65% e 0,76%. A taxa acumulada pela inflação no ano ficou em 3,22%. Em 12 meses, o resultado foi de 8,06%, também acima das projeções dos analistas, que iam de 7,85% a 7,98%. Os nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em maio. A maior variação foi registrada em habitação, que subiu 1,78%, sob impacto principalmente do aumento de 5,37% na energia elétrica – o item que teve maior impacto no IPCA do mês. No mês passado, vigorou a bandeira tarifária vermelha patamar 1, que acrescenta R$ 4,169 na conta de luz a cada 100 quilowatts-hora consumidos. Entre janeiro e abril estava em vigor a bandeira amarela, cujo acréscimo é menor (R$ 1,343). Os preços no grupo transportes subiram 1,15% em maio, após o recuarem 0,08% em abril. Aqui, o maior impacto veio da gasolina que subiu 2,87% depois de ter recuado 0,44% em abril. No ano, o combustível acumula alta de 24,70% e, em 12 meses, de 45,80%. Economistas do mercado financeiro preveem que o IPCA deve fechar o ano em 5,44%, segundo o Relatório de Mercado Focus, divulgado na segunda-feira, 7, pelo Banco Central. Foi a nona semana seguida de alta na expectativa. O centro da meta de inflação para 2021 é de 3,75%, com margem de tolerência de 1,5 ponto para mais ou para menos. Assim, a meta será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%. No entanto, a projeção do mercado fica cada vez mais acima desse teto. O ESTADO DE S. PAULO

Guedes diz que novo imposto da unificação de PIS/Cofins deve ter duas alíquotas

Sem conseguir emplacar um imposto sobre transações para reduzir os encargos sobre a folha de pagamento dos trabalhadores, a equipe econômica pode propor uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) com duas alíquotas, uma de 12% para a indústria e outra menor para comércio e serviços, setores mais intensivos em mão de obra e que têm custo maior com as contribuições sobre salários. A sinalização foi feita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta terça-feira, 8, durante um evento virtual promovido pela Frente Parlamentar do Setor de Serviços. O setor é um dos mais resistentes ao avanço da CBS, que substituiria os atuais PIS e Cofins, justamente porque uma alíquota única representaria, para esse segmento, risco de aumento na carga tributária. “Não queremos de jeito nenhum aumentar imposto para serviços”, afirmou Guedes. Segundo ele, a alíquota diferenciada seria mantida enquanto não for possível desonerar a folha de pagamentos. Em seu plano original, o ministro pretendia aprovar um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) federal, unificando os tributos sobre consumo, e, em outra frente, desonerar a folha de pagamento. Hoje, empresas pagam uma contribuição patronal à Previdência de 20% sobre o salário do empregado. A ideia de Guedes era trocar esse tributo por um imposto sobre transações, nos mesmos moldes da antiga CPMF, mas a proposta enfrenta resistências no Congresso Nacional. A desoneração da folha compensaria o setor de serviços por eventual aumento da carga tributária em decorrência da criação da CBS. Esse risco existe porque, diferentemente da indústria, o setor de serviços não terá tantos créditos tributários obtidos na compra de insumos para abater do tributo a ser pago. O problema é que o plano de desonerar a folha foi adiado diante da falta de espaço para avançar agora no imposto sobre transações. O governo não tem como abrir mão das receitas arrecadadas por meio da contribuição sobre os salários, dado que elas são significativas. Por isso, o jeito encontrado pela equipe econômica é estudar a alíquota dupla na CBS. “Gostaria de fazer uma reforma tributária um pouco mais ampla, não é momento, mas não vamos desistir. Vamos fazer o que é possível agora (na tributária), simplificação, redução de alíquotas. O presidente [Jair Bolsonaro] está decidido a continuar com a transformação que começamos”, afirmou Guedes. Nas últimas semanas, o ministro da Economia e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), acertaram um plano para “fatiar” a reforma tributária, que até então vinha sendo discutida em uma comissão mista formada por deputados e senadores. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que unificaria tributos sobre consumo cobrados em âmbito federal, estadual e municipal foi deixada de lado. O plano agora é aprovar a CBS e algumas mudanças no Imposto de Renda, como a ampliação da faixa de isenção para pessoas físicas, que hoje é para quem ganha até R$ 1.903,98. Em outro evento nesta terça-feira, 8, Guedes disse que a ordem dentro do governo para a reforma tributária é remover o que é muito controverso e aprovar o que é amplamente aceito. Segundo o ministro, essa diretriz explica a opção pela CBS, um tributo apenas federal, e deixar para depois o ingresso dos Estados e municípios. O ministro defendeu ainda a realização de um novo Refis, programa de refinanciamento de dívidas tributárias de contribuintes que tem sido chamado de “passaporte tributário”. “Não é razoável perseguir as empresas que quebraram com a pandemia”, afirmou Guedes. Como mostrou o Estadão, o novo Refis em preparação no Congresso envolverá dívidas anteriores à pandemia da covid-19 e permitirá às empresas aproveitar créditos de prejuízos de anos anteriores. As duas medidas serão incluídas no projeto em tramitação no Senado. A intenção da equipe econômica é vincular a habilitação ao programa a uma queda superior a 15% no faturamento durante a pandemia. No evento, o ministro disse ainda que é compreensível a necessidade de taxar dividendos e reduzir tributos sobre empresas e prometeu uma redução dos subsídios – o governo tem até setembro para enviar um plano de corte nesses incentivos. O ESTADO DE S. PAULO