Entidades pedem urgência ao Congresso na deliberação da reforma tributária
Um grupo criado por entidades como a Endeavor, de apoio ao empreendedorismo, o Centro de Liderança Pública e a coalizão por igualdade Unidos Pelo Brasil enviará um manifesto ao Congresso pedindo urgência na deliberação sobre a reforma tributária. BOLSO Criado no fim de 2020, o Movimento Pra Ser Justo entregará o documento aos candidatos à presidência da Câmara dos Deputados e do Senado. FOLHA DE S. PAULO
Por que se calam? (Adriana Fernandes)
Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro e apoiadores, sempre quando confrontados sobre a negação da realidade da covid-19, saem com o discurso de que “economia é vida” e que o Brasil precisa voltar à normalidade mesmo diante de um cenário de contaminação e mortes. Em maio, no pico inicial da doença, Bolsonaro atravessou a Praça dos Três Poderes na direção do Supremo Tribunal Federal acompanhado de um grupo de empresários para fazer pressão para que as medidas restritivas nos Estados fossem amenizadas. Os empresários que estavam junto com o presidente naquele dia pregavam a volta dos negócios o mais rápido possível e a flexibilização do lockdown nas cidades porque, na visão deles, comprometia a recuperação econômica. A pandemia continuou e estímulos bilionários do governo federal garantiram os negócios (não houve, porém, a contrapartida de um planejamento sério para a boa prática de distanciamento social). A atividade econômica começou a se recuperar. Sem um planejamento nacional para a segunda onda e a vacinação em massa, o Brasil jogou todo o esforço no lixo no “curto-prazismo”. Os brasileiros assistem assombrados o colapso do sistema de saúde de Manaus e o risco de uma crise nacional de falta de oxigênio. Assim como a saúde está colapsando, será muito difícil a economia não escapar desse mesmo destino. O País não pode seguir também o negacionismo econômico. Muito tempo foi perdido esperando as eleições municipais. Já sabemos que os políticos querem esperar as eleições da Câmara e Senado e só pensam em emendas, cargos… O que farão para impedir que o colapso do Amazonas chegue às cidades dos seus Estados, enquanto negociam votos na eleição do Congresso? Sabemos também que o governo federal quer esperar a vitória dos seus dois candidatos (deputado Arthur Lira e senador Rodrigo Pacheco) para agir com as medidas econômicas. Desde o dia de 15 de dezembro, quando o Estadão manchetou que a equipe econômica estudava a antecipação do 13.º para aposentados e pensionistas do INSS e do pagamento do abono salarial (uma espécie de 14.º salário a trabalhadores que ganham até dois mínimos), assistimos variações sobre os mesmos temas, além de liberação de FGTS e suspensão de impostos. Nada de concreto. Já as grandes lideranças empresariais, os representantes das grandes confederações, CEOs de grandes conglomerados, banqueiros se encolheram. Não há nenhuma mobilização empresarial para evitar o pior. No máximo, doações que servem para aparecer bem na fita, de preferência no Jornal Nacional. Acham mesmo que tem como dar certo para a economia continuar aguardando para ver no que dá sem uma ação rápida. A retomada não vai continuar do mesmo jeito. Depois, sem dúvida alguma, serão pródigos em bater na porta do governo para pedir subsídios, redução de impostos, Refis generosos e socorro financeiro da viúva. Nos mais de 20 anos de cobertura econômica em Brasília, esta colunista já viu de tudo em matéria de pressão empresarial. Na última semana, a mais sofrida da pandemia até aqui, na agenda oficial do ministro Paulo Guedes não houve sequer uma reunião com empresários. O que teve mesmo foi um encontro virtual realizado do outro lado da Esplanada, no Ministério da Saúde, com 28 empresários ligados à Fiesp sobre a campanha nacional de vacinação contra a covid-19. O Ministério da Economia não estava lá. Foram falar da importância da vacina para a retomada, mas não se viu nenhuma declaração contundente depois do encontro. Reportagem do Estadão mostrou que os Ministérios da Saúde, Comunicações e Casa Civil foram taxativos: a vacinação ficará a cargo do governo, que garantiu ter imunizantes para toda a população. Ouviram, segundo relatos, que o governo já tem cerca de 500 milhões de doses contratadas. Como acreditar se nem dois milhões de vacinas da Índia estão garantidos? As poucas falas empresariais sobre o encontro foram todas de bastidores. Por que se calam aqueles que costumam ser tão barulhentos? Na elite do nosso empresariado, não tem dia D nem hora H. É S, de silêncio. O ESTADO DE S. PAULO
Por dia, pelo menos 17 fábricas fecharam as portas nos últimos cinco anos
Na semana passada, o anúncio da decisão da Ford de fechar suas fábricas no Brasil após 100 anos evidenciou o processo de desindustrialização em curso no País, agravado nos últimos tempos. Há seis anos consecutivos, desde a recessão iniciada em 2014, o Brasil vê o número de indústrias no território nacional cair. No ano passado, 5,5 mil fábricas encerraram suas atividades. Ao todo, entre 2015 e 2020, foram extintas 36,6 mil. Isso equivale a quase 17 estabelecimentos industriais exterminados por dia. Os números são de um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) feito com exclusividade para o Estadão/Broadcast. Segundo a série histórica iniciada em 2002, até 2014 o número de fábricas crescia, mesmo com a indústria de transformação perdendo relevância na economia diante do avanço dos outros setores. Há seis anos, o País tinha 384,7 mil estabelecimentos industriais. Mas, no fim do ano passado, a estimativa era de que o número tinha caído para 348,1 mil. Pouco antes do anúncio da Ford, outras multinacionais já haviam comunicado que fechariam suas fábricas no Brasil, caso da Sony e da Mercedes-Benz, que encerrou a produção de automóveis. “O processo de desindustrialização coincide com o início do Plano Real (quando o câmbio apreciado tornou os produtos brasileiros mais caros lá fora e os importados ficaram mais baratos no País). Além do custo Brasil, mais recentemente a produtividade caiu e parte do parque industrial não se modernizou”, explica o economista Fabio Bentes, da Divisão Econômica da CNC, responsável pelo estudo. “A desvalorização recente do real ajuda o setor agrícola, o extrativo, favoreceu a balança comercial. Mas o efeito para a indústria não é instantâneo”, afirma Bentes. Ele calcula que a fatia da indústria da transformação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desça a 11,2% em 2020. Será o patamar mais baixo da série histórica iniciada em 1946. O levantamento da CNC foi feito a partir de duas bases de dados. Uma é a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), atualmente sob responsabilidade do Ministério da Economia. Outra é o Sistema de Contas Nacionais, do IBGE. Apenas os dados referentes a 2020 são uma projeção, feita com base em estimativas para o PIB da indústria de transformação e a produtividade do setor. Se a produção cresce, cada aumento de um ponto porcentual gera abertura de cerca de 1,2 mil unidades produtivas no ano seguinte. O mesmo raciocínio vale no caso de queda de produção. “Diante disso, não se pode descartar que haja uma redução ainda mais forte no número de indústrias este ano”, explica Bentes. Sistema tributário atrapalha indústriasO desempenho da indústria nacional está hoje 14% abaixo do pico atingido em 2011. Segundo o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, o quadro é fruto de um ambiente de negócios hostil e de fatores estruturais que atingem a competitividade internacional do setor. O principal deles, aponta, é o complexo sistema tributário brasileiro. Outro ponto fundamental, diz, é a necessidade de uma política de inovação, hoje fora da agenda nacional. Cagnin explica que a restrição dos fluxos entre países durante a pandemia da covid-19 pôs em xeque o modelo de suprimento geograficamente disperso e integrado. “No atual ambiente internacional de rearranjo tecnológico e das cadeias globais de valor, o ônus de ter baixa competitividade pelo sistema tributário tende a aumentar. Precisamos de um indicativo muito claro de que esse problema será solucionado. Sem isso, será muito complicado atrair e preservar investimentos”, diz. O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, também indica como fator preponderante para os fechamentos de fábricas a falta de perspectiva de que o governo faça as reformas e que tome as providências para melhorar o ambiente de negócios. Multinacionais como a Ford investem em fábricas com escala global de produção, observa Roriz. E, como o Brasil não cresce e a renda da população se mantém no patamar de dez anos atrás, os produtos ficam inacessíveis aos brasileiros e as empresas não avançam. Queda da fatia do setor no PIB é fenômeno globalA perda de participação da indústria no PIB é um movimento tido como normal nas economias, que, à medida que se desenvolvem, veem as atividades de serviços ganharem peso na estrutura produtiva. No entanto, no Brasil, esse processo é reflexo sobretudo de um ambiente adverso de negócios para a indústria, afirma Rafael Cagnin. Essa também é a avaliação da economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) Juliana Trece. “Por mais que esse movimento seja natural, o Brasil está longe de ser uma sociedade que já comprou todos os bens industriais e passou a gastar mais com serviços”, diz. Ela ressalta que o fator determinante é a falta de competitividade, que dificulta a atração de investimentos para o setor. Enquanto o Brasil dá marcha à ré, Cagnin lembra que desde 2012 todas as grandes potências mundiais começaram a resgatar políticas industriais desenhadas para desenvolvimento de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs mais avançadas. Participação da indústria automotiva deve cair ainda maisDesde 2011, a indústria automobilística vem perdendo participação no Produto Interno Bruto, segundo levantamento feito por Juliana Trece. O estudo tem por base um recorte da série das contas nacionais trimestrais do IBGE para o setor a partir de 2000. Em 2008, pico da série, a produção de veículos respondia por 1,1% do PIB. De lá para cá, oscilou e atingiu a menor fatia em 2016 (0,2%). Nos anos seguintes, 2017 e 2018, houve ligeira recuperação (0,3%). “Não temos dados setorizados para 2019 e 2020, mas, com a pandemia e a saída da Ford, é esperado que a tendência de redução continue”, prevê a economista. O ESTADO DE S. PAULO
The Economist: Depois de anos, automação veio para ficar
Mary Barra, CEO da General Motors, recorreu à plataforma virtual no dia 12 de janeiro para o lançamento da BrightDrop. A nova divisão de logística da companhia venderá coisas tão sem graça como vans para entrega de mercadoria e paletes elétricos autônomos para serem usados em armazéns. Coisas que dificilmente fariam o coração bater mais acelerado. Segure o seu bocejo, porque o anúncio de Mary é o sinal mais recente de uma revolução silenciosa, e contudo poderosa. “A convergência de software e hardware que vemos nas alas acarpetadas das companhias hoje pode ser vista nas oficinas das fábricas de todas as indústrias que atendemos”, diz Blake Moret, diretor executivo da Rockwell Automation, uma gigante do setor. A sua empresa tem uma unidade industrial de grande escala na sua sede de Milwaukee, para provar que a automação permite fazer produtos competitivos apesar dos altos custos da mão de obra nos EUA. O preço das suas ações subiu 28% no ano passado, quase duas vezes o índice das 500 maiores companhias da S&P nos EUA. Outras fornecedoras foram ainda mais longe. Altos executivos gabam-se há anos da automação de suas operações sem ter muito o que exibir. A covid-19 os obrigou a mostrar mais ação e menos palavras. Hernan Saenz, da empresa de consultoria Bain, prevê que até 2030 as empresas americanas investirão US$ 10 trilhões em automação. Nigel Vaz, diretor executivo da Publicis Sapient, uma grande empresa de consultoria digital, afirma que a crise proporciona aos chefões uma cobertura perfeita. “A pressão insistente dos investidores por resultados financeiros a curto prazo foi temporariamente suspensa”, diz. “As empresas não estão voltando para a sua situação anterior à pandemia, mas reformularam completamente como vão trabalhar,” diz Susan Lund, coautora de um relatório que será publicado em breve pelo think-tank McKinsey Global Institute. Uma recente pesquisa da empresa de consultoria irmã do instituto constatou que dois terços das companhias globais estão cedendo à automação. Sim, robô! Os robôs são os vencedores mais notáveis. A empresa de pesquisa Robo Global prevê que até o fim de 2021 a base instalada de robôs de fábricas em todo o mundo superará 3,2 milhões de unidades, o dobro do patamar de 2015. Segundo as previsões, o mercado global de robótica industrial crescerá de US$ 45 bilhões em 2020, para US$ 73 bilhões em 2025. “Nós estivemos na primeira fila durante a pandemia”, diz Michael Cicco, diretor das operações americanas da Fanuc, uma fabricante de robôs japonesa. Com as cadeias de fornecimentos esgotadas, as indústrias foram obrigadas a encontrar soluções para criar flexibilidade, afirma. As companhias que transferiram a sua produção procuraram compensar os altos preços da mão de obra com as máquinas. Além disso, os robôs estão se tornando mais capacitados. Os mais hábeis podem pegar objetos delicados como um morango. A Fanuc registrou um aumento da demanda de equipamentos para manuseio de material, e de “robôs colaborativos”, projetados para interagir com as pessoas. Esses “cobôs”, como são chamados, são particularmente úteis no e-commerce, que recebeu um impulso enorme com a covid-19. Stuart Harris, da Emerson americana, uma grande empresa de automação, afirma que “as aplicações pervasive sensing” – que combinam inteligência artificial e sensores inteligentes – ajudaram o faturamento de sua companhia com monitoramento remoto a crescer 25% no ano passado. A Publicis Sapiens automatizou a previsão do estoque da divisão de uma grande varejista europeia que repetidamente ficou sem produtos em plena mudança dos padrões de consumo durante a pandemia. O software da empresa de consultoria permitiu que a cliente prevenisse a escassez de 100 de seus principais itens 98% das vezes. A automação não chegou apenas aos armazéns e às oficinas das fábricas, mas também à área administrativa das companhias. Segundo uma estimativa, o sistema de saúde dos EUA poderia economizar US$ 150 bilhões por ano graças à automação dos processos burocráticos. A Allied Market Research, uma firma de analistas, prevê que as vendas globais de produtos para automação de processos crescerão de US$ 1,6 bilhão em 2019, para cerca de US$ 20 bilhões, em 2027. Em dezembro, a UI Path, uma startup romena inovadora na área, pediu para fazer uma oferta pública inicial. Ela poderá começar com um valor de mercado de US$ 20 bilhões. No dia 12 de janeiro, a Workato, uma concorrente americana, informou que captou US$ 110 milhões em recursos novos. Os céticos observam que a história está repleta de exemplos de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs que supostamente mudariam o mundo e iludiram os executivos, não cumprindo as promessas. (Lembram da blockchain?). Quando a covid-19 for derrotada, o entusiasmo das companhias por novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs talvez diminua. Os que perderam a oportunidade de se automatizar – como aconteceu com muitos que estavam ocupados tentando simplesmente sobreviver à recessão – perderão a cobertura de que fala o diretor executivo da Publicis Sapient. Os otimistas retrucam que desta vez será diferente. No passado, os maiores retornos para a automação beneficiaram as gigantescas corporações. Hoje, os avanços na https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e modelos de negócios permitem que as menores desfrutem de benefícios semelhantes. Isso deveria aumentar a demanda de sistemas inteligentes – e com o tempo reduzir ainda mais os seus custos. E assim por diante, em um ciclo virtuoso totalmente automatizado. O ESTADO DE S. PAULO
‘Indústria cai de forma rápida e intensa’, diz Glauco Arbix
O Brasil passa por uma desindustrialização prematura e rápida, o que dificulta ainda mais a inovação de empresas e a requalificação de empregos, diz Glauco Arbix, coordenador do Observatório da Inovação da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o País já deveria estar em “campanha violenta” para todos entrarem na onda de novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs. Mesmo que o vácuo no PIB seja ocupado pelo setor de serviços, “haverá uma queda brutal da participação na renda dos trabalhadores do meio e da base da pirâmide”. O País passa por uma nova onda de desindustrialização?Há um movimento geral de diminuição do peso da indústria no mundo todo, tanto em relação a emprego quanto em participação no PIB, já há algum tempo. O problema é que, em países em desenvolvimento, o declínio está muito acelerado. São países que não conseguem vencer a chamada ‘armadilha da renda mínima’. Países que crescem, conseguem um padrão básico, não conseguem avançar mais e ficam parados no meio do caminho. É o caso do Brasil?O Brasil tem o que os economistas caracterizam como ‘desindustrialização prematura’, pois está ocorrendo de maneira rápida e intensa. Europa e EUA demoraram muito tempo para ter a transferência da manufatura para a área de serviços. Aqui, ela ocorre rapidamente, não há condições boas para requalificar empresas e trabalhadores e cria-se uma economia disfuncional. Parte das empresas e dos trabalhadores é qualificada; outra, não. Então, há uma situação híbrida, que aparece no custo da produção. Isso, para mim, é o verdadeiro custo Brasil que os empresários não reparam. Eles só falam de imposto e infraestrutura, mas essa disfuncionalidade tem impacto grande na competitividade e esse custo está nas causas da dificuldade do Brasil em não ter uma indústria avançada O caso da Ford acentua esse processo?Esse movimento atinge muito fortemente a indústria automobilística, que vive uma situação específica, explicada em três formas. A primeira é o declínio forte da indústria baseada no petróleo. Há uma alteração do comportamento da sociedade, de governos, de parte das empresas que está forçando uma redução do consumo do petróleo. Isso afeta o Brasil fortemente porque as expectativas em relação ao pré-sal acabaram sendo menores do que se esperava. A segunda é a discussão do movimento sustentável e inclusivo, que não encontra na indústria uma resposta à altura. E a terceira é a questão das novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs que estão comendo a indústria pelas bordas, principalmente pela dificuldade que ela tem de incorporá-las. Por outro lado, há https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs que estão abrindo oportunidades para setores que não têm nada a ver com a indústria tradicional. Mas, no caso da Ford, que também tem uma situação específica, não acho que vai ter uma revoada de outras montadoras indo embora do Brasil, porque o mercado local é grande e isso é um trunfo. Qual o peso da mudança tecnológica no setor industrial? Todos os ramos industriais estão sendo questionados sobre a forma como produzem, fazem sua gestão, marketing, pois em todas essas áreas estão entrando https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs que exigem um reposicionamento das empresas. Mas cada uma é afetada de maneira diferente. Um exemplo. Estamos vivendo uma pandemia e de repente acontece um milagre, pois normalmente se levava dez anos para desenvolver uma vacina, e em menos de um ano conseguimos quatro, cinco vacinas com a eficácia muito alta. Qual foi a mágica? Dinheiro e investimento sempre teve, mas o sistema de cooperação é uma parte nova, empresas que muitas vezes disputavam entre si passaram a trabalhar em conjunto, cooperação com universidades, com órgãos de governo e centros de pesquisa. Além disso, há uma base de novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs que estão permitindo chegar às vacinas com a velocidade que estamos vendo. As vacinas da Pfizer e da Moderna são impensáveis sem sistema de inteligência artificial, de moléculas com alterações que são feitas por sistema de informática, combinações que só se consegue hoje, não existia antes. Hoje há sistemas de computação ultrarrápidos, sistema de armazenagem de dados gigantesco, algorítmos ultrassofisticados que conseguem manipular e cria uma realidade nova, se dá um passo que já abriu um caminho poderosíssimo para a medicina. Como será a nova indústria?A tendência que está desenhada no mundo, e espera-se que ocorra no Brasil, é de uma indústria com menor participação no PIB – que tende a cair ainda mais –, compacta, mais inovadora e com número pequeno de empregos, o que será trágico para o País. Mas vai continuar tendo um peso importante do ponto de vista da dinamização da economia. A indústria tem de se reinventar, e essa é a grande dificuldade. Como?Devíamos estar com uma campanha violenta para todo mundo entrar na onda de novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs em todos os níveis. Precisa haver um esforço gigantesco de modernização da indústria, de estímulos para absorver as novas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs. Pode-se fazer programas de cooperação internacional para aprender com países que estão mais avançados nesse processo, incentivar a aprendizagem e facilitar o acesso das empresas às universidades. Pode ter uma parte de incentivo que vai pesar no bolso, mas outra não. O setor de serviços ocupará o vácuo da indústria?Esse é o desenho que está colocado lá fora. Mas empregos na área de serviços não são tão qualificados quanto os de algumas indústrias.Alguns sim, justamente os ligados à https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, como ocorre no Vale do Silício. Mas haverá uma queda brutal da participação na renda dos trabalhadores do meio e da base da pirâmide. Vamos ter um Brasil com desigualdade no mercado de trabalho cada vez maior. Isso é um problema da estrutura da economia que é difícil resolver. Pode-se tentar resolver com sistema de educação e qualificação e, com isso, oferecer oportunidades, mas não há garantias de que esse pessoal vai encontrar uma posição melhor. Mesmo em países como EUA, Alemanha e Japão, a renda do trabalhador médio está caindo. O ESTADO DE S. PAULO
Visibilidade e decência (Editorial)
O inevitável aumento do número de trabalhadores em domicílio causado pela pandemia impõe urgência à adoção de medidas de combate à informalidade. Ninguém que examine a evolução recente do mundo do trabalho tem qualquer dúvida de que, depois das exigências impostas pela pandemia de covid-19, o trabalho em domicílio ganhará ainda mais importância nos próximos anos. Em 2019, antes, portanto, de o mundo ter a mais remota ideia do imenso desastre sanitário em que mergulharia pouco depois, 260 milhões de pessoas no mundo trabalhavam em sua residência em troca de remuneração. Esse número equivale a 7,9% de todas as pessoas empregadas no planeta. Dados preliminares dos primeiros meses do ano passado indicavam que cerca de um quinto dos trabalhadores (ou 20%) estava trabalhando no domicílio. Quando as cifras de 2020 forem divulgadas, decerto o número de pessoas que trabalham em casa superará largamente o do ano anterior, afirma a Organização Internacional do Trabalho (OIT) no estudo O trabalho em domicílio: da invisibilidade ao trabalho decente. O título sintetiza o objetivo da publicação. Com o estudo, a OIT pretende mostrar a dimensão e as condições do trabalho em domicílio, ainda pouco visível do ponto de vista da proteção legal, e apontar os meios pelos quais tais condições podem ser melhoradas para que esse tipo de ocupação se equipare, nos seus aspectos essenciais, ao trabalho desempenhado nos ambientes tradicionais das empresas. É o caminho para dar visibilidade e decência ao trabalho em casa. É, obviamente, um mundo heterogêneo em muitas de suas características. Em pelo menos 13 países estudados pela OIT as pessoas que trabalham em casa correspondiam a mais de 15% do total de empregados. A maioria dessas pessoas (65%) se concentra na região da Ásia e do Pacífico. O número de mulheres que trabalham em casa correspondia a 56% do total. É a solução que boa parte dessas mulheres encontrou para melhorar a remuneração familiar sem abandonar suas responsabilidades domésticas, o que resulta normalmente em jornada de trabalho estendida. O fator financeiro e uma certa maleabilidade da jornada são alguns dos aspectos positivos do trabalho em domicílio. Muitas de suas características, porém, exigem reflexão das autoridades e dos órgãos de inspeção a respeito das condições em que trabalha a população. A remuneração dos que trabalham em casa é normalmente menor do que a dos que exercem seu trabalho nos locais mantidos pelos empregadores. Essa defasagem é praticamente universal, tanto em relação ao tipo de trabalho como no que se refere ao desenvolvimento dos países. No Reino Unido, a remuneração do trabalho em domicílio é 13% menor do que a dos trabalhadores que não estão baseados em suas casas; nos Estados Unidos, a diferença é de 15%; na Argentina e no México, de 50%. A flexibilidade de horário, em princípio um benefício, pode deixar de sê-lo. É o que ocorre quando a demanda é variada, o que resulta em longos tempos de ociosidade e períodos também longos de intensa atividade, o que afeta o tempo pessoal e familiar. É alto o índice de informalidade nesse tipo de trabalho. Nem todos os que trabalham em domicílio dispõem de adequada proteção previdenciária e de assistência médica, embora em vários casos estejam mais sujeitos a riscos de acidentes de trabalho. Por estarem isolados, os que trabalham em casa nem sempre conhecem seus direitos nem têm acesso pleno a sindicatos. Por não serem treinados regularmente, não alcançam condições para avançar em suas carreiras. Há meios para enfrentar e superar essas deficiências. Um deles é a aplicação, por mais países, das normas da OIT sobre o trabalho em domicílio (Convenção n.º 177), até agora adotadas por apenas dez países. Outro é assegurar aos trabalhadores em domicílio o exercício pleno da liberdade sindical. O combate à informalidade é outro mecanismo para dar decência e visibilidade para o trabalho em casa. O inevitável aumento do número de trabalhadores em domicílio causado pela pandemia impõe urgência à adoção de medidas como essas, adverte a OIT. O ESTADO DE S. PAULO
Após contratar, empresa precisa preparar ambiente para a diversidade, diz consultoria
O movimento de algumas empresas para elevar a participação de profissionais negros em suas equipes, que ganhou tração no ano passado, deve impulsionar também a preparação do ambiente corporativo após a chegada deles. Segundo Daniele Mattos, co-fundadora da consultoria Indique uma Preta, a diversidade vai trazer novas formas de pensamento que podem mudar o conceito de inovação. “O mercado é viciado em aceitar só um tipo de repertório e solução. Quando essas pessoas entram, as empresas precisam atualizar seus referenciais do que é inovador”, diz Mattos, que participou da elaboração da seleção de trainees negros do Magazine Luiza e fechou na semana passada uma nova parceria com a varejista para atuar também na recepção dos contratados. Como nasceu a iniciativa de vocês? Como um coletivo para denunciar a falta de representatividade de mulheres pretas na indústria criativa, de onde eu e minhas sócias viemos. Sempre trabalhamos em agência publicitária e percebemos que a cultura do ‘quem indica’ era muito forte. Há cinco anos, criamos a Indique uma Preta para conseguirmos nos articular, indicar umas às outras e fazer networking. Mas cresceu absurdamente. Hoje somos uma comunidade de 7.000 mulheres. E fomos percebendo que isso não era uma especificidade só da indústria criativa, mas de todo o mercado de trabalho. Começamos a receber uma demanda muito forte por palestras e para indicar mulheres para trabalhar. Fomos nos especializando e decidimos virar uma consultoria de conexões entre a comunidade negra e o mercado de trabalho. Vocês foram contratadas para participar do projeto de trainees negros do Magazine Luiza, que teve muita repercussão no ano passado. Como foi isso? Eles já tinham tudo estruturado, pensado no conceito e já tinham pessoas pretas na condução do processo, mas tiveram a preocupação de trazer a consultoria preta para contar essa história junto. Os trainees negros selecionados têm formação muito boa, mas são mais velhos do que a média dos programas de trainees tradicionais, que não abordam a questão racial. Por quê? Na comunidade negra, não é que falte qualificação. O que precisamos é de oportunidade. Quando criamos a Indique uma Preta, há cinco anos, percebemos que as meninas chegavam nos eventos com portfólios impecáveis de projetos independentes pessoais. Como elas não tinham oportunidades e privilégios dentro das esferas tradicionais, elas se viravam. O que precisava não era desenvolver a comunidade negra. O que precisava era falar com o mercado de trabalho para ele entender como faz para receber essa comunidade. Isso coloca em xeque a mentira que o racismo nos conta: que falta qualificação, que não se consegue contratar pessoas negras porque elas não têm inglês fluente. Acho que é por isso que tem essas pessoas mais velhas que são incríveis. Elas precisaram se reinventar, buscar curso fora do país, desenvolver projetos pessoais, abrir suas próprias empresas, como foi o meu caso, para desenvolver os potenciais delas. Só prova o quanto as empresas estão perdendo potencial criativo por não olhar para isso de forma estratégica. Acho que o Magalu fez um pulo do gato, que incomodou racistas, porque não olhou para isso como uma moeda humanitária. Eles olharam com foco no negócio. Ainda existe a narrativa de que faltam negros nas chefias das empresas porque há escassez de mão de obra qualificada. Por que isso? Olhando para o Brasil de forma ampla, sim, as pessoas negras estão em situação de vulnerabilidade, as mulheres negras estão na base da pirâmide, mas a gente não é só isso. Colocar essa narrativa como absoluta sobre todas as pessoas negras no Brasil é reforçar e querer que essa narrativa seja verdade. É querer que esse seja o único lugar possível para nós. Quando eu falo que eu tenho inglês fluente, que fiz uma faculdade muito boa graças a programas de inclusão de pessoas negras no ensino superior, ou que eu tenho a minha consultoria, é uma narrativa muito destoante. É desconfortável, e não só para pessoas que são deliberadamente racistas. Imagino que deve bater para algumas pessoas brancas que acreditam que estão perdendo espaço. A nossa demanda enquanto comunidade é por oportunidades iguais. A comunidade negra já luta por direitos há muitos anos. Muitos já foram conquistados. Cota em universidades é um deles. Quando vemos que já existe a política de cotas há anos, percebemos os efeitos disso. Tem pessoas competentes, com ótimos currículos, e que mesmo assim esbarram na entrada no mercado de trabalho. Se é importante ter políticas afirmativas para que as pessoas pretas estudem, é também importante ter políticas para que elas entrem no mercado de trabalho. Na tentativa das empresas de atrair diversidade, qual é a importância da fase depois da contratação? Não é só contratar. Precisa pensar espaços seguros para que essas pessoas consigam explorar suas potencialidades no máximo, para que elas não tenham a criatividade e a subjetividade cortadas. É preciso ambientá-las e fazer educação sobre viés inconsciente. O mercado é muito viciado em aceitar só um tipo de repertório e solução. Quando essas pessoas entram, as empresas precisam atualizar seus referenciais do que é inovador. É estar com os ouvidos atentos para o que elas vão trazer à mesa. Daniele Mattos, 27 Graduada em relações públicas pela Belas Artes. Estuda cultura e comunicação estratégica organizacional na USP. Fundou a Indique uma Preta ao lado das sócias Amanda Abreu e Verônica Dudiman FOLHA DE S. PAULO
Um rastro de desemprego
Concilene Corrêa assinará amanhã sua demissão na fabricante de eletrônicos Sony. Nos últimos 15 anos, ela bateu ponto na linha de produção de televisores da empresa que, em setembro, comunicou a decisão de fechar a fábrica na Zona Franca de Manaus. “Não tenho expectativa de conseguir um novo emprego na indústria porque já tenho mais de 40 anos”, diz ela, que tem o ensino médio completo. Seu marido está desempregado desde 2019, quando também foi demitido do setor industrial. Após cinco décadas no Brasil, a Sony levou em conta “o ambiente recente de mercado e a tendência esperada para os negócios” ao fechar as portas. O Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas estima que a fábrica tinha 315 empregados. Uma parte espera ser absorvida pela fabricante brasileira de eletroportáteis Mondial, que comprou o prédio ocupado pela multinacional japonesa. Dados do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam) mostram que, desde 2015, o polo industrial de Manaus perdeu perto de 13,2 mil postos de trabalho entre mão de obra efetiva, temporária e terceirizada. Já Wilson Fernandes, 59 anos, define como “luto” o sentimento que veio com a dispensa pela Marcopolo. Com 32 anos de casa, ele ingressou como soldador na fabricante de carrocerias de ônibus, quando a unidade ainda se chamava Ciferal. Fundada em 1955, a fábrica em Xerém, Duque de Caxias (RJ), passou a integrar o parque industrial da Marcopolo em 1999. “Alguns operários foram realocados para o Espírito Santo, mas tenho família aqui. Fui para casa em março por ser grupo de risco (da covid-19) e não voltei mais. Ainda estou tentando digerir.” Rumores de que a unidade seria fechada se intensificaram com a pandemia e se confirmaram em outubro. A Marcopolo alegou que a “otimização de plantas” traria maior racionalidade para seus custos. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Duque de Caxias, 1,6 mil vagas foram fechadas. O ESTADO DE S. PAULO
Ford acumula mais de 3.500 processos trabalhistas no Brasil
Encerrando trabalhos no Brasil, a Ford tem cerca de 3.530 processos trabalhistas ativos, segundo levantamento da Data Lawyer, empresa de jurimetria que extrai dados por inteligência artificial. O valor das causas é de R$ 696,55 milhões. FOLHA DE S. PAULO
Vacinação em massa é fundamental para retomada da economia, diz CNI
A vacinação em massa da população brasileira contra a covid-19 será fundamental para a melhoria do ambiente de negócios e a retomada da economia de modo sustentado, na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade destaca que a imunização permitirá o retorno seguro às atividades produtivas e diárias, a recuperação do mercado consumidor e dos investimentos. A consequência será a reativação de todos os setores da economia, avalia a CNI. O presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, diz que, à medida que a vacinação avançar, as incertezas econômicas, políticas e sociais relacionadas à pandemia deverão se dissipar. “A confiança trará novo fôlego ao consumo e à produção, o que acelerará a recuperação das perdas deixadas por esta que é uma das mais graves crises sanitária e econômica enfrentadas pela humanidade”, afirma Andrade em nota divulgada pela CNI. Segundo ele, com a redução das incertezas em relação à economia, os esforços poderão ser concentrados nas ações necessárias para o País iniciar um ciclo de crescimento sustentado. “O nosso grande desafio é fazer o Brasil voltar a crescer acima de 2% ao ano de maneira sustentada, isto é, por um longo período. Para isso, o Brasil precisa eliminar o Custo Brasil e garantir um ambiente que favoreça a atração de novos investimentos”, diz o presidente da CNI. As projeções da entidade indicam que o Brasil deverá crescer 4% neste ano e a indústria, 4,4%. A CNI reafirma a defesa da reforma tributária ampla para a redução efetiva do custo Brasil. Além disso, defende a modernização de marcos regulatórios que deem segurança jurídica e garantam respeito aos contratos, para que o País possa atrair investimentos em infraestrutura. Outro desafio do País, para a entidade, é o reequilíbrio das contas públicas e a manutenção do teto de gastos. “Um passo decisivo nessa direção seria a aprovação de uma reforma administrativa, que racionalize os gastos públicos e melhore a qualidade dos serviços prestados à população”, acrescenta Andrade. O ESTADO DE S. PAULO