Grandes empresas têm fôlego para enfrentar a pandemia
As empresas de capital aberto estão em geral preparadas para enfrentar os impactos da nova onda da pandemia da covid-19, pelo menos em termos financeiros. Um levantamento do Valor Data com 339 companhias mostra que elas atravessaram uma das piores crises da história com seus balanços inteiros. Houve vítimas graves, mas, tomada em conjunto, a situação em dezembro do ano passado era melhor do que no fim de 2019. O quarto trimestre já havia sido excelente e janeiro e fevereiro mantiveram o ritmo, até que a piora da crise em março trouxe incerteza sobre a volta à normalidade. Juntas, essas companhias somaram R$ 2,07 trilhões em vendas em 2020 e R$ 240 bilhões de lucro operacional. Exportações, produtos com preços dolarizados e auxílio emergencial do governo, que sustentou o consumo interno, foram fatores que deram a essas companhias de setores diversos o impulso necessário para fechar 2020 com uma receita de vendas 10% maior do que a obtida em 2019, batendo com folga a inflação de 4,52% do ano passado. No quarto trimestre, a receita subiu 19%. Não é só a sustentação das vendas que surpreende. As empresas mantiveram custos e despesas sob controle, o que resultou num lucro operacional (antes dos efeitos dos juros e câmbio sobre as dívidas) 15% maior. Há, porém, um custo social nessa conta – para que ela fechasse, pessoas perderam o emprego. Além disso, o desempenho não foi homogêneo. Enquanto exportadoras como a CSN e a Usiminas tiveram um bom resultado, empresas do setor aéreo e do varejo de moda sofreram com os efeitos da pandemia. VALOR ECONÔMICO
Feriadão antecipado não melhora isolamento na capital paulista, que atinge média de 44,7%
A antecipação de três feriados municipais na capital paulista e o recesso de dez dias articulados pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) teve baixo impacto no índice de isolamento no município, que ficou em uma média de 44,7% entre a sexta-feira, 26, e o último sábado, 3. Nos dias úteis que antecederam o decreto, a taxa em São Paulo variava entre 42 e 43%, aproximadamente 1,5% a menos do que o observado após a medida. Dados do Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que traz informações sobre o índice de adesão ao isolamento social no Estado, apontam que o domingo, 28, foi o dia em que a população da capital menos circulou pelas ruas, quando a taxa de isolamento chegou a 50%. Ainda assim, os fins de semana costumam apresentar um número maior de pessoas em casa desde que o Plano São Paulo foi implementado. Nas últimas quarta e quinta-feira, 31 e 1º, a folga dos feriados municipais impactou em apenas 1% o índice de isolamento na capital, que ficou em 43%. Nos mesmos dias da semana anterior, a taxa era de 42%. O movimento anunciado por Covas na capital foi seguido por outros municípios de São Paulo, mas o impacto também foi baixo na taxa estadual, que teve média de 45,3% nos nove primeiros dias do feriadão e pico também no domingo, 28%, com 51%. A administração municipal não anunciou qual era a meta de isolamento pretendida com a antecipação dos feriados. No ano passado, o Estado havia divulgado ainda no início da pandemia que o ideal era chegar a 60%, mas membros do Centro de Contingência da Covid-19 têm evitado usar esse percentual nos últimos meses. Se ele ainda fosse válido, apenas três municípios paulistas teriam atingido o índice neste sábado, 3: São Joaquim da Barra (68%), Mococa (61%) e Bertioga (60%). Municípios do litoral norte e da Baixada Santista adotaram restrições e barreiras sanitárias para conter turistasEm meio ao agravamento da pandemia da covid-19 no Estado, o anúncio do megaferiado preocupou os municípios do litoral norte e da Baixada Santista, que fizeram barreiras sanitárias e tomaram medidas diversas para desestimular a procura de turistas. Kayo Amado (PODE), prefeito de São Vicente, se diz um “grande crítico” da antecipação dos feriados. Ele determinou a realização de barreiras sanitárias e atividades de orientação, além da instalação de faixas em espaços que atraem visitantes. No mirante da Ilha do Porchat, contudo, turistas chegaram a arrancar a sinalização e se aglomerar no local para fazer fotos e confraternizar. “É um cenário muito ruim que a gente observa. O feriado pode ter dado efeitos até positivos para a capital e os municípios do entorno que fizeram, mas, com certeza, impactou no trabalho desafiador que a gente já estava fazendo em São Vicente e na Baixada, com medidas mais restritivas”, afirma. Ele comenta que, pela quantidade de acessos, é “impossível” abordar todos que entram no município e, por isso, defendia que fossem feitas barreiras e testagem para covid-19 no pedágio, antes da descida. Além disso, comenta que, no mínimo, o megaferiado aumentou os custos das prefeituras, que tiveram que mobilizar equipes da Guarda Civil, da Vigilância Sanitária e outros setores para fazer ações de fiscalização e restrição. “Se ainda fosse só o custo, o que já é grande coisa, mas (ainda há) o risco à saúde pública.” O prefeito lembra que chegou a acionar a Justiça para cancelar o megaferiado, mas não teve decisão favorável. “Se o prefeito de São Paulo precisa tomar medidas mais rígidas de restrição, que as tome, como a gente teve coragem de fazer aqui embaixo. Mas que não jogue a responsabilidade para a gente, diminuindo a população presente no território dele.” São Vicente está com cerca de 100% dos leitos de UTI ocupados.”O cenário é bastante grave (na Baixada Santista), porque os leitos privados estão em colapso e os públicos à beira dele”, acrescenta. Em Bertioga, por sua vez, 15 entradas foram bloqueadas e a gestão municipal instalou três barreiras sanitárias entre o centro e a Riviera de São Lourenço, com funcionamento 24 horas e que abordaram mais de 21,5 mil veículos até a tarde de sábado, dos quais 1,1 tiveram de realizar o retorno à cidade de origem. Para o prefeito, Caio Matheus (PSDB), a adoção conjunta no litoral desse tipo de iniciativa e o cancelamento da Operação Descida ajudaram a reduzir o fluxo de turistas. “Foi vital para que a gente pudesse dar conta da pressão de São Paulo, com o intuito de minimizar a descida das pessoas”, aponta. Segundo ele, o fluxo foi até menor do que o esperado, mas “algumas pessoas insistiram, de maneira irresponsável, em tentar descer”, mesmo com as praias e os calçadões fechados. O prefeito afirmou, contudo, que foram recebidas “poucas” denúncias de aluguel de imóveis, que foi vetado na cidade. “A fiscalização está atuando na faixa de areia e tirando o pessoal. A praia está vazia mesmo com o sol.” Bertioga está com 100% de ocupação na UTI, média que teve baixa variação nas últimas duas semanas. “A praia não vai sair do lugar e o sol vai nascer diversas outras vezes. Então, é bom estar vivo para curtir tudo isso aí”, destacou o prefeito. Prefeita de Praia Grande, Raquel Chini (PSDB), conta que chegou a defender a instalação de barreiras sanitárias no sistema Anchieta-Imigrantes para orientar os motoristas sobre as restrições no litoral, mas a proposta não foi acatada. Ela avalia que as medidas tomadas pelos municípios da Baixada Santista foram acertadas. “Funcionou bastante. Quando soubemos do feriadão decretado pelo Bruno Covas, a gente ficou muito preocupado, porque somos muito próximos da capital”, comenta. “Fizemos o possível para orientar as pessoas. Com isso, diminuímos o fluxo de pessoas na cidade”, aponta. “As pessoas chegaram e não encontraram nada, com a praia fechada, e acabaram retornando.” Segundo ela, ocorreram algumas aglomerações de turistas em casas alugadas, que foram autuadas. “Tomamos atitude na hora certa. Com o fechamento da cidade, as pessoas não tiveram opção.” Já a vice-prefeita
Governo prevê gastar até R$ 10 bi para bancar novo programa de redução de salários
O novo programa de redução de jornada e salário ou suspensão de contrato deve alcançar entre 3,8 milhões e 4 milhões de trabalhadores, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Esse é o número máximo de acordos entre empresas e empregados que podem ser abarcados pelo valor estipulado para bancar a medida, que deve ficar em R$ 9,8 bilhões. Os recursos pagarão o benefício emergencial (BEm), que compensa parte da perda salarial, e os custos operacionais do programa. As estimativas são maiores do que as iniciais porque o governo quer garantir cobertura e disponibilidade de recursos em caso de necessidade, uma vez que diversos prefeitos e governadores têm adotado medidas mais rígidas de distanciamento social. O setor de serviços é um dos mais afetados e tem assistido a um aumento de demissões nas últimas semanas, segundo representantes do segmento. Como revelou o Estadão/Broadcast em março, o governo previa inicialmente destinar entre R$ 5,8 bilhões e R$ 6,5 bilhões ao BEm, considerando a realização de 2,7 milhões a 3 milhões de acordos. No ano passado, o governo destinou R$ 33,5 bilhões ao programa, que registrou mais de 10 milhões de acordos entre empresas e trabalhadores. A recriação do programa e a abertura do crédito extraordinário que liberará os recursos, porém, estão travadas porque a área fiscal do Ministério da Economia entende que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 exige uma compensação para os gastos. Um dos artigos diz que proposição legislativa que implique aumento de despesa, ainda que temporário, precisa estar acompanhada de compensação por aumento de receita ou corte de gasto. Na prática, um crédito extraordinário para programas já existentes (como ações da saúde) não precisa de contrapartida, mas a criação de um novo programa (como o BEm) requer a compensação, segundo a redação atual da LDO. A equipe econômica ainda discute como resolver o impasse. Uma das alternativas é enviar e aprovar um projeto de lei para alterar a LDO e destravar o crédito. Outra opção, mais difícil, é encontrar uma fonte de compensação. O obstáculo tem irritado a equipe que trabalhou no desenho do programa, uma vez que até o ministro da Economia, Paulo Guedes, já anunciou publicamente que a nova rodada dos acordos será bancada por meio desse tipo de crédito – que fica fora do teto de gastos, a regra que limita o avanço das despesas à inflação. Rumores de novo decreto de calamidade públicaO impasse tem alimentado rumores sobre um novo decreto de calamidade pública, que destravaria os recursos do BEm. Fontes da área econômica, porém, resistem a essa alternativa porque abriria de vez a porteira para outros gastos que não são considerados extremamente necessários para o momento. A demora também tem incomodado empresários. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, lembra que o presidente Jair Bolsonaro disse em 27 de janeiro que em 15 dias daria uma resposta sobre a reedição do BEm. “Se tivesse respondido em 15 dias, teríamos poupado demissões e fechamento de empresas”, alertou Solmucci. O governo deve reeditar o programa nos mesmos moldes do ano passado, com acordos para redução proporcional de jornada e salário em 25%, 50% ou 70%, ou suspensão total do contrato. As medidas poderão ser adotadas por até quatro meses. Para ajudar o trabalhador, o governo pagará o benefício emergencial, calculado sobre o valor do seguro-desemprego a que ele teria direito se fosse demitido. O ESTADO DE S. PAULO