Governo mexeu com honra da China e isso não sai de graça, diz professor sobre insumo

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Após dar o pontapé na campanha de vacinação no domingo passado, o Brasil agora se vê envolvido em dificuldades para conseguir manter o ritmo de imunização inicialmente planejado. Isso porque insumos necessários para a continuidade da produção pelo Instituto Butantan estão parados na China e sem eles a programação de quem receberá as doses poderá ser alterada. O Estadão conversou sobre o assunto com o professor e diplomata Fausto Martha Godoy, coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos na ESPM. Leia a entrevista: Por que a demora na negociação de insumos entre Brasil e China?O governo chinês tem atualmente tremenda má vontade em relação ao Brasil. A China se recuperou do que passou, mas eles têm um conceito de honra muito importante, é um dos pilares de sua estrutura. O governo brasileiro cutucou a honra desse país e isso não vai sair de graça. A demora tem relação com a crise diplomática provocada por Eduardo Bolsonaro no ano passado?Quando começaram as primeiras manifestações do Bolsonaro e do filho, a embaixada reagiu de maneira contundente para os padrões chineses. Sei por experiência própria que nenhum diplomata se manifesta daquela maneira sem autorização do governo e principais autoridades do país. Desde então existe essa má vontade com relação ao governo atual. A boa relação do governo de São Paulo com o laboratório chinês Sinovac pode ajudar nesse acordo?Acontece que quando aconteceu essa crise, o governador de São Paulo já foi logo tratar com a Sinovac e garantiu a remessa para o Estado. O governo chinês sempre honrou com suas parcerias estratégicas. Existe uma relação do governo chinês com São Paulo e outra com o Brasil. Não digo que a China vai boicotar o Brasil porque iriam contra humanidade. Mas vão priorizar quem têm boa relação com eles inicialmente. São Paulo não é Brasil e quem sabe pode conseguir melhorar essa relação. O ESTADO DE S. PAULO

Política ambiental de Bolsonaro deve dificultar relação comercial de Brasil e EUA

Após quatro anos de incerteza no comércio internacional causada pela tensão entre China e Estados Unidos, os exportadores brasileiros passam a ter outro motivo de apreensão a partir de hoje, com a chegada de Joe Biden à Casa Branca. A preocupação começa a ser, agora, com a política ambiental do governo Jair Bolsonaro, que já vem estremecendo as relações com a União Europeia. Antes mesmo de ser eleito, o então candidato democrata ameaçou o Brasil por causa da falta de medidas para frear o desmatamento da Amazônia. “Se não parar (o desmatamento), vai enfrentar consequências econômicas significativas”, disse. Biden não especificou se poderia haver sanções comerciais, mas, segundo Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é possível vislumbrar um cenário negativo para os exportadores brasileiros. “A péssima reputação do governo Bolsonaro no quesito ambiental já abriu espaço para que protecionistas no exterior fechem seus mercados para produtos brasileiros. O acordo de livre-comércio com a União Europeia está congelado. Houve países como Irlanda que ameaçaram punir as exportações brasileiras. Não é inconcebível que interesses protecionistas nos EUA aproveitem a reputação do Brasil nesse quesito, durante o governo Biden, para tentar bloquear o acesso brasileiro ao mercado americano.” Spektor destaca que possíveis bloqueios dependerão também da situação dos EUA e poderão mudar de segmento para segmento. Restrições à importação de laranja, por exemplo, costumam ser improváveis quando ocorrem geadas na Flórida, prejudicando a produção local. O advogado Welber Barral, secretário de Comércio Exterior entre 2007 e 2011, destaca que as relações comerciais foram estáveis nos últimos anos e vê na política ambiental brasileira o único ponto com potencial para alterar essa tendência. “Nos últimos dez anos, não houve grande alteração no fluxo entre os países, que diminui quando tem crise, mas depois melhora. O que pode mudar isso é alguma orientação de Biden em relação às exigências ambientais.” Segundo ele, a administração Biden poderia seguir o exemplo da União Europeia, onde está em consulta pública a possibilidade de se introduzir sanções a mercadorias cuja produção tenha causado desmatamento. O economista Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, diz, porém, que o maior risco estaria nos fluxos de investimento direto e financeiro. “O País poderia ser enquadrado por não ter boas práticas ESG (sigla em inglês para aspectos ambiental, social e governança), e isso ser um limitador de investimento, como já vimos fundos europeus fazerem.” As dificuldades decorrentes da política ambiental são uma das poucas questões que os especialistas já veem como definidas. Em outras áreas, ainda será preciso aguardar maiores sinalizações (leia mais abaixo). Por enquanto, ainda não está definido nem quem será responsável por comandar a implementação do acordo de facilitação de comércio, assinado em setembro, e que em tese poderia reduzir a burocracia nas exportações. A intenção é que o documento seja também a base para um acordo comercial mais amplo. Para Barral, não é possível prever se Biden vai dar continuidade ao projeto. O economista-chefe do banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, afirma, porém, acreditar que o presidente eleito será pragmático. “Vejo os EUA mantendo os acordos. A relação entre os países tende a ser amigável, porque o Brasil também tem uma importância geopolítica na região.” A concretização de um acordo comercial entre os países seria, segundo Barral, a única forma de alavancar as exportações brasileiras para os EUA. “Quando o consumo aumenta lá, o Brasil não tem competitividade para aumentar sua parte.” O ESTADO DE S. PAULO

Como o pleno emprego se tornou o lema de Washington

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Enquanto o presidente eleito Joe Biden se prepara para assumir o cargo nesta semana, sua equipe e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) apontam para uma meta econômica significativa: fazer o mercado de trabalho voltar ao ponto em que estava antes da pandemia. O cenário que existia 11 meses atrás – com 3,5% de desemprego, participação estável ou crescente da força de trabalho e salários cada vez maiores – acabou sendo uma receita para levantar todos os barcos, criar oportunidades econômicas para grupos há muito marginalizados e reduzir as taxas de pobreza. E os aumentos de preço permaneceram administráveis e até mesmo um pouco negativos. Isso contrasta com os esforços para empurrar os limites do mercado de trabalho na década de 1960, que são amplamente responsabilizados por estabelecer as bases para a inflação galopante. Então, a pandemia interrompeu o teste em execução e os esforços para conter o vírus levaram o desemprego a disparar para níveis nunca vistos desde a Grande Depressão. A recuperação foi interrompida por novas ondas de contágio, mantendo milhões de trabalhadores afastados e causando o recomeço da perda de empregos. Os legisladores de todo o governo concordam que um retorno a esse mercado de trabalho aquecido deve ser uma meta central, uma mudança notável desde a última expansão econômica e que poderia ajudar a configurar a recuperação econômica. Biden deixou claro que seu governo se concentrará nos trabalhadores e escolheu uma equipe experiente e com foco no mercado de trabalho. Janet Yellen, economista e ex-presidente do Fed, será a secretária do Tesouro e Marty Walsh, ex-líder sindical, o secretário do Trabalho. No passado, legisladores e funcionários do Fed tendiam a pregar lealdade ao pleno emprego – a menor taxa de desemprego que uma economia pode sustentar sem alimentar uma inflação alta ou outras instabilidades – enquanto retiravam o apoio fiscal e monetário antes de atingir essa meta, pois temiam que uma abordagem mais paciente causasse picos de preços e outros problemas. Essa timidez parece menos provável de ser vista desta vez. Biden assume o cargo enquanto os democratas controlam a Câmara e o Senado e em um momento em que muitos políticos estão menos preocupados com a possibilidade de o governo assumir dívidas graças aos custos de empréstimos historicamente baixos. E o Fed, que tem um histórico de aumento das taxas de juros à medida que o desemprego cai e o Congresso gasta mais do que arrecada em impostos, comprometeu-se a ter mais paciência desta vez. “Pesquisas econômicas confirmam que com condições como a crise atual, especialmente com taxas de juros tão baixas, tomar medidas imediatas – mesmo com financiamento do déficit – vai ajudar a economia, a longo e curto prazo”, disse Biden em entrevista coletiva em 8 de janeiro, destacando que uma ação rápida “reduziria as cicatrizes no mercado de trabalho”. Jerome Powell, presidente do Fed, disse na quinta-feira que sua instituição está fortemente focada em reestabelecer as taxas de desemprego mais baixas. “Isso é realmente no que estamos mais focados – voltar a um mercado de trabalho forte com rapidez suficiente para que as vidas das pessoas possam voltar para onde elas querem”, disse Powell. “Estávamos em um bom lugar em fevereiro de 2020 e achamos que podemos voltar para aquele ponto, eu diria, muito mais cedo do que temíamos”. O cenário está armado para um experimento macroeconômico, que testará se grandes pacotes de gastos do governo e políticas do banco central favoráveis ao crescimento podem trabalhar juntos para promover uma recuperação rápida que inclua uma ampla faixa de americanos sem ficar sujeito a efeitos colaterais prejudiciais. “O que acontece com o Fed é que realmente ele é a maré que levanta todos os barcos”, disse Nela Richardson, economista-chefe do processador de folhas de pagamento ADP, explicando que o banco central focado no trabalho pode estabelecer as bases para um crescimento robusto. “O que a política fiscal pode fazer é atingir comunidades específicas de uma forma que o Fed não consegue”. O governo gastou prontamente para apoiar a economia diante da pandemia e os analistas esperam que mais ajuda esteja a caminho. A equipe de Biden sugeriu um ambicioso pacote de gastos de US$ 1,9 trilhão. Os dirigentes do Fed agora são muito mais modestos quanto a julgar se a economia está ou não em “pleno emprego”. No rastro da crise de 2008, eles pensavam que o desemprego estava testando seus limites saudáveis, mas o desemprego continuou a cair drasticamente, sem alimentar aumentos de preços descontrolados. Em agosto de 2020, Powell disse que ele e seus colegas agora se concentrarão nas “limitações” do pleno emprego, ao invés de “desvios”. A menos que a inflação esteja realmente aumentando ou os riscos financeiros aumentem, eles verão a queda do desemprego como um desenvolvimento bem-vindo e não um risco a ser evitado. Isso significa que as taxas de juros provavelmente permanecerão próximas de zero por anos. Dirigentes do Fed também sinalizaram que esperam continuar comprando grandes somas de títulos de dívidas apoiados pelo governo, cerca de US$ 120 bilhões por mês, pelo menos nos próximos meses. O apoio do Fed pode ajudar os gastos do governo a acelerar a demanda. Espera-se que as famílias acumulem grandes reservas de poupança ao receberem cheques de estímulo no início de 2021 e, depois, saquem esse dinheiro conforme as vacinas sejam administradas e a vida econômica normal seja retomada. Taxas baixas podem dar espaço a grandes investimentos – como casas – mais atraentes. Ainda assim, alguns analistas alertam que as políticas de hoje podem resultar em problemas futuros, como inflação galopante, tomada de risco do mercado financeiro ou uma dívida pendente prejudicial. Existem razões para acreditar que desta vez seja diferente. A inflação está baixa há décadas e permanece contida em todo o mundo. A relação entre desemprego e salários e salários e preços tem sido mais tênue do que nas últimas décadas. Do Japão à Europa, o problema do momento são os fracos benefícios de preços que prendem as economias em ciclos de estagnação ao erodir

Biden inicia guinada contra legado populista que Trump disseminou

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Joe Biden toma posse nesta quarta-feira, 20, com a missão de mudar a direção dos Estados Unidos e recolocar um país dividido no caminho da normalidade. A mudança na política americana aponta para uma reorientação da ordem democrática global. Com Biden, o país deve deixar de flertar com líderes autoritários e populistas que nele se espelharam, quando não o imitaram. Os EUA devem abandonar o isolacionismo, restabelecer seu “soft power” e voltar à mesa de negociações internacionais. Com a posse de Kamala Harris como vice, primeira mulher e primeira negra a chegar à Casa Branca, os democratas acenam também para um futuro que difere muito dos últimos quatro anos. Em novembro, 81,2 milhões de americanos votaram na chapa democrata, que representa o avesso do que foi o governo Donald Trump. Biden e Kamala receberam o maior número de votos da história americana. Durante quatro anos, o republicano explorou as divisões da sociedade como plataforma política. Os democratas terão dificuldade para romper essa polarização. Trump atacou as instituições, inflamou a população e rompeu relações com aliados. Biden, uma saída de centro costurada dentro de seu partido, promete valorizar as instituições democráticas – ainda sob influência do ataque inédito ao Capitólio – e a dialogar com opositores. O democrata promete privilegiar a ciência para resolver questões de saúde ou de clima e buscar saídas multilaterais no palco global. “Biden é alguém que acredita no sistema de governo americano. Por isso, escolheu para o governo pessoas com história no setor público e não indicações políticas que tentam desmantelar os órgãos para os quais trabalham. Vamos entrar em um período de estabilidade”, afirma Michael Traugott, cientista político e professor da Universidade de Michigan. Aos 78 anos, presidente mais velho a tomar posse e ciente de que não representa a figura que inspira o eleitorado jovem, ele assume também com a promessa de ser um presidente de transição, de um mandato só. O futuro seria representado por Kamala Harris. Assim que assumir o cargo, o democrata planeja assinar uma série de ordens executivas que confirmam sua ambição de promover uma guinada no país ao desfazer ações de Trump. O novo governo deve derrubar o veto imigratório de países de maioria muçulmana, começar a recolocar o país no Acordo Climático de Paris e tornar obrigatório o uso de máscara em prédios federais e viagens interestaduais – todas decisões contrárias às impostas por Trump. “Trump não acredita no papel do governo e por isso os EUA sofreram na pandemia com a falta de organização e ação do governo federal. Biden tem uma visão completamente diferente sobre o papel do governo e vamos perceber isso quando discutirmos, por exemplo, distribuição das vacinas”, afirma Traugott. Ainda nos primeiros dias, Biden planeja enviar ao Congresso o pacote de socorro de US$ 1,9 trilhão (cerca de R$ 10,8 trilhões) para alívio da economia e um projeto de reforma imigratória que garanta direitos aos que chegaram ao país ilegalmente. Trump chegou à presidência como o mais impopular eleito à Casa Branca. Na semana anterior ao fim de seu mandato, ele praticamente não apareceu em público e foi banido das redes sociais, por onde governou. Deixa o poder com seu pior índice de popularidade, 34%, segundo o instituto Gallup, ficando entre os quatro piores da história desde Harry Truman (1945-1953). Ainda assim, ele sai após obter 74 milhões de votos na eleição de novembro, com uma base fiel e um julgamento de impeachment pendente no Senado. Um processo que poderia torná-lo inelegível. O ESTADO DE S. PAULO

‘Continuamos capazes de superar tormentas’, diz Mario Sergio Cortella

Filósofo, educador, ex-carmelita, escritor, professor, palestrante: a soma de atividades às quais se dedica o paranaense Mario Sergio Cortella* basta para bem defini-lo. No futebol, diriam que ele “joga com as 11 (camisas)”. Na vida real, ele não para de escrever, dar palestras, fazer comentários em rádio e TV – e assim construiu uma cabeça pensante ampla e irrestrita sobre o País, o mundo, as pessoas, os valores. Por exemplo, ao falar da pandemia nesta entrevista para o projeto Cenários: “Continuamos capazes de superar algumas tormentas. (…) Mas, por outro lado, somos mais tolos como humanidade, individual e coletivamente, do que seria bom”. Sempre dedicado a contornar arestas, Cortella afirma também: “Ser pacifista não significa ser passivo; passivo é quem recua e se acomoda”. Sobre política e liberdade, ele adverte: “Democracia não é ausência de ordem, é ausência de opressão”. E coroando esse conjunto, neste 2021 tão incerto, ele enfatiza o humano presente nos desafios diários trazidos pelo coronavírus: “Não posso chegar a 2022 são e salvo e, ao olhar para trás, ver que abandonei tanta gente que também deveria caminhar e chegar bem”. A seguir, principais trechos da entrevista. Terminamos um ano nada fácil, com pandemia e economia em queda. Que balanço o sr. faria desse 2020?A primeira coisa é que teríamos de retroagir ao que cantamos lá atrás, no 31 de dezembro de 2019. Mas para agora cantar ‘Adeus ano novo, feliz ano velho…’ O que essa paralisia, essa quarentena, teve de bom e de ruim?Uma das coisas ruins é a nossa perplexidade quanto à dificuldade para enfrentar o vírus, mesmo com todo o avanço tecnológico e pujança de algumas economias. Ele se mostrou muito mais resistente. Esse é o lado das consequências danosas, o desarranjo nas nossas vidas. O lado bom é enxergar que, quando fazemos ciência colaborativa, percebemos que é um momento difícil mas não intransponível, e isso nos oferece um pouco mais de esperança. Continuamos capazes de ultrapassar algumas tormentas. Acha que o mundo vai sair mais unido dessa batalha?No meu campo de desejo, sim, mas ele não corresponde à realidade. Seria ótimo que saíssemos com mais inteligência, mais solidariedade. Mas minha razão mostra que não. Ela mostra que nós somos mais tolos como humanidade, individual e coletivamente, do que seria bom. A experiência prática mostra que, se você coloca 10 crianças numa sala e dá uma bola para cada uma brincar, você volta horas depois e encontra uma criança com três bolas, uma com o olho roxo, duas chorando. Tem como mudar a natureza humana?Freud já dizia que só uma civilização – ou seja, um ordenamento mais restritivo das condutas – dará saída à nossa forma individualista de ação. Enquanto natureza, enquanto indivíduos, somos seres competitivos, egoístas, temos a autopreservação como horizonte. Mas não somos só isso. Temos necessidade de agregação, pois, do contrário, perecemos. Naquela sala das crianças, basta uma delas depender das outras que ela notará a necessidade de negociar um modo de convivência. Essa disputa tornou-se maior quando o homem começou a se juntar em comunidades. É por aí?Como nômades, não havia possibilidade de tanto encontro nem tanto atrito, mas isso reduzia nossa capacidade de sobrevivência. É só imaginar uma pessoa sozinha numa casa. Ela pode fazer o que desejar, mas está mais desprotegida. Não tem com quem contar. Como disse o poeta inglês John Donne, nenhum homem é uma ilha. Somos um arquipélago, temos de viver agregados, com todas as perturbações que isso nos traz. O sr. fala muito sobre ética. Como falar sobre ética no Brasil de hoje?É necessário fazê-lo. A ética não foi suspensa durante a pandemia. E esta não é, de modo algum, uma espécie de passaporte para o desvario. Ao contrário. É preciso que a gente não rompa todas as formas de ligação. Mas quem deverá decidir o que é o bem e o que é o mal?É o conjunto de uma sociedade. Alguns usam a religião para chegar a essa definição, outros a filosofia. Há 30 anos, não haveria problemas para um homem se ele fosse inconveniente com uma mulher. Hoje, não é mais assim. Se marido e mulher se estapeassem, diziam: ‘Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’. Hoje, é um delito a ser punido. Nosso País, como qualquer outro, tem momentos em que a ética da decência é protegida. Em outros, a ética é a da indecência. Não temos ainda uma ética universal. O que chegou mais perto foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. Então, é questão de ponto de vista.É o tempo histórico. Veja um exemplo concreto: os Dez Mandamentos da lei mosaica, que influenciaram o cristianismo e o islamismo. No 9.º mandamento, está dito que ‘não cobiçarás a mulher do próximo’. Mas ele foi produzido no século 14 a.C. e está ligado aquele tempo. E foi escrito referindo-se à propriedade, não à fidelidade. O mandamento inteiro estava escrito assim: não cobiçar o boi, a terra e a mulher do próximo. Ou seja, o escrito vale no seu momento, no seu tempo. Por falar em momento, o que pensa do cenário político do País, com toda a atual polarização?O general Eurico Gaspar Dutra, presidente do Brasil logo após a II Guerra Mundial, dizia que a democracia era uma plantinha frágil que era preciso regar todos os dias. Nesse sentido, temos de cuidar de uma convivência que admita divergências, mas na qual o conflito não se transforme em confronto. Vemos hoje no Brasil, e em outros países, pessoas não admitindo que haja uma postura diferente da sua. Ao invés do diálogo, do convencimento, recorrem a uma retórica furiosa, tentando aterrorizar a outra pessoa. De onde acha que vem tudo isso?Do fato de termos hoje uma sociedade mais competitiva – a globalização levou a uma disputa maior pelos territórios econômicos. Ser pacifista não significa ser passivo. Passivo é quem recua e se acomoda. Democracia não é ausência de ordem, é ausência de opressão. Mas, hoje, há uma desvalorização desse tipo de paz, alguns desejam vencer pela

Inadimplência volta a subir entre pequenas empresas, com fim das medidas de auxílio

As medidas de auxílio a empresas chegaram ao fim, mas a pandemia, não. Após meses de baixa na inadimplência como resultado de acesso a crédito e diferimento de impostos, as empresas começam a receber a fatura da crise em um ambiente econômico ainda afetado pelo coronavírus. A expectativa dos economistas é que as dívidas em atraso ou débitos em aberto cresçam mais entre micro e pequenas empresas, principalmente nos segmentos de comércio e serviços, que dependem mais da movimentação de pessoas. Pesquisa do Sebrae mostra que, em novembro, 68% dos pequenos negócios no país tinham dívidas em aberto ou contas em atraso. Os débitos incluem contas com bancos, impostos e taxas, aluguel, fornecedores de matéria-prima e serviços. — A conta começa a bater na porta das empresas e muitas não estarão preparadas para assumir a dívida, porque serviços e comércio ainda estão se recuperando. O problema é que não tem nenhum programa de crédito ativo, e as incertezas daqui para frente causarão temor e devem diminuir a oferta de crédito nos bancos. Com isso, o empresário perde capacidade de pagamento — afirma Guilherme Reche, analista do Sebrae Rio. A taxa de inadimplência geral, considerando todos os portes de empresas, passou de 3% em 2019 para 2,3% no ano passado. Segundo Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, a inadimplência caiu de forma geral durante a pandemia, inclusive para pessoas físicas. Isso aconteceu em razão de medidas como o pagamento do auxílio emergencial, criado para ajudar os informais a atravessarem a crise, a taxa básica de juros na mínima histórica e outras medidas de estímulo. Agora, porém, a expectativa é de alta a partir de fevereiro: — Tudo aquilo que ajudou a reduzir a inadimplência no ano passado vai ser descontinuado e é provável que ela volte a subir. O economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, espera que a inadimplência chegue ao dobro da registrada no ano passado e recomenda que as empresas busquem renegociar: — A lógica das empresas é a mesma de uma casa. O ideal é tentar negociar a curto prazo toda dívida que puder. Mas, se está entrando menos recursos, tem que pagar o essencial e escolher o que adiar. Aumento de casos de CovidLevantamento feito pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostra que entre 24 de dezembro e 4 de janeiro, 57% dos estabelecimentos não conseguiram pagar em dia despesas com impostos, aluguel, salários e fornecedores. Entre eles, 63% estão em atraso com o Simples Nacional. O aumento de casos de Covid-19 já afeta os negócios. Apenas 19% estão funcionando como bufê, enquanto 76% estão com salão aberto e outros 16% atuam apenas com delivery ou retirada no local. Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, afirma que o setor caminha para a “insolvência” e defende um programa de refinanciamento do Simples Nacional. — Falta os governos terem sensibilidade de que as coisas pioraram e pioraram muito. Outra situação que preocupa os donos de bares e restaurantes é a manutenção dos empregos. O endividamento também é fator de preocupação para o setor. Apesar de 84% dos empresários de bares e restaurantes afirmarem que estão em dia com o pagamento de empréstimos, 64% fizeram novas dívidas para manter o negócio. Segundo Solmucci, muitos ainda se encontram no período de carência de empréstimos contraídos no ano passado, mas o benefício deve acabar no começo do ano. Mais da metade deles (53%) estimam que vão precisar de mais de um ano para que as dívidas voltem a um patamar aceitável. ‘A conta não fecha’O empresário Anselmo Guimarães tenta equilibrar os empréstimos feitos antes da pandemia, o financiamento do imóvel onde montou seu restaurante, o fluxo baixo de clientes e a alta de preços dos alimentos. O Bistrô das Artes fica no Centro e costumava receber uma média de 200 clientes no salão e 50 quentinhas por dia. Com a pandemia, a adoção do home office e o esvaziamento do centro da cidade, o cenário mudou: — A conta não fecha. Não consegui empréstimo bancário ano passado e o único recurso que usei foi a redução da jornada. Já tinha pendências financeiras com bancos e isso piorou muito com a pandemia. Vou pagando conforme der. Hoje, estamos no modo sobrevivência. Não tenho muito o que fazer. Já o empresário Francisco Muanis tinha quatro pizzarias no início da pandemia. Fechou uma delas e suspendeu o negócio em outra até o fim do ano passado. Ele conseguiu dois empréstimos pelo Pronampe, programa de crédito lançado durante a crise e encerrado no fim do ano passado, e a primeira parcela começa a ser paga em maio. E enfrenta outras dívidas: — Precisamos de ajuda para manter os empregos. Agora está mais complicado porque não temos mais as flexibilizações e ajuda que tínhamos no início. Para especialistas, a melhora do cenário para as pequenas empresas vai depender da retomada do mercado de trabalho. Mais gente trabalhando significa mais renda para consumo e mais faturamento para as empresas. — O ponto é que o mercado de trabalho precisa evoluir, mas ainda há muitas incertezas, como o tempo necessário para vacinação, o tempo de resposta à imunização, a segunda dose, entre outros aspectos — resumiu Imaizumi, da LCA. O GLOBO

INSS fecha 2020 com quase 1,7 milhão de pedidos de análise de benefícios na fila

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Após um ano marcado pela pandemia da covid-19, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fechou 2020 com quase 1,7 milhão de pedidos à espera de resposta do órgão, responsável pela concessão dos benefícios da Previdência Social. Do total, 1,2 milhão aguardavam ainda uma primeira análise; outras 477 mil solicitações estavam em “exigência”, quando o INSS pede a apresentação de documentação complementar do segurado. Para o órgão, os processos em fase de exigência não integrariam o estoque da fila, por já terem passado por avaliação inicial dos técnicos. Para resolver a pendência, o segurado precisa enviar as documentações solicitadas pelo site ou aplicativo Meu INSS ou, então, agendar a entrega em uma das agências do órgão. Os dados obtidos pelo Estadão mostram uma redução do estoque de pedidos acumulados, que chegou a 2,2 milhões em junho de 2019. O problema levou o governo a propor a contratação de servidores temporários para reduzir a fila. A pandemia da covid-19 dificultou ainda mais o trabalho das agências. Em dezembro de 2019, as pendências já haviam caído a 1,632 milhão e, em março de 2020, para 1,3 milhão. Segundo o INSS, os servidores têm analisado, em média, 835 mil benefícios por mês, o que inclui as análises feitas pelos temporários contratados para reforçar a equipe do órgão. Ainda assim, o tempo médio de espera para concessão dos benefícios é de 66 dias, acima do prazo máximo previsto em lei (45 dias) – mas menor que o já verificado no passado; alguns benefícios chegaram a ter prazo médio de 195 dias para concessão. Em entrevista ao Estadão, o presidente do INSS, Leonardo Rolim, antecipou medidas de aumento de produtividade, com metas individuais para análise dos pedidos (mais informações ao lado). Uma licitação será lançada com o objetivo de aumentar em quatro vezes a velocidade do sistema de processamento de dados da Dataprev. Outra licitação vai criar uma nova central do 135, o canal telefônico de atendimento do INSS. ‘Blindagem jurídica’Em novembro, o INSS, o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) assinaram um acordo para fixar prazos e dar “blindagem jurídica” ao esforço do órgão para zerar a fila de espera por benefícios. O período para análise terá limites de 30 a 90 dias, de acordo com o tipo de benefício ou auxílio solicitado. O INSS ganhou seis meses para adequar sua dinâmica de trabalho a esses novos prazos. “Esse é um desafio importante. O INSS assumiu um compromisso perante a sociedade de que esse prazo é para valer”, diz Rolim. Segundo ele, o INSS está ampliando o número de servidores na análise de requerimentos de 30% para 40% do total já a partir deste mês. Esse movimento será possível graças à transferência de servidores que hoje estão em áreas meio e de atendimento e que estão sendo substituídos pelos temporários. O órgão diz que a medida diminuirá o tempo de concessão, o que também significa economia para os cofres públicos, uma vez que a demora gera correção nos valores dos benefícios. A procuradora regional da República Zélia Pierdoná, que participou do grupo de discussão do acordo, diz que a expectativa é que o órgão conseguirá ajustar sua operação para cumprir os prazos antes mesmo dos seis meses. Para ela, embora o acordo signifique uma dilatação temporária nos prazos para a concessão dos benefícios, ele garante a proteção dos mais vulneráveis que estavam ficando para trás, enquanto pessoas com maior poder aquisitivo pagavam advogados para acionar a Justiça e “furar” a fila. “Hoje tem uma indústria da judicialização, e não são os mais vulneráveis que alimentam. É a ‘classe média’ dos trabalhadores”, afirma Zélia. Segundo ela, algumas pessoas estavam ingressando com ações judiciais r pedindo o benefício antes mesmo de expirar o prazo legal de 45 dias, sabendo que havia chance de sucesso. Veja os novos prazos para a concessão dos benefícios homologados pelo STF:Salário-maternidade: 30 diasAposentadoria por invalidez comum e acidentária: 45 diasAuxílio-doença comum e por acidente do trabalho: 45 diasPensão por morte: 60 diasAuxílio-reclusão: 60 diasAuxílio-acidente: 60 diasBenefício assistencial à pessoa com deficiência: 90 diasBenefício assistencial ao idoso: 90 diasAposentadorias, salvo por invalidez: 90 diasOs prazos para o cumprimento de decisões judiciais serão os seguintes (considerados a partir da intimação do INSS): Benefícios por incapacidade: 25 diasBenefícios assistenciais: 25 dias O ESTADO DE S. PAULO

Fusão com a Fiat representa chance de renascimento de Peugeot e Citröen no País

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A fusão com a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), que coloca a força de venda da Fiat, principalmente, como uma grande aliada, pode representar um marco de renascimento das marcas Peugeot e Citroën no Brasil. Com carros produzidos no País desde 2001, a dupla francesa tinha, uma década depois, mais de 5% do mercado nacional de veículos de passeio e utilitários leves, mas esta participação veio definhando até chegar a apenas 1,3% no ano passado. A união no Brasil é entre desiguais: as marcas da FCA vendem 17 vezes mais do que as marcas que, agora com a fusão, são “irmãs”. Do total de 460 mil carros vendidos no Brasil em 2020, a FCA respondeu por 434 mil, contra 26 mil da Peugeot S.A. (PSA). A diferença abissal – que não se repete nos mercados internacionais, onde há maior equilíbrio entre as marcas – joga, porém, a favor da PSA. A fusão na recém-criada Stellantis abriu a perspectiva para que tanto a Peugeot quanto a Citroën usufruam da capilaridade da rede de distribuição da FCA, com suas 640 concessionárias no País, o triplo da PSA (196). Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Carlos Tavares, CEO da Stellantis, deixou claro que haverá na nova organização uma rede de colaboração na qual uma marca dá apoio a outra. A possibilidade de venda de carros da Peugeot e da Citroën pelas concessionárias da Fiat nutre, contudo, a principal discórdia das revendas das marcas francesas em relação à união dos grupos, a ponto de associações que as representam pedirem, até agora sem sucesso, a suspensão temporária da fusão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A acusação das associações é de que, antes mesmo de a fusão ser concretizada, a PSA vinha consultando revendedores da Fiat sobre dividir suas lojas com as novas marcas. A estratégia parece fazer sentido pela perspectiva das marcas, que precisam aumentar vendas para reduzir a ociosidade das linhas de produção. Há, porém, um obstáculo legal. A venda de automóveis por lojas autorizadas é uma concessão regulada por lei. A chamada Lei Ferrari, de 1979, estabelece que os contratos entre fabricante e revenda podem impedir a venda de automóveis de uma marca diferente daquela que a credenciou. Este seria, de acordo com as associações, o ponto da lei infringido pela PSA. DiferençasNo Brasil, o quebra-cabeça da fusão tem na FCA uma peça maior, com seus grandes complexos industriais em Betim (MG), aberto em 1976, e Goiana (PE), além da unidade de produção de motores em Campo Largo (PR). A PSA conta com uma única fábrica, em Porto Real (RJ). No País, a pandemia teve maior impacto na PSA. As vendas das marcas francesas caíram 45% em 2020, enquanto as da FCA tiveram retração bem menor, de 13%. O mercado brasileiro, como um todo, amargou baixa de 26,6% no período. O baque da covid-19 chegou num momento em que, nas matrizes das grandes montadoras, uma série de mudanças estruturais as obriga a remanejar suas estruturas. A corrida pelo carro elétrico, que se tornou uma obrigação com as restrições de governos de países desenvolvidos aos motores à combustão interna, é uma delas. O fim do automóvel como objeto de desejo para as novas gerações é outra. Uma pesquisa feita pela KPMG em 2019 mostrou que 90% dos consumidores brasileiros gostariam de ter automóveis elétricos disponíveis no País, embora apenas 19% dos executivos de montadoras mostrassem plena convicção de sua viabilidade. Em outro ponto, 40% dos consumidores mostraram interesse em serviços de assinatura de veículos – uma opção à compra do automóvel que não estava no radar das montadoras até pouco tempo atrás. Essas mudanças induziram alianças, como a firmada entre a Renault-Nissan e a Mitsubishi, e fusões, como a que criou a Stellantis. “A fusão da FCA com a PSA é um modelo. E, no lado da FCA, não é a primeira nem a segunda tentativa”, diz Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo da KPMG no Brasil. “A indústria passou a responder por investimentos cada vez mais agressivos, e não tem caixa para isso. Então, as montadoras começaram a juntar forças para juntar orçamentos.” UniãoConsiderado hoje como um mercado de risco por investidores, o setor automotivo passa por transformação tão profunda “que fica difícil para qualquer montadora sobreviver sozinha”, avalia Antônio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV. Segundo ele, a necessidade de evolução tecnológica constante e fôlego financeiro para fazer isso vai ditar os rumos do setor. Por isso ele vê a fusão da PSA e da FCA como uma salvação para ambas, lá fora e no Brasil. Martins ressalta que várias ações já estão ocorrendo. Uma delas é a parceria global anunciada ontem entre General Motors e Microsoft para acelerar a venda de veículos autônomos, assim como a aliança feita no ano passado entre Honda e GM para o compartilhamento de plataformas de carros elétricos e motores. Também há negociações da Hyundai com a Apple para a produção o carro elétrico da empresa de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. “Hoje são necessários grupos robustos para enfrentar os desafios do setor”, afirma Martins. O ESTADO DE S. PAULO

Piora na pandemia prejudica retomada do setor de serviços

O aumento nos novos casos de Covid-19 e a presença de uma nova e mais contagiosa variante do vírus no Brasil devem impactar a retomada do setor de serviços, que responde por cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Segundo analistas do mercado, o início da vacinação no Brasil nesta semana não muda as perspectivas negativas para o setor e há o receio de que neste ano a pandemia seja pior do que em 2020. Segundo o presidente do Instituto do Butantan, Dimas Covas, o quadro pode piorar caso não sejam empregadas medidas para reduzir os casos e aumente a compra de vacinas o quanto antes. Em live fechada da XP na manhã desta terça (19), Covas também disse ver como inevitável a mudança para a bandeira vermelha em São Paulo, que tem medidas mais drásticas de isolamento social. “O mercado ajustou a conta. Estamos em compasso de espera. Retomada do varejo não vai acontecer agora e a Bolsa ainda não reflete a alta nos casos”, diz Fabio Galdino, sócio da Vero Investimentos. “As pessoas evitaram fazer consumo e prestação de serviços que possam ter contaminação, e agora essa piora dos casos deve impactar os segmentos que mostraram dificuldade para voltarem ao patamar anterior”, afirma Rodolpho Tobler, professor da FGV. Além disso, o fim do auxílio emergencial deve deixar ao menos 40 milhões de pessoas desamparadas. Segundo a Caixa Econômica, 67,9 milhões de pessoas receberam o benefício em 2020 —dessas, 19,2 milhões estão inscritos no Bolsa Família. “A indústria vem no seu ritmo de recuperação forte, o agronegócio tem vida própria, mas serviços depende muito da redução do isolamento social. E agora estamos vendo em alguns lugares uma certa retomada em medidas de isolamento”, diz Écio Costa, professor da UFPE. Ele classifica a perspectiva para a economia no segundo trimestre como preocupante, especialmente sem vacinação massiva como contraponto à retirada do auxílio e estímulos econômicos no Brasil. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor de serviços cresceu 2,6% em novembro, a sexta alta seguida, mas ainda insuficiente para cobrir as perdas da pandemia. Atividades ligadas a serviços são as mais afetadas pelas medidas de isolamento social. O volume de vendas do setor ainda está 3,2% abaixo do registrado em fevereiro, antes da chegada da Covid-19 ao Brasil. Os mais afetados são serviços prestados às famílias e atividades turísticas, alojamento, alimentação fora de casa, serviços pessoais e transportes aéreos. O segmento de serviços administrativos está 13,5% distante do pré-pandemia. “Já esperávamos um recrudescimento da pandemia nesta virada de ano, especialmente pelas festas. A nova linhagem deixa a situação mais preocupante e é algo que pode afetar nossa retomada”, diz João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos. Em dezembro, o setor de serviços teve aceleração do crescimento e melhora da confiança, diante da perspectiva de vacinas contra a Covid-19, segundo dados do PMI (Índice de Gerentes de Compras, na sigla em inglês) divulgados no dia 6 pelo IHS Markit. O PMI encerrou 2020 a 51,1 pontos, de 50,9 em novembro —a marca de 50 separa crescimento de contração. Os participantes da pesquisa também associaram o crescimento maior à reabertura de alguns estabelecimentos e condições melhores de demanda. Em dezembro, as novas encomendas aumentaram pelo quinto mês seguido, com a taxa de expansão acelerando em relação a novembro. No entanto, o número de empregos caiu no setor naquele mês, depois de aumentar em novembro pela primeira vez em nove meses. Os entrevistados citaram esforços para reduzir gastos e aumento nos casos de Covid-19. “Embora os dados deem alguma garantia bem-vinda de que a economia de serviços continua a mostrar resiliência na pandemia, a sustentabilidade da recuperação fica em dúvida quando se olha para os dados de emprego”, afirma Pollyanna De Lima, diretora econômica da IHS Markit. “O aumento das infecções antes que as vacinas se tornem amplamente disponíveis pode causar novas restrições e abreviar a recuperação”, completou. Nesse cenário, as ações ligadas a serviços apresentam quedas na Bolsa de Valores brasileira em 2021, especialmente com novos lockdowns em países como Inglaterra , Escócia e Alemanha. No pregão após o feriado de Natal, em 28 de dezembro, até esta terça (19), a Multiplan, dona de 19 shoppings centers, acumula queda de 12,65%, a terceira maior desvalorização do Ibovespa no período. Iguatemi cai 7,93% e BR Malls, 7,80% A segunda maior queda do Ibovespa é da Via Varejo, com recuo de 13,68%. Enquanto isso, o índice sobe 1,27%. Já as açõs da Gol acumulam queda de 4,16% e as da Azul, de 0,47%. Os papéis da CVC sobem 0,96%. “Podemos esperar atividade econômica do primeiro trimestre bem fraca com piora da pandemia e fim do auxílio. Sem direcionamento claro sobre vacina, ficamos no limbo”, diz Leal. Segundo Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, as ações do setor também sofrem pela alta no preço das matérias primas, que levou investidores a preferirem ações de commodities, como Petrobras e Vale. “Todas as companhias com maior exposição no doméstico estão sofrendo, principalmente pela maior exposição que os fundos têm tomado em relação às commodities”, diz Esteter. FOLHA DE S. PAULO

Confiança do trabalhador cai nos últimos meses de 2020, segundo pesquisa do LinkedIn

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O Índice de Confiança do Trabalhador no Brasil, pesquisa promovida pelo Linkedin sobre o sentimento dos profissionais cadastrados na plataforma quanto a busca por emprego, renda e carreira, registrou, em sua quinta edição, o total de 58 pontos, uma queda de dois pontos em relação ao levantamento anterior. Segundo o LinkedIn, os resultados foram puxados principalmente pela queda no nível de confiança dos trabalhadores em relação à segurança do próprio emprego. Nesse quesito, os trabalhadores de pequenas empresas estão mais confiantes em sua capacidade de manter o emprego e crescer em suas carreiras. Entre as regiões pesquisadas, os trabalhadores da Grande Belo Horizonte terminaram o ano de 2020 como os mais otimistas do Brasil, seguidos por Porto Alegre e Curitiba. Os dados foram coletados entre 5 de outubro de 2020 e 1 de janeiro de 2021, por uma pesquisa realizada via e-mail, com resposta de 5,1 mil usuários da rede. Para gerar o índice, três pontos são analisados: segurança no próprio emprego, perspectiva financeira e chance de progressão na carreira. São consideradas apenas as respostas daqueles que são atualmente ativos na força de trabalho. O índice opera em um intervalo de -100 a +100. Estresse e saúde mentalOutro ponto levantado pela pesquisa é o nível de estresse dos trabalhadores, que registrou aumento no fim de 2020. Entre os profissionais empregados, 63% afirmaram se sentir estressados, já entre os desempregados ou que procuravam por uma oportunidade o índice é de 69%. O recorte de gênero deixa evidente que as mulheres estão mais estressadas (74%) do que os homens (58%), o que, segundo o LinkedIn, pode estar relacionado à dupla jornada de trabalho, agravada pela pandemia do coronavírus. Os respondentes também manifestaram que a saúde mental e física foram consideradas prioridades no período, com cerca da metade deles preocupados com cada uma delas. O ESTADO DE S. PAULO