Sete de cada dez indústrias não conseguem comprar insumos para produção

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As fábricas brasileiras continuam com dificuldades na aquisição de matérias-primas para sustentar a retomada da produção. De acordo com levantamento da Confederação Nacional da Indústria, mais de 70% das firmas seguem com problemas para conseguir insumos no mercado e a maior parte delas só espera uma melhora no segundo semestre deste ano. Como mostrou o Estadão/Broadcast em outubro, a indústria brasileira já enfrentava esse gargalo desde o terceiro trimestre do ano passado. Pouco mudou desde então. O porcentual de fábricas da indústria geral com problemas na aquisição de matérias-primas passou de 75% para 73%. Na indústria da construção, a parcela se manteve em 72%. A crise da falta de insumos é independente do preço desses materiais. De acordo com a CNI, 65% das fábricas da indústria geral que usam matérias-primas importadas não conseguem tudo o que necessitam, mesmo pagando mais caro. Na indústria da construção, esse porcentual é de 79% dentre aquelas que trazem insumos do exterior. A CNI destaca que as expectativas de normalização das cadeias produtivas nacionais foram frustradas. Em novembro do ano passado, 51% das empresas da indústria geral e 49% das firmas da indústria da construção esperavam o retorno ao normal no fornecimento de insumos já no primeiro trimestre de 2021. Agora, 37% da indústria geral espera uma melhora no segundo trimestre e outros 33% já mudaram suas expectativas para o terceiro trimestre do ano. Na indústria da construção, esses porcentuais são de 33% e 38%, respectivamente. Para 14% da indústria geral e 5% da indústria da construção, a normalização só virá em 2022. Apesar dos problemas nas compras de insumos se manterem, a parcela de indústrias com dificuldades em atender a quantidade de encomendas dos clientes diminuiu. Na indústria geral, o porcentual passou de 54% para 45%. Já na indústria da construção, apenas oscilou de 31% para 30%. “Essa desestruturação das cadeias produtivas ainda é resultado das enormes incertezas que a economia atravessou na primeira onda. A compra de insumos pelas empresas foi cancelada e os estoques foram reduzidos, um movimento que atingiu praticamente todas as empresas das cadeias de produção A rápida retomada da economia no segundo semestre de 2020 não foi acompanhada no mesmo ritmo por todas as empresas, o que gerou dificuldades nos diversos elos da cadeia”, avaliou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. A pesquisa da entidade ouviu 1.782 empresas da indústria geral e 436 companhias da indústria da construção. O ESTADO DE S. PAULO

Caged superestima e Pnad Contínua subestima emprego na pandemia, dizem economistas

A pandemia do novo coronavírus está dificultando a coleta de dados que mostrem precisamente como anda o mercado de trabalho no País, segundo economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast. As informações obtidas via telefone pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) podem estar subestimando o alcance do emprego formal, defende um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Uma expansão extraordinária na população em idade ativa também teria sido influenciada pela mudança na forma de coleta, avaliam especialistas. Por outro lado, os dados sobre a geração de vagas com carteira assinada captados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia estariam superestimados pela falência e hibernação de empresas durante a crise sanitária, que teriam deixado de informar os desligamentos de funcionários. Uma mudança na metodologia de coleta de dados também tem levado a revisões de informações de meses anteriores, que alteram o desempenho do saldo entre admissões e demissões. No chamado Novo Caged, passaram a ser contabilizados contratos de trabalhadores temporários, de jornadas parciais de trabalho e de pessoas contratadas por microempresários enquadrados do Simples Nacional, que possuem até um empregado. Os dados do Caged de janeiro de 2021 mostram a existência de 39,623 milhões de empregos formais no País, 255 mil vagas a mais que no mesmo mês de 2020. Já os dados da Pnad Contínua para o trimestre encerrado em janeiro de 2021 mostram uma extinção de 3,918 milhões de vagas com carteira assinada no setor privado no trimestre terminado em janeiro de 2021 ante o mesmo período do ano anterior. Na Pnad, a população em idade ativa, com 14 anos ou mais, uma alta recorde de 2,8% no período, 4,876 milhões de pessoas a mais em um ano. “O Caged está bem mais descolado do desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) que a Pnad Contínua, o que mostra que pode estar superestimado. Por outro lado, não deixa de ser relevante o ponto de que a atividade econômica está um pouco acima do que mostra a Pnad Contínua. Talvez a realidade (do mercado de trabalho) esteja entre o que mostra o Caged e a Pnad Contínua”, ponderou o pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Para o economista Lucas Assis, da Tendências Consultoria Integrada, a suspensão da atividade em empresas que ficaram fechadas por medidas de isolamento dificulta a precisão do recorte de admitidos e demitidos no Caged. “Temos visto um foco bem grande na questão da incompatibilidade da Pnad e do Caged. No caso da primeira, a amostra passou a ser feita por telefone durante a pandemia, enquanto que no segundo, a obrigatoriedade em inserir os trabalhadores temporários. Isso levou a um olhar mais cauteloso com as pesquisas, com possível omissão de novos desligamentos no Caged”, cita o economista da Tendências. Com a mudança metodológica e por causa da pandemia, Assis lembra que o Caged vem fazendo uma série de revisões, o que dificulta ainda mais a ligação do indicador com a realidade. “Isso traz implicações para o cenário. O mercado de trabalho deve ser um dos mais frágeis dentre os setores da economia”, avalia, acrescentando que na consultoria Tendências a expectativa, por ora, é de crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, depois de um recuo de 4,1% em 2020. Já a taxa média de desemprego está estimada em 15,5%, “uma das mais altas dos últimos 15 anos”, ante 13,5% no ano passado. “Em 2022 deve permanecer elevada. A estimativa é algo em torno de 15,1%. Deve ter uma lenta retomada. As cicatrizes do desemprego ainda continuarão na população mais vulnerável como mulheres negras, ocupados com baixa escolaridade e rendimento. Como o mercado de trabalho é caracterizado por alta heterogeneidade, isso dificulta a retomada”, avalia o economista da Tendências. No entendimento de Assis, a Pnad reflete um pouco melhor as características do mercado de trabalho, por causa, por exemplo, da captura de dados do segmento informal e por regiões. Segundo ele, quanto mais se desagrega percebe-se taxas de informalidade elevadas como no Pará, Maranhão e Piauí. Já quanto ao Caged, o indicador, diz, parece estar passando por um movimento de expor dados “um pouco inflados”. A despeito disso, Assis afirma que é uma amostra importante e uma boa ferramenta para se observar o curto prazo, mas que precisa de uma certa cautela. “A Pnad por trabalhar com o trimestre móvel acaba camuflando alguns dados. No entanto, tende a ficar mais próxima da realidade por trazer dados informais e por não sofrer tantas revisões. Contudo, essas duas pesquisas andam juntas”, diz o economista da Tendências ao referir-se no sentido de os levantamentos serem importantes para o acompanhando do cenário. InterferênciaUm estudo do Ipea divulgado pelo Ministério da Economia defende que a queda no número de entrevistas realizadas pela Pnad Contínua pode ter interferido na evolução do emprego formal obtido pelo levantamento. Com a pandemia de covid-19, o IBGE mudou a coleta da Pnad, passando de presencial a telefônica. A dificuldade de obtenção de números de telefones na renovação da amostra e de sucesso na taxa de respostas mudou a composição da população que seria entrevistada pela primeira vez na pesquisa. Entre os cinco grupos de entrevistados a cada trimestre, o que respondia à pesquisa pela primeira vez teve uma taxa de resposta consideravelmente inferior aos demais grupos. “As poucas pessoas entre as que de fato foram entrevistadas tinham uma menor propensão a estarem ocupadas em empregos formais”, contou Carlos Henrique Corseuil, técnico de Planejamento e Pesquisa da diretoria de estudos e políticas sociais do Ipea. Segundo o estudo do Ipea, houve uma mudança na composição da amostra, reduzindo a representatividade de indivíduos com maior propensão a ocupar um posto de trabalho formal. Caso a composição do grupo entrevistado tivesse se mantido a mesma, a taxa de formalização teria sido maior, o que equivaleria a cerca de 1,5 milhão de empregos formais que deixaram de ser computados no segundo trimestre de 2020. No terceiro trimestre, sob