Risco de aumento de imposto na reforma inquieta Economia

Entrou no radar da equipe econômica a possibilidade de o relatório da reforma tributária do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) promover um aumento na carga de impostos e contribuições sobre a economia brasileira. Essa hipótese está sendo levantada pelo time do ministro Paulo Guedes, principalmente pela questão da calibragem do Imposto sobre Valor Adicionado (IVA), que na PEC principal (45) substitui uma série de impostos federais, estaduais e municipais. O Ministério da Economia tem contribuído com informações e simulações sobre os novos desenhos para o sistema, que já estariam com Ribeiro. A proposta do governo é começar mudando apenas o PIS/Cofins, criando a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBC), um tributo federal, que poderia ser, com o tempo, acoplado ao ICMS e ISS. Já a PEC 45, que era patrocinada pelo ex-presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), faz uma mudança mais ampla nos tributos sobre consumo e pode trazer outras medidas, mas provavelmente deixará de fora o imposto sobre transações que bancaria a desoneração da folha de pagamentos das empresas. “Não aceitaremos aumento de carga tributária”, garantiu uma fonte da pasta. No sábado, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), prometeu para o dia 3 de maio a apresentação de uma “versão inicial” do texto da reforma, que diferentes governos tentam fazer há três décadas. Sem citar o relator da matéria, cuja troca chegou a ser cogitada, Lira disse que a intenção em marcar uma data é promover a discussão com a sociedade, fazer audiências públicas com transparência e a participação de todos. “O Congresso não pode ficar prisioneiro de guerras legislativas. Mais do que nunca, temos de cumprir nosso dever com a sociedade”, disse Lira, em rede social, sem deixar claro ao que se referia. O parlamento acabou de sair de um forte embate com o governo sobre os vetos no Orçamento está em meio a uma guerra sobre a realização da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, que está para iniciar seus trabalhos no Senado. Apesar dos atritos que recentemente teve com a equipe econômica, inclusive com aliados dele defendendo uma cisão do ministério, Lira tem se alinhado com representantes do mercado financeiro e prometido nessas reuniões que vai seguir a agenda de reformas, que inclui também a administrativa. Por pressão dele, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) começou a trabalhar a tramitação das mudanças nas regras de contratação do setor público. Essa postura reformista do chefe da Câmara, agrada o alto escalão do ministério comandado por Paulo Guedes, a despeito das preocupações com os possíveis rumos que Aguinaldo Ribeiro pode dar para o texto da tributária. Essa reforma e a administrativa são tratadas pela equipe de Guedes como os temas mais relevantes para a agenda econômica neste ano e, a despeito do barulho no Congresso, os sinais seriam favoráveis. VALOR ECONÔMICO

Texto inicial da reforma tributária será apresentado em 3 de maio, diz Lira

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), informou neste sábado que um primeiro texto da reforma tributária será apresentado no dia 3 de maio, ao destacar que o objetivo da iniciativa é discutir e aprimorar a proposta com a sociedade. “Como sinalização de que a política do cabo de guerra não vai alterar nossa missão, estaremos tornando pública na segunda-feira (3), a versão inicial do texto da reforma tributária”, informou Lira no Twitter. “O objetivo é discutir com a sociedade, fazer consultas públicas, receber as críticas e os aprimoramentos, com transparência e participação de todos. Temos de enfrentar os problemas do Brasil, apesar das crises, passageiras”, acrescentou. Segundo o presidente da Câmara, o Congresso não pode ficar prisioneiro da paralisia política das guerras legislativas. “Mais do que nunca, temos de cumprir nosso dever com a sociedade”, ressaltou. Eleito para o cargo com o apoio do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Arthur Lira sempre defendeu a aprovação de uma reforma tributária. O governo, entretanto, está na mira de enfrentar uma CPI da Pandemia no Senado. A comissão de inquérito, com maioria de integrantes de oposição e independentes, deve começar formalmente seus trabalhos a partir da próxima semana. FOLHA DE S. PAULO

Privatizações: um argumento esquecido (Affonso Celso Pastore)

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Por que as privatizações perderam força apesar do sucesso obtido durante o governo FHC? Por que o ministro da Economia de um governo autointitulado liberal abandonou o discurso de que iria privatizar todas as empresas estatais? Apesar dos enormes ganhos de eficiência, fartamente comprovados com a privatização das empresas de telecomunicação, há por parte do governo muito pouco interesse em privatizações. A frustração com o caminho tomado levou-me a resumir alguns dos argumentos que expus na introdução do livro Infraestrutura, Eficiência e Ética, de 2016, do qual fui o coordenador. Para mim, a explicação é muito simples. As empresas estatais são usadas (e abusadas) pelos governos, à esquerda e à direita, como fonte de poder político. Uma pequena incursão pela história esclarece o argumento. Nas décadas dos anos 1960 e 1970, na grande maioria dos países acreditava-se que através de empresas estatais os governos deveriam ter um papel preponderante na produção. Na introdução do artigo no qual analisa o problema, Schleifer (State versus Private Ownership”, NBER, 1998) afirma que “consistente com a falta de aversão à propriedade do Estado, no pós-guerra os países ao redor do mundo assumiram um papel enorme na produção, sendo proprietários de tudo, desde a terra e as minas até as fábricas e a indústria de comunicações, bancos, companhias de seguros, hospitais e escolas”. Em uma resenha sobre as evidências empíricas nas privatizações, Megginson e Netter (“From State to Market: A Survey of Empirical Studies on Privatization”, 2001) relatam que “na Europa Ocidental, os governos nacionais debatiam em qual profundidade deveriam se envolver na regulação da economia e quais seriam os setores industriais que deveriam ser reservados apenas à propriedade do Estado”. Embora existissem razões políticas e ideológicas para a “estatização”, o motivo predominante era a crença de que as empresas estatais evitariam as “falhas de mercado”, que decorrem de externalidades, de monopólios e de custos de informação, entre outros. As privatizações levadas a cabo por Thatcher, no Reino Unido, representaram a mais marcante mudança nessa orientação. A motivação principal foi a constatação de que, para fugir das “falhas do mercado”, as economias ficavam expostas às “falhas do governo”, com resultados muito piores. Schleifer mostrou que essa consequência era perfeitamente evitável porque, “se o governo sabe exatamente o que deseja, pode explicitar seus objetivos em um contrato ou através de uma regulação bem-feita, obrigando a empresa privada a produzir de acordo com as condições a ela impostas”. Por exemplo, é a regulação que impede que o concessionário de uma estrada explore o seu poder de monopólio. O argumento mais forte, contudo, é o relativo à diferença de incentivos dados aos gestores de empresas privadas e públicas, e para expô-lo vou usar da distinção entre o “principal” e o “agente”. Em uma empresa privada, o “principal” é o acionista e o “agente” é a sua diretoria, cuja remuneração cresce com o aumento dos lucros. Neste caso, há um completo alinhamento de interesses que estimula a eficiência produtiva. Já em uma empresa estatal o “principal” é o governo e o “agente” é um gestor do qual se espera que atenda aos objetivos políticos dos detentores do poder, e os resultados não são bons. Um exemplo extremo é o do escândalo de corrupção na Petrobrás, no qual o “principal” buscava recursos para “retribuir” o apoio dado pelos partidos aliados (além de objetivos que prefiro omitir), indicando um “agente” apto a cumprir a tarefa. Outro é o da recente demissão dos presidentes do Banco do Brasil e da Petrobrás, que foram penalizados por buscar a redução de custos e o aumento dos lucros, quando o objetivo do “principal” era o de satisfazer os desejos dos grupos políticos que o apoiam. Além da produção através de empresas estatais ser uma forma ineficiente de evitar as “falhas de mercado”, fica exposta às “falhas do governo”, uma das quais vem das exigências do “principal” quanto aos objetivos a serem perseguidos pelo “agente”. Como foi exposto por Schleifer e Vishny (“Corruption”, NBER Working Papers #4372, 1993), “empresas estatais são ineficientes não só porque seus gestores têm incentivos fracos para reduzir os custos, e sim porque a ineficiência é o resultado da política deliberada do governo de transferir benefícios aos que o suportam”. *EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA A.C. PASTORE & ASSOCIADOS O ESTADO DE S. PAULO

‘Passado o susto com a pandemia, empresas irão para a nuvem’, diz Ricardo Neves, da Everis

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Depois de as empresas correrem para se digitalizar com a chegada da pandemia, agora elas precisarão passar para o próximo nível e se debruçar sobre sua transformação digital. E essa fase será mais profunda: tirar o sistema de dentro da empresa para colocá-lo em uma nuvem, que é a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg que retira a necessidade de servidores locais para o armazenamento de dados, comenta Ricardo Neves, presidente da Everis no Brasil, consultoria multinacional de negócios e TI. Tal processo, segundo o executivo, que assumiu a empresa de quatro mil funcionários em plena pandemia, é uma questão estratégica para os negócios e passo necessário para tornar as empresas mais ágeis. Como foi a demanda das empresas na pandemia?A demanda foi da digitalização, transformação digital. Muitos projetos que essas empresas tinham pensando para os próximos anos foram antecipados. Isso seja de bancos, empresas de telecomunicações, saúde, com os projetos de telemedicina. Os projetos foram trazidos de forma muito rápida. Qual deve ser a busca das empresas a partir de agora? Agora, passado o susto com a pandemia, a demanda virá da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da nuvem. As empresas precisarão tirar o sistema de dentro da empresa e fazer essa jornada para a nuvem. Depois do susto, agora será preciso mexer no coração desse processo, e essa é uma cirurgia complexa. É algo estratégico para a empresa, para ela conseguir ser mais ágil e fazer, de fato, sua transformação digital. Como foi o ano de pandemia para a Everis?Conseguimos surfar essa maior demanda que veio com a pandemia. Saímos de 2,7 mil funcionários e estamos perto de 4 mil. Fizemos todo o processo de onboarding (integração dos novos funcionários) a distância, com profissionais espalhados em 60 cidades em todo o Brasil. E como foi fazer a contratação de profissionais de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg diante de tanta demanda?A decisão foi de trabalhar em formação. Fizemos parcerias e colocamos 15 mil bolsas para formar programadores de computador. Entre 300 e 400 pessoas já se formaram e contratamos mais de 100 delas. Estamos em um momento de grande desemprego e de pessoas querendo mudar de carreira. Isso foi algo muito importante para nós, conseguimos fazer tudo online. Um dos desafios que estamos vivendo é como trazer o funcionário que nunca pisou no escritório para a cultura da empresa. O ESTADO DE S. PAULO

Interior entra no radar das empresas

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A mudança de parte da população das grandes cidades rumo ao interior entrou no radar do setor corporativo. A força do mercado consumidor de municípios menores já vinha sendo uma aposta das empresas antes mesmo de a pandemia impulsionar o êxodo urbano nas capitais. Agora, o movimento se fortaleceu, seja para fugir do caos das capitais ou para atender a uma demanda que tende a crescer bastante nos próximos anos. Com a popularização do home office, tanto trabalhadores como empresas podem escolher onde ficar fisicamente, sem comprometer as operações. Um levantamento da DataZap mostra que entre fevereiro do ano passado e fevereiro deste ano a demanda por locação de imóveis no interior aumentou 154% e no litoral, 47%. Na capital, esse movimento teve queda de 9%. Nessa nova realidade criada pela pandemia, a Ness Health, uma empresa de serviços para inovação na medicina diagnóstica, viu uma oportunidade e decidiu mudar a sede hoje localizada na Berrini, em São Paulo, para um parque tecnológico, em São José dos Campos. “A princípio só a parte de robótica iria para a cidade, mas percebemos que compensaria mais levar a matriz para lá do que deixar em São Paulo”, diz o sócio da empresa José Leovigildo Coelho. Segundo ele, o custo do aluguel e o IPTU são menores e a qualidade de vida, melhor. Com exceção dos funcionários da área de robótica, que vão se mudar, todos os demais funcionários terão a opção de continuar em home office. Outra que decidiu levar a sede para um local mais calmo foi a XP, que anunciou no ano passado a construção da Villa XP, em São Roque, cidade a uma hora e meia da capital. Atualmente, a XP ocupa alguns andares de um prédio, localizado em frente ao Shopping JK Iguatemi, no Itaim Bibi, em São Paulo. ExpansãoA mudança física, no entanto, não é a única estratégia das empresas para explorar o mercado do interior. Algumas continuarão com suas estruturas atuais, mas começam a traçar planos de expansão rumo a essas praças. A AAX Digital, empresa que começou como um marketplace de crédito e virou um banco digital, deve inaugurar no segundo semestre do ano (ou início de 2021) um novo prédio com uma agência modelo em Ribeirão Preto. A instituição nasceu em São Paulo, mas foi em Campinas que teve o maior boom de crescimento, da ordem de 200% ao ano. Um dos focos da AAX é o empréstimo com garantia (como imóveis) voltado para pequenos empresários. Na pandemia, com os bancos apertando ainda mais o crédito, eles se tornaram uma opção para esse público do interior. “Na medida em que eles apertaram a torneira, nós aproveitamos esse espaço”, diz o presidente da empresa, André Avelino. Outra de olho na expansão do interior é a empresa de locação de boxes para armazenagem M3storage. Com 23 operações em São Paulo, a companhia agora está ampliando a atividade para Sorocaba, Campinas e São José dos Campos, além de cidades de outros Estados. Segundo o diretor de negócios Luciano Montenegro de Menezes, o entorno de São Paulo tem um potencial e uma demanda muito grande. “Então antes de pensar em outros locais, temos de explorar essas praças.” Com a pandemia, diz ele, a demanda aumentou bastante por causa dos e-commerces – a taxa de crescimento da M3storage é de 15% ao mês. “Os boxes viraram uma extensão do estoque dessas empresas. E as grandes empresas dessa área estão indo para o interior.” O consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Eduardo Zylberstajn, diz que no futuro pós-pandemia, se o modelo do home office continuar, as pessoas vão poder ficar em qualquer lugar que tenha um custo menor ou seja mais tranquilo. É nesse movimento que as empresas estão atentas. Mas, por ora, ainda não é possível saber se a mudança das pessoas é estrutural. O ESTADO DE S. PAULO

Grupo Soma bate Arezzo e fica com a Hering, em negociação ‘relâmpago’

Em uma negociação relâmpago, o Grupo Soma (dono de marcas como Animale e Farm), fechou acordo para incorporar a Hering, segundo fato relevante divulgado nesta segunda-feira, 26. O negócio avalia a centenária marca de confecções em R$ 5,1 bilhões, valor bem superior aos pouco mais de R$ 3 bilhões que a Arezzo havia oferecido em uma oferta considerada hostil pela companhia na semana passada. O negócio esquenta de vez a disputa da consolidação do varejo brasileiro, em que as empresas tentam correr para ganhar musculatura em um mercado cada vez mais acirrado. O fechamento do negócio com a catarinense Hering coloca o Grupo Soma em um novo patamar entre os varejistas nacionais. A companhia, até aqui, se limitava à atuação no mercado premium. Agora, vai para o segmento de massa, ganhando musculatura. O preço pago pelo Grupo Soma avaliou o papel da Hering ficou em cerca de R$ 33, quando eram negociados na bolsa na última semana em torno de R$ 22. O valor de mercado da Hering na sexta-feira era de pouco menos de R$ 3,7 bilhões. O preço pago pela companhia está cerca de 37% acima deste valor. Conforme mostrou reportagem do Estadão desta segunda-feira, 26, diversas varejistas estão se movimentando para sair fora de sua zona de conforto e virar uma “consolidadadora” do mercado. Segundo Marcos Gouvêa de Souza, fundador da consultoria Gouvêa, a situação do mercado exige pressa, pois agora a empresa que não se movimentar rápido corre o risco, lá na frente, de acabar adquirida por outra que se movimentou com antecedência. Bastidores de negociaçãoAs conversas começaram depois da proposta da Arezzo. Segundo apurou o Estadão, a família não havia gostado da oferta (que considerou baixa), mas o movimento da calçadista foi suficiente para chamar a atenção de outros interessados. As negociações com a Soma foram relâmpago. Começaram na quinta-feira, e a rapidez surpreendeu até quem estava envolvido no negócio. O grande objetivo da família Hering era conseguir a avaliação que o negócio chegou a ter antes de a pandemia de covid-19 causar uma desvalorização nos papéis da companhia, derrubando seu valor de mercado. Foi uma equação simples: o Soma chegou muito perto do que a Hering pedia, e as conversas andaram rápido, uma vez que havia disposição da família em vender. Outra questão que pesou favoravelmente na proposta do Soma, em relação à da Arezzo, foi a aproximação. Enquanto a oferta da calçadista foi considerada por fontes de mercado como “quase hostil”, que deixava a empresa com cara de negócio antigo e desvalorizado, o Soma soube valorizar o legado da Hering, tanto no preço quanto na condução das conversas. Os donos da Hering devem ter participação no novo grupo, pelo menos temporária. O ESTADO DE S. PAULO

Sob ameaça, varejistas fogem da ‘zona de conforto’ com aquisições bilionárias

Mesmo em um cenário em que o Magazine Luiza se diversificou, apostou no online e vinha trabalhando fortemente para virar um “super app”, parecia haver certa resistência entre as demais varejistas brasileiras em mudar. Pelo que se viu na semana passada, o período de inação ficou para trás. Segundo apurou o Estadão, executivos do ramo viveram dias estressantes e de rápidas definições: de repente, caiu a ficha de que é necessário fazer alguma coisa. Em meio a um cenário de crise, agravado pela pandemia, as empresas parecem ter acordado para a dura realidade: é a hora de crescer ou morrer. Na semana passada, começou a ficar claro que não existe mais como uma empresa querer dominar apenas no seu “quadrado”. O movimento da Arezzo, que fez oferta agressiva pela Hering, mostra o interesse da calçadista em migrar para as confecções – e não em um negócio especializado, como a Reserva (que já adquiriu), mas com uma grande marca. Ofereceu R$ 3 bilhões à Hering, mas acabou desbancada pelo Soma, que pagou bem mais: R$ 5,1 bilhões. Ao mesmo tempo, a Renner contratou bancos para uma oferta de ações para arrecadar até R$ 6,5 bilhões. O alvo seria o e-commerce Dafiti – que é forte na internet, meio no qual a todo-poderosa Renner ainda engatinha. “É um movimento simples. Agora, ou a empresa vai ser a consolidadora ou vai ser consolidada”, define Marcos Gouvêa de Souza, fundador da consultoria em varejo Gouvêa. Para o presidente do banco americano Morgan Stanley no País, Alessandro Zema, a tendência é que as empresas busquem no mercado negócios para reforçar setores em que ainda não são fortes, e não a busca de escala em áreas que já dominam. O raciocínio se encaixa tanto no caso de Arezzo e Hering quanto na aproximação de Renner e Dafiti. Mas não só. Na semana passada, a Lojas Americanas colocou para dentro de casa a Uni.co, dona de marcas como Puket (moda) e Imaginarium (decoração). Ainda em 2019, o Magazine Luiza comprou a Netshoes em uma disputa acirrada com a Centauro – e fincou bandeira nas áreas de moda e esportes. Tendo o Magalu como exemplo a ser seguido, um grupo de empresas se movimenta para dominar um mundo multicanal e multissetorial – para não acabarem engolidas por quem teve coragem de partir para o ataque primeiro. “A diferença do Magalu para as outras é que há muito tempo ela não é uma empresa de eletrodomésticos”, diz um executivo de banco. O desafio também envolve acrescentar https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg a negócios de varejo. “A guinada para a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg está ocorrendo em todos os setores, com adequação ao e-commerce e ao delivery”, diz Diogo Aragão, responsável pela área de fusões e aquisições do Bank of America. “As empresas podem decidir entre comprar ou construir, mas, por vezes, é mais vantajoso para a empresa comprar.” E adquirir um negócio já pronto economiza algo que as empresas hoje não têm: tempo. “Há percepção de que a agenda digital precisa ganhar velocidade no pós-pandemia”, diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese. “Um negócio isolado é mais vulnerável a ser comprado por um ecossistema, como o do Magalu.” ‘Emergentes’Se em tese toda empresa quer crescer e se tornar o próximo Magalu ou Amazon, o que determina quais são nomes “emergentes” nesse movimento? Em duas palavras: resultado e credibilidade. Três nomes aparecem com força. A Arezzo está com o caixa cheio para ir às compras; a Renner, que há anos entrega resultados, tem cacife para captar bilhões para aquisições. Já Americanas é uma gigante que está integrando digital e lojas físicas, antiga demanda de investidores (veja perfis abaixo). Lojas Americanas, tradição desde 1929A Lojas Americanas tem esse nome porque foi fundada no Rio por três americanos, justamente no ano do “crash” da Bolsa: 1929. A empresa também é uma das pioneiras no mercado de capitais brasileiro, tendo aberto seu capital em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Mais tarde, nos anos 1980, foi comprada pelo extinto Banco Garantia, do bilionário Jorge Paulo Lemann (que, aliás, está no negócio até hoje). Ao longo do tempo, fez parcerias com o Walmart e a rede de locadoras Blockbuster. A companhia foi uma das primeiras a investir pesado no e-commerce, com Americanas.com e Submarino. É nesse histórico de inovações que se ancora para, mais uma vez, se reinventar. Apesar do pioneirismo na internet, a companhia viu o Magazine Luiza se tornar a referência em atuação multicanal e multissetorial. A empresa, que sempre vendeu de tudo, agora corre para ter suas próprias marcas. Na semana passada, comprou a Uni.co, dona de marcas como Imaginarium, Puket e Mind para ampliar sua oferta nas áreas de moda e decoração. Durante muitos anos, as operações da B2W, seu braço digital, foram separadas das redes físicas. Essa linha imaginária, que foi apagada pelo Magalu, também está prestes a virar coisa do passado para as Americanas – o que tem animado investidores. Lojas Renner, de sócia da JC Penny a ‘corporation’ A gigante Renner, líder no setor de varejo de moda no País, é hoje um mamute corporativo com valor de mercado de R$ 36 bilhões e fôlego suficiente para formar rapidamente um consórcio de bancos em torno de uma oferta de ações bilionária. Com os R$ 6,5 bilhões que pretende arrecadar, ela pretende expandir mercados e se aventurar em novos segmentos e, principalmente, no e-commerce. O alvo seria a Dafiti – a empresa não comenta. Seria uma mudança de paradigma: por todo o sucesso que colecionou ao longo das últimas décadas, a companhia veio apostando no ganho de escala do negócio de moda que sempre a caracterizou. Mas isso não quer dizer que seja estranha a movimentos ousados do ponto de vista corporativo. A Renner nasceu em 1965, mas, até o início dos anos 1990, a empresa gaúcha era uma rede restrita à Região Sul. As coisas começaram a mudar quando a gigante americana JC Penney se tornou sócia da companhia. Ao fim daquela década, o grupo estrangeiro embolsou os lucros de seu investimento, deixando

Companhias se adequam ao trabalho híbrido

Depois de mais de um ano de trabalho remoto, a esperança de muitas empresas é que esse o trabalho híbrido (misto em casa e no escritório) permita aos funcionários fazer em casa a parte de seu trabalho que exige concentração individual, reduzindo deslocamentos e equilibrando melhor a vida profissional e pessoal. Os escritórios, por sua vez, se tornariam um local para inovação, colaboração, treinamento, socialização e networking. Com essa ideia, o HSBC anunciou que reformará seus escritórios executivos, abrindo lugar para estações de trabalho compartilhadas. “Não estarei no escritório nos cinco dias da semana”, disse Noel Quinn, executivo-chefe do banco. “É a nova realidade da vida.” Sarah Willett, diretora de recursos humanos do The Very Group, que opera as varejistas on-line Very.co.uk 2e Littlewoods.com, disse que os funcionários gostariam de manter elementos do trabalho remoto quando o Reino Unido reabrir. “Passaremos a um modelo híbrido. Queremos que nossos colegas sejam produtivos em casa e colaborativos no escritório”, diz. Pesquisas recentes da Microsoft com 30 mil funcionários pelo mundo revelaram que “70% dos funcionários querem que as opções flexíveis de trabalho remoto continuem [e] 66% dos tomadores de decisões estão considerando redesenhar os espaços físicos”. Recentemente, o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, apresentou planos de trabalho híbrido para alguns funcionários. “Como resultado, em média, para cada 100 funcionários poderemos precisar de lugares para apenas 60. Isso reduzirá significativamente nossa necessidade de imóveis.” Lloyds Banking Group e HSBC afirmaram que os escritórios encolherão 20% e 40%, respectivamente. Os riscos do trabalho híbrido incluem a possibilidade de que equipes e processos se desintegrem, à medida em que os trabalhadores definam seus próprios horários, ou a de que surjam panelinhas de pessoas trabalhando no escritório, que excluiriam os que estão em casa de decisões e conversas informais. “Muitas pessoas presumem que por sabermos trabalhar juntos [no escritório], saberemos como trabalhar separados”, diz Kristi Woolsey, diretora-associada da firma de consultoria Boston Consulting Group. “Mas o híbrido é uma terceira via. É incrivelmente difícil de fazer. Este é o problema que todos terão que solucionar pós-covid. Será duro e será diferente.” Empresas informando os funcionários de que podem trabalhar em qualquer lugar e de qualquer jeito não ganharão em nada, diz Danny Harmer, diretora de recursos humanos da Aviva, empresa britânica de seguros. “As pessoas precisam fazer seu trabalho no lugar que produz o melhor resultado para a organização, para o cliente e para o funcionário”, diz. Se as empresas não derem orientações claras, ela teme que isso acabe levando ao presenteísmo no escritório [quando o trabalhador está presente, mas isso mais atrapalha do que ajuda a produtividade]. Muitos empregadores provavelmente aplicarão padrões variáveis de trabalho de acordo com as funções. A Aviva, por exemplo, estuda criar cinco perfis de trabalho para definir o tempo a ser passado em casa e no escritório. Se o escritório se tornar um local para colaboração entre os funcionários, e não de trabalho solitário, então, a sincronização dos cronogramas dentro das equipes será prioridade. O trabalho híbrido envolverá muita experimentação. Anne-Laure Fayard, professoraassociada no departamento de gestão de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e inovação, na Tandon School of Engineering, da Universidade de Nova York, diz que será preciso paciência para criar novos hábitos. “De início, haverá certa necessidade de arquitetar e recriar a casualidade [das conversas presenciais informais e seus benefícios ao trabalho colaborativo]. Levará tempo e desenvolvimento.” Sonja Gittens Ottley, chefe de diversidade e inclusão na Asana, um plataforma de softwares de colaboração em projetos, diz que as empresas precisam monitorar o impacto do trabalho híbrido. “Pesquisas regulares com funcionários e estudos da carga de trabalho serão chave para compreender se a priorização da flexibilidade do trabalhador está chegando à custa da clareza, produtividade e felicidade do funcionário”, explica. O trabalho híbrido exige mudanças no espaço de escritório. “Precisamos projetar espaços mais abertos ou semifechados para colaborar e [usar] mais espaços privados para trabalhos mais privados – o exato oposto ao que se pensava antes.”, diz Janet Pogue McLaurin, líder de espaço de trabalho global na Gensler, uma empresa de design. No Lloyds, além de aumentar os espaços de colaboração e de criar aplicativos para reservá-los, o banco tentará usar o espaço sobressalente nas agências para que os funcionários possam ter salas de reunião locais, zonas de colaboração e mesas de trabalho de uso compartilhado, inclusive quando viajam a seus principais centros. A WeTransfer, empresa de softwares na nuvem que vende ferramentas colaborativas, removeu metade das mesas em seus escritórios e construiu salas de reunião, salas para oficinas de trabalho e estúdios de gravação. Sonya Simmons, chefe de design de espaço de trabalho no Spotify, diz que os espaços de escritório estão sendo reformulados para criar mais “áreas de colaboração e áreas de foco – incluindo salas de silêncios – nas quais possam ser feitas tarefas que exigem alta concentração, livre de barulhos e distrações, [além de] instalar mais cabines de telefone, criadas para que uma ou duas pessoas entrem [e] saiam para uma rápida ligação ou conversa privada.” Mas o trabalho híbrido exigirá que os gestores sejam claros sobre os objetivos das equipes, que alinhem os horários e que assegurem inclusão nas reuniões. Em comentário em blog, a Dropbox, plataforma de armazenamento na nuvem e de colaboração, informou que pediu aos gestores para avaliar regularmente se eles distribuíram as tarefas de forma justa. Muito disso exigirá treinamento: a Aviva, por exemplo, diz que dará apoio e orientação para a realização de reuniões virtuais ou híbridas, assim como para definir os horários das equipes. Os gestores têm um papel a desempenhar. “O que mais fará a diferença é dar o exemplo”, diz Fayard, da Tandon. As pessoas precisam sentir que é aceitável trabalhar em casa e que “se forem ao escritório é para se reunir com colegas e não para serem vistos pela gerência”. VALOR ECONÔMICO

‘Cancelamento do Censo afeta de dados do mercado de trabalho a pesquisas eleitorais’, diz ex-IBGE

O cancelamento do Censo Demográfico provoca prejuízos que vão desde a dados imprecisos sobre o mercado de trabalho até dificuldades na realização de amostras para condução de pesquisas eleitorais, alertou nesta sexta-feira Roberto Olinto, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IBGE divulgou uma nota para os servidores do órgão informando que a publicação da Lei Orçamentária de 2021 sem a recomposição do orçamento original de R$ 2 bilhões para o Censo Demográfico inviabilizou a operação censitária este ano. O Censo deveria ter ido a campo em 2020, mas acabou adiado por conta da pandemia. Segundo o instituto, a direção do IBGE retomará as tratativas com o Ministério da Economia, a quem é subordinado, para planejar e promover a realização do censo em 2022. O governo federal reduziu ainda mais a verba destinada à realização do Censo Demográfico. Dos R$ 2 bilhões previstos, apenas R$ 71 milhões foram aprovados pelo Congresso Nacional no mês passado. No entanto, o orçamento sancionado e publicado no Diário Oficial da União desta sexta-feira, 23, traz um veto do presidente Jair Bolsonaro que reduz esse valor para cerca de R$ 53 milhões, o que inviabiliza até os preparativos para o levantamento ir a campo em 2022, afirma o sindicato nacional dos servidores do IBGE, o Assibge. O texto aprovado no congresso previa R$ 53 milhões de custeio e outros R$ 17,750 milhões de investimento, que acabaram vetados pelo presidente, ressalta o sindicato. “Primeiro que não vai ter censo este ano, mas com o dinheiro que está disponível não vai ter nem no ano que vem. Porque precisa de dinheiro para os preparativos, como a atualização do cadastro de endereços, que não pode ser feita por causa da pandemia. Tem que fazer licitação para compra de equipamentos, que precisa ocorrer com antecedência. O cenário que parece no horizonte é que não vai ter censo”, alertou Roberto Olinto, atualmente pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Os recenseadores contratados como trabalhadores temporários pelo IBGE deveriam visitar os cerca de 71 milhões de domicílios brasileiros a partir de agosto deste ano. As informações recolhidas servem de base, por exemplo, para o rateio do Fundo de Participação de estados e municípios. As informações também são essenciais para políticas de saúde, como a necessidade de alocação de profissionais e equipamentos para atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e planejamento de políticas educacionais. “As empresas privadas também são prejudicadas. Como vão fazer investimentos se não conhecem o país? Isso vai desde o cara que vai abrir uma padaria até uma fábrica. O censo é informação, ele geo-referencia todo o país, porque você tem cada domicílio pesquisado”, explica Olinto. As informações do censo demográfico também servem de base para pesquisas amostrais, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do próprio IBGE, que levanta dados do mercado de trabalho, como a taxa de desemprego. “Para você ter uma amostra que seja efetivamente representativa do país, precisa do censo. Sem atualização, a amostra perde consistência. Vai afetar os dados do mercado de trabalho. As pesquisas eleitorais também têm amostras feitas com base no censo. Qualquer instituto de pesquisas usa o censo. É uma cascata de problemas”, disse Olinto. O sindicato de servidores do IBGE avalia que sejam necessários R$ 239 milhões para manter os preparativos do censo em 2021 de forma a possibilitar que a coleta vá a campo em 2022. Roberto Olinto defende que haja uma articulação política conduzida pelo governo para recompor emergencialmente os recursos necessários para os preparativos deste ano para o censo, seguida por uma discussão da Lei Orçamentária Anual que garanta a verba para a coleta do ano que vem já nos trabalhos que se iniciam em meados deste ano. “O que assusta é o descaso com que o Ministério da Economia tratou esse censo. Não houve nenhuma manifestação de defesa do censo. Além do descaso com o censo, tem o descaso com o instituto de estatísticas do país, que está abandonado”, lamentou Olinto. O IBGE informou que se manifestaria sobre o novo cronograma do Censo Demográfico, sobre o concurso em aberto para seleção de recenseadores e sobre a nomeação do novo presidente apenas depois que os atos fossem publicados no Diário Oficial da União. Procurado novamente pelo Broadcast, o IBGE não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem. O corte no orçamento do censo gerou uma crise na direção do IBGE. No último 26 de março, dia seguinte à aprovação pelo congresso da redução no orçamento do levantamento censitário, a presidente Susana Cordeiro Guerra informou ter pedido exoneração do cargo. Ela permaneceu à frente do órgão por mais duas semanas, até 9 de abril, quando foi substituída interinamente pela então diretora executiva do órgão, Marise Ferreira, servidora de carreira do IBGE há 37 anos. Há pouco mais de uma semana, no dia 14, o instituto anunciou que o atual diretor de Pesquisas, Eduardo Rios Neto, foi indicado pelo Ministério da Economia para assumir a presidência, mas sua nomeação ainda não foi publicada no Diário Oficial. Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico deveria ter ido a campo em 2020, mas foi adiado para 2021 em função da pandemia do novo coronavírus. O IBGE terá que cancelar pelo segundo ano consecutivo o concurso público aberto para preencher as mais de 200 mil vagas temporárias de recenseados e agentes censitários que trabalhariam no levantamento. As provas presenciais que seriam realizadas este mês já estavam adiadas, sem nova previsão de data. Um concurso anterior tinha sido aberto pelo órgão em 2020, mas acabou cancelado, e o dinheiro das inscrições foi devolvido. Os contratados no novo processo seletivo visitariam todos os cerca de 71 milhões de lares brasileiros entre agosto e outubro deste ano, nos 5.570 municípios do País. O órgão esperava que mais de dois milhões de pessoas se inscrevessem no processo seletivo, que tinha as provas objetivas presenciais marcadas para o dia 18 de abril para as vagas de agentes censitários e 25 de abril para

CEOs seguem com remunerações estratosféricas, mesmo com as empresas arruinadas pela pandemia

A Boeing teve um ano de 2020 historicamente ruim. Seus aviões 737 Max não decolaram na maior parte do ano após dois acidentes mortais, a pandemia dizimou seus negócios e a companhia já anunciou um plano de demissão de 30 mil funcionários, tendo reportado um prejuízo de US$ 12 bilhões. Entretanto, seu CEO, David Calhoun, foi recompensado com US$ 21,1 milhões de salário. A Norwegian Cruise Line mal sobreviveu em 2020. Com o setor de cruzeiros paralisado, a empresa registrou um prejuízo de US$ 4 bilhões e demitiu 20% da sua mão de obra. Mas isso não a impediu de mais do que dobrar a remuneração do seu CEO, Frank Del Rio, que chegou a US$ 36,4 milhões. E na cadeia de hotéis Hilton, onde quase um quarto dos seus funcionários foi demitido, com os hotéis em todo o mundo vazios e a empresa contabilizando um prejuízo de US$ 720 milhões, o ano foi bom para o CEO, Chris Nassetta, cuja remuneração em 2020 chegou a US$ 55,9 milhões. O coronavírus mergulhou o mundo numa crise econômica, com o número de desempregados disparando e milhões de americanos lutando para sobreviver. Mas, em muitas das empresas mais atingidas pela pandemia, os executivos foram remunerados generosamente. As fortunas díspares dos CEOS e dos trabalhadores comuns mostram a nítida divisão num país quase chegando a um boom econômico, mas ainda afligido por uma brutal desigualdade de renda. As bolsas registram altas recordes e os ricos vêm gastando livremente, mas milhões de pessoas ainda enfrentam enormes dificuldades. Os executivos ganham fortunas, ao passo que empregados demitidos fazem fila nos bancos de alimentos. “Muitos desses CEOs melhoraram a lucratividade da companhia despedindo trabalhadores”, afirmou a senadora Elizabeth Warren, democrata de Massachusetts, que propôs a cobrança de novos impostos para os ultra ricos. “Um grupo minúsculo de pessoas que subiram na carreira é recompensado, ao passo que todos os outros foram deixados para trás”. Para os executivos que detêm grandes participações em companhias gigantes, os ganhos foram ainda mais pronunciados. Oito dos dez indivíduos mais ricos do mundo são homens que fundaram ou dirigem empresas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg nos Estados Unidos e cada um deles ficou bilhões de dólares mais rico este ano, de acordo com a Bloomberg. Jeff Bezos, fundador da Amazon, cujos lucros dispararam com as pessoas presas em casa, tem uma fortuna avaliada hoje em US$ 193 bilhões. Larry Page, cofundador do Google, com um patrimônio de US$ 103 bilhões, acumulou US$ 21 milhões só nos últimos quatro meses, com os resultados da sua empresa também melhorando durante a pandemia. E, de acordo com documentos enviados para registro na SEC (a comissão de valores mobiliários americana), alguns vêm aumentando rapidamente seu patrimônio. Chad Richison, fundador e CEO da Paycom, uma empresa de software de Oklahoma, tem um patrimônio de mais de US$ 3 bilhões e contabilizou uma remuneração de US$ 211 milhões no ano passado, com sua empresa registrando um lucro de US$ 144 milhões. John Legere, ex-CEO da T-Mobile, recebeu US$ 137,2 milhões em 2020, recompensado pela fusão com a rival Sprint. “Criamos esta classe de centibilionários e bilionários que não tem sido boa para este país”, disse Nell Minow, vice-presidente da ValueEdge Advisors, empresa de consultoria de investimentos. O fosso entre a remuneração dos executivos e o salário médio do trabalhador vem crescendo há décadas. CEOs de grandes companhias hoje recebem em média 320 vezes mais do que seus funcionários, segundo o Economic Policy Institute. Em 1989, a proporção era de 61-1. De 1978 a 2019, os salários do trabalhador comum cresceram 14% e a remuneração dos CEOs aumentou 1.167%. A pandemia só fez aumentar essas disparidades, com centenas de empresas oferecendo pacotes de bonificações para seus líderes com valores significativamente maiores do que muitos americanos conseguiriam auferir em sua vida inteira. O conglomerado de mídia AT&T reportou um prejuízo de US$ 5,4 bilhões e cortou milhares de empregos durante todo o ano. John Stankey, o CEO, recebeu US$ 21 milhões por seu trabalho em 2020, um pouco menos do que os US$ 22,5 milhões que ganhou em 2019. A T-Mobile anunciou que criaria novos postos de trabalho com a sua fusão com a Sprint, mas já começou a demitir. Ela contabilizou um ganho de US$ 3 bilhões em 2020. Além do valor pago a Legere, a empresa recompensou seu atual CEO, Mike Sievert com US$ 54,9 milhões. A cadeia de hospitais Tenet Healthcare demitiu 11 mil funcionários durante a pandemia, mas registrou um lucro de US$ 399 milhões. “Os últimos 12 meses claramente foram um desafio extraordinário e uma experiência de aprendizado”, declarou o CEO da empresa, Ronald Rittenmeyer, no documento enviado para arquivo na SEC. No mesmo documento, a Tenet revelou que Rittenmeyer recebeu US$ 16,7 milhões no ano passado. Muitas empresas defendem os pacotes de compensações para seus executivos. Em alguns casos, os CEOS receberam menos do que teriam direito. Muitos executivos do alto escalão receberam a maior parte da remuneração em ações, que podem perder valor e com frequência não podem ser transferidas para terceiros por vários anos. E, em muitas empresas, o valor das ações subiu, apesar da turbulência da economia e independente de a empresa ser lucrativa. “No final, os CEOS acabam sendo recompensados pela maneira como respondem a essas ocorrências externas”, disse Janice Koors, consultora da Pearl Meyer. “Se você pensar nas lojas que estão fechando, nas demissões, etc., os CEOs são remunerados para tomarem essas decisões.” Sob muitos aspectos, o papel dos líderes de empresas nunca foi tão pronunciado. Além de dirigirem suas companhias, os CEOs se tornaram vozes influentes nas discussões nacionais sobre raça, mudança climática e direito de voto. Ao mesmo tempo, enfrentam críticas de todos os lados. O senador Mitch McConnell, republicano de Kentucky, recentemente disse às empresas que protestavam contra os esforços republicanos para reformular as leis sobre o voto para “ficarem fora da política”. Por outro lado, advogados trabalhistas vêm requerendo às companhias para cuidarem melhor dos seus empregados. “Está na hora de as empresas deste país assumirem